Estendendo-se por uma vasta porção do nordeste do Deserto do Mojave na Califórnia, encontra-se uma terra agreste e implacável cujo nome reflete sua natureza exasperante; Vale da Morte (Death Valley). Esse é um dos lugares mais quentes e inóspitos do planeta, que tem a maior temperatura de solo já registrada, marcando absurdos 93,6 graus Célsius. Em geral essa terra destituída de água e causticada pelo sol é tão inclemente que todas formas de vida evitam se estabelecer em seus domínios. Ainda assim, mesmo que quase inabitável, tribos de nativo americanas desafiam esse território extremo há milhares de anos.
A tribo mais associada à região do Vale da Morte são o povo Paiute, que assim como muitas outras tribos ao redor do mundo possuem lendas a respeito do lugar que habitam. Os Paiute acreditam em vários mitos particulares: na existência de um mundo espiritual, de criaturas mágicas que possuem homens e animais e de magia que pode ser canalizada para interferir na natureza. Eles também acreditam em um antigo povo, uma civilização não humana, habitou essas terras no passado remoto e que deixou marcas de sua passagem no deserto abrasador.
Esse povo misterioso não era exatamente humano, ao menos não como os que existiam posteriormente. Para começo de conversa, eles eram gigantes com mais de 2,50 metros de altura. Descritos como homens muito magros, com a pele cor de cobre, traços de nativos-americanos e cabelos longos que desciam pelas costas. Tinham também uma peculiaridade, a existência de um sexto dedo em cada mão. Teriam sido esses indivíduos os responsáveis pela construção de um imenso complexo de túneis subterrâneos que ligavam a superfície à maior das cavernas onde ficava a mítica cidade de Shin-au-av, que significa "Terra dos Deuses" ou "Terra dos Espíritos".
Aquela era uma terra de campos verdejantes, vales de beleza inigualável. Era o inverso da superfície abrasiva do deserto na superfície. Havia comida em abundância, frutos da terra que nasciam espontaneamente sem que fosse preciso cultivar ou arar o solo. Árvores frondosas e riachos de água potável em que nadavam peixes. O Chefe ficou sem palavras com a visão. Ele foi recebido calorosamente, como um amigo pelos habitantes, homens de grande estatura, cabelos prateados e pele acobreada. O chefe perguntou a respeito de sua esposa e foi levado até ela para uma alegre reunião. Ele passou um ano inteiro na cidade como convidado.
Mas em determinado momento, ele disse que gostaria de retornar à sua tribo pois tinha com eles obrigações. Ele foi então informado de que tal coisa era impossível e que ninguém podia deixar Shin-au-av depois de encontrá-la para que não revelasse sua localização.
O Chefe Paiute prometeu solenemente que não revelaria onde ficava a cidade, mas nem assim os anciãos permitiram que ele partisse. Irritado com a resposta negativa, ele planejou então, sua fuga ao lado da amada. O casal conseguiu deixar a cidade, mas foi perseguido pelos túneis infestados de monstros e espíritos convocados pelos sacerdotes de Shin-au-av. Em determinado momento de sua fuga, os dois foram atacados e a esposa do chefe acabou caindo em um abismo onde se perdeu para sempre. De coração partido, o Chefe conseguiu retornar à sua tribo e relatar as maravilhas e horrores que havia visto nas entranhas do mundo subterrâneo. Ele nunca mais foi o mesmo e sua história sobre a cidade e seus habitantes, se tornou parte do Folclore Paiute, partilhadas de pai para filho.
Se essa fantástica fábula tem algum fundo de verdade, não sabemos. Entretanto foi ela que alimentou ao longo dos anos uma intensa busca por Shin-au-av, na qual exploradores e aventureiros que ouviram a lenda, se lançaram nas labirínticas cavernas abaixo do Vale da Morte em busca do lugar mítico. Muitos acreditam ainda hoje que abaixo do deserto escaldante existe uma civilização perdida de gigantes aguardando ser descoberta.
Um dos casos mais famosos envolvendo essa lenda data de 1900, quando dois prospectores chamados White e Thomason relataram ter encontrado no Vale da Morte um caminho perdido numa velha mina de ouro desativada. Seguindo um túnel por quilômetros eles acabaram encontrando uma gigantesca caverna onde uma cidade subterrânea repousava. Embasbacados pela incrível descoberta que haviam feito, os dois decidiram explorar a cidadela em busca de evidências dos seus habitantes. White e Thomason relataram ter encontrado múmias de homens gigantes, perfeitamente preservadas vestidas com roupas de couro e adereços de ouro, bem como lanças douradas, pedras polidas e gemas brilhantes. As ruas da cidadela eram adornadas com estátuas de animais que eles jamais haviam visto. As casas eram enormes, feitas de pedra com entalhes evidenciando um idioma que eles não compreendiam e com portões com mais de três metros de altura.
Os homens disseram ter recolhido alguns dos tesouros e relíquias para provar onde haviam estado, mas que um guia roubou as peças deixando-os sem qualquer prova do que haviam visto. A história acabou capturando a atenção da mídia e eles se tornaram por algum tempo celebridades locais. Até mesmo o prestigiado Instituto Smithsonian entrou em contato com os dois para que eles conduzissem uma expedição até o misterioso complexo de túneis, mas os homens não foram capazes de localizar o acesso uma vez mais. Considerando que não havia nenhuma prova física da aventura, a maioria das pessoas julgou que tudo aquilo não passava de invenção.
Em 1920 houve outro interessante incidente relatado por um explorador nativo chamado Tom Wilson. Ele contou ter encontrado entre os objetos de seu falecido avô, Ezra, uma série de objetos peculiares supostamente achados em cavernas sob o Vale da Morte. Ezra foi um prospector ao longo de toda sua vida e explorou inúmeros caminhos, deixando fartos registros sobre suas perambulações pelos túneis e minas em todo território. Nestes ele teria se deparado com um achado fantástico: uma cidade subterrânea diferente de tudo que já havia sido visto naquela região. Ezra acreditava que se tratava da mítica Shin-au-av, a Cidade dos Gigantes. Wilson apresentou peças de roupa, pedras talhadas, estatuetas e outros artefatos que segundo ele haviam sido encontrados pelo avô nos túneis e nas ruínas da velha cidadela.
A parte mais incrível de seu relato, entretanto, dava conta de que Ezra havia feito contato com indivíduos dessa misteriosa civilização, um povo de gigantes esguios com mais de dois metros e meio de altura, traços de nativos, mas com cabelos longos e prateados. Essas pessoas viviam nos túneis mais profundos, usavam estranhos cavalos de tração para carregar suas coisas e cristais como forma de iluminação. Eles falavam um idioma desconhecido, mas não pareciam agressivos. Ezra descreveu em seu diário ter encontrado com esse povo, que ele chamava apenas de "gigantes", em pelo menos três ocasiões. Ele conseguiu compreender que o povo gigante vivia numa cidade nas profundezas, num lugar inacessível para ele, mas que haviam deixado ruínas de outros assentamentos. Foi em um destes que Ezra recuperou os artefatos em seu poder.
As peças achadas por Tom Wilson foram examinadas por pesquisadores que reconheceram se tratar de objetos autênticos confeccionados por nativos americanos antes da chegada do homem branco ao continente. Possivelmente por antepassados dos Paiute, contudo, nada indicava terem pertencido a uma civilização desconhecida. Tom Wilson continuou seguindo as trilhas e pistas deixadas pelo seu avô buscando obsessivamente o povo gigante sem sucesso, até sua morte em 1968.
De acordo com um documento redigido por Russel, eles encontraram numa câmara as ruínas de uma magnífica cidade de pedra abandonada. Lá repousavam as múmias de um povo de enorme estatura, vestidos com trajes confeccionados com o couro de animais desconhecidos. A cidadela estava repleta de relíquias que aos olhos de Russel pareciam pertencer a cultura dos nativos-americanos, mas ao mesmo tempo muito diferente destas. Ela tinha, por exemplo, estranhos caracteres similares a hieróglifos, talhados nas paredes das casas e prédios. Russel descreveu também a existência de um enorme salão abobadado onde ele acreditava, ocorriam rituais religiosos, já que ele estava repleto de ossos de animais - presumivelmente provenientes de sacrifícios.
Russel assumiu que a cidade era muito antiga, com algo em torno de 80 mil anos de idade. A câmara onde ela repousava fazia parte de um complexo que se estendia por quilômetros, formado por túneis claramente escavados e não resultado de ação da natureza. Eles acreditavam que a cidade em ruínas era apenas uma de várias outras conectadas pelos túneis. Infelizmente, suas tentativas de chegar até elas falharam quando se depararam com trechos desmoronados através da qual era impossível seguir.
Embora os dois tenham tentado ganhar o interesse da comunidade científica, seus relatos foram tratados com imenso ceticismo. As peças apresentadas por Hill e Russel, foram consideradas autênticas obras do artesanato indígena, sem dúvida muito antigas, mas incapazes de corroborar a teoria de que pertenciam a uma civilização perdida. Os dois permaneceram fiéis a sua história e garantiam que a cidade seria a descoberta do século.
Hill conseguiu atrair investidores privados que patrocinaram uma expedição nas cavernas em 1949. Infelizmente, essa expedição não teve sucesso em encontrar o lugar mítico explorado pela dupla que creditou a uma série de terremotos o fechamento dos túneis. Nos anos seguintes, os dois continuaram explorando as passagens individualmente, já que tiveram um sério desentendimento que rompeu sua parceria.
O mais bizarro é que os dois desapareceram sem deixar vestígios pouco tempo depois. Russel supostamente se perdeu nas cavernas em 1950, buscando um acesso à sua cidade perdida. Grupos de resgate tentaram encontrá-lo inutilmente e desistiram após semanas de buscas infrutíferas, declarando que ele havia sofrido um acidente fatal. O caso de Hill é ainda mais curioso, já que ele desapareceu da face da terra em 1952. Família e amigos o procuraram em todo canto, mas ele permaneceu como desaparecido até 1976, quando os restos de seu automóvel foram encontrados em um trecho inóspito nas profundezas do Vale da Morte. Não havia nenhum sinal de Hill, mas todos presumiram que ele tenha deixado o carro ali para explorar alguma caverna de onde jamais retornou.
Ao longo das décadas seguintes houve relatos esporádicos feitos por exploradores dedicados a vasculhar os mistérios do Vale da Morte. O lugar continua atraindo curiosos, arqueólogos amadores e pessoas que acreditam na existência de um povo ancestral que construiu Shin-au-av e deixou ruínas de sua passagem por ali. Infelizmente nenhuma prova concreta foi apresentada até então.
Haveria realmente uma ou mais cidades em ruínas nas câmaras mais profundas? Quem seriam os responsáveis por erguer essa cidade e o que teria acontecido com essas pessoas? Seria apenas uma lenda ou haveria algum fundo de verdade nessas histórias fantásticas? Tudo parece não passar de especulação e folclore, mas sempre esbarramos naquela inconveniente questão: "e se não for"?
De qualquer maneira, o Vale da Morte continua atraindo pessoas dispostas a resolver esse mistério e quem sabe trazer à superfície a verdade que se encontra perdida.
Essa história de gigantes vivendo no interior da Terra é antiga, e dá muito pano pra manga...
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