terça-feira, 25 de maio de 2021

As Orbes de Skara Brae - Os Mistérios de um fascinante vilarejo Neolítico


No inverno de 1850, uma feroz tempestade atingiu o arquipélago das Ilhas de Orkney na costa da Escócia. Os danos foram extensivos, sobretudo no entorno da Baía de Skaill, na costa oeste. Quando a terrível tempestade passou, deixou um rastro de devastação e morte, com mais de 200 vítimas fatais, muitas delas afogadas pelas cheias produzidas.

Além da tragédia humana e dos danos materiais, as chuvas torrenciais e descargas elétricas revelaram um mistério oculto sob a superfície da terra há milhares de anos. Quando os habitantes da ilha estavam contabilizando os danos no topo do monte chamado Skara Brae, descobriram as ruínas de um até então desconhecido assentamento do Período Neolítico, um vilarejo que ofereceria enigmas que até hoje permanecem sem uma explicação razoável. 

As primeiras tentativas de escavar o vilarejo enterrado foram amadorísticas, realizadas pelos cidadãos locais usando pás e picaretas. Apesar da boa vontade das pessoas, os trabalhos causaram mais dano do que benefícios, com artefatos sendo descartados como lixo e objetos sendo removidos indiscriminadamente. Finalmente em 1868, o lugar foi abandonado novamente, tendo revelado pelo menos quatro casas antigas que foram escavadas entusiasticamente. Seriam necessárias várias décadas e uma nova tempestade para que o sítio chamasse a atenção da Universidade de Edimburgo. A instituição enviou o renomado Professor V. Gordon Childe para avaliar o local em 1917. Quando o especialista começou analisar o sítio, ele encontrou indícios de que o lugar já era habitado entre 3200 e 2500 anos antes de Cristo, tornando-o mais antigo que Stonehenge e que as Pirâmides do Egito. Além disso, ele descobriu que o vilarejo era composto de dez casas bastante próximas umas das outras, com represas e montes artificiais erguidos para promover proteção, calor e sustentação aos habitantes. 


As casas eram construídas com lajes de pedra e possuíam lareiras, camas, chaminés e várias peças de mobiliário primitivo, incluindo armários, cadeiras e caixas. Mais impressionante, o vilarejo tinha um sistema de esgoto através do qual, cada casa podia despejar seus dejetos e fazer com que eles fossem removidos por intermédio de drenos até o mar. O sistema, ainda que rudimentar funcionava muito bem e continuou preservado e completo.    

O padrão do vilarejo que foi chamado Skara Brae era incrivelmente engenhoso, algo jamais visto em um assentamento do período neolítico. O estilo de construção, com a distribuição das casas é algo que só seria visto milênios mais tarde, já com grandes avanços consolidados. 

O outro grande mistério era tentar compreender porque um lugar tão avançado, bem construído e seguro teria sido inexplicavelmente abandonado em determinado momento. Os últimos habitantes a ocupar o assentamento deixaram marcas de sua passagem que evidenciam a época em que ocuparam o lugar. Fica claro que nenhum outro povo posteriormente viveu no local. Mais curioso ainda, seja lá qual foi a razão para deixar o vilarejo, tudo parece ter ocorrido com grande pressa, uma vez que objetos valiosos foram abandonados. Também há sinais de que alimentos foram deixados nas despensas rudimentares, algo impensável para povos que dependiam do que podiam preservar para sobreviver.      


Teorias para explicar os motivos para essas pessoas terem deixado a segurança de Skara Brae incluem algum tipo de catástrofe como uma tempestade ou quem sabe doença, mas a verdade é que ninguém sabe ao certo. Seja qual for o motivo para esse êxodo repentino, o povo que um dia residiu ali, deixou muito para trás. Ao longo dessa pequena vila, que deve ter servido de lar para pelo menos 50 pessoas, foram achados fragmentos de pedra, osso e chifre utilizados como ferramentas, bem como numerosos artefatos feitos de animais, como peixes e pássaros, além de marfim extraído de mamutes e enormes dentes de morsa e baleia. Tudo isso foi usado para criar agulhas, facas, contas, enfeites, pulseiras, pratos e bacias usados no dia a dia. Também havia incontáveis pedaços de cerâmica, contas e os retalhos de corda trançada mais antigos achados na história. Tudo isso deveria ser visto como objetos incrivelmente valiosos, mas eles foram simplesmente descartados, sem nenhuma intensão de serem guardados, escondidos ou levados junto. 

Entretanto, o mais estranho ainda estava por vir, quando o centro do vilarejo começou a ser escavado e inexplicáveis pedras arredondadas, perfeitamente polidas, começaram a aparecer.

Espalhadas em lugares de destaque as pedras arredondadas, do tamanho de bolas de baseball e adornadas com complexos entalhes em padrões de espiral, círculos e linhas imediatamente chamaram a atenção dos pesquisadores. Como elas foram moldadas e como os elaborados entalhes foram feitos com tamanha precisão, usando para isso simples ferramentas de pedra, era um mistério quase tão grande quanto o seu propósito original. Pesquisadores tentaram reproduzir maneiras de criar algo similar usando para tanto os mesmos materiais à disposição na época. Nada chegou sequer remotamente próximo do acabamento atingido pelos habitantes de Skara Brae. De fato, mesmo com toda nossa tecnologia não foi fácil atingir o mesmo grau de detalhe. 


As teorias a respeito dessas misteriosas orbes são numerosas. 

Ideias incluem que elas poderiam ser usadas para atividades simples como pesos para redes de pesca ou em balanças primitivas para aferir o peso em relações comerciais, ou em situações especiais como peças centrais em rituais de previsão do futuro ou ainda determinar o clima. Poderiam ainda ser símbolos de status empunhadas apenas pelos chefes tribais ou xamãs religiosos que teriam direito de falar apenas quando tivessem tais objetos em sua mão.

Hugo Anderson-Whymark, curador do Museu Nacional da Escócia, tem a sua própria teoria:

"Eu acredito que as orbes sejam símbolos estilizados de liderança, usados em cerimonias de caráter religioso. Coisas que poderiam ser usadas até mesmo como armas, para ferir as pessoas que desagradassem ao líder e suas decisões. Na maioria das vezes elas representariam um objeto de liderança, status e poder. Aquele que tivesse uma pedra dessas em suas mãos deveria ser ouvido, respeitado e temido pelos demais". 


Outra ideia é que as pedras poderiam representar algo chamado "Sólidos Platônicos", que são poliedros propostos pela primeira vez pelo matemático e filósofo grego Platão, para representar os elementos clássicos da natureza: terra, ar, água e fogo. Se essa teoria for verdadeira seria uma incrível descoberta, uma vez que significaria que povos do Neolítico compreendiam princípios avançados de geometria e matemática mais de mil anos antes de Platão os colocar em uso. Com o intuito de trazer alguma compreensão a seu misterioso propósito, cientistas criaram modelos 3D das orbes encontradas no sítio arqueológico de Skara Brae e embora isso não tenha fornecido nenhuma resposta concreta uma coisa que eles determinaram é que as peças parecem ter sido trabalhadas e retrabalhadas ao longo de várias gerações.   

"É como se as peças tivessem atendido a um propósito em uma geração, mas em outra, tenham sido utilizadas por outros indivíduos que as trabalharam polindo e moldando até que assumissem uma função diferente. Todas as orbes possuem essa mesma característica, a de terem sido remodeladas, e tudo leva a crer que algumas foram passadas de geração em geração ao longo de séculos".

A função religiosa também não pode ser descartada. Os povos do Neolítico tinham uma relação bastante íntima com a natureza e poderiam moldar as pedras para representar as forças que os cercavam. Uma poderia ser o Sol, outra a Lua, outra ainda a água, o fogo etc... Em rituais religiosos as pedras seriam usadas para invocar o poder daquilo que elas representavam. Para abençoar os campos na época das colheitas, a pedra da Terra seria celebrada, já para aplacar uma seca, a do fogo ou da água poderiam ser trazidas diante da tribo. É possível ainda que as pedras simbolizassem divindades antigas próprias. Círculos e Orbes estão presentes em várias culturas e civilizações, como elementos simbólicos de deuses e entidades superiores veneradas.


Os habitantes locais acreditavam que as Orbes de alguma forma estavam relacionadas às fortes tempestades que caíam sobre as Ilhas Orkney. Alguns supunham que as pedras atraíam poderosas descargas elétricas e que a remoção delas da terra diminuiu a frequência e potência dessas tempestades. Havia até mesmo a crença de que as pedras haviam causado a grande tempestade que resultou na descoberta das ruínas neolíticas. Estudiosos não encontraram qualquer relação entre as pedras e tempestades, mas a superstição se manteve por muito tempo. 

Cerca de 500 artefatos no formato de orbes de pedra foram encontradas em sítios arqueológicos nas Ilhas Britânicas e Irlanda. Ninguém realmente sabe mais a respeito deles hoje do que sabiam há um século. Qual seria a utilidade dessas pedras ou por qual razão povos da antiguidade as criaram permanece um mistério. As orbes de pedra causam perplexidade nos especialistas há anos, sem que ninguém se aproxime de uma resposta definitiva e considerando que não existiam registros, é provável  que jamais saibamos.

*          *          *

Hmmmm...

Deuses Antigos glorificados através de Orbes? 

Não estou dizendo que pode ter ligação com os Mythos de Cthulhu, em especial Yog-Sothoth, mas é incrível como algumas coisas, acabam se encaixando.

4 comentários:

  1. Interessante! Eles deve ter fugido de alguma praga mesmo, dado o estado de conservação das casas. Fiquei impressionado também com a existência de um sistema de esgoto. Acho que isso só voltou com os romanos, muito tempo depois...
    Obrigado por ter me respondido no outro post!

    Se você curte Ravenloft e Literatura Gótica, dê uma olhada em meu blog!

    https://bardodanevoa.blogspot.com/

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    1. Olá, na verdade um sstema de esgotos sofisticado foi criado e usado pelos minoicos em Tera, atual Santorini, mas depois se perdeu...obrigado

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    2. Olá, na verdade um sstema de esgotos sofisticado foi criado e usado pelos minoicos em Tera, atual Santorini, mas depois se perdeu...obrigado

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    3. Maneiro, obrigado pela informação, amigo! Eu tinha essa noção dos Romanos. Não sabia dos Minoicos.

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