Qualquer filme de horror que começa em um manicômio, com o herói numa camisa de força trancafiado em uma cela acolchoada, não pode ser ruim.
Vou contar uma história! Eu assisti À Beira da Loucura ("In the Mouth of Madness" - 1994) escapando de uma aula chata e indo ver em uma sessão em que era basicamente eu e o projecionista. Lembro de ter chegado no cinema para a última sessão de uma quarta-feira modorrenta, ninguém na fila, absolutamente ninguém na sala a não ser eu para a última projeção do filme exibido em um cinema poeira. A sessão terminava meia noite, mas não interessava, era a última chance de ver o filme e algo me dizia que esse ia ser bom. Os únicos que não gostaram da minha ideia foi o pessoal do cinema que planejava fechar mais cedo e ir pra casa, mas por conta do espectador solitário (este que vos escreve) tiveram de abrir a sala novamente.
In the Mouth of Madness é daqueles filmes ame ou odeie. Daquelas produções que se você compra a ideia vai ser um baita programa, mas se você está em dúvida, possivelmente vai largar na metade. Agora, vou te dizer, é um filmaço!
E é Lovecraftiano até a raiz do cabelo!
E é Lovecraftiano até a raiz do cabelo!
Tá bom, eu sei. Muita gente tem considerado qualquer filme levemente inspirado pela obra do sujeito como lovecraftiano. O termo tem sido usado de modo um tanto leviano ultimamente. O desejo de assistir uma produção legitimamente lovecraftiana tem feito muita gente boa considerar filmes que tem um cheirinho de Lovecraft, como full-lovecraftian.
Mas e quanto a esse aqui? Bem, aqui a gente tem um filme Lovecraftiano por excelência.
À Beira da Loucura, começa com o especialista em seguros Peter Trent (Sam Neill), berrando a respeito do fim do mundo. O homem é largado em um sanatório e lá começa a contar ao psiquiatra o que aconteceu e como ele descobriu que o mundo está à beira do abismo. A história bizarra narrada por Trent, começa quando ele é contratado por uma editora para encontrar o famoso escritor de horror Sutter Cane (Jurgen Prochnow) que sauiu sem deixar vestígios na véspera de um novo lançamento. Os livros bizarros de Cane tratam de loucura, horrores de além do tempo e espaço e criaturas abomináveis que vivem além das esferas. Parece familiar? Calma, fica melhor!
Os romances de Cane são tão estranhos e perturbadores que os leitores acabam sendo influenciados por eles, experimentando pesadelos e agindo de forma violenta. O desaparecimento de Cane é um problema para a editora que pretendia fazer uma turnê com ele. Trent acredita que o sumiço do excêntrico autor não passa de um golpe de publicidade antes do lançamento de seu novo e aguardado livro.
Trent acaba descobrindo uma pista oculta nas capas dos livros de Cane que o leva a um lugar estranho, uma cidadezinha fictícia na Nova Inglaterra chamada Hobb´s End onde coincidentemente se passam várias das histórias do sujeito. Trent viaja até o lugar e lá acaba descobrindo que os contos de Cane possuem um componente ainda mais perturbador e que seu último livro pode ser o novo evangelho que abrirá o caminho para criaturas cthulhianas que anseiam cruzar a fronteira para nossa realidade.
Parece bom?
E é! À Beira da Loucura é uma baita homenagem ao Horror Cósmico de H.P. Lovecraft, e por tabela ao autor. Muita gente vê em Cane a figura de Stephen King, mas ele é na verdade totalmente inspirado em Lovecraft. Os horrores dimensionais, a cidade assombrada, os personagens misteriosos e o clima de insanidade! Tudo cheira a Lovecraft.
Não é pra menos que o filme foi dirigido e escrito por John Carpenter (O Enigma de Outro Mundo, Fuga de Nova York, Halloween), um dos maiores admiradores da Literatura de Lovecraft. Carpenter sempre disse que o filme era um tributo aos escritores que ele admirava quando jovem e influenciaram a sua carreira como um dos mestres modernos do horror. Ele tentou imprimir em cada frame um pouco desse horror particular. É uma pena que durante sua longa carreira, John Carpenter jamais tenha atingido todo seu potencial e reconhecimento, fazendo com que filmes incríveis como esse, permaneçam até certo ponto, obscuros.
Se você está procurando por um filme que investe pesado na noção de que o Horror Cósmico é uma força alienígena enlouquecedora, e que mistura isso com um clima realmente sinistro, À Beira da Loucura é o seu filme. Embora tenha sido um fracasso retumbante de bilheteria e por muito tempo permanecido esquecido, ele cumpriu seu percurso até obter o status de cult movie. Hoje é adorado por muitos fãs e festejado como um dos melhores da década de 1990.
Nele encontramos doses cavalares de horror, de terror psicológico e de gore. Em alguns momentos, a própria realidade fica fora de foco e uma espécie de pesadelo começa a transbordar para o mundo real. E é nisso que repousa a força do filme.
O final é mindblowing e arranca um sorriso conivente nos lábios de qualquer verdadeiro fã de horror, ao não oferecer uma conclusão simples ou otimista. É algo raro ter um fim assim, no qual percebemos não apenas que o mal ainda existe, mas que os heróis perderam e agora irão pagar pela sua derrota. E mesmo os protagonistas não parecem heróicos, já que lá pela metade do filme, a sanidade deles parece já ter desmoronado.
Com um elenco de primeira, tendo Sam Neill em estado de graça como um sujeito cético que aos poucos vai se entregando à insanidade, À Beira da Loucura se vale ainda de uma série de coadjuvantes de luxo. Além de Jurgen Prochnow, que entrega uma atuação aterrorizante e perturbadora, temos os veteranos Charlton Heston e David Warner. Completando a produção, efeitos visuais, maquiagem e trilha sonora caprichadas que credenciam esse como um dos melhores filmes inspirados pela obra do distinto Cavalheiro de Providence.
Tudo isso para dizer que "À Beira da Loucura" acaba de entrar na grade do Netflix. Quem nunca assistiu, essa é a sua chance de ver, para quem já viu, nem preciso dizer que vale a pena ver de novo.
Assisti a esse filme à época em que havia um monte de coisa de horror nas locadoras de VHS e tevê: reanimator e continuações, hellraiser e continuações, lobisomen americano em londres, evil dead, aliens e continuações, lua cheia (série que passava 00:00 nas sextas-feiras na Globo), Necronomicon e muitas outras coisas... P.s. Crepy Show (contos da cripta), Além da Imaginação, Contos de terror, anos 80 e 90 era gore, kkk. Elogios inefáveis à matéria!!!
ResponderExcluirEsse filme é fantastico!
ResponderExcluirTotalmente lovecraftiano, muito bom mesmo!
Um filme com nosso Querido presidente Bolsonaro... Brinks (sério parece sósia kkkk), filmaço lovecrafteano até não dar mais, boa narrativa, e o melhor, se você tiver acesso ao NETFLIX ele ainda está disponível (nessa data que estou falando) Bela, review, melhor site sobre Lovecraft. EU CTHULHU VOCÊS :3~
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