domingo, 27 de fevereiro de 2022

Tsar Bomba - A detonação da arma mais destrutiva criada pelo homem


Bom, nós estamos falando de coisas assustadoras causadas por acidente ou geradas pela natureza, este horror é um marco do que o homem pode deflagrar deliberadamente quando motivado a causar destruição sem precedente.

A ideia dos cientistas responsáveis pelo projeto era bastante simples - criar uma bomba nuclear que pudesse colocar a União Soviética na frente dos Estados Unidos na Corrida Nuclear

É preciso contextualizar a situação e a época. O ano era 1961 e a Guerra Fria estava em um de seus momentos mais dramáticos e o mundo temia o que o futuro nos reservava. Nesse contexto, os testes nucleares realizados pelas super-potências eram uma preocupação constante. Cada uma delas parecia empenhada em desenvolver armas mais potentes e com uma capacidade de destruição ainda maior que as antecessoras.

Os norte-americanos iniciaram a corrida com um arsenal de bombas atômicas, como as que foram lançadas sobre o Japão nos dias finais da Segunda Guerra, mas em pouco menos de duas décadas estas já haviam se tornado obsoletas. Bombas como a de Hidrogênio e a Castle Bravo já eram suficientemente assustadoras, mas coube aos soviéticos o passo mais ousado na escalada armamentista.

A arma tinha um nome à altura TSAR BOMBA.


O objetivo dos soviéticos era mostrar ao resto do mundo o poder destrutivo ao seu alcance. Nesse sentido, a Tsar Bomba tinha um efeito psicológico que visava criar verdadeiro terror - fazer o resto do mundo temer o poder contido em seu arsenal. 

Tudo na Tsar Bomba era absurdo e aterrorizante, a começar pelas suas dimensões e seu peso. Ela media mais de 8 metros de comprimento por 2,5 metros de diâmetro. Seu formato era similar às bombas fat boy (usadas sobre o Japão), mas muito, muito maior e mais pesada atingindo nada menos que 30 toneladas. Para que ela fosse lançada seria preciso modificar o maior avião da força-aérea soviética, o bombardeiro pesado Tupolev Tu-95v que teve de ser praticamente desmantelado para que a arma fosse acoplada na sua barriga. Como resultado, o avião ficou tão pesado que alguns supunham que ele sequer seria capaz de decolar.

O local escolhido para a detonação foi a ilha de Novaya Zemlya, no Mar de Barents, nordeste da União Soviética e extremo norte da Escandinávia. O lugar, em pleno Círculo Polar Ártico, foi escolhido por ser apenas esparsamente populado e porque a explosão teria de ser deflagrada a uma distância suficiente de qualquer região habitada para não trazer consequências duradouras. De fato, a escolha se deveu principalmente ao fato de que os próprios soviéticos não tinham ideia da potência da bomba que iam lançar e por temer que a explosão pudesse causar algum dano permanente.

Um segundo Tupolev acompanharia o bombardeiro responsável por soltar a bomba. Sua função seria monitorar, filmar e fotografar a explosão. Antes mesmo de decolar, os pilotos receberam informações a respeito dos riscos que envolveriam a experiência. Existia a possibilidade de que a onda de choque gerada pudesse atingir os aviões e derrubá-los. Para dar uma chance aos aviões a bomba seria lançada com um paraquedas gigantesco (o maior do mundo) para que eles pudessem se afastar. Era preciso que eles estivessem a pelo menos 50 quilômetros de distância, o que lhes daria uma chance de sobreviver. Ainda assim, os técnicos acreditavam que havia 50% de chance dos aviões serem atingidos.


Exatamente às 11:32 do horário de Moscou, a arma mais terrível criada pelo homem foi detonada a cerca de 4 quilômetros do solo. A explosão resultante criou uma bola de fogo que cobriu uma área com o raio de 35 quilômetros. Nessa área, virtualmente tudo ardeu a uma temperatura de milhares de graus que reduziu pedregulhos a poeira e fez areia virar vidro em uma cratera de quase 40 metros de profundidade. O brilho dessa bola de fogo colossal pode ser visto a mais de mil quilômetros de distância. Já o cogumelo nuclear atingiu impressionantes 64 quilômetros de altura, com uma nuvem no topo medindo mais 100 quilômetros de comprimento.

A energia liberada foi equivalente a detonação de (prestem atenção nesse número!) 58 milhões de toneladas de dinamite. Você não leu errado, 58.000.000 de toneladas de TNT. É quase dez vezes a quantidade de todos os explosivos utilizados ao longo dos seis anos que duraram a Segunda Guerra Mundial, incluindo as duas bombas que foram lançadas em Hiroshima e Nagasaki. A Tsar sozinha era 3.300 vezes mais potente que as duas bombas atômicas pioneiras. Tudo isso de uma vez só! 

Os detritos da explosão foram arremessados para a estratosfera e orbitaram a Terra três vezes. Calcula-se que a explosão poderia derrubar o Monte Everest, a maior Montanha do mundo, fazer desabar o Grand Canyon ou devastar a Amazônia em um segundo. Os danos que ela causaria em uma metrópole como Nova York ou Londres são mera conjectura, mas é razoável afirmar que ela arrasaria essas cidades em sua totalidade. Elas seriam transformadas em um deserto radioativo e fumegante de ruínas torcidas. 

O pequeno vilarejo de Severny, que foi evacuado e serviu como teste para verificação de danos foi varrido do mapa. Ele se localizava a 50 quilômetros da detonação. Os prédios e casas foram literalmente pulverizados pela onda de calor. Mesmo povoados há 160 quilômetros do ground zero sentiram o tremor resultante e pessoas tiveram queimaduras. Casas caíram e prédios balançaram, janelas foram estilhaçadas e telhados arrancados. Comunicações radiofônicas foram afetadas por horas.


Por milagre as aeronaves Tupolev conseguiram escapar da explosão e registraram em detalhes toda a fúria daquele horror nuclear. A onda de choque e deslocamento de ar fez com que cada avião despencasse quase mil metros antes que os pilotos conseguissem restabelecer o controle. Por pouco eles não foram ao solo.

A União Soviética recebeu uma condenação dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Suécia que registrou um tremor de 5 pontos na escala Richter em seu território. Por sorte, a bomba foi detonada a 4 quilômetros do solo, e a radiação não foi consumida pelo calor gerado sem se dissipar em quantidade preocupante. Tivesse ela explodido no impacto os danos seriam extensivos e incluiriam o envenenamento de radiação no solo.

Apenas alguns anos mais tarde, um detalhe aterrorizante foi revelado pelos cientistas que trabalharam no Projeto da Tsar Bomba. Um detalhe que por si só é perturbador e nos faz pensar na loucura que era a corrida nuclear...

A potência original da Tsar Bomba era ainda maior do que a que foi deflagrada, ela deveria ser duas vezes mais potente. Os envolvidos acreditavam que se essa dispersão de energia fosse mantida, o resultado poderia ser catastrófico e a onda de destruição poderia chegar aos países vizinhos, o que arriscaria uma reação dos demais países. Além disso, uma explosão de 100 megatons poderia em teoria causar danos permanentes no próprio planeta. Apesar disso, certas alas militares se disseram frustradas por não terem podido testar o poder total da Tsar Bomba.


O arquiteto do projeto, o físico Andrei Sakharv, acabou renunciando ao seu posto como Chefe da Divisão de Desenvolvimento de Armas Estratégicas na URSS. Sakharov foi internado com depressão profunda depois desse teste em virtude do temor de tal arma ser usada efetivamente. Anos mais tarde, o físico relatou que um dos planos era desenvolver no período de 10 anos uma Tsar Bomba cinco vezes mais potente que a testada, o que a tornaria uma arma capaz de obliterar a Costa Oeste inteira dos Estados Unidos, ou a Europa como um todo em caso de Guerra Nuclear. A noção de que sua arma poderia causar Devastação Global fez com que Sahkarov contemplasse o suicídio. Nos anos que se seguiram ao fim da Guerra Fria, um diário mantido pelo físico demonstrou seu horror pelo que havia criado. Ele se tornou um dos nomes mais atuantes no combate às armas nucleares como as que ele próprio ajudou a criar.

Ainda hoje, a Tsar Bomba ocupa o posto de arma mais destrutiva criada pelo homem. Mas não sabemos ao certo se a nossa necessidade de gerar destruição em massa irá parar por aí.

Existem conjecturas de que Bombas de Antimatéria, em teoria viáveis por cálculos embora ainda falte a tecnologia para implementação, poderiam liberar muito mais energia destrutiva. Algo na casa das 21.000 megatons, um número capaz de empalidecer o poder da Tsar.

Neste exato momento, existem aproximadamente 15 mil ogivas nucleares prontas para serem usadas, uma capacidade de destruição que poderia devastar o planeta aproximadamente 53 vezes.

Bons sonhos.


3 comentários:

  1. Minha reação ao ler esse artigo foi simples, eu dizer em voz alta: "isso é um monstro"
    Rezo para que a humanidade jamais cometa a tolice de liberar o caos nuclear novamente, guerras são guerras, batalhar é algo natural do ser humano, mesmo que condenável,mas isso é demais.
    Obrigado pela postagem, me deu um bom momento de reflexão sobre o quão perto já vivemos da obliteração.

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  2. Excelente matéria
    fiquei realmente com medo.

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