quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Yog-Sothoth - O Portão e a Chave além do Tempo e Espaço


Aquele que Espreita além dos Limites.

O Portão e a Chave.

O Abridor dos Caminhos.

São muitos os nomes de Yog-Sothoth, um dos Deuses Exteriores mais importantes e poderosos no Universo dos Mythos. Muito se fala a respeito da colossal influência de Azathoth, alçado ao posto de regente universal em sua Corte Mefítica, mas se o Sultão Demoníaco é o Caos encarnado, cabe a Yog-Sothoth a função de Depositário dos Conhecimentos e Bastião da Ordem.

É difícil medir a importância e alcance de Yog-Sothoth para o ordenamento cósmico. Talvez sem ele , o próprio universo como conhecemos não existiria e acabaria ruindo por completo. Ele é uma das entidades mais importantes da existência, o grande modulador da realidade e o mantenedor do status, pois é dito que Yog-Sothoth reúne em seu Ser os conceitos físicos de Tempo e Espaço, e que, sem ele, nem um, nem outro existiriam. Talvez em face de toda essa preponderância, a particular mitologia macabra conhecida como "Mythos de Cthulhu", pudesse ser melhor - ou ao menos mais corretamente, chamada de "Mythos de Yog-Sothoth".


Quando a faísca primordial foi deflagrada, e a onda de criação emanou do Caos Nuclear no Big Bang, uma das primeiras entidades a se formar foi Yog-Sothoth. Teóricos conjecturam se a consciência perdida de Azathoth não teria sido de alguma maneira absorvida por Yog-Sothoth, e se tal coisa aconteceu, se não seria ele um avatar do Caos Primordial. A verdade, ninguém sabe. 

Yog-Sothoh é contudo, o verbo que se fez poder.

O Necronomicon é o tomo esotérico mais confiável para compreender toda a extensão de sua existência, mas mesmo ele é ridiculamente incompleto para dissecar sua grandeza. Nenhuma obra lavrada por simples mortais poderia fazê-lo. Yog-Sothoth está muito além de qualquer tentativa de análise ou da compreensão de mentes frágeis. Os que tentaram investigar sua origem falharam dolorosamente, pois não cabe aos homens contemplar a face de tamanha entidade.

Ainda assim, vem da pena de Abdul Al-Hazred a tentativa mais louvável de espiar sob o véu de mistérios que recobre o Deus Exterior. O árabe louco o chama de "aquele que tudo sabe e tudo vê", reputando a ele os dons da Onipresença e Onisciência. Essas faculdades estão ligadas a capacidade de Yog-Sothoth de enxergar todos os planos e dimensões simultaneamente. "Seus olhos estão em todo canto, seus ouvidos em todo cosmos. Se um ruído for produzido ele ouvirá". Ele é uma espécie de Monitor cuja prerrogativa é assistir todos incidentes e ocorrências num infindável encadeamento de realidades. O menor dos incidentes, a mais sutil e ínfima das coisas não lhe passa desapercebida. Ele sabe, pois é sua prerrogativa saber.

Ele é o Zelador dos infinitos universos.


Essa finalidade tão importante fez com que incontáveis espécies buscassem Nele, através das eras, a fonte do conhecimento e de todas respostas universais. Os Fungos de Yuggoth  tem como "aquele além", embora raramente ofereçam a ele adoração.

O Grande Yog-Sothoth é reputado como uma espécie de Demiurgo, e como tal, procurado pelos que perseguem a derradeira verdade. Seus seguidores clamam por sua atenção, desejando um fragmento que seja da sua imensurável sabedoria. Alguns sábios teceram a partir dessa interação, parábolas repletas de doutrinas cabalísticas e filosóficas.

Patrono dos ascéticos e místicos, dos eremitas e cenobitas, ele também é o patrocinador de Feiticeiros que tentam alcançar limitado grau de controle sobre tempo e o espaço. Em mais de uma narrativa, comenta-se que Yog-Sothoth está disposto a partilhar de seus segredos com aqueles que a ele recorrem. É dito que o Deus Exterior não age de modo particularmente maligno ou perverso, embora, na prática, nenhuma das Entidades dos Mythos possa ser analisada sob a ótica simplista de bem e mal. O mais provável é que ele seja meramente indiferente, e como tal, não se importa em absoluto com a inferioridade dos outros seres. Contudo, aqueles que buscam interferir com as leis do espaço e tempo ou abusam da prerrogativa do Deus, acabam incorrendo na sua ira. E estes sofrem infortúnios inenarráveis.


Em tempos remotos, escolas e tradições místicas se formaram com o objetivo de perscrutar a sabedoria de Yog-Sothoth. Em Mu, na Hiperbórea e possivelmente na Cidade sem Nome, surgiram sociedades devotadas ao Deus, mas foi na mítica Atlântida que se formou o maior dos grupos empenhados em absorver sua sapiência. É interessante perceber que raramente as pessoas que se reuniam ao redor da entidade, formavam Cultos, como tende a ocorrer com outros deuses primevos do Mythos. Quando muito, em torno de Yog-Sothoth surgiam seitas, sem um caráter religioso determinante. Seus membros viam a si mesmos como acadêmicos dispostos a aprender, diferente dos sicofantas que se sujeitavam a humilhações e se satisfazem com migalhas.

Os filósofos da Atlântida, procuravam comungar com Yog-Sothoth, o que lhes rendeu um valioso arcabouço arcano. Alguns conjecturam inclusive que foi dessa interação que resultou toda herança mística da raça humana, legado que foi espalhado pelo mundo com a derrocada do Continente Perdido. Seguidores de outros deuses igualmente tidos como patronos da magia, como Nyarlathotep, Tsathoggua e Ubbo-Sathla, contestam essa noção.

É inegável, entretanto, a importância essencial de Yog-Sothoth na formulação de inúmeras magias e na criação de toda sorte de ritual. Vários feitiços carecem da invocação de seu nome e dependem de sua anuência para funcionarem. Digno de nota são os feitiços que envolvem manifestação e que dependem do Deus Exterior, já que é ele o responsável por abrir os caminhos, permitindo a criação de portais e o acesso às dimensões. Acredita-se que até mesmo outras divindades precisam se sujeitar à vontade de Yog-Sothoth se desejarem se deslocar através de distâncias e viajar pelo cosmos. Sem ele, girando as fechaduras da criação e escancarando as passagens, os próprios deuses ficariam confinados em seus limites espaciais. É prerrogativa Dele conceder o direito de passagem ou vedar o trânsito pelos seus domínios. "Mover sem sair do lugar, esse é o dom de Yog-Sothoth". Qualquer que seja o portão aberto, depende da Sua chancela, sem a qual, os caminhos se fechariam para sempre. Através dos umbrais vigiados por Yog-Sothoth só avançam aqueles que ele desejar.


Essa verdade é atestada pelo famoso trecho do Necronomicon:

"Yog-Sothoth conhece o Portão. Yog-Sothoth é o Portão. Yog-Sothoth é a Chave e Guardião do Portão. Passado, presente, futuro, todos são um em Yog-Sothoth. Ele sabe onde os Antigos atravessaram no passado, e onde Eles irromperão novamente. Sabe onde Eles pisaram os campos, e onde Eles ainda pisam, e porque ninguém pode contemplá-los enquanto pisam".

O nome do Deus Exterior também é parte do feitiço que permite trazer de volta à vida seres mortos. "Através de sua intercessão, mesmo a morte pode ser revertida". Conhecida como Ressurreição dos Sais Primordiais, esta magia blasfema, utilizada por confrarias de necromantes, garante certo domínio sob a morte. Empregando-a corretamente, o realizador é capaz de trazer "de volta do vazio" indivíduos cuja existência foi terminada. Da mesma maneira, o reverso da magia causa a rápida degradação física de quem foi originalmente reintegrado.  

Há rumores de que Yog-Sothoth seria inimigo mortal de Nodens e arqui-nêmesis dos Deuses Ancestrais. Algumas mitologias afirmam que os dois se enfrentariam desde os primórdios, como forças antagônicas determinadas a destruição mútua. E mais, seu enfrentamento daria ensejo a destruição do universo. Nem todos os estudiosos concordam com essa noção, apontando que Yog-Sothoth seria muito mais poderoso que o Deus do Abismo e todos os Deuses Anciões juntos. É possível que haja erros de interpretação ou que seguidores de Nodens tenham exagerado em seu papel nessa contenda cósmica.


Curiosamente enquanto outras divindades ganharam relevância entre os homens nos últimos milênios, a importância original de Yog-Sothoth foi esvanecendo. Cultos dedicados a Cthulhu, Shub-Nigurath, Hastur, às várias máscaras de Nyarlathotep e demais Grandes Antigos se tornaram muito mais difundidos, talvez por serem eles, mais acessíveis. Enquanto negociar com Yog-Sothoth demanda certo grau de discernimento e pedigree arcano, os demais se dispõem a conceder seus favores aos que simplesmente se põem em condição de servitude. De fato, são poucas as Sociedades humanas interessadas no Deus Exterior que se tornou preceptor de eremitas ou magos solitários. A exceção seria uma ordem de estudiosos no auge do Império Asteca e mais contemporaneamente a Ordem Hermética do Crepúsculo Prateado, sociedade esta dedicada a explorar as dádivas oferecidas pelo Deus Exterior.

Além de governar o Espaço, Yog-Sothoth é o indiscutível Senhor do Tempo.

As marés do Passado, Presente e Futuro fluem Dele e através Dele, podendo ser visitadas ao Seu bel prazer. Assim como é sua faculdade conceder passagem pelo Espaço, é de sua alçada reger o fluxo temporal, podendo garantir o tráfego daquele que julgar merecedor de tal feito. Diferente dos que transitam pelo espaço, os que pretendem viajar pelo tempo raramente contam com sua anuência. Ao que parece, Yog-Sothoth se ressente daqueles que tentam usá-lo para esse fim. 

Na forma de seu avatar Umr At-Tawil (ou Tawil at-Umr, O Prolongador da Vida), Yog-Sothoth se apresenta como o derradeiro porteiro que zela pela passagem para os Salões Além do Tempo, um lugar habitado por seres que não se sujeitam a noção temporal. Tal lugar só pode ser acessado com artefatos como a Chave de Prata que permite destravar essas misteriosas portas.


A despeito de sua importância cósmica, Yog-Sothoth pode ser atraído para a Terra  afim de responder ao chamado de indivíduos que conheçam os ditames corretos de invocação. Círculos de pedra no alto de morros ou grandes monólitos consagrados são necessários para a cerimônia. O Sacrifício de ao menos uma criatura consciente e a recitação de palavras de poder também se fazem necessárias. Há datas mais propícias para a realização do ritual, em especial o Lammas (primeiro de agosto).

Os complexos rituais geralmente incluem salvaguardas que impedem que a manifestação física do Deus deflagre efeitos indesejados que poderiam de outra forma ser catastróficos. Se tais providências não forem cumpridas adequadamente, o surgimento de Yog-Sothoth pode causar dano permanente no fluxo temporal e abrir rasgos irreparáveis no tecido da realidade. Há boatos que mais de um planeta foi devastado pela aparição repentina de Yog-Sothoth e que ao partir, nada restava desses mundos além de cinzas e esquecimento.

Mesmo com as devidas proteções, a invocação do Deus não constitui um acontecimento corriqueiro, deixando marcas permanentes nas imediações. Há relatos da sensação de "perda de tempo", de se experimentar um forte deja-vu e de ser dominado por toda sorte de sensações estranhas. Os seres vivos são afetados diretamente, alguns apresentam sinais inequívocos de ter envelhecido alguns anos, enquanto outros inexplicavelmente rejuvenescem. Da mesma maneira, pequenas rupturas dimensionais se abrem na localidade. As fronteiras entre as dimensões se tornam mais tênues, permitindo haver certo grau de interação entre os habitantes dos dois lados. Há relatos de que na exata localidade onde ele se fez presente, por anos à fio, será possível ouvir, perceber ou mesmo enxergar outros planos.


Nas ocasiões em que atendeu à invocação, o Deus Exterior o fez para cumprir propósitos pré-determinados. Em geral a invocação se dá para que ele compartilhe de seu conhecimento, ocasião em que inunda a mente das pessoas com as informações que deseja transmitir. Experiência que por vezes também pode ser devastadora já que nem todos estão preparados para obter esse tipo de saber.

Contudo, Yog-Sothoth também já foi invocado por outras razões. Em certa ocasião, ele foi trazido com o intuito de fertilizar uma mulher humana com sua semente. Nesse bizarro incidente ocorrido no vilarejo de Dunwich, o próprio Deus Exterior impregnou Lavinia Whateley que deu a luz a gêmeos nascidos com características únicas transmitidas pelo "pai". Não se sabe ao certo se esse caso foi isolado ou se o Deus foi convocado em outras ocasiões com o mesmo propósito blasfemo.

Fisicamente Yog-Sothoth assume a forma de um enorme aglomerado de globos iridescentes unidos por uma substância espumosa desconhecida de onde brotam tentáculos que se estendem e contraem constantemente. A massa pode se estender por uma área de quase 100 metros de comprimento, mas pode se tornar muito maior, espalhando-se por 800 metros ou mais. As centenas de globos emitem um brilho pulsante em tons de amarelo, branco e roxo. Essa luminosidade é filtrada como raios de luz passando através de um vidro opaco. Os globos embora pareçam estruturas gelatinosas não podem ser conceituados como algo sólido, tampouco gasoso. Eles provavelmente são constituídos de matéria alienígena que desafia estado físico conhecido e se alteram através das realidades, aparecendo e reaparecendo a todo momento. Alguns observadores afirmam que os globos refletem cenas do passado, presente e futuro e que observar por muito tempo essas estruturas revela segredos capazes de destroçar a sanidade humana. A substância aglutinante que envolve os globos tem um aspecto limoso que produz corrente elétrica e ocasiona uma forte carga estática.


O Deus Exterior flutua delicadamente no ar como um aglutinado de balões que se movem lentamente. Ele pode, no entanto, desaparecer de um ponto e se materializar em outro, cruzando distâncias incomensuráveis. Seus delicados tentáculos, lisos e ágeis, são usados para sondar os arredores, agarrar e manipular, embora raramente faça uso deles. A entidade não produz ruídos, mas tem um odor pungente de ozônio, zinco e magnésio.

Yog-Sothoth não se expressa de modo vocal, mas pode se comunicar através da "língua não falada", uma inserção telepática inserida diretamente na mente de seres conscientes. A experiência é dolorosa, causando uma sensação pavorosa a medida que o cérebro é invadido por uma entidade absolutamente alienígena. Fala-se de aneurismas e edemas causados por essa interação. A entidade é obviamente dotada de inteligência, determinação e vontade própria. De modo geral, Ele não parece se interessar por criaturas inferiores, ignorando-as solenemente, contudo pode ser atraído e responder a elas.

Ao ser invocado, Ele se mantém imóvel, flutuando sobre o círculo de pedra a medida que consome sacrifícios que lhe são oferecidos. Se estes não forem satisfatórios, Yog-Sothoth pode simplesmente retornar a sua realidade ou então consumir quem bem entender, como compensação. O toque dos tentáculos ou das esferas é horrivelmente prejudicial, causando envelhecimento, queimaduras e corrosão em todas formas de vida biológicas. Eles drenam a energia vital de suas vítimas deixando-as física e mentalmente mutiladas. Tal dano é permanente e incurável. Já o toque prolongado é invariavelmente fatal, matando em poucos segundos, deixando apenas uma casca vazia e ressequida. Não se sabe se o Deus encontra sustento dessa forma, mas ele parece interessado em consumir a energia de seres vivos sempre que tem a oportunidade.


Nas poucas vezes em que é desafiado, Yog-Sothoth se defende de modo tempestuoso. Ele pode transportar seu alvo para qualquer lugar no universo em um piscar de olhos, removendo-o de sua altiva presença. Seja para o centro incandescente de uma estrela ou para o gélido vácuo espacial, suas vítimas jamais são vistas novamente. Alternativamente, quando enfurecido, Yog-Sothoth pode gerar uma potente descarga elétrica semelhante a um raio prateado que fulmina tudo em uma área de cinco metros de diâmetro. Aqueles atingidos são desintegrados e seus corpos transformados em poeira.

Embora a literatura do Mythos contenha várias narrativas envolvendo a interação entre mortais e essa divindade, é possível que a maioria delas não passe de fábulas. Uma em especial, a que descreve Moisés libertando a entidade, tratada como Yahweh, do interior do Monte Sinai, parece especialmente alegórica. Se serve de aviso, o desfecho mais provável para qualquer tentativa de barganha com essa entidade é a completa e total obliteração.

Yog-Sothoth constitui um princípio de poder cósmico, uma das forças reguladoras da realidade e como tal está muito além de nossa compreensão. Tratar com Ele é cortejar o aniquilamento.


6 comentários:

  1. parabéns incrivelmente interessante.

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  2. parabéns incrivelmente interessante.

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  3. Y'AI'NG'NGAH
    YOG-SOTHOTH
    H'EE-L'GEB
    F'AI THRODOG
    UAAAH

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  4. Yog não é fácil não. Parabéns pela gramática impecável!

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  5. Muito interessante li tudo
    Até pensei em barganhar com ele kkkk
    Antes de ler oq acontece

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  6. irado, vai acrescentar bastante no rpg que mestro

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