“NENHUM ORGANISMO vivo pode existir com sanidade por longo tempo em condições de realidade absoluta; até as cotovias e os gafanhotos, pelo que alguns dizem, sonham. A Casa da Colina nada sã, erguia-se solitária em frente de suas colinas, agasalhando a escuridão em suas entranhas; existia há oitenta anos e provavelmente existiria por mais outros oitenta. Por dentro, as paredes continuavam eretas, os tijolos aderiam precisamente a seus vizinhos, os soalhos eram firmes e as portas se mantinham sensatamente fechadas; o silêncio cobria solidamente a madeira e a pedra da Casa da Colina, e o que por lá andasse, andava sozinho.”
A Assombração na Casa da Colina
- Shirley Jackson
Pode um lugar ser completamente maligno?
Não me refiro no sentido de um lugar ter um passado sinistro ou violento, ou de que o lugar seja meramente tido como assombrado. A questão que se coloca é: "Pode um lugar ser tomado por forças malévolas ao ponto de que a própria estrutura da construção se torna algo perverso"? Mais do que isso: "Pode um lugar ser tão profundamente contaminado pelo mal que ele passa a representar um perigo para as pessoas que nele vivem ou visitam"?
Esse conceito pode parecer estranho, mas existem certas moradas no mundo que parecem ir muito além da noção que temos sobre lugares horripilantes e assombrosos. Não são simplesmente casas e prédios escuros de aparência estranha e pouco convidativa. Eles são algo muito pior, algo que reside no reino das forças famintas do sobrenatural. É como se energias pérfidas habitassem esses lugares e fizessem deles uma espécie de covil aguardando pelos vivos para deles se alimentar.
Tais lugares tendem a não serem bons para pessoas sensíveis ou com muita imaginação. A própria aura deles afeta aqueles que os visitam causando terror, incitando assassinatos, levando indivíduos até então sãos às raias da loucura, isso, e muito mais. Para alguns, essa noção não passa de tolice, crendice, superstição... mas outros tantos não estão tão certos. E reside nessa incerteza a matéria prima para a confecção de lendas duradouras.
No estudo da Parapsicologia, o sobrenatural (aquilo que por essência é "não-natural") é um fato e ele transborda para a nossa realidade, afetando e causando efeitos inesperados, muitos deles difíceis de serem contextualizados à luz da racionalidade. Por mais que tentemos e busquemos por uma explicação lógica, por vezes, não existe uma para ser fornecida. E ficamos diante do imponderável, embasbacados pelas suas implicações que desafiam nossa sanidade.
Nessa série de artigos o Mundo Tentacular irá explorar o tema das Casas Malignas que são tidas como depositários do mal.
Começamos falando de um lugar com uma reputação para o mal que transcende a simples crendice e que ganhou ao longo dos anos status como uma famosa Lenda Urbana. A propriedade em questão se localiza na famosa comunidade boêmia de Greenwich Village, na cidade de Nova York. A edificação, no típico estilo brownstone fica no número 14 oeste da Rua 10. Ela foi erguida no ano de 1850, como uma mansão, sendo que posteriormente acabou sendo dividida em unidades de apartamentos para locação. Ela é conhecida por ter servido de moradia para o amado escritor norte-americano Mark Twain, que lá viveu entre 1900 e 1901. Contudo o lugar tem uma história muito mais estranha e perturbadora visto que, dizem os vizinhos, ela possui a estranha tendência de levar seus moradores à loucura.
Os rumores afirmam que Twain só suportou viver nesse endereço por um ano e que decidiu partir antes de ser tarde demais. O autor teria se negado a comentar sobre a casa até com os amigos mais íntimos e preferia não mencionar suas experiências na casa. Outros moradores não tiveram a mesma sorte. Um casal de idosos morreu na propriedade, vítimas de um assassino desconhecido, supostamente um ladrão. A seguir, uma jovem artista se mudou e ela também teve um fim trágico. Teria se suicidado na banheira cortando os pulsos com lâminas de barbear.
Nos anos 1960 a atriz e poetiza Jan Bryant Bartell alugou o mesmo apartamento depois dele ter ficado vago por décadas. Não demorou até ela perceber que havia algo estranho no lugar Ela contava que estranhos eventos ocorriam na propriedade; desde lugares gélidos, a presenças invisíveis que pareciam vigiá-la, até um fedor pútrido que surgia de lugar nenhum. O repertório de estranhezas também incluíam objetos se movendo, estranhas batidas e súbitos princípios de incêndio espontâneo. Mas segundo a inquilina, o pior era uma horrível sombra que espritava nos corredores. Bartell chegou a dizer que seu cão morreu subitamente, sem uma explicação razoável. O animal costumava se comportar de maneira peculiar sempre que estava no apartamento, rosnando e latindo para um canto ou corredor. Bartell relatou ter visto não apenas essa sombra ameaçadora, mas outros fantasmas ocasionalmente. Ela chegou a trazer uma medium para inspecionar a casa e esta afirmou que vários espíritos habitavam o apartamento: uma menina que havia sido morta na sala e enterrada no porão, um gato espectral e uma terrível e poderosa energia negativa que ela não foi capaz de identificar. Outros inquilinos mencionavam ter visto a forma sombria nos corredores e escadas comuns, uma presença que causava verdadeiro terror nos moradores.
Bartell teria realizado pesquisas a respeito da história da propriedade descobrindo que um número alarmante de pessoas haviam morrido na propriedade. É normal que um prédio com 10 unidades independentes tenha um histórico de pessoas morrendo em seu interior, contudo, o número 14 tinha quase três vezes mais casos de mortes que qualquer prédio da vizinhança. Eram casos aparentemente acidentais de overdose de drogas ou pessoas rolando escadas e caindo em poços de elevador, mas havia número elevado de suicídios e assassinatos ocorridos nas premissas.
Jan Bartell chegou a escrever um livro a respeito do assunto, mas o mais macabro é que ela própria teria um fim trágico enquanto ainda vivia no prédio. Ela teria cometido suicídio, lançando-se do alto do prédio para a morte certa, estatelando-se no concreto da rua em frente. Na carta de despedida ela escreveu apenas uma frase: "Não suporto mais..."
Em novembro de 1987, o prédio foi palco de nova tragédia quando o famoso advogado de defesa Joel Steinberg que vivia em um dos apartamentos foi tomado por um surto de violência após consumir drogas. Ele agrediu brutalmente sua filha adotiva de 6 anos e a matou em meio a um frenesi incontrolável. Steinberg argumentou em seu julgamento que não lembrava do que havia acontecido, sentindo que não tinha controle sobre suas ações. Seu depoimento em tribunal foi marcado por lágrimas e desesperados pedidos de desculpas. Muitos acreditavam que sua estratégia era alegar insanidade mediante seu estado de nervos. Ao invés disso ele admitiu a culpa, vindo mais tarde a afirmar que não havia sido realmente ele o real responsável pelo crime, visto que algo havia "possuído seu corpo".
Investigadores paranormais que pesquisaram a história funesta da casa contabilizaram nada menos do que 22 mortes violentas ocorridas na propriedade. ou em seus arredores.
Há boatos de que o terreno sobre o qual a casa foi erguida foi no passado serviu de cemitério clandestino nos tempos nos tempos da escravidão. O local teria sido usado para descartar os cadáveres de negros mortos nas fazendas e plantações próximas. O local seria originalmente uma área pantanosa onde os mortos eram simplesmente lançados nas águas estagnadas para afundar. Em 1830, quando a região começou a ser urbanizada, as águas foram drenadas revelando centenas de ossadas humanas. Ao invés de remover os ossos, os empreiteiros simplesmente ordenaram que os restos fossem cobertos com cascalho e uma camada de concreto.
Moradores descreveram estranhos sons de gemidos e batidas secas no porão do prédio, uma das áreas comuns onde a atividade paranormal é mais frequente. Luzes costumam se apagar misteriosamente nesse lugar. Boa parte dos moradores raramente desce para o porão, apesar de ali funcionar a lavanderia e sistema de calefação do prédio. Não é uma área que inspira segurança e muitos dos que desceram até o porão descreveram uma sensação desagradável, como se alguém estivesse observando. O histórico de quedas nas escadas é longo e bastante conhecido.
Zeladores e porteiros contam muitas histórias sobre o prédio, a maioria dos funcionários não dura muito tempo e acabam pedindo as contas após alguns poucos meses. O 14 tende a cobrar um pesado preço nas pessoas que ali vivem e trabalham.
Não por acaso, o prédio recebeu o infame apelido de "Casa da Morte".
Zeladores e porteiros contam muitas histórias sobre o prédio, a maioria dos funcionários não dura muito tempo e acabam pedindo as contas após alguns poucos meses. O 14 tende a cobrar um pesado preço nas pessoas que ali vivem e trabalham.
tema interessante para uma série de artigos, e um ótimo início para tal série.
ResponderExcluirGostei muito
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