Há incontáveis narrativas sobre casas mal-assombradas no mundo que variam entre casos simplesmente estranhos até aqueles incrivelmente bizarro. Algumas moradas amaldiçoadas no entanto, vão muito além da noção clássica de serem o lar de fantasmas e espectros: elas próprias parecem ser entidades fantasmagóricas. Tais narrativas envolvem casas inteiras que parecem surgir do nada e que se dissipam num piscar de olhos, como se jamais tivessem existido. São para todos efeitos o que poderíamos chamar de Casas Fantasma.
O fenômeno é estudado pela Parapsicologia que o reconhece como sendo algo presente em várias culturas ao redor do mundo. Lugares espectrais capazes de surgir e de desaparecer sem deixar sinal de sua passagem. Uma das teorias é que tais lugares um dia existiram e podem se manifestar mediante a energia acumulada por memórias ali represadas. São casas marcadas por tragédias e acontecimentos dramáticos que mancharam aquele local para sempre e que está fadado a se repetir indefinidamente.
Uma das mais conhecidas histórias envolvendo Casas Fantasma teve lugar no início do século XX em Versailles, França. Duas turistas chamadas Charlotte Anne Moberly e Eleanor Jourdain foram visitar o Petit Trianon, uma famosa atração situada nos famosos Jardins que integram o majestoso Palácio de Versailles. Durante a visita a essa parte do jardim, elas experimentaram um tipo de alucinação inexplicável. Os jardins mudaram e tudo que era moderno e contemporâneo simplesmente desapareceu. Mais ainda, uma pequena casa do início do século XVIII surgiu diante delas, junto com presenças fantasmagóricas vestindo roupas do período e interagindo entre si e sem percebê-las. Era como se as duas tivessem retornado no tempo e fossem capaz de ver um momento cristalizado do passado.
Após essa estranha experiência as duas mulheres começaram a pesquisar a história da área e buscaram informações sobre aquela construção e as pessoas que nela residiam. Descobriram que certa vez houve realmente uma casa naquele exato local, usada por um zelador e sua família, mas que esta havia sido destruída em um terrível incêndio em 1796. Todos os sinais da construção haviam sido removidos após a tragédia e poucas pessoas sabiam que ela havia estado lá um dia.
Charlotte e Eleanor escreveram um livro a respeito dessa estranha experiência com o título "Uma Aventura", que se tornou um inesperado sucesso editorial, ainda que tenha sido esquecido posteriormente.
Outra narrativa sobre Casa Fantasma vem de Suffolk, na Inglaterra. Em um final de tarde em 1860, um fazendeiro chamado Robert Palfrey estava trabalhando em sua propriedade quando de repente foi envolvido por um frio congelante apesar de até então aquele ser um dia agradável de verão. Quando olhou para cima, sua fazenda havia sumido, substituída por uma casa de tijolos vermelhos cercada por jardins diferente de tudo que ele havia visto até então. A casa ficou ali diante do fazendeiro perplexo até começar a desaparecer tão subitamente quanto havia surgido diante dos seus olhos.
A casa foi vista em diferentes oportunidades ao longo dos anos. Em 1912, o neto de Palfrey, James Cobbold, estava na mesma área quando o ar se tornou gélido e o cenário ao seu redor mudou dramaticamente. Quando Cobbold e um amigo que estava ao seu lado olharam para cima se depararam com a mesma casa georgiana de três pavimentos, tijolos vermelhos envolta por um jardim impressionante. Eles ficaram estarrecidos, observando a construção por vários minutos, decidindo o que fazer. Então uma densa neblina envolveu a casa e ela começou a desaparecer diante de seus olhos.
Novamente em 1926, um jovem professor e um estudante estavam cruzando uma estrada que margeava essa propriedade quando se depararam com um nevoeiro surgido do nada. E de dentro dele surgiu uma magnífica casa de alvenaria envolta por magníficos jardins. A casa ficou ali por alguns instantes e então desapareceu no próprio ar, como se jamais tivesse existido.
Esse notável fenômeno foi mencionado pelo autor Edward Bennett em seu livro "Aparições e Casas Assombradas", publicado em 1934. Bennett cogitou duas possibilidades: que casa tivesse existido em um momento no passado e que tivesse sido destruída ou que ela existisse em outra dimensão ou realidade, sendo capaz de se manifestar brevemente em nossa realidade por razões desconhecidas.
Em 1946, outra testemunha, um rapaz chamado Edward Bentley se deparou com a mesma casa quando descia a estrada por onde costumava transitar com frequência. Ele chegou a se aproximar dela, adentrando o pátio e os jardins para bater numa sólida porta de carvalho, mas ninguém respondeu. Ele então deixou o lugar indo buscar um amigo para mostrar a ele a descoberta. Quando os dois retornaram, a casa havia sumido como se jamais tivesse estado lá.
Estranhamente essa mansão não é a única morada fantasmagórica nos arredores de Suffolk. No distrito de Rougham, existe uma lenda local conhecida como "A Miragem de Rougham" que ganhou fama ao longo dos anos. O fenômeno começou a ser relatado na década de 1920 e chegou aos dias atuais. Em 2007, ele ganhou novo destaque quando Jean Bartran e seu marido Jacques estavam dirigindo pela Kingshall Street e se depararam com uma enorme casa em estilo georgiano surgida do nada. O casal conhecia a área e jamais havia reparado na construção. Pararam o automóvel para admirá-la com mais cuidado e então perceberam outro detalhe curioso: a estrada de asfalto havia desaparecido, dando lugar a uma estrada de terra batida.
O casal ficou aturdido pela descoberta e permaneceu ali observando os detalhes da magnífica casa, reparando inclusive que havia uma luminosidade tênue numa das janelas do segundo andar. Chamaram por algum morador, mas quando decidiram retornar para o carro a miragem se esvaeceu e eles se viram de volta na estrada.
A Casa Espectral de Suffolk foi descrita em várias publicações sobre o paranormal e é considerada como uma visão recorrente na região. Uma das teorias é que a casa tenha existido no início de 1800 e que tenha sido destruída em alguma tragédia que a consumiu por inteiro, mais provavelmente um incêndio. Por algum motivo desconhecido, a casa continuaria surgindo de tempos em tempos, aparecendo diante de testemunhas por breves instantes apenas para desaparecer novamente.
Casos semelhantes são conhecidos também nos Estados Unidos.
Um dos relatos mais famosos foi descrito no livro Virginia Ghost Stories (Histórias de Fantasmas na Virginia), de L. B. Taylor. O autor relata a história contada por uma testemunha chamada Kathleen Luisa, de Falls Church. Ela alegava que estava transitando de carro pela Estrada Sudley quando de repente se deparou com uma visão inacreditável. No meio da estrada surgia uma mansão que impedia seu progresso. A casa estava simplesmente atravessada no caminho como se tivesse brotado ali. Luisa viajava por aquela região frequentemente e nem é preciso dizer que jamais havia visto tal construção.
Ela buzinou repetidas vezes esperando que alguém respondesse. E então, para sua surpresa, a porta se abriu e três pessoas apareceram com uma expressão tão surpresa e confusa quanto a dela. Um homem e duas mulheres, vestindo roupas que claramente pertenciam a outra época. Os três permaneceram ali por alguns instantes tão chocados quanto Luisa, e então assim que retornaram para o interior, desapareceram junto com a casa.
Uma pesquisa da região apurou que na época da Guerra Civil muitas casas ocupavam aquela região, mas que elas foram destruídas em meio ao confronto entre as forças da União e dos Confederados. A área foi o palco de pelo menos dois grandes combates e as propriedades que ali existiam acabaram colhidas em meio ao conflito, sendo totalmente arrasadas. Tudo que restava dessas construções eram os alicerces e alguns muros baixos de pedra.
Visões da mesma casa e de seus três confusos ocupantes foram relatadas por outras testemunhas. Em um relato particularmente estranho, uma testemunha chegou a afirmar ter mantido um breve diálogo com as personagens, ocasião na qual ficou claro que eles falavam de forma pitoresca e que não tinham noção do que estava acontecendo. Quando perguntou quem eram e o que faziam lá, o homem, descrito como um sujeito de 50 e poucos anos, disse que havia visto movimento de tropas do norte e que temiam pela segurança de sua esposa e cunhada.
Seria possível que a área que a casa ocupou estivesse sujeita a algum tipo de zona de estabilidade temporal? E se essa é a explicação, como ela se manifestaria e por qual razão? O que teria acontecido com seus moradores? Qual teria sido o seu destino?
Um outro relato envolvendo a mesma casa foi feito por várias pessoas que viajavam à bordo de um ônibus em 2010. Nessa ocasião, as testemunhas descreveram a casa como praticamente uma ruína, parcialmente destruída por fogo de artilharia que reduziu paredes a escombros. Mais notável é que diante da casa duas figuras femininas pareciam chorar e se lamentar apontando para a construção chamuscada pelas chamas. Os ocupantes do ônibus descreveram que a casa destruída ficou visível por cerca de dois minutos e que então começou a desaparecer até sumir de vez em meio a um nevoeiro que a envolveu inesperadamente.
Também nos Estados Unidos existe um conhecido fenômeno de casa fantasmagórica que se manifesta nos arredores de Lake Zurich no estado de Illinois. Segundo os habitantes locais, a casa costuma aparecer na estrada que liga as cidades de Lake Zurich e Barrington, justamente na altura do Cemitério White, que também é famoso pelas histórias de espectros e fantasmas.
Diferente dos demais fenômenos, não resta dúvida de que a casa em questão existiu. Registros locais atestam que a propriedade foi construída ali e que serviu de lar a uma família até meados de 1830. A família que lá vivia, os White, tiveram um fim trágico. Segundo registros a casa foi fechada por Evan White, único membro restante da família que resistiu à tuberculose que dizimou o restante do clã. Evan e uma prima se mudaram para uma região de clima mais ameno, depois deles terem enterrado pai, mãe e três irmãos no terreno adjacente à casa. Não por acaso o local ganharia o nome de Cemitério White nos anos vindouros.
Quanto a casa, ela foi colocada abaixo após uma forte nevasca fazer com que o telhado sem manutenção desabasse em 1838. Com a construção arruinada, a comunidade achou por bem desmantelar o local para que não se convertesse em uma ruína. Nessa época o lugar já atraía rumores com relatos de fantasmas pertencentes ao clã vitimado pela doença. Testemunhas não cansavam de mencionar espectros vagando por ali emitindo um sofrego ruído de respiração ofegante.
Os relatos sobre a Casa dos White surgindo e desaparecendo nas imediações do cemitério tiveram início na década de 1870. Conta-se que a casa surgia em meio a um véu de denso nevoeiro que então a envolvia subitamente, fazendo com que desaparecesse depois de alguns segundos. Alguns, no entanto, tinham tempo de perceber nas janelas o rosto pálido de pessoas de expressão pesarosa e moribunda observando os vivos através do vidro opaco. Todos aqueles que se aproximam da casa sentiam um frio insuportável e eram repelidos por essa aura gélida. A maioria, entretanto, se sentia compelida a olhar na outra direção e se afastar da Casa dos White, tomados por uma sensação de insuportável depressão. Segundo os boatos a Casa White surge de tempos em tempos para viajantes e visitantes do cemitério, em especial nas datas de aniversário de seus habitantes originais.
Qual seria a melhor explicação para o fenômeno de Casas Fantasmagóricas?
Estariam essas estruturas de alguma forma ligadas a localização que ocuparam originalmente? Será possível que um lugar guarde uma memória residual persistente? Ou por algum motivo essas construções estariam sujeitas a leis de deslocamento temporal que permitiriam que pessoas em diferentes épocas as vissem? Poderiam também ser construções de dimensões paralelas, onde o véu que as separa de nossa realidade seria mais tênue? Talvez elas não passem de ilusões causadas por memórias dolorosas e eventos traumáticos.
Todas essas questões suscitam inúmeras dúvidas, mas as resposta para elas não passam de especulação. É provável que a verdade sobre as Casas Fantasma jamais seja conhecida e permaneça restrita para sempre no reino insondável do sobrenatural.
Excelente matéria. Deve ser assustador, e ao mesmo tempo fascinante, se deparar com uma dessas casas fantasmagóricas.
ResponderExcluir