Nos recantos mais escuros do mundo, há lendas que falam sobre monstros e horrores que habitam as trevas. São coisas desconhecidas e assustadoras que não somos capazes de compreender. E como sabemos, o medo diante do desconhecido é o maior e mais intenso de todos.
Uma lenda sobrenatural tipicamente africana se originou nas ilhas do arquipélago de Zanzibar, uma região semiautônoma da Tanzânia. Diz-se que nesse lugar espreita uma entidade demoníaca que muda de forma e que os moradores chamam de Popobawa, uma palavra suaíli que se traduz literalmente como "a coisa com asas de morcego". Diz-se que a criatura em questão é capaz de assumir forma humana e de animais, bem como adotar uma aparência bestial, mais assustadora e surreal, como por exemplo a de um humanóide grande, semelhante a um morcego, com orelhas pontudas, um único olho no meio da cabeça, e garras formidáveis em seus dedos. Sua presença é anunciada por um intenso odor sulfuroso e sussurros capazes de levar um homem à loucura.
Estas criaturas habitam cavernas profundas e saem apenas quando a noite cai para se alimentar dos desavisados. São vampiros que as lendas afirmam, se alimentam não apenas de sangue, mas também de lágrimas, suor, secreções vaginais e sêmen. Pode parecer mera superstição tribal, mas os Popobawa eram tão temidos que mantiveram o povo da Tanzânia rural preso ao medo por séculos. Mesmo nos dias atuais, em enclaves rurais distantes, a crença de que a coisa com asas de morcego observa, continua muito difundida.
Segundo as lendas, o Popobawa é decididamente uma entidade malévola que se diverte em atormentar seres humanos, em particular visando aqueles que duvidam de sua existência. Se alguém tiver sorte, ele apenas manifestará fenômenos semelhantes a poltergeist ao seu redor, mas é provável que ataque fisicamente suas vítimas com violência irrefreável. Uma de suas táticas favoritas é sentar no peito de uma pessoa, colocando todo seu peso sobre o tórax desta, ação que quebra as costelas e causa a lenta perfuração dos pulmões. Isso acaba fazendo com que o pobre infeliz se afogue em seu próprio sangue e morra por sufocamento.
Talvez ainda mais perturbador seja o rumor de que o Popobawa pode assumir a forma de um súcubo ou incubo de grande beleza, usada para seduzir tanto homens quanto mulheres. Ele então se alimenta da energia sexual que deriva do estupro de suas vítimas, geralmente sodomizando homens e violando mulheres. Em muitas narrativas, o demônio supostamente encoraja suas vítimas a contar aos outros o que lhes aconteceu, espalhando assim o pânico e possivelmente alimentando-se com o medo que isso gera.
As origens precisas dos mitos à cerca dessas entidades não são claras, mas uma ideia popular é que eles estejam associados às lendas dos gênios. Eles teriam sido conjurados por um sheik para trazer azar aos que o prejudicaram ou ofenderam. O feiticeiro teria perdido o controle sobre as entidades e elas ficaram livres para vagar pelo mundo. Outra ideia é que eles seriam fantasmas de escravos que sofreram durante os dias em que Zanzibar figurou como um dos mais movimentados portos de comércio de escravos enviados para a Arábia. Uma terceira hipótese é que eles seriam formas adotadas por bruxas, feiticeiros ou espíritos malignos para predar os homens. O que quer que sejam, certamente tudo soa como um folclore assustador, mas na região, onde esses demônios rondam, eles são considerados muito reais e há inúmeros relatos de moradores assustados por tê-los encontrado.
Um dos casos modernos mais famosos de um incidente envolvendo um Popobawa supostamente ocorreu em 1951, quando uma garota da aldeia foi supostamente atacada e violentada por uma das entidades. Depois da experiência a garota de 15 anos supostamente passou a incorporar a criatura, falando com uma voz masculina rouca e profunda, além de exalar de seu corpo cheiro de enxofre e emitir os ruídos característicos do Popobawa. Supostamente foi necessária a intervenção de um poderoso xamã e o sacrifício de cabras para remover a possessão e salvá-la.
Por volta da mesma época, houve uma enxurrada de avistamentos da criatura e relatos de ataques, causando uma histeria coletiva em que as pessoas tinham medo de deixar suas casas e homens armados patrulhavam as ruas de noite. O terror chegou a tal ponto que a polícia teve que acalmar distúrbios. Curiosamente, esse pânico em massa continuou até o assassinato do presidente de Zanzibar, após o qual os encontros com demônios diminuíram.
Avistamentos e ataques dos supostos demônios tendem a vir em ondas, e quase sempre trazem histeria em massa com eles. Após a década de 1950, outro pânico semelhante aconteceu em 1975, quando aldeões aterrorizados na ilha de Unguja alegaram que uma das criaturas os estava aterrorizando, aparecendo como um humanóide nu com cauda e carregando um pote de remédios naturais. Acreditava-se que estava entrando nas casas para atacar os moradores. Os hospitais admitiram várias pessoas com costelas quebradas ou outros ferimentos que atribuíram à besta. A histeria se tornou tão grande que uma multidão de homens armados alegou ter atacado e esfaqueado o demônio, mas que ele havia escapado para continuar sua fúria. Tragicamente, um homem mentalmente doente foi morto por uma multidão depois de ser apontado como o demônio disfarçado. Uma suposta vítima do demônio era um fazendeiro local chamado Mjaka Hamad, que relatou seu encontro:
"Eu acordei com algo me pressionando. Eu não conseguia imaginar o que estava acontecendo. Você sente como se estivesse gritando sem voz e fica impotente. Foi como um pesadelo do qual não conseguia acordar. Quando abri os olhos, vi o Popobawa montado em meu peito fazendo sobre ele um peso esmagador. Sua forma era negra como uma sombra, o corpo liso e com um fedor de enxofre insuportável. Ele cavalgou sobre mim por muito tempo, suas asas de morcego abrindo e batendo. Eu não acreditava no sobrenatural, então talvez tenha sido por isso que ele me escolheu. Tive duas costelas quebradas e quase morri na experiência. Talvez ele ataque qualquer um que não acredite."
Estranhamente, como o pânico em massa da década de 1950, o incidente de 1975 coincidiu com um período de turbulência política, ocorrendo durante uma eleição bastante disputada em Zanzibar na época. Eleições contenciosas e agitação civil resultante em 2000 e 2001 também foram o marco zero para uma série de avistamentos do Popobawa. No entanto, nem sempre é assim, pois um grande pânico também aconteceu em 2007, quando homens assustados em Dar es Salaam, na costa continental do Tanzânia, começaram a relatar terem sido impiedosamente sodomizados durante o sono pela entidade. Para se precaver dormiam em grupos e se cobriam com banha de porco, que eles acreditavam despistar o monstro.
Com o que estamos lidando aqui? Seria algum tipo de fenômeno sobrenatural genuíno ou algo mais? O fato de muitas das ondas de encontros Popobawa ocorrerem durante períodos de agitação fez com que alguns sugerissem que o mito poderia estar sendo usado como uma ferramenta política para causar inquietação entre a população supersticiosa. Há também a ideia de que é apenas uma lenda que saiu do controle, e também pode ser apenas uma manifestação de Paralisia do Sono, algo conhecido como Síndrome da Velha Bruxa, na qual uma pessoa fica presa em um estado intermediário desperto e de sonho. Nessas circunstâncias, tem alucinações, muitas vezes incluindo figuras de sombra ou de uma mulher velha sentada sobre seu peito.
No entanto, muitos dos moradores de Zanzibar onde os Popobawa são encontrados insistem que esses demônios existem, e não apenas mitos e histórias criadas para assustar. O que quer que sejam esses monstros, entidades sobrenaturais ou meramente fruto de antigas superstição e imaginação, o medo que eles geram é muito real.
Quando a noite cai, o terror dos Popobawa vive.
E como mata?
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