sábado, 26 de março de 2022

Mausoléu do Tirano - A maldição da Tumba de Timur


O mundo está repleto de misteriosos lugares antigos repletos de segredos obscuros perdidos no tempo. Estes são locais com passado ​​bizarro, imersos nas brumas do tempo e com supostas forças místicas que os alimentam até hoje. Seus verdadeiros mistérios permanecem obscurecidos pela passagem dos séculos, infundidos com lendas e mitos. Um desses lugares secretos fica na Ásia Central, ele é o local de descanso de um dos tiranos mais cruéis e sanguinários que o mundo já conheceu, e que dizem conter uma maldição insidiosa até hoje.

Embora seu nome pareça ter sido amplamente esquecido nos tempos atuais, no século XIV poucos nomes podiam ser mais aterrorizantes do que o do conquistador nômade turco-mongol, senhor da guerra e nobre Timur. Comumente conhecido como Tamerlão, ele foi um dos invasores mais cruéis e sanguinolentos da Ásia Central, ou de fato em qualquer outro lugar. 

Através de uma campanha com farto derramamento de sangue, que se estima ter causado a morte de cerca de 17 milhões de pessoas, ou mais chocantemente cerca de 5% da população mundial na época, Timur forjou o Império Timurid em torno do moderno Afeganistão, Irã e Ásia Central. De sua nação ele se lançou em conquistas e vitórias militares sucessivas sobre a Turquia, Iraque, Síria, Uzbequistão, Paquistão, Cazaquistão, Índia e parte da Rússia, tornando-se o primeiro governante da dinastia Timurid. Seu governo forjou a maior dinastia mongol depois do grande Genghis Khan


De fato, Timur se via como herdeiro legítimo de Genghis Khan e é considerado até hoje, um dos maiores líderes militares da história, bem como um mestre estrategista sem igual. Muito temido em toda a Ásia em sua época, as histórias dos poderosos feitos de crueldade e morte de Timur são lendárias, como a pirâmide que ele construiu na Índia feita com os crânios de 70.000 de suas vítimas. Também teria ordenado a devastação, queima e salgamento das terras de adversários para que nada mais crescesse lá. Finalmente, Timur era um seguidor da Lei de Taleão, que mandava cegar homens, amputar suas mãos e pés ou ainda decapitar os desafetos sem qualquer remorso. 

Tudo isso, no entanto, contrastava com ele ser um grande patrono da arquitetura e das artes em geral. Artistas, filósofos e pensadores estavam sempre ao seu lado, e ele pedia que estes interpretassem e explicassem o que estava ao seu redor. Essa faceta ilustrada pode ser percebida através de seu elaborado mausoléu, que não é apenas impressionante pela requintada arquitetura, mas também, pela terrível maldição que, dizem, paira sobre ele.

Chamado de Gur-e Amir, que em persa antigo significa “Túmulo do Rei”, e localizado na antiga e exótica Samarcand, no Uzbequistão, o túmulo de Timur é considerado uma maravilha arquitetônica sem igual na sua época. O mausoléu contém os restos mortais de Timur, que morreu ao tentar conquistar a China em 1405 aos 68 anos, bem como os de seus filhos Shah Rukh e Miran Shah e netos Ulugh Beg e Muhammad Sultan, membros de sua dinastia. O brilhante complexo abobadado em azul é ricamente decorado com tijolos esculpidos e vários mosaicos intrincados. Ele é tido como o precursor e modelo para túmulos posteriores de Mughal, influenciando até mesmo o design do Taj Mahal


O mausoléu deveria ser um lugar de paz e contemplação como desejava seu mais ilustre ocupante. Timur o construiu como uma forma de mostrar que até os mais poderosos governantes são mortais e como tais, um dia deixarão de existir. Embora ele tenha pensado no mausoléu dessa maneira, isso não o impediu de estabelecer que haveria um preço a pagar para quem profanasse seu descanso. Desde o início havia um mito sobre o lugar ser protegido por fantasmas e espíritos.

O primeiro registro da suposta maldição vem de 1740, quando o rei Nader Shah do Império Afsharid decidiu pilhar o sarcófago de Timur. A história diz que a lápide do sarcófago foi acidentalmente quebrada em duas no processo, o que foi visto como um mau presságio. Shah foi aconselhado a devolver os restos mortais ao local original, mas era tarde demais, poucos anos depois seu império caiu em ruínas. A partir desse ponto, dizia-se que perturbar o mausoléu de Timur traria infortúnio e morte, mas isso não impediu que muitas pessoas tentassem invadi-lo.

Sabe-se de ladrões que se arriscaram no Mausoléu e que, dizem as lendas, sofreram um fim terrível graças à maldição do antigo Rei. A maldição não ficaria restrita àquele que cometeu o crime, mas a sua família, aos amigos e as gerações vindouras. Tamanho era o terror dessa maldição que o prédio ficou abandonado por séculos, sendo evitado elo povo de Sarkomand que sequer passava próximo a ele.


Dois outros eventos confirmaram o caráter maldito do Mausoléu e o azar que ele parece atrair aos invasores. Em meados de 1916, o último Czar Romanov do Império Russo patrocinou uma expedição ao Uzbequistão que deveria escavar o Mausoléu em busca de tesouros culturais. A expedição foi marcada por contratempos e revezes desde o início, com um ataque de insurgentes e a morte de dois dos arqueólogos ligados a expedição. Ainda assim, vários itens foram recolhidos, embalados e mandados para a Rússia onde foram expostos com grande destaque.

Nem é preciso dizer que no ano seguinte, o Czar Nicolau Romanov foi derrubado do poder e assassinado, junto com sua família, na revolução empreendida pelos Bolcheviques. Os tesouros de Timur foram então confiscados pelo estado e guardados por décadas.

Anos mais tarde, fascinado pela história de Timur, o ditador Joseph Stalin enviou uma equipe de arqueólogos para invadir o Mausoléu e exumar os restos mortais de Timur para estudo. Um dos objetivos principais era determinar se ele tinha raízes russas. Sob a direção do cientista e antropólogo soviético Mikhail Mikhaylovich Gerasimov, a expedição foi marcada novamente por estranhos incidentes. Os estudiosos entraram na tumba e imediatamente encontraram avisos gravados que diziam: “Somos todos mortais. Chegará a hora e todos partiremos. Se alguém perturbar as cinzas dos ancestrais, sofrerá severa punição”. Outra famosa inscrição alertava: “Quando eu ressuscitar dos mortos, o mundo estremecerá” e finalmente “Quem perturbar minha tumba atrairá um invasor mais terrível do que eu”. 

Os arqueólogos talvez devessem ter ouvido essas ameaças, mas mesmo assim, profanaram as sepulturas, ignorando os apelos dos sábios sufis que imploravam para que não incorressem na transgressão. Gerasimov localizou os restos mortais de Timur e os removeu para estudo. Isso ocorreu em 19 de junho de 1941, apenas três dias antes das tropas de Adolf Hitler invadirem a União Soviética, sem qualquer declaração formal de guerra. A longa e sangrenta campanha nazista na Frente Oriental acabaria levando à morte cerca de 26 milhões de pessoas. 


Em meio a invasão, Stalin se convenceu de que a profanação da tumba poderia ter sido uma má ideia e ordenou que os restos mortais de Timur fossem devolvidos ao local de descanso em dezembro de 1942. Ordenou ainda que o Mausoléu fosse reformado por completo e sua glória devolvida. Pouco depois, o exército alemão começou a reduzir seu ímpeto até que foi derrotado na sangrenta Batalha de Stalingrado, marco do fim da Invasão à URSS. 

Fato ou mera coincidência, quem pode saber?

É difícil dizer quanto dessa conversa de maldição é verdade e quanto é pura lenda. Tudo parece simples folclore, criado para afastar e assustar saqueadores. No entanto, a história mostra que aqueles que ousaram profanar o descanso do Tirano perderam, ou ao menos foram ameaçados naquilo que mais desejavam: poder.

O sítio atualmente está aberto, sendo visitado por milhares de turistas anualmente, mas parece que existe todo um protocolo à respeito da visita a esse lugar. Os guias instruem os visitantes a não encostar nas pedras desnecessariamente e evitar remover qualquer coisa do interior da construção. Da mesma maneira, recomenda-se que os visitantes antes de entrar, façam um sinal que simboliza respeito, para evitar qualquer mau entendido com os espíritos. Afinal, nunca se sabe que forças obscuras podem estar presente neste lugar antigo.

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