A alimentação é algo vital para o ser humano.
Não é exagero dizer que nossas necessidades alimentícias ditaram boa parte da construção social do ser humano. Ela envolve não somente as necessidades físicas do indivíduo, mas também aspectos mentais, culturais e sociais. O homem primitivo desenvolveu inúmeras habilidades para caçar de modo mais eficiente, produziu ferramentas que permitissem abater animais ou cultivar o solo, se estabeleceu em caráter definitivo onde a comida era farta, explorou os mares em busca de peixes, domesticou animais para garantir uma fonte de alimento próxima, e assim por diante...
Muita história está por trás das necessidade por obter alimento.
As mais diversas etnias que habitam nosso mundo apresentam uma alimentação igualmente diversificada. O que constitui hábitos naturais para alguns povos, pode, entretanto, ser exótico ou simplesmente inconcebível para outros. A reação muitas vezes é de surpresa, confusão e repulsa. O nosso paladar é muito influenciado pelos fatores tradicionais e culturais, um alimento tido como iguaria valorizada, pode ser entendido como refugo pelos povos vizinhos.
Para que um alimento seja "aprovado", não basta ele ter um bom aspecto ou ser nutritivo, mas sim ter sido aceito tradicionalmente pelos critérios estabelecidos pela cultura local. Muitos países possuem certas iguarias, que podem variar de básicas e indispensáveis à exóticas, nocivas e nauseantes. O consumo dos alimentos listados a seguir pode não ser comum aos nossos olhos, mas eles fazem parte da mesa desses povos há séculos.
Larva do Bambu (Oriente e Peru)
Vamos começar com algo light?
Como muitos viajantes que chegam ao Continente Asiático podem constatar, insetos não são estranhos à mesa desses povos. De fato, gafanhotos, grilos, besouros e outros insetos tidos como pestes em outros canos do mundo podem ser encontrados à venda em mercados e feiras nas grandes capitais. São parte da alimentação diária de milhões de pessoas que sequer cogitam que comê-los constitui um tabu estranho ou inusitado.
Como muitos viajantes que chegam ao Continente Asiático podem constatar, insetos não são estranhos à mesa desses povos. De fato, gafanhotos, grilos, besouros e outros insetos tidos como pestes em outros canos do mundo podem ser encontrados à venda em mercados e feiras nas grandes capitais. São parte da alimentação diária de milhões de pessoas que sequer cogitam que comê-los constitui um tabu estranho ou inusitado.
Todo tipo de inseto pode ser encontrado no comércio local, então vamos considerar o que chamou mais a atenção pela sua aparência... exótica.
Thais é o nome usado na Tailândia para o verme do bambu, um tipo de larva de besouro que é depositada no interior oco dos troncos. Durante a estação das chuvas, eles podem ser encontrados em enorme quantidade, bastando cortar o bambu e retirá-los de seu interior. A larva de coloração pálida ou castanha, atinge até 5 centímetros de comprimento e fica inchada depois de se alimentar da seiva do bambu por vários dias. Ela se contorce quando removida do interior e é vendida ainda viva e se contorcendo nas bacias para mostrar como estão frescas. Cheia de proteína a larva é preparada lançando-a diretamente no óleo quente e misturada a um tipo de farofa de amendoim.
Mas não é necessário ir até a Asia para apreciar uma iguaria bastante semelhante. No coração da Floresta Amazônica, nas selvas do Peru, nativos recolhem uma larva bastante parecida que vive no tronco dos coqueiros. As larvas são tão grandes que podem ser atravessadas em espetinhos e colocadas direto na brasa do carvão para fazer um tipo de churrasco. Se cozinhado corretamente, o gosto é similar ao de pele de frango bem frita. Se não, eles parecem com pequenas bolsas de pus com gosto amadeirado.
Ovo Secular (China e Sudeste Asiático)
Pouca coisa é pior do que encontrar um ovo podre na geladeira. Mas você comeria um ovo apodrecido há semanas?
O Dodgang é uma iguaria da culinária chinesa difícil de ser compreendida e menos ainda aceita por aqueles que não estão habituados à ela. Tudo nesse alimento é peculiar, para não dizer detestável. A preparação envolve encontrar um ovo que pode ser de pato, ganso ou mesmo de galinha que é enterrado numa vasilha com uma mistura de argila, cinzas, sal, cal e amido de milho. O ovo fica ali por um tempo de maturação que pode levar de uma a cinco semanas, dependendo do método de preparo.
Nesse meio tempo, a casca endurece e fica escura, exalando um cheiro muito forte de enxofre. Quando aberto, o interior revela uma gema de coloração verde escura, enquanto a clara varia entre o marrom e amarelo. Com uma consistência cremosa e aroma acentuado, a iguaria possui um sabor que se assemelha ao de queijo fermentado, ou assim dizem os corajosos que a experimentaram. O prato é servido com uma combinação de chá, limão, sal grosso e ovos frescos.
Segundo a tradição chinesa a comida foi criada 500 anos atrás, quando um fazendeiro encontrou ovos de pato que haviam passado pelo processo naturalmente em uma piscina de água estagnada. Após experimentar e aprovar o gosto, ele replicou o método e criou uma iguaria famosa na China, Sudeste Asiático e Hong Kong.
Queijo Pecorino (Itália)
A culinária italiana é elogiada em todo o mundo.
Mas pode ser que nem todos os aspectos da gastronomia italiana te agradem. Um prato que chama a atenção é chamado Cazu Marzu que é típico da Sardenha onde até alguns anos era muito apreciado como iguaria. O bom senso, no entanto parece ter prevalecido e a vigilância sanitária proibiu a produção do queijo pecorino por considerá-lo um grave risco a saúde pública. "O motivo?" Você pode se perguntar, mas a resposta não é muito fácil, ou melhor é bem indigesta...
Um dos ingredientes centrais na produção do Pecorino são larvas de moscas. Milhares de pequenas larvas brancas são responsáveis por realizar a fermentação do queijo já que o ponto ideal dele é o de "quase-decomposição". Para que ele seja apreciado as moscas tem livre acesso para infestar o leite de cabra que fica propositalmente exposto por vários dias. O cheiro ocre do leite talhado atrai os insetos que fazem nichos na massa onde depositam seus ovos. Uma vez eclodidos após alguns dias, as larvas começam a comer, escavar e defecar o que ativa o processo de fermentação responsável por dar ao queijo o sabor peculiar levemente apimentado.
Mas a desgraça não termina aí... o Pecorino precisa ser consumido enquanto as larvas estão vivas realizando a fermentação, caso contrário o alimento começa a se deteriorar tornando-se extremamente tóxico. Aliás, esse é um dos motivos pelo qual a saúde pública interditou a produção, já que várias pessoas morreram depois de comprar o pecorino de comerciantes que limpavam as larvas para torná-lo menos intimidados ao público.
Sopa de Morcego (Palau)
Recentemente essa "maravilhosa iguaria" se tornou centro de um acirrado debate a respeito da responsabilidade das pessoas em cozinhar alimentos potencialmente insalubres. No início da epidemia de Covid levantou-se a hipótese de que muitos casos ocorridos na Província de Hurran teriam se iniciado com o consumo da Sopa de Morcego. Aparentemente a Organização Mundial de Saúde (OMS) desqualificou as acusações, embora o prato tenha sido riscado do cardápio de muitos restaurantes chineses que trabalhavam esse estranho acepipe importado de Palau, uma das ilhas do Pacífico.
O grande problema do prato é sua matéria prima principal: morcego. Esses animais são conhecidos por desenvolver bactérias e são considerados vetores de várias doenças transmitidas pela mordida. Em Palau o morcego usado na culinária é um animal típico da ilha, que se alimenta exclusivamente de frutas e que não está sujeito a doenças. Quando o prato foi adaptado na China, os morcegos usados eram de outros tipos, muitos já conhecidos por transmitir doenças.
O segundo problema é a receita. O morcego é colocado inteiro na sopa acompanhado de leite de coco, ervas, temperos e óleo de gengibre. Isso mesmo! O bicho não é sequer limpo ou cortado: seus órgãos, patas, cabeça, asas e até o pelos está intacto quando servido. A carne se torna macia após a fervura, mas nem sempre ela é suficiente para eliminar os patógenos presentes no animal.
Ainda que proibida na China, a Sopa, que se tornou extremamente popular nos últimos 3 anos ainda pode ser encontrada em restaurantes, servida clandestinamente para um público à procura de iguarias incomuns. Pior de tudo, a receita relativamente fácil, é preparada por pessoas no interior que usam qualquer morcego que tenha sido apanhado.
Ah o horror, o horror...
Kiviak (Alasca e Groenlândia)
O kiviak é uma comida tradicional do povo Inuit que vive no extremo do hemisfério norte, consumida sobretudo no inverno. O nome pode ser traduzido como "coisas mortas dentro de coisa morta". Não parece muito agradável, né?
Bem, não é...
O kiviak é preparado com os auks, pequenas aves migratórias da família Alcidae. Eles medem entre 15 e 45 cm e podem pesar entre 85 gramas a 1 quilo. Elas são pegos por uma malha fina presa a um arco formado por longas varas. Os inuites ficam semanas do verão escondido entre rochedos para capturar uma grande quantidade de auks que serão usadas na confecção do prato.
Depois de capturados e abatidos, os pássaros são enfiados dentro do corpo de uma foca sem a cabeça e que teve as vísceras removidas, restando só a pele e a gordura. O corpo da foca vira uma espécie de saco, onde são colocados em torno de 500 auks inteiros, com penas, bico e pés. Depois de cheio, retira-se o máximo do ar possível e a carcaça de foca é costurada com um cordão. Quando possível é adicionado banha de porco no meio das aves.
Mas não termina aí! O saco de foca é coberto por uma segunda camada de banha e enterrado em meio às pedras, para ficar em conserva por cerca de seis meses. Nesse período as aves e a banha irão fermentar e “cozinhar” naturalmente. Terminado o prazo de maturação, o kiviak está pronto e é consumido cru (que surpresa!), sem nenhum tipo de cozimento ou adicional. São retiradas apenas as penas, e consumidos a carne, as vísceras das aves e até mesmo os ossos que ficaram macios e tenros.
Nos dias atuais, a iguaria tradicional é consumida particularmente em aniversários e casamentos, e vendida aos turistas mais corajosos. Quem já experimentou, diz que o sabor do kiviak lembra um queijo envelhecido. Para os turistas, pacotes que mostram as etapas de preparação do kiviak são oferecidos por 60 euros, com direito a degustação.
O kiviak é um alimento de sabor e aroma forte, destinado a pessoas de hábitos rústicos, podendo causar danos aos de paladar mais sensível. Em agosto 2013 várias pessoas morreram em Siorapaluk após comerem kiviak que não fermentou bem e causou um surto de botulismo.
Durian (Malásia)
Ah, o lendário Durian.
Que outra fruta é enquadrada em leis que advertem contra seu consumo em áreas movimentadas?
O Durian é uma estranha fruta asiática semelhante a uma inesperada mistura de quiabo, manga e jaca. Sua aparência é rústica, com vários espinhos e protuberâncias despontando em sua casca grossa e coreácea que tornam difícil descascar e encontrar as partes comestíveis. O Durian não é plantado, surgindo na natureza em áreas isoladas no topo de árvores que podem atingir mais de 50 metros de altura. Um fruto pode demorar até cinco anos para estar maduro para o consumo, se é que você realmente deseja comer essa coisa maldita.
O grande problema do Durian não é o gosto, descrito como agradável, adocicado e até certo ponto palatável. O senão que torna seu consumo quase impossível é o indescritível fedor exalado por ele. Muitos já tentaram explicar o cheiro nauseante, e a colorida quantidade de descrições dá uma ideia do que estamos lidando: meias sujas e ensopadas esquecidas no fundo de uma gaveta, lixo de feira que secou ao sol por muito tempo, cascas de batatas e cebolas apodrecidas, um curtume em uma tarde de verão, um animal enterrado em um quintal... são muitas as interpretações, mas a verdade é que não há como categorizar o fedor do Durian.
O fato que persiste é que na Malásia a fruta foi proibida de ser consumida em hotéis, aeroportos, estações de trens, rodoviárias e estádios esportivos. Tudo porque quando aberta, o fedor pode dar início a uma reação em cadeia desastrosa. Pessoas sensíveis expostas a fragrância brutal do Durian acabam passando mal, vomitando ou mesmo experimentando convulsões no que parece ser um tipo de reação alérgica bastante severa.
O Durian é para os fortes e seu cheiro pode persistir por dias sendo especialmente difícil de remover. Em todo caso não se recomenda testar essa coisa, nunca!
Hákarl (Islândia)
De fato, as piores comidas parecem ser aquelas que de alguma forma fermentaram no curso de um certo tempo. Junte a isso, um alimento que basicamente está apodrecido e você tem uma combinação difícil de categorizar como palatável. Realmente, é um enigma que forças da natureza poderiam fazer com que um ser humano considerasse comer tal coisa. Ainda assim, algumas pessoas consideram tal horror gastronômico algo digno de seus apetites.
Da fria Islândia vem o Hákarl, um dos alimentos mais detestáveis dessa lista. Algo tão nauseante que é até difícil descrever em termos gerais, mas ainda assim, vou tentar...
O Hakárl é feito com a carne do Tubarão da Groenlândia que é normalmente venenoso devido à concentração elevada de ácido úrico no organismo do peixe. O cheiro dele é extremamente poderoso, lembrando amônia em estado puro. Algumas pessoas consomem pequenos pedaços marinados em um aguardente local que neutraliza parcialmente o cheiro. Não por acaso, comer isso é uma demonstração de robustez e força de vontade.
Mas sempre existem aqueles capazes de ir além e um brinde a esses incríveis idiotas!
Para produzir o Hakarl (que significa Tubarão podre), a carne é cortada em postas e colocada em meio a rochedos para secar por 6 a 12 semanas, período em que ela apodrece e vai se tornando cada vez mais putrefata. No fim do período de maturação ela está seca, com uma casca externa escura que é removida para encontrar o interior de consistência cerosa e um gosto pronunciado que mistura o pior de uma porção de amoníaco com peixe podre. Aqueles capazes de provar sem cuspir ou vomitar, descrevem o sabor como adocicado e delicado embora eu duvide muito disso.
Com fome?
Com fome?
Eu me recuso a acreditar que metade desses pratos não foram criados por humanos a beira da morte pela fome
ResponderExcluirCaramba! Essas guloseimas são realmente dignas de um cardápio de Horros Cósmico.
ResponderExcluirO último eu comia
ResponderExcluirO Durian me lembrou a fruta Morinda citrifolia (ou, Noni). Conheço bastante gente que come ela, mas o cheiro disso é insuportável. Ótima publicação.
ResponderExcluirAbraços, do blog vizinho,
oexestranho.blogspot.com/
Eu n fazia ideia da existência do Noni. Até o dia em q eu cheguei de viagem pra descobrir q meu pai tinha vindo no meu apartamento passar uns dias e esquecido uma sacola CHEIA dessa coisa na minha geladeira.
ExcluirPqp! Tinha cheiro de chorume!