sábado, 8 de maio de 2021

Arte da Guerra - Armas menos conhecidas, mas extremamente perigosas


Quando se fala em armas, guerras e combate n mundo antigo o que vem à nossa mente imediatamente são guerreiros com espadas, escudos e quem sabe, armaduras brilhantes.

Na verdade, o mundo antigo foi marcada por uma busca incessante por armas que pudessem desempenhar de forma mais eficiente sua função. Basicamente, matar o inimigo.

Os projetistas de armas se esmeravam em produzir artefatos bélicos cada vez mais mortais. Preocupações típicas dos mestres armeiros diziam respeito a praticidade, facilidade de usar, treinamento requerido e preço da arma em questão. De nada adiantava construir algo potencialmente mortal, mas que poucas pessoas saberiam manejar, ou que fosse difícil de levar ao campo de batalha ou ainda cujo preço fosse proibitivo para os cofres de seu patrocinador.

Ser um armeiro podia ser um trabalho difícil, mas com certeza, não faltava demanda e oportunidade para colocar as invenções à prova. Os Reinos estavam em constante guerras uns contra os outros, precisavam sempre de novidades para suprir seus clientes. Um armeiro podia fazer fortuna, caso a sua invenção caísse nas graças de um nobre que a visse como a solução para aniquilar seus oponentes.

Aqui está uma pequena seleção de armas incomuns que foram desenvolvidas em diferentes momentos da história e que foram usadas em campos de batalha. Algumas viajaram através de várias terras, sendo usadas por diferentes povos e atualizadas por outros. Seja como for, são armas curiosas, nem todas tiveram um grande sucesso, mas cada uma, a seu modo, foi usada, e matou pessoas.
 
Culverin

 

O Culverin foi uma das primeiras armas de fogo a aparecer nos campos de batalha ainda nos tempos medievais.

Diferente das pistolas e arcabuzes que acabaram tomando seu lugar, o Culverin era muito mais primitivo e incrivelmente mais perigoso. Talvez por isso, seu uso não tenha sido muito difundido, afinal de contas, o sujeito precisava ser muito corajoso, ou um completo imbecil para usar uma coisa que poderia explodir na sua cara e matá-lo tão facilmente (quem sabe até mais facilmente) do que ao inimigo.

Os primeiros Culverin apareceram no século XV, usados entre as tropas francesas. 

Em geral, ele era empregado por homens à cavalo que avançavam no campo de batalha na direção do exército inimigo, se colocavam a aproximadamente 20 metros deles, atiravam e depois fugiam em disparada. A arma era um simples tubo oco comprido, feito de ferro e preenchido com pólvora preta e pequenos pedaços de ferro. A peça tinha um apoio de madeira que dava estabilidade e permitia que ela fosse disparada pelo cavaleiro com uma única mão.  O culverin era disparado acendendo um pavio que ficava no extremo do tubo. 

Ao disparar, uma chuva de projéteis, em geral de chumbo eram propelidos à alta velocidade, e azar de quem estivesse na frente. O Culverin era uma espécie de espingarda da época, ideal para ser usada contra um grupo grande de pessoas, visto que a munição se espalhava causando dano à quem estivesse na frente. Era uma arma que causava ferimentos horríveis em animais e soldados, atravessando armaduras, escudos e carne. 

O Culverin era eficiente, contanto que o utilizador soubesse o que estava fazendo e que mantivesse a pólvora seca. Segundo cronistas medievais, o uso da arma era temido, mas muitas vezes ela simplesmente falhava deixando seu utilizador em maus lençóis, tendo que fugir com perseguidores em seu encalço. 

Como acontece em toda guerra, os engenheiros militares começaram a se perguntar o que aconteceria se eles fizessem versões cada vez maiores do Culverin, capaz de disparar projéteis mais pesados, potentes e a maior distância. Assim, a arma estava com seus das contados uma vez que canhões começaram a ganhar cada vez mais interesse. 

Caltrops


Muita gente vai torcer o nariz para essa arma e dizer que isso sequer deveria ser considerado como tal, mas o princípio do caltrops é tão simples, quanto efetivo.

O caltrop pode assumir vários formatos, mas em geral ele é feito de dois pregos de metal entortados gerando uma base na qual ele fica posicionado com a ponta virada para cima. Caltrops foram desenvolvidos principalmente como proteção contra o avanço de cavalaria, um tipo de tropa que raramente podia ser enfrentada por homens à pé. Historiadores concordam que pouca coisa podia causar maior terror do que a investida de uma cavalaria capaz de romper fileiras de homens e esmagá-los sob o casco das montarias. 

Para enfrentar um exército montado, os caltrops eram uma solução relativamente barata e surpreendentemente eficiente. Bastava distribuir diante da posição defensiva uma quantidade considerável dessas peças de ferro. Quando a cavalaria avançasse, os animais, fossem cavalos, camelos ou mesmo elefantes de guerra, pisariam nos obstáculos e imediatamente reagiriam ao ferimento. Com sorte, isso frustrava o ataque e reduzia o ímpeto dos animais.

Em 331, as tropas de Alexandre, o Grande fizeram um dos primeiros usos documentados de Caltrops na Batalha de Gaugamela. Eles espalharam uma quantidade enorme deles para conter o ataque das temidas bigas e carruagens de combate usadas pelo Exército Babilônico. Quando os inimigos avançaram contra a infantaria grega, dispostos a fazer um enorme estrago, eles inadvertidamente entraram no terreno coberto de caltrops. O resultado foi uma sucessão de animais tombando, veículos capotando e cavaleiros sendo arremessados no chão.

Os romanos estudaram essa tática e a usaram efetivamente contra seus inimigos. As legiões romanas chamavam os Caltrops de "Murex Ferrus", algo como "Ferro Farpado". Quando eles sabiam que o inimigo dispunha de cavalos, levavam para o campo de batalha uma carroça cheia de caltrops para estes serem espalhados na véspera do combate. Eles adoravam colocar esse obstáculo em terrenos alagados onde a surpresa aguardava o inimigo bem disfarçada. Uma vez que na Era Medieval, cavalos continuavam sendo uma vantagem considerável, os Caltrops foram adotados incontáveis vezes para conter inimigos. Na Guerra dos 100 anos eles foram tão comuns que até hoje peças podem ser encontradas nos campos da França. De fato, na Segunda Guerra Mundial, era um problema para os detectores de minas trabalharem, pois haviam milhares de caltrops perdidos aqui e ali.

Em tempos modernos, os Caltrops se tornaram populares como instrumento em greves e disputas trabalhistas. Eles eram usados para sabotar máquinas e danificar veículos, tanto que portar um caltrop é considerado uma infração em muitas partes dos Estados Unidos.

É incrível que um dos métodos de defesa mais simples criado pelo homem continue sendo usado com enorme eficácia nos combates modernos. No Vietnã, os guerrilheiros vietcongues usavam caltrops feitos de bambu afiado - punji sticks, nas trilhas e alagadiços. Milhares de soldados americanos se feriram gravemente nos pés com essa armadilha simples. Mais recentemente, eles estiveram presentes na Guerra do Kosovo e no Iraque. Para potencializar o dano e tirar os soldados de combate, os caltrops muitas vezes eram banhados em veneno ou então com esterco para que suas pontas transmitissem doença. 

Óleo Quente, Piche, Esgoto Fumegante (e o que mais você pudesse lançar sobre a Muralha)


No passado, tomar cidades, ao menos as grandes, era uma tarefa complicada, sobretudo porque elas eram cercadas por imensas muralhas de pedra. Quando um exército inimigo se aproximava, a população corria para trás dos muros, era necessário estocar suprimentos, racionar água e esperar. Por vezes por meses, mas em alguns casos, até por anos que o ímpeto da conquista diminuísse e que os invasores partissem. Assim surgiu um tipo de combate muito comum na Idade Média, o Cerco

Cercos podiam ser muito difíceis. Tanto para quem estava dentro da cidade que tinha de lidar com o medo e a dúvida de que as defesas poderiam ser penetradas, quanto para quem estava do lado de fora que tinha de investir contra muros inexpugnáveis, geralmente defendidos por guardiões bem armados.

Sem dúvida, as Armas de Cerco, desenvolvidas para derrubar muros e abrir brechas foram uma inovação necessária. Mas no início, tudo que se tinha eram milhares de pessoas tentando entrar, e milhares tentando impedir. Os atacantes usavam escadas, cordas, ganchos e tudo que pudesse ajudar a escalar as muralhas. Eles circulavam de um lado para o outro, disparando flechas com fogo, esperando que elas atingissem telhados de palha ou estruturas de madeira. Um ataque podia ser uma grande confusão, pois as técnicas de invasão não eram lá muito definidas. Para o defensor, também não era fácil. O principal problema de um cerco é que você ficava sob constante stress. Os ataques não cessavam e os guardas precisavam ficar de prontidão para qualquer ataque repentino. Além disso, tinha a falta de recursos que começa a ser um problema, principalmente se os seus suprimentos fossem limitados.

Bem, um dos meios de defesa favoritos empregados por quem sofria o cerco era despejar sobre o inimigo lá embaixo o que estivesse ao seu alcance. E nesse ponto, praticamente tudo podia se converter em uma arma de defesa. Era muito comum que no alto das muralhas fossem posicionados imensos caldeirões de ferro onde se podia ferver qualquer coisa. E de fato, os defensores das cidades usavam aquilo que tivessem à mão para esse fim.

Água fervente era sem dúvida um recurso comum, mas muitas vezes não era viável desperdiçar água potável, mesmo que para defender as muralhas. Então, as pessoas tinham de ser criativas. Azeite e óleo eram um recurso valioso e muitas cidades medievais, quando se tornavam alvo de cerco, impunham uma lei para que cada família desse uma cota para suprir as defesas. Essas substâncias eram fervidas e despejadas sobre os inimigos, causando danos consideráveis. Mas até esse recurso era finito.

Piche era outra excelente opção, bem como óleo cru, basicamente petróleo, que queimava com grande facilidade e era difícil de apagar. Várias cidades no Oriente Médio durante as Cruzadas tinham estoques de óleo cru em barris para despejar na cabeça dos inimigos. Depois, bastava acender com uma flecha em chamas e ver o "circo pegar fogo". Na dúvida se usava também pedregulhos, madeira e areia. Algumas fontes mencionam chumbo derretido e mercúrio, mas não há evidências que tal coisa foi realmente empregada.

No fim das contas, a necessidade podia obrigar os defensores a recorrer ao que tivessem em mãos. Urina fervida e excremento fumegante, colhidos diretamente dos esgotos podiam ser despejados sobre a cabeça dos inimigos no caso de desespero. Não apenas havia o efeito humilhante e fedorento desse ataque, mas eles podiam funcionar como uma arma biológica já que doenças eram transmitidas dessa maneira.

Arbalest


Nós todos sabemos que Bestas (Crossbow) são mortais, mas e quanto ao Arbalest? 

O Arbalest é como uma versão vitaminada das bestas convencionais, sendo que a principal diferença é o material de sua construção. Enquanto as bestas eram de madeira, o Arbalest tinha o arco moldado em aço, e acredite esse detalhe fazia toda diferença. O Arbalest permitia uma tensão muito maior na corda o que se refletia em seu poder de impacto e alcance. Enquanto uma besta era capaz de liberar uma força de no máximo 500 libras, um arbalest atingia 2500 libras, com os mais poderosos podendo chegar a 5000 libras (dez vezes mais potência do que uma besta). 

O que isso significa?

Que essa coisa era potencialmente letal a 500 metros.

Um alvo atingido recebia um impacto absurdo, o bastante para perfurar facilmente uma placa de aço de 4 centímetros de espessura. Nenhuma armadura medieval era capaz de conter algo assim, portanto, um tiro no alvo era na maioria das vezes certeza de morte. Para piorar, o Arbalest disparava um virote de 20 centímetros de comprimento por 5 de diâmetro, com cabeça pontiaguda de aço. Era um verdadeiro míssil!

Um soldado treinado com arbalest conseguia disparar no máximo duas vezes por minuto. Para preparar a arma era preciso tencionar a corda e isso só podia ser feito usando um mecanismo de manivela. Ele era portanto uma arma lenta para disparar, contudo, extremamente precisa e incrivelmente poderosa.

O uso de bestas pode ser traçado na Europa até o período romano, mas elas vieram do extremo oriente, provavelmente da China. O problema é que bestas eram muito caras e difíceis de produzir. As bestas apenas se tornaram relativamente comuns nos campos de batalha no século XII, reconhecidas como armas típicas de companhias de mercenários - os genoveses eram grandes admiradores delas. Elas ganharam reputação após a Batalha de Hastings em 1066.

Embora um arco longo fosse mais leve, tivesse maior alcance e permitisse uma cadência de tiro maior, as bestas exigiam muito menos treinamento. O arco demandava dedicação e anos de treino até o arqueiro se tornar apto a acertar um alvo à distância. O uso da besta, por sua vez, demandava apenas 1 semana de instrução de tiro. Um simples camponês podia ser treinado em seu manejo, e com um disparo certeiro conseguia eliminar um cavalheiro que tivesse treinado a vida inteira. As bestas eram tão perigosas que o Papa Inocêncio II emitiu um édito para banir seu uso em 1139. Ele considerava que a besta era uma arma injusta e que não deveria ser usada por cristãos contra cristãos.

Mas aí veio a Cruzada e tudo isso caiu por terra.

Contudo, verdade seja dita, a Besta era uma coisa, o Arbalest era outra bem diferente. Comparativamente seria o mesmo que colocar lado à lado uma pistola .22 e uma Magnum 44. O poder de impacto, o dano, a potência e alcance faziam do Arbalest a arma de distância mais temida do Mundo Medieval. Sim, ela era pesada, cara e desajeitada, mas ainda assim, algo que ninguém queria enfrentar.

Em algum momento, as armas de fogo começaram a substituir as bestas e os arbalest que saíram de moda e se tornaram obsoletos diante do poder da pólvora. Ainda assim, o arbalest, manteve seu status entre caçadores e excêntricos ao longo dos séculos.  

O Aspersor de Água Benta


Morning Star (Estrela da Manhã) é um termo usado para uma série de armas medievais relacionadas a porretes com peças pesadas de ferro guarnecidas de pontas afiadas. Geralmente, não há nada de notável nessa arma brutal. Afinal, não era necessário muita habilidade para fundir uma bola de ferro com tachões num pedaço de pau. Era necessário menos ainda treinamento para empregá-la num combate.

Contudo uma versão dessa arma se tornou a preferida por religiosos do período.

Sim, religiosos viam no Aspersor de Água Benta uma ferramenta aceitável para os homens do clero portarem em batalha e para arrebentar a cabeça de inimigos de sua fé. Isso porque a arma se prestava ao propósito de borrifar água benta para abençoar os fiéis e amaldiçoar os ímpios. O princípio era incrivelmente simples, mas eficaz para convencer à todos de suas "boas intenções". No interior da bola de ferro havia um espaço oco que era preenchido com água benta. Toda vez que a arma era usada, aspergia um pouco da água consagrada no campo de batalha e na vítima de seu ataque.

A arma foi popular entre cavaleiros capelães que acompanhavam as tropas para dar sustentação religiosa mas que por vezes se envolviam no combate direto. Alguns desses porretes tinham quase dois metros de comprimento e eram armas devastadoras. Sabe-se de ao menos uma personalidade medieval que usava essa arma, o Rei John da Bohêmia que era cego (!) carregava um Aspersor de Água Benta com distinção, sobretudo para usar contra inimigos da fé cristã.  

Você já se perguntou porque em Dungeons and Dragons a Morning Star tende a ser a arma predileta dos clérigos?  Aparentemente alguém fez uma pesquisa a respeito e achou essa arma em particular.

Fogo Grego


Imagine a cena se puder. Você está em alto mar, navegando em seu barco de madeira quando de repente do nada, aparece uma torrente de chamas que atinge a embarcação e faz com que ela se incendeie por completo.

Da pior maneira possível, você acaba de descobrir o que é ser vítima de uma das armas mais mortais e lendárias do passado: o Fogo Grego!

O uso dessa arma antiga foi documentado pela primeira vez na Europa em 670 d.C. Ele era usao sobretudo em batalhas navais, onde o disparador de chamas (vamos evitar chamar de lança-chamas) podia ser montado e operado com maior facilidade. Uma vez montado o dispositivo, semelhante a um canhão de ferro comprido com boca larga, ele era municiado com a substância incendiária. Uma vez aceso e alimentado com um fole, ele disparava uma lingueta de fogo que podia se estender por até 10 metros.

O que as vítimas podiam fazer para se defender? De acordo com uma testemunha:

"Toda vez que eles lançavam aquele fogo contra nós, o que podíamos fazer era nos atirar no chão, tentar rastejar para longe e implorar ao Senhor que nos livrasse daquele perigo".

Em outras palavras, não havia praticamente nada que pudesse ser feito! 

Mas o Fogo Grego é um mito ou realmente existiu e foi usado? Muito se debate a respeito dessa arma engenhosa que combina letalidade com um arrasador componente psicológico - o fogo, afinal de contas é uma coisa extremamente temida. O grande problema em se determinar o uso factual do Fogo Grego é que sua composição escapa mesmo aos cientistas atuais. Supõe-se que ele fosse criado com uma mistura de petróleo cru, nitrato e enxofre, com uma pitada de nafta, fósforo, salitre e sal. A receita correta e as proporções, no entanto, sempre escapam aos que tentam reproduzir a arma. A despeito de como era feita, há registros suficientes que corroboram que ele era aquecido em um caldeirão de ferro e projetado por uma espécie de uma mangueira, como uma seringa gigante, na direção do inimigo.    

A substância pegajosa aderia ao navio e às pessoas, era difícil de ser lavada, removida ou mesmo raspada. Uma vez tocado pela substância qualquer faísca era o bastante para criar um incêndio difícil de ser controlado, quanto mais apagado. Em alto mar, contra navios de madeira, a receita para a destruição era perfeita!

Mas se enganam os que creditam aos gregos a invenção da coisa. Apesar do nome, os chineses parecem ter sido os criadores da arma.

No século III a.C, substâncias líquidas inflamáveis já eram utilizadas militarmente no que é hoje a Província de Shanzee. Esta substância inflamável (conhecida como Meng Huo Yu) era provavelmente um derivado do petróleo que subiu à superfície e que foi recolhido para seu precioso uso em batalha. No início, os marinheiros simplesmente o estocavam em barris ou o lançavam na água na direção do inimigo. Bastava então lançar uma flecha em chamas e observar o incêndio se espalhar. Os chineses também disparavam esses tonéis incendiários dentro de cidades com resultados letais.

Em 900 d.C, os chineses inventaram o Pen Huo Qi – uma bomba de pistão que lançavam um jato de nafta que uma vez acendido se transformava em um lança-chamas primitivo (agora sim, a coisa merece o nome). Uma vez direcionado contra um inimigo, os estragos eram notáveis! A nafta é uma substância difícil de apagar e que queima com enorme velocidade. Ela é um dos ingredientes do Napalm, uma substância que a Convenção de Genebra baniu por considerar cruel.

A bomba com dois pistões era usada com precisão para projetar as chamas até 15 metros de distância sobre muralhas e paredes de cidades que estivessem se defendendo. Os chineses documentaram cuidadosamente a construção e o uso dessa arma em um Manual Militar conhecido como Wujing Zongyao. A única "contraindicação" para seu uso segundo o autor do tratado é que uma vez usado, o incêndio termina por consumir tudo que existe no alvo, impedindo pilhagem e saque. Outro "senão" é que o cheiro de carne queimada é quase insuportável.

Guerra é o inferno... 

Tufenk


Se você jogar a palavra Tufenk no Google Images encontrará várias imagens da belíssima fisiculturista turca Gulozar Tufenk. Mas não é bem disso que estamos falando... 

O Tufenk foi um desenvolvimento natural do uso de Fogo Grego.

Se o Fogo Grego carecia de um mecanismo de bomba para propelir e projetar o fogo, algo pesado e de difícil montagem, o Tufenk se propunha a ser um lança-chamas manual. Ou seja, um único soldado (corajoso ou louco o bastante para usá-lo) ficava responsável pela sua operação.

O que se sabe a respeito do Tufenk é que ele era uma arma rara de ser vista em batalha, possivelmente por não ser muito prática e por haver poucos voluntários para operá-la. Ela consistia de um longo cano cilíndrico com quase dois metros de comprimento cujo interior era preenchido com fogo grego, ou alguma variação do mesmo. Uma vez aceso, um fole na parte de traz era acionado e uma lingueta de fogo se projetava de seu interior queimando o que estivesse na frente.

Dois problemas básicos com essa arma incrível: primeiro se a dosagem da substância não fosse respeitada ela podia explodir, segundo, se o tubo não fosse forte o bastante, ele podia explodir. De qualquer forma, a chance disso explodir era IMENSA.

Ainda assim, é possível entender porque o Tufenk (ou Tufek, como é referido em alguns compêndios) era o sonho de qualquer General do mundo antigo. Imagine um grupo de homens avançando com lança chamas portáteis no campo de batalha. Quem ficaria diante deles? (ou atrás, ou ao lado, ou meramente perto?) 

Apesar de seu poder incontestável, o Tufenk foi pouco testado e menos ainda usado. Ele é citado como uma invenção Otomana ou Persa que antecede o Sifão de Fogo Grego. Nas cruzadas ele teria sido utilizado, mas tudo indica que seus resultados foram pífios pois a arma não sobreviveu ao final do Conflito.

Outra variação curiosa do Tufenk surge em documentos da Anatólia que mostram um homem de armadura carregando uma longa vara de metal com a ponta acesa. Ele sopra a extremidade contrária, enchendo a câmara de ar e fazendo as chamas se projetarem. Esse parece ser um tipo de Tufenk ainda mais perigoso para o utilizador. O problema dessa imagem é que essa coisa semelhante a uma zarabatana de fogo não deveria lançar as chamas muito longe, afinal, tudo dependeria do fôlego. O outro empecilho é óbvio, colocar a boca ali era uma péssima ideia. 

Seja como for, o Tufenk acabou caindo no desuso, embora o fogo ainda seja muito usado em guerra. A última palavra em tecnologia de lança-chamas envolve o uso de drones munidos de projetores de operados à distância.

3 comentários:

  1. show! Adoro história militar medieval ! Recomendo a leitura da série "Busca do Graal" do Bernard Cornwell, que também tem umas descrições bem massa de armas, principalmente de arcos longos (inclusive dando uma descrição até detalhada do processo de fabricação deles).
    https://bardodanevoa.blogspot.com/

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