domingo, 20 de março de 2022

USS Cyclops - Um dos mais Misteriosos Desaparecimentos de Navios na História


Com quase 168 metros de comprimento, o USS Cyclops era um dos maiores navios do arsenal da Marinha dos EUA em março de 1918. Com apenas oito anos de serviço, o Cyclops era um verdadeiro titã naval, batizado em homenagem aos lendários gigantes da mitologia grega, os ciclopes. Seu nome era bastante adequado, mas não se referia apenas ao tamanho. Ele impressionava pela capacidade de carga, velocidade, aparelhamento moderno e potência dos motores. Tudo nele era colossal.

Não por acaso, os jornais o definiam como uma cidade mineradora flutuante, tamanha a quantidade de carvão que ele era capaz de transportar em seus vastos compartimentos de carga - algo em torno de 13 mil toneladas. A função principal do Cyclops não era apenas transporte, mas abastecimento. Em uma época em que os navios navegavam queimando toneladas de carvão, ter um navio de abastecimento num comboio era essencial em termos de logística. Isso fornecia um trunfo decisivo para a Marinha Norte-Americana ir onde bem entendesse.

Na sua última viagem oficial, o Cyclops partiu do gélido Porto de Norfolk, em Maryland com destino ao Brasil, onde deveria apanhar uma carga de 11 mil toneladas de manganês. Era uma das maiores vendas de minério da história do Brasil e os americanos precisavam urgentemente dela para a Guerra na Europa na qual eles haviam entrado recentemente. A carga seria usada para a produção prioritária de armas e equipamento.

O navio, com uma tripulação de 300 almas seguiu para o porto do Rio de Janeiro para abastecimento e a primeira parte da viagem transcorreu sem maiores problemas. O Cyclops e sua tripulação não eram estranhos ao mar. Tendo estado em operação frequente desde 1910, o enorme navio de transporte era um visitante regular de portos no México e do Caribe, sendo frequentemente utilizado no transporte de carvão para vários locais. Ele também havia ido recentemente até a Inglaterra onde deixara tropas, suprimentos e armas.


No retorno, o experiente Comandante George Worley enviou uma mensagem logo depois de deixar o Porto de Barbados. Ele havia feito uma parada para corrigir alguns pequenos problemas no navio, mas deixou claro que não havia motivos para preocupação. Em seguida, o Cyclops seguiria para concluir o trajeto de retorno até Baltimore. "Tempo bom, tudo bem" transmitiu através do rádio se referindo aos mares tranquilos que esperava adiante. Ninguém poderia imaginar que aquela seria a sua última mensagem. Ao longo dos nove dias que se seguiram, o prazo estimado de chegada, o Cyclops simplesmente não fez mais nenhum contato e em algum ponto desapareceu nas águas do Atlântico.

Parece razoável assumir que algo deu terrivelmente errado durante a travessia. Algo que até hoje é motivo de debate, conjecturas e questionamento. Quaisquer que sejam os eventos que levaram ao desaparecimento do navio, aconteceu tão rapidamente que não houve tempo de enviar um sinal de socorro, baixar um barco salva-vidas ou fazer qualquer indicação de que a carga e os tripulantes estavam em perigo. 

O Cyclops desapareceu dos mares que singrava e se tornou um dos maiores enigmas náuticos da história.

Geralmente, um balde de madeira ou um colete salva-vidas de cortiça identificado como pertencente a um navio perdido é recolhido após um naufrágio, mas não foi o que aconteceu com o Cyclops. Nada, absolutamente nada transpareceu!


À princípio, boatos alertaram de que o navio havia sido avistado navegando à esmo na Costa de Virginia, mas os barcos de busca que patrulharam a área não encontraram nada. Também foram mencionados avistamentos de uma embarcação de grande porte navegando à deriva pelo norte das Bermudas, mas estes também não foram confirmados. Até mesmo aviões de reconhecimento, uma tecnologia recente, foram empregados na tentativa de desvendar o mistério. Nenhum resultado foi obtido.

O mistério de seu desaparecimento permanece sem solução mais de um século depois. O que poderia ter acontecido com o Cyclops durante sua fatídica viagem de retorno a Baltimore?

À medida que pesquisadores históricos e investigadores amadores sondaram o mistério exaustivamente durante as décadas seguintes, as menções sobre o lendário Triângulo das Bermudas se tornaram irresistíveis. O lugar, afinal constitui um dispositivo conveniente para defensores do paranormal e toda sorte de mistérios. De uma coisa os céticos não podiam se desviar, o Cyclops estava navegando justamente através do Triângulo no momento em que desapareceu sem deixar vestígios.


Algumas sugestões sobre o que teria acontecido causaram controvérsia, entre as quais, a formação de um imenso redemoinho ou vórtex que teria causado o naufrágio do navio, levando-o para as profundezas em poucos minutos. Também se cogitava a possibilidade de um submarino alemão ter realizado um ataque surpresa, embora não fosse provável haver u-boats tão distantes naquela altura da guerra. Poderia também a embarcação ter se chocado com uma mina submarina. Outros diziam que uma forte tempestade como as que se formavam repentinamente no Mar do Caribe poderia ser responsável por virar o Cyclops. 

Teorias mais plausíveis sobre o destino do navio incluíam a ideia de que o Cyclops possuía um problema estrutural que se acentuou quando a carga de 11 mil toneladas foi embarcada. Essa teoria até ganhou corpo quando as autoridades portuárias de Barbados confirmaram que o cargueiro recebeu reparos emergenciais e que se cogitou desembarcar parte de sua carga de manganês por uma questão de segurança. O Comandante, no entanto, não aceitou o conselho de fazê-lo e decidiu seguir em frente - ele sabia da necessidade premente de entregar a carga. 

Outros mencionaram o boato de que Barbados estava cheia de espiões e sabotadores. Um agente inimigo poderia ter se infiltrado à bordo e causado uma explosão em alto mar usando para isso algum dispositivo temporizador. Ambas possibilidades podiam de fato explicar o desaparecimento, mas não eram suficientes para explicar como nenhum destroço havia sobrevivido. Um navio das dimensões do Cyclops não vai simplesmente para as profundezas sem deixar alguma pista.

Com o passar do tempo, alguns olharam além do horizonte em direção a outras possibilidades. Em vez de ação inimiga – uma teoria para a qual há tão pouca evidência quanto há para o paradeiro do próprio Cyclops – alguns pesquisadores propuseram que o Capitão do navio, George Worley, poderia ter sido o culpado pelo desaparecimento. Teorias envolvendo tudo, desde o gosto de Worley por bebidas fortes, até relatos de motim a bordo do navio, levaram a investigações da Marinha. Eles também se concentraram nos meses que antecederam ao desaparecimento do navio buscando algum indício de um agente externo sabotador. 


Apuraram que Worley mantinha uma relação conflituosa com sua tripulação e que alguns chegaram a denunciá-lo como pró-alemão. Realmente, Worley embora tivesse cidadania americana havia nascido na Alemanha e mudado seu nome pouco antes do início da guerra. Alguns se recordavam dele dizer que "os motivos para a guerra eram justos para a Alemanha e que ele esperava que seu país natal vencesse o conflito'. É claro, sua opinião provavelmente mudou quando os Estados Unidos entraram no conflito, mas muitos estavam dispostos a contar o que ouviram o Capitão falando anos antes. 

Outro detalhe apurado dava conta de que o Cônsul Especial da Embaixada Americana no Rio de Janeiro embarcou repentinamente no Cyclops. O homem chamado Moreau Gottschalk, era obviamente descendente de alemães e também mantinha uma indisfarçável simpatia pela causa germânica, tendo chegado a participar de atos favoráveis ao país no Brasil. Os motivos para seu embarque não ficaram claros, mas alguns amigos próximos garantiram que ele sofria de depressão e que havia mencionado repetidas vezes que o envolvimento da América na Guerra era um erro. 

Poderia um deles ou ambos terem conspirados para afundar o Cyclops e causar um revés ao esforço de guerra norte-americano? E se foi isso, estariam dispostos a morrer por essa causa? Nenhum dos dois sobreviveu para contar a história.

Apesar de todas as suspeitas, a investigação da Marinha inocentou Worley e Gottschalk das acusações e não encontrou motivos para suspeitar que eles tenham agido sozinhos ou em conluio para destruir o navio e sua valiosa carga. Realmente, os investigadores apuraram que o cônsul no Rio havia se desligado da missão com o intuito de se alistar, seguir para a Europa e lutar pelo seu país.


Apesar da limpeza do nome de Worley, os investigadores acharam as circunstâncias do desaparecimento do Ciclope não menos preocupantes, com a Marinha emitindo uma declaração oficial que chamou o incidente de "um dos mistérios mais desconcertantes dos anais da Marinha". O mesmo documento acrescentava que "todas as tentativas de localizar a embarcação falharam". Um dos investigadores responsáveis chegou a apresentar um estudo que se amparava no curso de águas e marés para demonstrar que ao menos alguns destroços deveriam surgir em determinada região. Nada foi achado e ele cunhou a frase: "não há como explicar o inexplicável sem dados suficientes".

Uma teoria proposta por Marvin Barrash, descendente de um dos homens que presumivelmente afundou com o navio, acredita que um evento conhecido como Tempestade Perfeita poderia ter causado o naufrágio. Este incidente não se refere a um evento climático, mas uma combinação de elementos que sozinhos não seriam capazes de causar o desfecho, mas que combinados teriam êxito. Portanto, uma sequência de elementos: do carregamento superpesado de magnésio no navio, combinado com falhas estruturais e algum elemento exterior, como uma tempestade inesperada, provavelmente teriam causado o desastre. Como o Cyclops navegava nas proximidades da Fossa de Porto Rico, provavelmente teria naufragado em águas profundas. Lá ele supostamente permanece escondido até hoje, numa sepultura marinha inacessível.

Mas será que foi apenas isso? Um acidente trágico, raro, mas convencional? Não haveria algum elemento adicional relacionado de alguma maneira? Algo, digamos, sobrenatural?

Anos mais tarde, as teorias à respeito da região conhecida como Triângulo das Bermudas trariam novas teorias para o desaparecimento. Teorias sobre abdução alienígena, uma bolha de energia submarina, portais dimensionais, deslocamento temporal, contato com formas de vida submarinas... todo tipo de teoria ganhou força, amparadas pela quantidade assombrosa de incidentes inexplicáveis ocorridos nessa área em particular. 


De fato, desde o início das viagens marinhas por essa região, desaparecimentos e casos estranhos se multiplicam nos relatos de navegadores. Com o tempo, e a proliferação de rotas cortando o Triângulo, mais e mais casos aconteceram, fazendo com que essa área geográfica ganhasse fama internacional.

Os relatos conflitantes sobre o suposto avistamento do Cyclops também foram responsáveis por um elemento adicional de mistério paranormal. Navegadores e tripulações inteiras juraram ter visto uma embarcação de grande porte aparentemente sem destino no Triângulo das Bermudas. Mas sempre que o navio era perseguido ou dele se aproximavam, um estranho fenômeno climático, parecido com um nevoeiro parecia cercá-lo e sumir com ele. Em um dos casos mais emblemáticos, um navio com bandeira panamenha teria se aproximado o bastante do Cyclops para ler o seu nome no costado. teriam tentado se aproximar ainda mais, mas de um momento para o outro o navio simplesmente desapareceu como se fosse uma visão fantasmagórica.

Poderia o Cyclops ter sido transportado para outra realidade, outro plano ou mesmo, outra dimensão da qual emerge, apenas como um vislumbre fugaz? E se tal coisa for verdade, como aconteceu e qual o destino da tripulação? Alguns teóricos conspiratórios afirmam que o incidente com o Cyclops seria um exemplo notável de deslocamento espaço-temporal, fenômeno que o governo americano passou a estudar dali em diante e sobre o qual possui extenso material.


E é claro, existem os que afirmam ter sido o Cyclops abduzido por alguma raça extraterrestre ou veículo espacial que o transportou para outro lugar. O filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau, mostra o Cyclops sendo encontrado no Deserto de Gobi, na Mongólia, transportado, sabe-se lá de que maneira. O filme explica o ocorrido através da ótica extraterrestre.

No fim das contas, sejam lá quais forem as circunstâncias que fizeram o navio sumir junto com seus 300 tripulantes, tornou-se parte da história. Ele é considerada a maior perda de vidas na história naval dos EUA, sem uma solução oficial. 

O Cyclops é um marco do mistério marítimo e aparentemente fadado a continuar dessa maneira pela eternidade, ou até que alguém o encontre nas profundezas. 

Adendo:

Como curiosidade, encontrei alguns recortes de jornais da época, publicados em jornais do Brasil sobre o mistério do Cyclops. Eles são bem interessantes pois mostram a confusão entre as pessoas que não entendiam como um navio das dimensões do cargueiro poderia desaparecer daquela forma.





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