quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A Criatura dos Salgueiros - Adaptando o Horror de Algernon Blackwood para Call of Cthulhu

É difícil encontrar uma história de horror capaz de capturar nossa imaginação e criar uma sensação de terror, ao mesmo tempo sutil e descritivo, como "Os Salgueiros" de Algernon Blackwood (1907).

Na história, dois amigos decidem partir em uma viagem de canoa através do Rio Danúbio, em uma das regiões mais isoladas da Europa Central. Após dias percorrendo rios que margeiam florestas ermas, os dois acabam indo parar em uma pequena ilha - quase um banco de areia no meio de um pântano, à caminho de Bucareste. Esta parte do rio é descrita como uma "região de singular isolamento e desolação… coberto por um vasto mar de salgueiros". Com base nesse ambiente insalubre de opressiva natureza, se desenrola a trama. Não existe escritor capaz de conjurar uma aura de horror perante o mundo natural como Blackwood. 

A floresta em que os canoístas adentram é uma presença viva, praticamente um personagem que participa ativamente da trama. A mata é como uma entidade cheia de olhos e ouvidos, observando constantemente os dois pobres sujeitos perdidos em uma ilha que parece diminuir. As plantas e criaturas que habitam esse lugar afetam a percepção febril dos dois e faz com que eles se perguntem constantemente "se estamos sozinhos, então por que sentimos que alguém está observando"?

Essa sensação desagradável vai se tornando cada vez mais incômoda e logo a sanidade cede espaço para a paranoia e o medo. A construção da história é incrível, o leitor sente a tensão aumentando a cada página e lá pela metade, é impossível não ficar angustiado querendo saber como vai terminar a trama.

Não vou revelar o fim, mas vou contribuir com a adaptação do horror principal dessa história. No caso, é minha adaptação da entidade que habita o pântano, um "estranho não-natural" que habita os pântanos e se mistura aos salgueiros do título.

Sem mais delongas, eis aqui... A CRIATURA DOS SALGUEIROS


As estatísticas da criatura do clássico conto Os Salgueiros de Algernon Blackwood para Chamado de Cthulhu.

HORROR DO ERMO

"Com a multidão de salgueiros, porém, eu sentia uma coisa diversa. Deles emanava uma essência que fazia meu coração sentir-se sitiado. Uma sensação de temor real, sim, mas um temor com matizes de terror. Eles cerravam fileiras, crescendo por toda parte, formando sombras cada vez mais escuras, à medida que a noite caía, movendo-se ao vento com suavidade e fúria, reforçando em mim a impressão de que havíamos trespassado as fronteiras de um mundo alienígena, um mundo onde éramos intrusos, onde não éramos bem-vindos, onde não deveríamos ficar - e onde, talvez corrêssemos perigo".

Algernon Blackwood - Os Salgueiros   

Nomes alternativos: Horrores Além da Realidade, Devoradores do Além, Salgueiros

Esses horrores não são nativos da Terra, eles parecem surgir em nossa realidade através de mecanismos desconhecidos. Há teorias de que tais criaturas descendem de um reino além, outra realidade ou dimensão, incompatível com os princípios físicos da nossa. Seu aparecimento pode se dar através de portais abertos mediante conjunções astrais e outros fenômenos aleatórios.

Mais frequentemente estes seres se manifestam em áreas isoladas e regiões remotas, onde seu surgimento raramente chama a atenção de pessoas. Uma floresta erma, um bosque fechado ou um pântano, por exemplo. Eles estão circunscritos a uma determinada área e limitados a estes espaços não superiores ao seu atributo POD em metros quadrados. Tais localidades acabam desenvolvendo fama de serem assombrados e por isso acabam sendo evitados. Isso se dá porque o surgimento de tais entidades causa uma grave anomalia na ordem natural.

Uma vez em nossa realidade, os Horrores, que são insubstanciais, se misturam ao ambiente e emulam uma forma estática de sua escolha, seja esta vegetal ou mineral. Disfarçado dessa maneira (como uma pedra ou uma árvore) as criaturas se mantém indiferentes sendo raramente percebidas em meio a outras formas semelhantes. Normalmente, eles não interferem com nossa realidade e de fato permanecem inativos por séculos. Há contudo pequenas inteirações que podem acontecer subitamente: um brilho fulgurante ascendendo para os céus, a sensação de uma presença invisível, luzes como fogo fátuo, uma mudança súbita na temperatura ou mesmo um ruído agudo inexplicável. Nesses casos a presença dos horrores pode ser presumida através de uma sensação enervante no ar. O perigo está na contrapartida, quando uma destas criaturas percebem uma presença consciente ao seu redor.


Uma vez cientes de algo consciente próximo, eles passam a se concentrar em detectar estas formas de vida, usando para isso uma variedade de sentidos desconhecidos para nós. Uma de suas formas mais comuns de detecção envolve sondar psiquicamente uma área em busca de emanações mentais que possam ser rastreadas até sua fonte. Se uma pessoa próxima simplesmente pensar a respeito da estranheza do lugar ou sobre uma presença invisível, o Horror poderá rastrear a fonte de tais pensamentos e localizar a pessoa em questão. Para muitos, meramente ser percebido por estes seres desencadeia uma sensação exasperante de medo primitivo.

Esses seres são geralmente indetectáveis, mas quando uma interação é estabelecida, o Horror se torna mais e mais ativo o que aumenta o risco de detecção. Os Horrores são seres extremamente curiosos e meticulosos em suas investidas exploratórias. Uma vez atraído até um alvo, ele tentará se aproximar, capturar e então analisar a criatura, muitas vezes, de forma invasiva. Vítimas dessa exploração podem não suportar o contato resultante, podendo ser fisicamente feridos ou mentalmente sobrecarregados. A sondagem de tais seres deixa estranhas marcas em padrão concêntrico em tudo que é tocado por eles. Não se sabe exatamente o que estes padrões significam, mas alguns assumem que são uma espécie de "impressão digital" deixada por eles.

Quando assumem uma forma física, esta pode variar enormemente. Eles já foram descritos como estranhos aglomerados vegetais com longos braços semelhantes a gavinhas, caules flexíveis e cerdas espinhentas parecendo folhas prateadas ou cor de bronze. Contudo é possível que eles também possam assumir formas ainda mais estranhas e bizarras dependendo apenas daquilo que eles escolheram emular. É comum elas possuírem dezenas de raízes tentaculares, braços serpentoides ou apêndices cauliformes utilizados para se mover ou atacar.


Os Horrores não podem ser feridos por armas físicas, ainda que feitiços possam surtir efeitos contra eles e até mesmo destruí-los.

Diante do perigo que tais criaturas representam, a melhor sugestão é evitar qualquer contato com elas e se possível, se afastar da área em que elas se encontram tão logo sua presença seja presumida.

Horror do Ermo, Criaturas do Outro Lado

Essas criaturas podem assumir diferentes formas, mas em geral são maiores do que uma pessoa, do tamanho de grandes pedregulhos, imensas rochas nuas, frondosas árvores com folhas que se movem sozinhas ou enormes troncos cobertos de líquens. Por vezes assumem uma forma vagamente humanoide, sobretudo quando estabelecem contato psíquico.

característica       rolamento          média

FOR                   (6d6 +4) x5          125
CON                   (4d6+2) x5            80
TAM                   (6d6+10) x5        145
DES                    (2d6+1) x5            40
INT                     (4d6+3) x5            85
POD                    4d6 x5                  70

Média de Pontos de Vida: 19
Média de bônus de Dano: +2d6
Média do Corpo: 3
Média de Pontos de Magia: 14 
Movimento: 5

Combate:

Ataques por rodada: Drenar Energia através de 1d6 gavinhas por rodada

Só podem atacar os seres humanos de quem tenham tomado consciência. O toque de cada gavinha drena 1d10 pontos de PODER. Se a vítima for inteiramente drenada de seu PODER ela perde os sentidos e desmaia por esgotamento. Qualquer outra interação (inclusive uma nova ação de drenar) causa a morte da vítima. O alvo desse ataque apresenta estranhos padrões circulares depois de ser tocado pela criatura. Sobreviventes restauram os pontos de PODER perdidos da forma convencional descansando, as marcas desaparecem com o tempo.

Sobrecarga Emocional

Indivíduos impedidos de deixar a área dominada por um Horror começam a sentir a sobrecarga mental causada pela proximidade da criatura. Esses efeitos são sentidos quase que de imediato, mas só começam a causar desconforto depois de 1d4 horas. Uma pessoa no raio de ação do horror perde 1d4 pontos de sanidade por hora e tem uma chance igual a sanidade perdida x5 de ser detectado pelo horror.

Lutar               50% (25/10), dano drena 1d10 pontos de PODER

Esquivar         Não aplicável

Habilidades: Furtividade 85%

Armadura: Imune a todas as armas físicas conhecidas. Fontes de energia como eletricidade, fogo ou radiação, além de feitiços causam dano normal.

Feitiços: Podem conhecer até 1d4 feitiços à critério do Guardião.

Custo de Sanidade: 1/1d6 por ver a forma de um Horror do Outro Lado, ao ser detectado por uma criatura o custo é de 1d6. A sobrecarga emocional ocasiona uma perda ainda mais severa.


Sim eu sei que esse desenho é de um Shambling Mound de Pathfinder, mas ele parece tão adequado para essa criatura que eu arrisquei colocar aqui.

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