sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Prisão Assombrada - A Macabra Colônia Penal da Tasmânia


Alguns lugares parecem destinados a se tornar assombrados. Seja por sua história brutal ou por estarem mergulhados em sofrimento e angústia, eles chamam e convidam essas histórias. Um lugar assombrado por um passado tempestuoso é uma Colônia Penal isolada em uma península abandonada varrida pelo vento na ilha australiana da Tasmânia. Ela possui histórias extraordinárias sobre atividade paranormal há décadas.

A antiga Colônia Penal conhecida como Port Arthur tem uma origem violenta que a torna perfeita para histórias de assombrações. Localizada numa ilha na Península da Tasmânia, aproximadamente 100 quilômetros a sudeste da capital do estado, Hobart, ela recebeu seu nome em homenagem a George Arthur, vice-governador da Terra de Van Diemen. Originalmente, o lugar era uma estação madeireira fundada em 1830, que derrubava árvores e extraia preciosa lenha de qualidade. Dizem que as condições de trabalho eram tão extremas que ferimentos, muitas vezes fatais, aconteciam toda semana. Como ninguém mais queria se arriscar em trabalho tão exasperante, as operações de corte e extração foram suspensas por volta de 1850.

Três anos mais tarde, o lugar foi convertido numa Colônia Penal para receber os piores criminosos britânicos embarcados em toda parte do Império e despachados nos porões de navios para esse destino insalubre. Ladrões, estupradores, assassinos, todos eles deveriam definhar no esquecimento a um mundo de distância. Rapidamente Port Arthur ganhou a reputação de ser uma das colônias penais mais brutais do mundo, um verdadeiro Inferno na Terra, onde apenas a escória mais dura e implacável conseguia sobreviver. A prisão era conhecida por ter a segurança mais rígida que havia na época. O perímetro era protegido por 3 muros de 6 metros cada, com arame farpado e cacos de vidro no alto. Postos de vigília contavam com guardas armados que tinham permissão de disparar caso alguém cruzasse alguma área proibida. Os castigos corporais eram severos, com o uso de chibata, correntes e bolas de ferro. Privações de todo tipo: sensorial, por fome, desidratação e outras formas de tortura eram empregadas sem pudores. A prisão obrigava os presos a usar máscaras que tampavam seus rostos o que fazia aos poucos com que eles perdessem a identidade própria. Eram números e nada mais...


Além disso, as águas infestadas de tubarões ao redor da ilha eram proibidas aos navios mercantes e baleeiros, afim de evitar que os prisioneiros escapassem em barcos. A terra ao redor era salpicada de armadilhas, postos de guarda e cães ferozes. Os homens eram mantidos completamente impedidos de receber visitas, e a prisão foi amplamente divulgada como inexpugnável. As disputas e violência entre os detentos ocorriam de modo desenfreado, com homicídios ocorrendo frequentemente. Também havia uma alta taxa de suicídios. Ninguém se importava com o que acontecia entre eles. Quando não havia mais espaço para cemitérios no solo pedregoso da ilha, o Diretor ordenou que os corpos fossem jogados no mar. A visão de cadáveres devolvidos pela arrebentação, sendo bicados por aves carniceiras era algo dantesco. Passaram então a amarrar pedras nos cadáveres antes de atirá-los ao mar. 

Em resumo, Port Arthur era um lugar duro e distante de qualquer civilização. Os guardas e presos se superavam no quesito crueldade e perversão, num regime no qual os fortes dominavam e aos fracos era dada uma opção, se sujeitar ou morrer. Havia sofrimento em todo canto, e conta-se que ao receber a sentença para Port Arthur, muitos homens enlouqueciam ou se matavam.

A prisão acabaria sendo fechada em 1877 pois era caro demais manter o lugar em funcionamento, dado seu isolamento extremo. Ademais, os próprios guardas não queriam ficar no lugar, considerado deprimente e perigoso. Os detentos começaram a ser relocados para outras prisões australianas e os últimos presos foram evacuados em 1879.


A prisão foi deixada para se deteriorar, exposta aos elementos, gradualmente se transformando em uma ruína carcomida pela maresia, pelo vento e pelas tempestades. 

Mas graças à localização cênica da península e paisagens paradisíacas, o lugar foi redescoberto por turistas em meados do século XX. Mesmo com os prédios da prisão apodrecendo no horizonte, a área se tornou um destino desejado por turistas de toda a Austrália. Nos anos 1970, o governo local tentou mudar a imagem de Port Arthur para algo mais positivo e alegre, chegando até mesmo a alterar o nome da Ilha para Carnarvon e distanciá-la de seu passado violento. 

Ironicamente as ruínas da prisão se tornaram uma atração turística popular, com visitantes explorando os corredores escuros, celas apertadas e pátios cobertos de erva daninha. No entanto, parece que a história sangrenta deste lugar deixou marcas profundas que ainda podiam ser sentidas por algumas pessoas. Em 26 de abril de 1996 o sítio histórico de Port Arthur foi palco de um dos piores massacres da história recente da Austrália. Nesse dia, Martin Bryant, um desempregado de 28 anos, usou espingardas e rifles semiautomáticos para matar 35 pessoas e ferir outras 23 antes de ser capturado vivo. Ele foi condenado a 35 sentenças consecutivas de prisão perpétua e mais 1.035 anos, sem liberdade condicional na ala psiquiátrica de Prisão Risdon em Hobart, Tasmânia.


Para justificar o que o levou a um ato tão medonho, Bryant disse que ouvia vozes e apelos de pessoas que viveram na Colônia Penal no passado. Estes fantasmas, cheios de ódio e descontentamento o incentivaram a matar. Bryant sofria de esquizofrenia paranoica, mas o caso ganhou grande repercussão quando o componente sobrenatural veio à tona. Alguns jornais sensacionalistas chegaram a dizer que as assombrações de Port Arthur queriam sangue e desejavam o fim das visitas ao local em que eles sofrearam uma existência miserável. Seja como for, após o incidente, o governo da Tasmânia suspendeu visitas ao sítio temendo que outras pessoas pudessem tentar copiar os atos do homicida.

A história da Colônia Penal, entretanto, não pode ser apagada facilmente.

É esta história, impregnada de morte, juntamente com as ruínas decrépitas da antiga colónia penal, que construíram um ambiente perfeito para lendas sobre fantasmas. Desde os dias da colônia penal, menciona-se figuras sombrias à espreita ao longo das altas falésias ou vagando pelas sepulturas sem identificação. Há também outras áreas que dizem ser particularmente assombradas. Uma delas é  chamada "The Parsonage", a residência do padre e seus assistentes durante os dias da prisão. Um dos religiosos que ocupou a habitação foi um homem alto e intimidador conhecido como Reverendo Eastman. Famoso pelos seus sermões sobre o Inferno e a danação, ele foi por algum tempo o único conselheiro espiritual dos presos. Todos o temiam pois era um homem severo e instável. Dizia ser uma espécie de Mensageiro de Deus e que sua função era julgar e punir aqueles que não se arrependiam dos pecados. Segundo todos os relatos, tanto os funcionários da prisão quanto os prisioneiros ficavam aterrorizados com o pároco. Quando ele morreu em 1870, vítima de um tumor cerebral, poucas pessoas sentiram sua falta.

Mas nada é ruim o bastante que não possa piorar. Pouco tempo depois de seu enterro, começaram a surgir rumores sobre aparições do fantasma do Reverendo Eastman. Dizem que ele perambulava pela casa paroquial envolto em um odor fétido repetindo trechos de salmos com uma voz monótona. Nessas ocasiões a Casa Paroquial era atormentada por luzes fantasmagóricas, ruídos medonhos e um fedor nauseante de carne decomposta. Mesmo depois que os condenados foram transferidos, as histórias sobre o Reverendo continuaram. Ele é sem dúvida uma das assombrações mais temidas, mas está longe de ser a única. 


Uma história muito aterrorizante ocorrida nas Ruínas da Prisão é narrada por uma investigadora do paranormal chamada Leonie Vandeven, que visitou o lugar acompanhada de um colega que manejava a câmera durante a exploração. Esse colega, que ela prefere chamar pelo nome fictício de Sam foi possuído por algum tipo de força sobrenatural, conforme ela explica:

"Sam e eu estávamos interessados na história detalhada de Port Arthur. Era uma história notável. Estávamos olhando para um monte de prédios antigos quando senti que algo estranho havia acabado de acontecer com ele. Senti um frio súbito e Sam parou diante da Casa Paroquial. Ele teve um arrepio, algo que eu consegui perceber imediatamente. Perguntei se estava tudo bem e ele começou a gemer e perder o equilíbrio, embora não tenha chegado a desmaiar.   

Nos 30 minutos seguintes, Sam assumiu um comportamento inteiramente atípico: extremamente agressivo, cerrava os punhos e falava com um sotaque diferente. Ele foi incapaz de articular qual era o problema além de dizer: "Não estou bem, estou sentindo algo estranho". Quando o puxei pelo braço para irmos embora, ele me olhou com uma expressão confusa e começou a gargalhar. Uma risada que gelou o sangue nas minhas veias. Era a risada de alguém enlouquecido! Eu tentei apressá-lo, mas ele começou a andar em círculos, rosnando intermitentemente sob sua respiração e proferindo xingamentos. 

A prisão foi construída tanto para o isolamento físico quanto para o mental e sensorial dos condenados. Eu me pergunto se quem se apossou do meu colega, havia passado por essas provações, pois o comportamento era condizente com alguém levado às raias da insanidade. Apenas quando saímos dos limites da cadeia é que Sam começou a voltar à si, sem qualquer lembrança do que havia se passado instantes antes."


Mas o espírito possessor que afligiu o amigo de Leonie ainda tinha uma mensagem a transmitir antes de partir de volta para sua eterna prisão:

"Em determinado momento, ele olhou para mim com uma expressão muito diferente. Ali tive certeza de que não era mais Sam quem estava comandando o corpo. Sua testa se franziu e sua boca recurvou em um sorriso transbordando escárnio. Ele disse então com uma voz medonha: "Ninguém sai desse inferno, ninguém parte desse purgatório. Nós estamos todos aqui e vamos permanecer aqui para sempre." E então repetiu aquela risada tétrica. Felizmente, ao passar os muros, Sam recobrou suas faculdades. Esse foi nosso último trabalho juntos, já que ele desistiu de me acompanhar em explorações por lugares assombrados depois do ocorrido." 

Outra área particularmente assombrada do complexo prisional são as antigas celas de confinamento solitário, que dizem transbordar com uma gélida aura de desespero. As pessoas que entraram nas celas desta área relataram ouvir vozes, serem socadas ou chutadas quando ninguém mais está lá, e até mesmo sofrem ferimentos físicos por ataques fantasmas. De fato, em todo o complexo de Port Arthur há vários relatos de espíritos errantes pertencentes a antigos detentos mortos atrás destes muros. Ouve-se passos e vozes desencarnadas. Não é incomum escutar o som de portas batendo, objetos caindo e se estilhaçando e outros fenômenos paranormais que aqui, nesse lugar amaldiçoado, ocorrem com desconcertante frequência.

Pessoas sensíveis são desaconselhadas a visitar o complexo penal. Vários visitantes declararam se sentir fisicamente exauridos depois de explorar o complexo, sentindo como se algo no lugar drenasse suas forças, quase como se estivesse se alimentando deles. Outros relatam uma sensação desagradável e depressiva permeando toda a cadeia, como se algo estivesse tentando chamar a atenção. A sensação para alguns é tão potente que não são raros os casos de pessoas desmaiando ou sofrendo episódios de ansiedade. Aqueles que possuem alguma faculdade mediúnica descrevem situações ainda mais tensas, sentindo cheiro de fumaça no ar, espaços frios e sussurros que parecem ser carregados pelo vento. Ao menos dois parapsicólogos conceituados desaconselharam visitas a esse lugar, afirmando que os espíritos que habitam os muros são extremamente agressivos e capazes de afetar pessoas abertas a sua interação.   


Não é por acaso que a Colônia Penal da Tasmânia se tornou nas últimas décadas um dos lugares mais infames do continente no que diz respeito a acontecimentos sobrenaturais. Para aqueles que visitam o complexo, não importa se são crentes ou céticos, é inegável que a ele tem algo de desagradável. Poderia uma história sangrenta e tumultuada se incorporar a um ambiente confinado e reverberar através dos anos? A violência e horror ainda infunde o próprio ar com energia negativa? Ou isso é apenas o resultado da imaginação das pessoas que acreditam no que desejam acreditar? Talvez a única maneira de descobrir seja fazer uma visita e vagar pelos corredores e celas que um dia estiveram repletos de dor e sofrimento. 

Você teria coragem?

Um comentário: