Você já parou para pensar na quantidade de objetos, mercadorias e encomendas que são enviadas diariamente ao redor do mundo?
Num planeta cada vez menor, com fronteiras cada vez menos definidas, os serviços de transporte de bens tem se tornado cada dia mais importantes. Eles são responsáveis por levar de um canto para outro itens necessários e comodidades essenciais - desde remédios e comida, a coisas mais corriqueiras como livros, móveis e eletrodomésticos. Seja lá o que você precise despachar para outra pessoa, existe algum serviço que será capaz de fazê-lo.
Agora imagine que você é um indivíduo tradicional, alguém cujo ramo de atividades envolve operar pequenos milagres. Em um mundo tão material, você é alguém que trabalha com o espiritual. Recorrendo a espíritos, entidades e forças sobrenaturais, você é capaz de canalizar energias, seja para curar ou provocar a morte, para aliviar doenças ou provocá-las, para contatar o outro lado ou fechar os canais de comunicação de uma vez por todas. Você é uma espécie de agente entre o físico e o imaterial. Digamos, portanto, que por falta de melhor definição, você seja um feiticeiro.
Suponhamos agora que em uma bela noite de lua cheia, justo quando você havia planejado traçar um pentagrama, queimar alguns incensos e invocar uma entidade das profundezas para um servicinho, se deu conta de que falta alguma coisa em seu baú de ingredientes místicos. Digamos que você não lembrou que havia usado um crânio humano mês passado e que ele foi consumido durante o ritual. A menos que seu suprimento necromântico ainda disponha de uma peça de reposição, será difícil pedir por esse tipo de coisa no vizinho. Nesse caso, seria melhor poder pedir que alguém entregasse o material necessário, na comodidade de sua casa, apenas fazendo o pedido para indivíduos dispostos a cumprir a sua parte por uma pequena comissão. Isso tudo, a menos que seu entregador seja capturado pela polícia e acusado de tentar contrabandear ossadas humanas através de fronteiras internacionais.
De acordo com o jornal India Times, a Polícia Ferroviária da cidade de Bihar, estava realizando uma inspeção rotineira em busca de drogas e bebidas quando resolveram abrir as malas de um tal Sanjay Prassad, que se identificava como courier. Os policiais desconfiaram de Sanjay, pois ele pegava aquele mesmo trem duas, às vezes três vezes por semana. Ele também sempre levava três grandes e pesados caixotes de metal que eram despachados no compartimento de carga do Expresso entre Balia, na India e Sealdah, no Butão.
A polícia não encontrou bebidas ou drogas ao abrir os compartimentos, mas ossos humanos. Segunda as autoridades um total de 16 crânios humanos e 34 femurs foram achados nas caixas de metal trancadas com cadeado. Uma das caixas continha um outro item bizarro, um coração humano mumificado, guardado em uma caixa com palha seca. O material foi todo apreendido pelos confusos guardas de fronteira que detiveram o "courier" para questionamentos.
Prasad admitiu durante o interrogatório que os ossos haviam sido encomendados por feiticeiros interessados em utilizá-los em rituais de magia negra e práticas de ocultismo. Eles haviam sido desenterrados numa região na fronteira da India com o Nepal, e estavam seguindo para a nação do Butão, onde o interesse por esse tipo de mercadoria parece ter se tornado corriqueiro nos últimos anos.
O courier explicou que realiza esse tipo de serviço há pelo menos sete anos e que já havia transportado centenas, talvez até milhares de ossadas de um canto para o outro. Necromantes aparentemente não escavam mais a terra de cemitérios em busca de ossos para seus experimentos, não quando existem pessoas dispostas a entregar a matéria prima na porta de sua casa. Sanjay contou que por uma questão de segurança, não tinha contato com as pessoas que suprem o material, ele é apenas um intermediário responsável por fazer as encomendas saírem do ponto A e chegar no ponto B. Apesar de seu inegável sendo de profissionalismo, as autoridades não ficaram satisfeitas com as respostas de Sanjay.
De fato, o indiciaram por tráfico internacional de restos humanos.
Existem lugares no mundo em que rituais ocultos e de magia negra estão tão entranhados na cultura e costumes que parece impossível para nós ocidentais compreender sua extensão. O Butão, esse pequeno país na fronteira da India, certamente é um destes lugares. Uma procura no Google por "Magia Negra no Butão" irá resultar em centenas de curandeiros, místicos e necromantes oferecendo seus serviços. Todas essas pessoas precisam de "matéria prima" para suprir a demanda de trabalhos e encomendas. Ossos são necessários para a maioria dos rituais de magia negra, e estes, são em geral incinerados para produzir poeiras, unguentos, beberagens e outras fórmulas mágicas prescritas.
Segundo a polícia indiana o Butão se tornou o centro de um círculo internacional de contrabandistas de restos humanos, responsável por negociar cadáveres - inteiros ou em partes, para uso em cerimônias e rituais. A demanda, cada dia maior apenas atesta que os negócios vão de vento em popa.
Essa não foi a primeira apreensão de restos humanos no norte da India. A região é alimentada por uma enorme malha ferroviária responsável por abastecer os mercados que demandam tal material. Em outubro de 2018, a polícia indiana descobriu duas dúzias de caixotes de madeira contendo ossos e restos humanos despachados para o Butão. Até mesmo inocentes bolsas e maletas de mão foram investigadas e no interior delas, agentes alfandegários encontraram ossadas, crânios, pele, unhas, dentes e todo tipo de ingrediente para ser usado em rituais necromânticos.
Especialistas acreditam que esse tipo de contrabando tem movimentado cifras consideráveis, despontando como uma atividade extremamente lucrativa para os envolvidos. Sanjay explicou que as ossadas seriam entregues a compradores que desembolsavam entre 30 e 50 dólares por um fêmur e até 400 por um crânio. Tudo pago através de cartões de crédito internacionais em sites específicos que garantiam a idoneidade das transações. O coração mumificado, um item especial, havia sido comprado por um feiticeiro e havia custado 800 dólares.
Curiosamente, quanto mais antigos os ossos, mais valiosos. Ossadas com meio século são desejáveis para um feiticeiro que se preze, mas ossos enterrados há pelo menos um século podem atingir um preço astronômico. Segundo a crença dos feiticeiros do Butão, a terra infunde nos ossos energias que são absorvidas. É essa energia que será usada para alimentar os rituais, portanto, quanto mais tempo na terra, maiores as forças reunidas.
Para muitos de nós a noção de restos humanos seguindo de um lado para o outro e sendo usados em rituais pode parecer uma abominação. E talvez, de fato o seja! Violação de cadáveres é um tabu na maioria das culturas, contudo, em certos lugares do mundo, tal coisa parece comum. Aquilo que nós chamaríamos de absurdo, para alguns como Sanjay Prasad, não passa de um trabalho.
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