quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A Horror na Abadia - Lendas macabras de um lugar apavorante


Há lugares neste mundo que parecem atrair relatos de estranheza paranormal. Lugares em que se forma uma aura de terror e superstição que passa a ser uma marca indissociável. 

Localizada na pitoresca zona rural próxima à cidade de Trino, no noroeste da Itália, está uma imensa estrutura de pedra construída na Era Medieval. Com sua imponente arquitetura gótica, muro e campanário, o lugar conhecido como Abadia de Lucedio está lá desde 1124. Sua história é longa, envolta em rumores e lendas, boa parte delas bizarras. Muito antes de existir a abadia, o lugar não passava de um terreno pantanoso e inútil, dominado por charcos e atoleiros. Ele foi dado aos monges cistercienses pelo Marquês de Montefract, Renier I como dádiva por uma cura milagrosa.

Os monges agradecidos pela benevolência do senhor se mudaram para lá e através de muita labuta conseguiram mudar o panorama. Em poucas décadas transformaram a terra lodosa em uma estância para cultivo de arroz. Com o lucro de seu empreendimento, ergueram uma formidável fortaleza para abrigar a Abadia de Lucedio, que seria a base de suas operações. Com o trabalho árduo e disciplina dos monges, a abadia deu origem não apenas a um importante assentamento, mas também transformou a região outrora desolada em uma das áreas de cultivo de arroz mais importantes de toda a Itália, verdadeiro celeiro que alimentava o norte do país. Uma prosperidade que se destaca até os dias atuais. No entanto, de acordo com a lenda, havia algo sórdido e sinistro por baixo de todo esse sucesso.

Algumas lendas afirmam que os monges simplesmente negociaram suas almas imortais com o Diabo em troca de riqueza. Após os primeiros anos de muito trabalho e esforço, com poucas recompensas, eles aceitaram uma saída para se ver livres da pobreza que os afligia. Esse ato vez com que eles abraçassem as trevas para sempre. Com o acordo demoníaco, eles conseguiram uma riqueza inimaginável, mas o Diabo impôs duas condições para sua ajuda: que eles o servissem dali em diante e que continuassem a se passar por monges, como um tipo de escárnio divino.


Há outras teorias que mencionam os religiosos sendo seduzidos pelas belas jovens da zona rural, que na verdade seriam sucubus, agindo como instrumentos do diabo ou uma praga que fez os monges se voltarem para o Diabo quando acharam que Deus os tinha abandonado. Não importa como, mas o resultado final é sempre o mesmo. Os monges da Abadia de Lucedio supostamente se afastaram de seus caminhos piedosos e abraçaram as trevas.

Por volta de 1684, eles estavam envolvidos em todo tipo de rituais arcanos, adoração satânica e sacrifícios humanos. Há rumores de incontáveis horrores e atrocidades cometidos pelos monges atrás das grossas paredes da Abadia, incluindo estupro, assassinato e tortura. Tudo isso enquanto disfarçavam das pessoas sua real natureza diabólica. Segundo as lendas, eles chegaram a sequestrar aldeões desavisados ​​para seus propósitos místicos e nefastos. Ocasionalmente, os gritos dos torturados, bem como algo sons produzidos por entidades não-humanas, podiam ser ouvidos ecoando de dentro da fortaleza. Os aldeões sussurravam sobre o que acontecia naquele lugar. Em algum momento, uma vítima inocente teria conseguido escapar das garras dos monges malignos e relatar histórias sobre adoração de demônios, magia negra e outras coisas grotescas.

O pior de todos os boatos que circulava pelos povoados vizinhos dava conta de que os Monges invocavam de tempos em tempos uma hoste de demônios e que ofereciam a eles as pobres camponesas que eram sequestradas. Após essas orgias, as mulheres violadas pelas criaturas eram trancafiadas numa masmorra para que pudessem das à luz à horríveis crianças com sangue infernal. 


Isso supostamente continuou acontecendo por um séculos, até que a abadia foi finalmente fechada em 1784, após uma suposta epidemia que dizimou os monges. Depois disso, o prédio passou por uma série de proprietários, incluindo até Napoleão Bonaparte que deteve as chaves da abadia por anos. Contudo, as lendas dizem que embora abandonada, algo maligno continuava habitando a Abadia. Uma presença de maldade e corrupção que jamais desapareceu e que até os dias atuais permeia esse lugar marcado pela iniquidade.

Uma das histórias mais assustadoras menciona a tentativa da Santa Sé de reaver a Abadia no final do século XVIII. Um grupo de religiosos teria sido enviado ao lugar com o intuito de subjugar a presença demoníaca que lá vivia e exorcizá-la de uma vez por todas. Os padres enviados para a missão supostamente encontraram o acesso para uma cripta secreta abaixo da Igreja de Santa Maria, o epicentro do mal. Dos dez religiosos que desceram para explorar a cripta apenas cinco retornaram com vida, entre eles um jovem seminarista. Quatro dos sobreviventes decidiram se sacrificar para que as forças malignas jamais deixassem os subterrâneos. Eles se colocaram diante da escadaria que levava para a cripta e rezaram por dias e noites ininterruptamente. Segundo a lenda, isso conseguiu deter as forças nefastas que retornaram para as profundezas. Infelizmente, o esforço teria sido tão grande que os quatro morreram e lá foram deixados como sentinelas pela eternidade. O seminarista que testemunhou os acontecimentos foi enviado para o Vaticano onde prestou relato ao Papa em pessoa. Supostamente os cadáveres mumificados dos quatro padres continuam no mesmo lugar, guardando as escadarias que levam para a Cripta amaldiçoada. Enquanto continuarem lá, o mal será detido nas profundezas da Abadia.

Diferente da maioria dos mitos em que provas físicas jamais são apresentadas, a Lenda sobre os Quatro Guardiões da Abadia de Lucedio possui ao menos uma comprovação irrefutável. No aposento que leva às criptas abaixo de Santa Maria estão dispostos quatro cadáveres mumificados sentados em cadeiras. Eles vestem trajes de antigos clérigos e estes não foram corroídos pela passagem dos séculos. Da forma como foram depositados ali, realmente parece que eles estão guardando o lugar pela eternidade. A Igreja não comenta a Lenda, mas é um fato que após esses acontecimentos, o prédio pôde ser reclamado uma vez mais pela Santa Sé.


Considerando todas essas histórias, não é de se admirar que a abadia, e especialmente a cripta, sejam tidas como incrivelmente assombradas por sombras, fantasmas e demônios.

Outra narrativa popular sobre a abadia envolve um salão, usado para as refeições que possui uma pilastra de pedra que está sempre molhada sem motivo aparente. Não há vazamentos no telhado e nenhuma razão razoável para ele aparecer úmido o tempo todo. O chamado "Pilar das Lágrimas"  supostamente verte um choro amargo por conta de todas as atrocidades que ocorreram na Abadia. Dizem que justamente naquele aposento, ocorreram humilhações, torturas e sacrifícios humanos nos anos em que o prédio era governado pelos monges malignos. 

Outra história muito difundida menciona uma estranha névoa que vaga pelos corredores da Abadia e que seria uma presença diabólica invocada numa missa negra. A entidade, uma massa de fumaça escura e rodopiante costuma atravessar paredes ou entrar nos aposentos por baixo do vão das portas. Supostamente, a coisa possui natureza diabólica, deixando sempre um fedor nauseante de enxofre. Ela persegue suas vítimas, em especial aquelas que que são mais virtuosas, tentando possuir seus corpos e fazer com que eles se sujeitem à sua vontade. Verdade ou simples mito, existe um incômodo boato de que a Abadia foi palco de muitos suicídios ao longo dos séculos, cometidos justamente por jovens monges que lá viviam e enlouqueceram.

A região ao redor da Abadia de Lucedio também seria assombrada conforme contam os camponeses que residem nas cercanias.


Uma presença especialmente temida espreita os muros, na parte exterior da construção. Este ser sinistro anda encapuzado, com um pesado manto escuro cobrindo suas feições e impedindo se ver a sua face. Para alguns, a figura sombria pertence ao Abade responsável por intermediar o pacto diabólico firmado séculos atrás. O tal abade teria se convertido em um poderoso feiticeiro, responsável por oficializar os rituais sangrentos que lá aconteceram. A tal figura segue as pessoas e supostamente oferece aos que cruzam seu caminho uma barganha diabólica. Ele faz isso com o intuito de livrar sua alma condenada ao inferno oferecendo outros. A lenda afirma que quando ele tiver 1001 almas poderá trocá-las pela sua liberdade. Nos arredores, outra lenda cita enormes cães de pelagem escura e brilhante, quase como se fossem sombras vivas que uivam em certas noites particularmente escuras. Aqueles que ouvem esses uivos lamurientos por três vezes acabam amaldiçoados, e diz a sabedoria popular morrem pouco depois em tragédias inexplicáveis.    

Todos esses fenômenos paranormais são tão intensos que a Abadia de Lucedio é frequentemente citada como um dos lugares mais assombrados da Itália. Mais recentemente, essa fama atraiu investigadores paranormais e caçadores de fantasmas de todo o mundo que vieram até Trino com o intuito de estudar as manifestações fantasmagóricas. No início a Paróquia local permitiu visitantes, mas atualmente há regras bastante severas impedindo que equipes de televisão explorem as lendas da Abadia.

Seria tudo isso mera lenda urbana e simples folclore surgido ao longo de séculos? Ou há algo mais misterioso nesse lugar com histórico tão peculiar? Nos tempos atuais, a Abadia continua funcionando, mas a população de religiosos não passa de 50 almas residindo na velha construção secular. Ao redor dela encontram-se poucas fazendas de rizicultura, o que é atípico já que estas se espalham comumente pela paisagem local. 

Quando perguntados sobre as lendas, os habitantes locais desconversam e preferem ignorar as velhas superstições associadas à Lucedio como se elas fossem algo de um passado distante. Ainda assim, é curioso que um dos costumes associados à Trino envolvia se benzer com o Sinal da Cruz sempre que o nome da Abadia fosse mencionado. E mesmo nos dias atuais, tal costume se mantém intocado. Pelo sim pelo não, talvez seja melhor não arriscar.   

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