Não resta dúvida de que a Idade Média foi uma época brutal para aqueles que nela viveram. Fome, doença, ignorância eram parte do dia a dia, mas tudo piorava ainda mais quando havia Guerra. E guerras aconteciam com incrível frequência no mundo medieval.
Outra grande verdade universal é que tempos duros geram homens igualmente duros. Para sobreviver às privações, violência e dificuldades os homens eram obrigados a se adaptar. E isso envolvia, muitas vezes, se impor diante dos demais e tomar dos mais fracos aquilo que julgavam ser seu de direito. Não por acaso, a Idade Média foi uma época de extrema injustiça.
Contudo, mesmo diante de toda essa brutalidade cotidiana, haviam alguns indivíduos que se destacavam e que se tornaram especialmente infames pelos seus atos e feitos.
Essa foi a época que assistiu ao surgimento de Gilles de Montmorency-Laval, conhecido pela história como Gilles de Rais (lê-se Gile de Ré), uma figura hoje em dia obscura, mas extremamente controversa que fomenta diferentes reações em historiadores que tentam determinar quem realmente foi ele. Para alguns Gilles de Rais foi um importante cavaleiro e comandante militar francês que se destacou na Guerra dos 100 Anos. Sua bravura e determinação o colocam como um dos grandes comandantes, responsável por muitas vitórias importantes para a França. Para outros, Gilles de Rais foi um sujeito desprezível, cruel e tirânico, características presentes em muitas figuras medievais, é bem verdade, mas com uma importante diferença: a perversidade. Ele também teria sido um maníaco responsável pela morte e tortura de centenas de crianças. Isso coloca Gilles como o precursor daquilo que nós, atualmente, conhecemos por assassino em série.
É difícil conceituar essa figura dúbia da história, quem foi, o que fez e como se comportava. Mas podemos encontrar algumas pistas nos documentos existentes que o colocam no pódio das atrocidades como um dos mais temidos homens de seu tempo. Alguém que serviu de modelo para o célebre vilão dos Contos de Fadas, o Barba Azul.
Gilles de Rais nasceu em 1405 em uma das mais ricas e importantes família da França. Quando ele nasceu, a Guerra dos 100 anos entre Inglaterra e França já estava em seu sexagésimo oitavo ano e continuaria por mais 48, com muitas mortes e destruição ainda por vir. O casamento de seu pai Guy de Rais e de sua mãe Marie de Craon havia sido arranjado pelo seu avô maternal, Jean de Craon. Jean tinha a mesma idade de Guy, e os dois eram parentes. O matrimônio foi arranjado para acertar uma dívida entre as famílias, evitando assim desavenças.
A união foi tudo menos feliz para Marie. Guy era um marido tirânico, extremamente possessivo e violento de modo que ela só sentia um pouco de segurança quando ele estava longe em alguma campanha militar. Dizem que na noite de núpcias ele teria tomado a noiva diante de seus soldados, isso porque ela se mostrou temerosa com seus avanços. O casal teve dois filhos, Gilles e um irmão mais novo, Rene que foram criados da maneira tradicional em meio a aristocracia francesa, o que significa dizer com serviçais que faziam o que eles ordenavam. Gilles se sobressaiu em todos os campos, nos estudos e na arte da guerra, mas não tinha a atitude necessária para a política e diplomacia. Ainda menino, ele gostava de cavalgar pelos campos, caçar e lutar. Por vezes, ia até um vilarejo onde o filho de algum camponês lhe servia como oponente. Em geral, ele vencia, mas se, de alguma forma, ele fosse derrotado reagia com enorme ira. Mais de um rapaz sentiu a chibata de seus guardas. Ainda criança, ele gostava de assistir punições e se deleitava com os gritos de dor daqueles que sofriam.
Em 1415 uma sucessão de tragédias se abateram sobre a Família Craon. A primeira foi a derrota da França na famosa Batalha de Agincourt, onde os ingleses em grande desvantagem tiveram uma vitória expressiva. Os prisioneiros franceses, feitos aos milhares foram simplesmente executados pelos vitoriosos. Um destes era Amaury de Craon, filho único de Jean de Craon. No mesmo ano, os pais de Gilles morreram, Marie de causas desconhecidas, Guy em uma caçada. Guy havia deixado instruções claras de como desejava que seus filhos fossem criados na sua ausência, mas estas de nada adiantaram. Jean de Craon decidiu substituir seu falecido filho pelos netos, Gilles e Rene que ficaram sob a sua tutela. É claro, isso também lhe deu controle da herança das crianças que o lançaram ao posto de segundo homem mais rico da França (atrás apenas do Rei).
Com 14 anos de idade, Gilles foi enviado para se tornar um escudeiro, servindo os cavaleiros que lutavam contra a Inglaterra. Isso era algo relativamente comum na vida de uma criança nobre que aspirava ingressar na cavalaria. Ele viu uma boa quantidade de batalhas e carnificinas acompanhando os cavaleiros na guerra. Longe de ficar chocado, Gilles estava apaixonado pela violência, um comportamento que se tornaria comum ao longo de toda sua vida.
Uma vez que era o herdeiro de uma grande fortuna, a Família Craon queria que Gilles se casasse o quanto antes para costurar uma boa aliança estratégica. Quando uma família vizinha declinou de formalizar as núpcias, Jean ordenou que Gilles raptasse a noiva, Catherine de Thouars e que a levasse para suas terras. Segundo lendas, Gilles não esperou o casamento para consumar a aliança, tendo estuprado sua refém enquanto estava a caminho de suas terras. Embora parentes da moça tenham tentado resgatá-la, ela acabou sendo obrigada a casar com seu sequestrador. Isso tornou os Craon ainda mais ricos, já que o pai de Catherine morreu na tentativa de salvá-la e sua fortuna passou para a filha (e consequentemente seu novo marido). Os dois tiveram uma criança, uma menina e uma vez estabelecido como um dos homens mais poderosos do país, Gilles deixou Rais e se estabeleceu na Corte do Delfim.
A situação política na França era curiosa. O Rei Carlos VI havia enlouquecido e em seu lugar, o filho também chamado Carlos havia assumido o trono usando o título de Delfim. Seu rival ao trono era ninguém menos do que Henrique V, Rei da Inglaterra, o que tornava a disputa entre os países ainda mais ferrenha. Gilles escolheu lutar pelo Delfim. Ele se distinguiu pela bravura ao ponto de ser descuidado, entregando-se ao combate com uma sanha incansável.
Em 1429, quando Gilles tinha 25 anos, uma jovem menina camponesa chamada Joana adentrou a corte em Chinon e disse ao Delfin que havia sido enviada por Deus. Se ele lhe desse um exército, então ela o comandaria até Orleans, que estava sofrendo um longo cerco pelas tropas inglesas, libertaria a cidade e lá o coroaria. Carlos não tinha escolha, caso Orleans fosse tomada ele estaria perdido, era preciso impedir o desastre. Suas tropas estavam desmoralizadas e os homens precisavam de algo em que acreditar, portanto ele enviou a moça, que passou a ser chamada de Joana D'Arc, com um exército de 10,000 homens para a batalha decisiva. Sua única condição era que ela ouvisse os conselhos de um dos seus homens de confiança. Esse homem não era outro senão Gilles de Rais.
Juntos eles expulsaram os ingleses e a cidade foi entregue a Carlos conforme prometido. Joana persuadiu então o Rei a enviar um exército para retomar Rheims que também estava sob controle inglês. Novamente eles foram vitoriosos e Charles recebeu a coroa como Rei da França. Como reconhecimento à sua contribuição, Gilles de Rais foi honrado com o título de Marechal de França - o principal comandante do Exército Real. Mas apesar de toda influência conquistada, Gilles não tinha aliados na corte. A maioria dos nobres o achavam instável e tinham muito medo de suas explosões de fúria. Quando Joana foi capturada e entregue aos ingleses, Gilles fez uma campanha para que ela fosse libertada mediante o pagamento de um resgate, mas seus inimigos se negaram a contribuir. Sem apoio Joana foi executada mediante acusações de heresia, o que fez Gilles perder parte de seu apoio militar. Para piorar, em 1432, seu tutor, Jean de Craon, também morreu fazendo com que ele perdesse ainda mais aliados que preferiam negociar com seu irmão. Para seu desgosto, Rene foi alçado a chefe da família nos negócios com a Corte.
Pouco depois da morte de Jean, Gilles deixou Paris e retornou para as terras da família. Na época, um primo contratou um jovem aprendiz para entregar uma mensagem em Rais. Quando o rapaz não apareceu, muitos assumiram que ele tivesse se perdido ou que havia sido vítima de bandidos. Na verdade, como depois ficou provado, o rapaz chegou ao seu destino, mas nunca deixou o lugar com vida. O primo achou que Gilles iria ficar satisfeito com um "brinquedo" em que pudesse descontar suas frustrações. O aprendiz, segundo boatos tinha uma impressionante semelhança com Rene. Ele foi sexualmente abusado, torturado, assassinado e teve seu corpo incinerado no porão do Castelo Machecoul que pertencia a Gilles.
Foi depois disso, segundo alguns historiadores, que os rumores a respeito da loucura assassina de Gilles de Rais começaram à vir à tona. Para alguns, no entanto, eles jamais foram segredo e já aconteciam há anos, uma paixão por sangue e tortura que o acompanhava desde a infância e que foi alimentada pelas chamas da guerra. Havia o boato de que durante a campanha em Orleans, quando ele estava ao lado de Joana D'Arc, Gilles satisfazia seus apetites sádicos com camponeses levados até ele por homens de sua inteira confiança. Os rapazes e meninas escolhidos eram jovens entre 6 e 15 anos, todos com uma determinada aparência que lhe atraía - pálidos, cabelos e olhos claros, de frágil complexão física. Em tempos de guerra, não era difícil encontrar candidatos em potencial. Bastava oferecer pão, um prato de sopa ou mesmo um lugar para dormir que as crianças os acompanhavam até o suntuoso pavilhão de campanha. E de lá, eles jamais saíam...
As mortes aconteciam de várias formas, mas a dor se mostrava uma constante. A tortura era algo que satisfazia ao Lorde e ele se deliciava em promover sofrimento e humilhação. Gilles era um pedófilo, um predador sexual que consumia enorme quantidade de estimulantes que potencializavam sua libido. Depois de abusar das suas vítimas ele próprio se encarregava de despachá-las cortando a garganta ou perfurando o coração com um golpe único. Mas segundo seus asseclas ele também se deliciava ao promover desmembramento e decapitação. Os cadáveres eram uma fonte de diversão para o monstro afeito da necrofilia.
Embora seja difícil precisar quando ou onde os crimes tiveram início, é inquestionável que eles se intensificaram quando Gilles retornou ao seu Castelo. Os camponeses em Rais sabiam que algo horrível acontecia no Castelo Machecoul e suspeitavam do nobre, mas eles sabiam que qualquer acusação seria desconsiderada. Ao invés disso, tratavam de esconder as crianças e falavam de monstros espreitando na noite. Na verdade, eles sabiam muito bem que esses monstros eram os guardas do Lorde sempre em busca de vítimas. Os primos de Gilles também costumavam lhe enviar "presentes", na forma de jovens ajudantes de cozinha ou criadas que vinham de terras distantes sem saber da armadilha em que estavam caindo.
Estima-se que Gilles tenha matado entre 80 e 200 crianças de ambos os sexos entre 1432 e 1440. Assim como os camponeses tinham conhecimento de quem era o culpado por essa atrocidade, muitos nobres também sabiam. Rene, irmão mais novo de Gilles, com certeza conhecia a face obscura dele. Ele havia recebido informações de que uma propriedade da família em Rais havia sido vendida e que o comprador ficara chocado ao descobrir que haviam cadáveres de crianças escondidas no porão. Rene preferiu não fazer qualquer comentário, afinal de contas, eram os corpos de camponeses e ele não queria envolver a família num escândalo dessas proporções.
O que causou a queda de Gilles de Rais não foram os medonhos assassinatos cometidos contra crianças inocentes, mas os seus gastos exorbitantes e a obsessão com o ocultismo.
Gilles levava um estilo de vida no qual gastava muito mais do que arrecadava. Ele comprava artigos de luxo, oferecia festas extravagantes e contratava artistas renomados. O ouro escorria de seus cofres rapidamente. Para piorar, ele queria financiar a criação de uma montagem teatral inspirada no Cerco de Orleans do qual havia participado. Para isso não mediu esforços ou poupou gastos. Ele se tornou patrocinador da suntuosa produção que tinha mais de 500 atores, gastando uma verdadeira fortunas e fazendo empréstimos cada vez maiores. Em dado momento, os gastos eram tão grandes que a corte de justiça da França emitiu uma lei proibindo as pessoas de fazer negócios com Gilles de Rais. Para pagar suas dívidas ele teve que vender quase tudo que tinha em Machecoul e mesmo assim ainda era caçado por credores.
Outro escândalo em que ele estava metido envolvia seu fascínio com o sobrenatural. Gilles mantinha contato com vários alegados feiticeiros que por sua vez se apresentavam a ele como intermediários para tratar com o Diabo. Ele desejava conhecer os mistérios da bruxaria e da magia negra e usar essas forças nefandas em benefício próprio. Entre os charlatães que o procuraram, um deles se destacava, um bruxo italiano chamado Prelati que afirmava ser capaz de invocar o demônio afim de firmar com ele um pacto.
Em 1439, no Castelo em Tiffauges (onde ocorreram muitos dos assassinatos), Gilles e Prelati tentaram invocar um demônio que chamavam de Barron. O feiticeiro convenceu Gilles que as Forças do Inferno poderiam interceder a seu favor e restaurar a sua fortuna se ele conseguisse realizar uma barganha vantajosa. Gilles havia adiantado à Prelati que não aceitaria vender a sua alma imortal, por isso seria necessário pagar ao demônio Barron de outra maneira. O acordo foi firmado com o sangue de inocentes oferecido num altar profano erguido no porão do Castelo Tiffauges. Assim foi feito e várias crianças foram levadas até aquele lugar profano para o sacrifício.
Mas a barganha parece não ter funcionado, já que em 1440, Gilles sequestrou o padre da igreja de St. Etienne de Mermorte que era irmão de um tesoureiro famoso para quem ele devia dinheiro. Seu objetivo era usá-lo para saudar as dívidas. Entretanto, Gilles cometeu um grave erro. Ele podia fazer praticamente qualquer coisa, uma vez que gozava da proteção real, mas sequestrar um religioso o colocava diante de um poderoso inimigo: a Igreja.
O Bispo de Nantes Jean de Malestroit, foi encarregado de investigar o caso e desenterrar qualquer acusação que pudesse ajudar na acusação. Encontrou uma montanha de escândalos, boatos e rumores alarmantes que iam desde indiscrições menores até Satanismo. Quando as acusações se tornaram públicas, padres de Rais e camponeses que até então haviam sido intimidados, foram chamados a prestar depoimento e contar o que sabiam. O país chocado com o teor das acusações sequer podia acreditar na extensão daquele horror. O Marechal de França, mão direita do Rei, era um maníaco molestador de crianças, estuprador, torturador, assassino e demonologista.
A acusação inicial era o sequestro do padre, mas entre as testemunhas que se apresentaram estavam nobres, criados, amigos, parentes e os pais das crianças assassinadas em Machecoul. Os testemunhos foram devastadores e causaram enorme dano. Furiosos com os relatos nauseantes, uma horda de camponeses invadiu o Castelo, pilharam o que podiam e atearam fogo no resto. A França estava ultrajada e nem mesmo o serviço impecável dele ao lado de Santa Joana D'Arc servia para livrá-lo.
Gilles de Rais foi indiciado com acusações de 33 assassinatos, além de prática de sodomia, tortura, rapto, estupro e heresia, além de ser acusado de conluio com o demônio e de praticar a arte da magia negra em seu nome. Para se defender ele alegou que não reconhecia a autoridade da Igreja da França para julgá-lo, por isso o Bispo de Nantes formalmente o excomungou. Alguns dias depois, ele aceitou escrever uma confissão de culpa para ser readmitido na Igreja. A essa altura, Gilles já estava completamente transtornado e segundo alguns sua razão já havia se perdido.
Ainda assim, sua confissão foi aceita como prova instrumental de culpa. Ele admitiu todas acusações exceto a de ter invocado um demônio, feito que reputou exclusivamente ao feiticeiro Prelati. O italiano por sua vez disse que meramente agiu como um intermediário, mas que, quem promoveu a invocação havia sido Gilles de Rais através do sacrifício de 13 crianças. Ele foi então encaminhado para o torturador para que a verdade fosse obtida. Poucos dias depois, ele reconheceu todos os seus atos hediondos.
Gilles foi sentenciado a ser queimado na fogueira como herege. Em reconhecimento a seu ato de constrição, tendo reconhecido a culpa pelos seus crimes e se arrependido, ele recebeu o benefício de ser enforcado antes de arder na pira. O Bispo de Nantes, entretanto, ordenou que o corpo fosse poupado do fogo para que tivesse um enterro cristão.
Assim morreu Gilles de Rais, que um dia foi herói para a França e que posteriormente se converteu em um de seus mais notórios vilões. É chocante que os crimes que o levaram à execução envolviam Heresia, e não necessariamente os assassinatos de crianças inocentes. É perfeitamente possível que se não fossem essas acusações específicas, ele conseguisse escapar.
É claro, hoje existem correntes afirmando que as acusações contra ele não passaram de fabricação de uma Igreja toda poderosa que tentava punir uma pessoa que foi contra ela. Apesar de que as evidências nesse sentido sejam pouco críveis. No fim das contas, Gilles o homem, se tornou Gilles o monstro. A simbologia do Demônio ao lado da Santa se tornou também uma parte do mito de Joana D'Arc. Alesteir Crowley descreveu De Rais como o equivalente de Joana, martirizado pela Igreja Católica pelas suas crenças no oculto. Cinco séculos mais tarde, as ações de outro matador, Jack, o Estripador apresentariam ao mundo um tipo de assassino tão terrível que um título seria criado para conceituá-lo - assassino em série. Com isso, um rótulo poderia ser pendurado também no pescoço de Gilles de Rais.
Não que isso de alguma maneira nos ajude a compreender seus atos. Mas talvez assim seja melhor. Por vezes, não se aprofundar no que se passava na tumultuada mente desses monstros é melhor.
"...Não se aprofundar no que se passava na tumultuada mente desses monstros é melhor."
ResponderExcluirÓtimo artigo. Eu gosto dele como personagem por conta da própria biografia e por causa da série Fate/Zero, pois além de ser um personagem muito interessante, único eu diria, é um feiticeiro do Mythos.
ResponderExcluirele e o mestre dele continuam entre os personagens mais desprezíveis e odiosos que eu já vi em um anime, ou na ficção em geral.
Excluir