sexta-feira, 14 de maio de 2021

Face a Face com Gigantes - Lendas a respeito de tribos misteriosas no Novo Mundo


A raça humana sempre teve um enorme fascínio pelo que existe além do horizonte, pelo que está além das fronteiras, pelo há atrás dos montes ou cruzando a imensidão do mar. Esse fascínio nos levou desde o início dos tempos a explorar e tentar compreender o planeta em que vivemos. Incontáveis exploradores se lançaram bravamente esticando os limites de nossos mapas para descobrir, domar e conquistar outras terras. Não faltam registros de fabulosas aventuras, muitas delas envolvendo lugares exóticos com estranhos povos e animais, alguns deles tão misteriosos e surpreendentes que deixavam seus descobridores chocados. Algumas dessas aventuras revelaram ao mundo a existência de Gigantes habitando o Novo Mundo. 

O relato mais intrigante e amplamente divulgado à respeito de supostos gigantes surgiu com a narrativa de ninguém menos que o grande navegador português Fernão Magalhães. Entre os anos de 1519 e 1522, Magalhães embarcou em sua viagem mais famosa, uma expedição patrocinada pela coroa espanhola para procurar uma rota até as Ilhas Molucas nas Índias Orientais, viagem que acabaria resultando na primeira circunavegação bem-sucedida do globo. Magalhães recebeu o comando de cinco navios, e uma parte de sua viagem o levou através do vasto oceano até a longínqua Terra da Patagônia, no extremo sul da América Meridional. Foi nesse ponto extremo que a expedição se deparou com uma visão desconcertante.

Segundo relatos do cronista oficial da expedição, Antonio Pigafetta, ao se aproximarem da costa rochosa da Patagônia a expedição avistou uma pessoa de "enorme estatura" dançando e saltitando nua na praia enquanto estranhamente lançava areia sobre sua cabeça. Os europeus ficaram chocados, ele era grande demais para ser um homem comum e imediatamente o trataram como um gigante digno das lendas. Passado o choque, um membro da tripulação foi enviado para tentar fazer contato com a criatura misteriosa e, ao chegar à costa, o homem começou a imitar os movimentos e comportamentos excêntricos do gigante em um esforço para estabelecer amizade. 


Pigafetta relataria o que aconteceu da seguinte maneira:

"O capitão-geral [ou seja, Magalhães] enviou um de nossos homens ao gigante para que ele pudesse estabelecer um sinal de paz. Feito isso, o homem conduziu o gigante até uma ilhota onde o capitão-general estava esperando. Quando o gigante estava na presença do capitão-geral e em nossa presença, ele se maravilhou muito e fez sinais com um dedo levantado para cima, acreditando que tínhamos vindo do céu. Ele era tão alto que chegávamos apenas à sua cintura. Além disso era bem proporcionado, sem exagero de comprimento de braços ou pernas".

Os exploradores deram comida e bebida a esta enorme criatura, e foi notado que o gigante ficou absolutamente apavorado quando viu um espelho. Magalhães e seus homens foram finalmente capazes de fazer contato com o resto da tribo da criatura, e eles se deram bem no início, ganhando gradualmente a confiança deles ao longo de várias semanas, até mesmo comendo e caçando em sua companhia. Infelizmente, como era comum entre os exploradores europeus do período, estes simplesmente não resistiram em tentar capturar alguns dos gigantes para trazer para casa. Dois foram supostamente capturados, mas não sobreviveram à longa e angustiante jornada de volta à Espanha, o que significa que eles não retornaram com nenhuma evidência real da existência de gigantes na Patagônia, mas com histórias fantásticas do que tinham visto.

As histórias, no entanto, ganharam a atenção de todo a Europa e a Patagônia se tornaria nos anos que se seguiram sinônimo de uma terra habitada por uma estranha raça de homens gigantes. Exploradores, cartógrafos e geógrafos acreditavam que o lugar era o lar de uma raça de homens antediluvianos que haviam escapado da Grande Enchente citada na Bíblia e que posteriormente haviam se estabelecido naquele lugar distante. Tamanha era a popularidade da narrativa que o próprio nome dado à região, "Patagônia", provinha do nome que Magalhães criou para as criaturas fantásticas, "patagones", uma palavra derivada de "pé grande" e que pode ser traduzida como "Terra dos Pés Grandes".


As histórias desses gigantes misteriosos que viviam do outro lado do vasto oceano, numa terra longínqua e exótica, cativaram a imaginação das pessoas. Desenhos destes seres apareciam em mapas, nas páginas de bestiários e compêndios sobre o Mundo Natural. Os rumores apenas aumentavam à medida que outros relatos sobre sua existência começaram a surgir, vindos de exploradores que estiveram na Patagônia.

Por volta de 1579, o capelão do navio do renomado navegador Sir Francis Drake, Francis Fletcher, escreveu sobre seu encontro com gigantes que teriam cerca de 3 metros de altura. As criaturas teriam aparecido na costa, em uma praia rochosa onde a tripulação pretendia aportar, mas mudaram de ideia imediatamente quando os gigantes começaram a gritar e atirar enormes pedras na direção do bote que se aproximava. Os homens ficaram temerosos e retornaram sem colocar os pés na praia. 

Na década de 1590, o explorador holandês Anthonie Knivet também afirmou que durante seu tempo na Patagônia havia visto alguns cadáveres cuja estatura foi estimada em cerca de 3,6 metros de altura, isso sem falar do relato de outro navegador inglês, William Adams, que afirmou que sua expedição tinha sido atacada por nativos incomumente grandes enquanto contornava a ponta da Terra do Fogo. Estes teriam matado ao menos três homens de sua tripulação usando para isso enormes lanças e pedregulhos que eram arremessados como se fossem meras pedrinhas. "Um dos homens foi trespassado por uma das temidas lanças e outro teve o crânio esmagado pelo pedregulho arremessado com enorme perícia. Os gigantes apenas desistiram de lutar após se assustarem com o som das armas de pólvora. Não fosse pelos seus temores a respeito, teriam dizimado a expedição", escreveu Adams.

Esses encontros alimentaram ainda mais os boatos de que a Patagônia era de fato uma Terra de Gigantes. Em 1615, os circunavegadores holandeses Willem Schouten e Jacob Le Maire afirmaram ter encontrado um túmulo misterioso que estava cheio de ossos e restos de seres estranhos que teriam cerca de 3,10 metros de altura. Alguns desses ossos foram levados para seu país natal e vendidos a colecionadores de curiosidades [em tempo, um destes pertencia à preguiças gigantes]. Em 1766, o Comodoro John Byron, que havia viajado pelo mundo a bordo do navio Dolphin, relatou o encontro com uma tribo de enormes nativos na Patagônia. Estes mediam algo em torno de 2,7 metros de altura, sendo que os indivíduos realmente altos atingiam a notável marca de 3,6 metros. Byron contou que teve uma luta com as criaturas e que estas apenas abandonaram uma perseguição depois de seu líder ser alvejado com um bacamarte à queima roupa. Meramente ferido, ele convocou os demais a desistir do ataque, o que salvou o bando. 


Esses relatos enigmáticos vindos de famosos exploradores que realmente estiveram na Patagônia não apenas despertavam muita admiração, mas também muito debate e ceticismo na comunidade científica. Vários acadêmicos acreditavam que os contos eram farsas, exageros ou um estratagema para encobrir as reais intenções por trás daqueles que faziam excursões à América do Sul. Afinal, criar a ideia de que a Patagônia era uma terra perigosa habitada por selvagens gigantes e ferozes afugentava outras expedições e evitava que alguém clamasse posse das terras. Contudo, a crença de que gigantes eram reais persistiu entre a população europeia, tanto que pessoas de altura avantajada eram conhecidos comumente como patagônios. 

Contudo, com o passar dos anos, as incríveis lendas sobre os patagônios gigantes diminuíram, à medida que informações mais realistas vieram à tona, como um relatório oficial revisado das viagens de Byron lançado em 1773. Neste estava escrito que os nativos mais altos encontrados na região tinham no máximo 1,80 o que era bastante alto para a época, mas muito longe dos rumores de gigantes. Além disso, em 1628, o sobrinho de Sir Francis Drake afirmou em seu livro The World Encompassed, que a altura dos "gigantes" que seu tio havia encontrado havia sido muitíssimo exagerada para criar temor em outros exploradores.

Ele escreveu:

"Magalhães não se enganou completamente ao nomear esses nativos "gigantes", pois eles se diferem do tipo comum de homem europeu, tanto em estatura, grandeza e força, quanto na hediondez de suas vozes: entretanto, eles não são tão monstruosos como os representados, havendo alguns ingleses tão altos quanto eles. Não eram, pois, gigantes, meramente homens de estatura considerável. A mentira, bem engendrada foi compartilhada e ampliada por outros exploradores, como Sir Drake"

Pensa-se que os exploradores podem ter realmente se deparado com uma tribo patagônica chamada Tehuelche, que tem uma das alturas médias mais altas do mundo, com os homens geralmente ultrapassando 1.80 m, chegando até 1,95 de altura. Eles certamente teriam se sobressaído em relação aos exploradores europeus da época, que ficavam na faixa de 1,50. Exageros subsequentes, rumores, relatos e erros de identificação dos observadores podem ter ocasionado descrições de alegados "gigantes". Isso teria dado origem às narrativas exageradas. No entanto, no caso de Magalhães, o cronista Pigafetta era tido como um observador astuto com bom olho para os detalhes. A maior parte de suas descrições eram bastante precisas, por isso é difícil entender porque ele teria inventado tal história.


A Patagônia não foi o único lugar a oferecer relatos históricos sobre gigantes espreitando na selva do Novo Mundo. Criaturas semelhantes foram descritas durante a era dos Conquistadores nas selvas do que hoje conhecemos como a Flórida. O conquistador e explorador espanhol Pánfilo de Nárvaez empreendeu uma desastrosa invasão ao norte da Flórida. Depois de perder a maioria de seus homens devido a ataques de nativos e doenças, falta de suprimentos adequados e de ser abandonado pelos próprios homens, ele próprio desapareceu depois de partir para Cuba em uma jangada improvisada.

Um sobrevivente dessa aventura foi um oficial subalterno chamado Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, que, junto com alguns companheiros, decidiu tomar o caminho mais curto para a segurança no México, que eles erroneamente acreditaram ser muito mais acessível. Eles construíram uma jangada e partiram em sua jornada mal planejada, motivada pelo desespero. De Vaca sobreviveu à provação e fez o seu caminho até o atual Texas, antes de finalmente ser resgatado e voltar à Espanha. Lá escreveu um best-seller sobre suas aventuras que o tornou famoso em todo continente, quase uma herói e equivalente a uma celebridade. Nesse diário ele relata um encontro muito estranho e angustiante no qual seu grupo se depara com gigantes extremamente agressivos enquanto cruzavam um lago. 

De Vaca relata em seu diário:

"Quando tentamos atravessar o grande lago, fomos atacados por muitos nativos ferozes como jamais havíamos visto antes. eram gigantes entre os homens comuns, muito mais altos que qualquer outro já visto na Espanha ou qualquer canto da Europa. Estavam escondidos atrás das árvores e eram quase do tamanho delas. Alguns de nossos homens foram feridos mortalmente neste conflito. Nem mesmo suas boas armaduras serviam de alguma coisa. Os índios andam nus, têm corpo longilíneo e são muito fortes, podendo levantar pedras e troncos com as mãos acima de suas cabeças. Alguns usam arcos tão grossos quanto o braço de um homem, medindo onze ou doze palmas de comprimento. Sua mira é certeira à duzentos passos e um dos meus colegas foi trespassado por uma dessas flechas enormes que lhe varou o peito de lado a lado. Para aqueles que enfrentarem tal oponente só posso aconselhar que fujam, pois eles são inimigos formidáveis. Conseguimos escapar remando para o meio do lago e mesmo à distâncias prodigiosa os gigantes ainda tentavam nos acertar e por pouco não conseguiam".


Outras regiões da América do Norte também tiveram relatos históricos a respeito de gigantes na mesma época, e tribos costumavam falar de criaturas tão massivas que habitavam essas áreas isoladas. Em 1519, uma aldeia inteira de gigantes foi supostamente encontrada em algum lugar ao longo do rio Mississippi pelo explorador Alonzo Álvarez de Piñeda durante uma expedição para mapear a Costa do Golfo. Piñeda descreveu esses nativos como "uma raça de gigantes medindo dez a onze palmas de altura" (o que daria mais de 2,30 metros). Tinham uma riqueza substancial de ouro e os outros nativos tinham enorme pavor deles pelo seu tamanho e ferocidade. Ainda assim, foram amistosos com a expedição à ponto de oferecer presentes e aceitar trocas. 

Anos mais tarde, em 1539, houve outro relato dessa vez de Hernando De Soto, que se deparou com numerosos gigantes durante suas viagens pelo sudeste do que hoje são os Estados Unidos. De Soto partiu de Tampa Bay, Flórida, com um contingente de centenas de homens, e durante sua jornada eles supostamente encontraram tribos de nativos governadas por gigantes. Um destes chefes chamava-se Tuscaloosa, que foi encontrado no oeste do Alabama. Era gigante cuja estatura se elevava sobre todos os demais, ainda que fosse desajeitado.

Também há relatos do conquistador e explorador espanhol Hernando de Alarcón, que estava tentando encontrar um rio que pudesse ser usado para transportar suprimentos para as tropas espanholas ao longo das costas da Califórnia e do México. Alarcón acabaria subindo o rio Colorado até o Grand Canyon e, durante essa jornada, ele e seus homens supostamente encontraram uma tribo de cerca de 200 guerreiros gigantes com até 3 metros de altura. Os gigantes eram supostamente muito agressivos, mas Alarcón os apaziguou com presentes e outras demonstrações de paz. O conquistador Francisco Coronado também contou ter encontrado tribos inteiras de gigantes durante sua jornada pelo sudoeste em busca do lendário El Dorado. Uma das lendas dizia que El Dorado era protegida por uma tribo desses temidos gigantes. 

Em alguns raros casos, foram encontradas evidências físicas dos gigantes como no caso do conquistador Bernal Díaz del Castillo, que serviu sob o comando do infame Hernán Cortés durante a conquista espanhola do México. Nas páginas de seu registro detalhado da conquista e subsequente colapso do Império Asteca, encontramos o estranho relato de uma raça de gigantes que segundo os índios Tlaxcatec haviam habitado a região muitos séculos antes. O chefe da tribo, forneceu os restos mortais desses gigantes misteriosos como prova do que estava falando.


Castillo escreveria em seu diário à respeito:

"Eles (os Tlaxcatec) disseram que seus ancestrais lhes contaram sobre homens e mulheres muito altos com ossos enormes. Mas porque eles eram um povo muito mau, com costumes perversos, eles os enfrentaram e derrotaram. E para nos mostrar o quão grandes esses gigantes eram, eles nos trouxeram o osso da perna de um, que era muito grosso e da altura de um homem de tamanho normal. Eu me medi contra ele, e era tão alto quanto eu, embora eu tenha uma altura razoável. Eles trouxeram outros pedaços de osso da mesma espécie, mas estavam todos podres e comidos pelo solo. Nós ficamos surpresos ao ver esses ossos e tínhamos certeza de que deviam haver gigantes naquela terra".

Não está claro o que aconteceu com esses ossos que eles tiveram permissão de levar. Sabe-se que Castillo os mostrou à vários de seus companheiros e que todos que os viram ficaram impressionados, mas o destino deles é ignorado. Há registros de que eles chegaram até a ser apresentados à membros da Corte Espanhola. Infelizmente há rumores de que sacerdotes ordenaram sua destruição. verdade ou mentira, esse continua sendo um relato bastante estranho até os dias atuais.

Nesse artigo examinamos alguns dos inúmeros relatos de gigantes encontrados em toda a América do Norte e do Sul oriundos da Era da Exploração. A maioria destes relatos desapareceram no rodapé da história, sendo esquecidos uma vez que não eram acompanhados de qualquer evidência ou prova real.


Fica-se a questionar se há alguma verdade nesses relatos históricos sobre seres humanos gigantescos, ou se eles são apenas contos inventados por exploradores cautelosos ou o produto de anos de exageros. É difícil determinar o quanto dessas histórias são reais ou fabricadas, e somos amplamente deixados à especular e nos perguntar sobre o que esses exploradores viram nessas áreas desconhecidas do planeta. 

Quer tenham sido reais ou não, a ideia de que gigantes uma vez vagaram pelo mundo é tentadora, sobretudo por ser comum à tantas civilizações e povos do passado. Ainda assim enquanto não for possível encontrar uma prova, eles continuarão restritos aos relatos. E nossa imaginação.

2 comentários:

  1. O navegador português chamava-se FERNÃO e não Ferdinando, como erradamente afirmam. A retificar.

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  2. Vi um documentário do canal History em que relatam ter encontrado esqueletos de gigantes nos EUA e que ainda tinham uma arcada dentária dupla.

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