Essencialmente, Masks of Nyarlathotep é uma
enorme aventura Sandbox que composta por diversas outras aventuras menores que também
são sandboxes. Nesses capítulos, cada qual se passando em uma localidade -
America, Inglaterra, Egito, Quênia, Australia, e China, os investigadores são
livres para seguir as pistas e linhas de investigação da maneira que quiserem,
embora é claro, algumas pistas se mostrarão essenciais para resolver aquela
porção do mistério. Isso permite que os jogadores sigam para onde bem
entenderem e façam o que acharem importante. O ponto de partida, é sempre Nova
York, mas as pistas coletadas nesse primeiro episódio permitem que os
investigadores sigam para onde acharem mais conveniente e cubram as diferentes
localidades na ordem que bem entenderem.
Nas edições anteriores da
campanha, os eventos começavam sempre com os investigadores chegando ao local
do encontro com Jackson Elias. Isso ainda acontece na campanha, entretanto, a nova
edição introduz um prólogo no qual os investigadores podem conhecer uns aos
outros e criar um vínculo entre si e com o próprio Jackson Elias antes dele
envolvê-los com a Expedição Carlyle. A aventura que serve como introdução se
passa no Peru em 1921. Nela, cada investigador, aceita trabalhar para um
arqueólogo chamado Augustus Larkin que está em busca de uma pirâmide inca.
Larkin é um sujeito estranho, cheio de entusiasmo, enquanto seu assistente Luis
Mendoza, é taciturno. O terceiro membro dessa expedição é ninguém menos do que
Jackson Elias, um sujeito amigável e curioso. Cabe a Elias apontar uma série de
estranhezas na expedição e o fato de que alguém parece sabotar os esforços dos
arqueólogos. Lendas locais e superstições vão sendo reveladas, a medida que
perigos se colocam diante do grupo.
O capítulo do Peru é um tipo
de ensaio para o que está por vir nos sete capítulos seguintes que integram a
campanha principal. Ele também envolve uma "máscara" de Nyarlathotep,
mas uma comparativamente menos conhecida e menos importante quando comparada ao Língua Sangrenta (Bloody Tongue), o Faraó Negro (Black Pharaoh), o Morcego Chifrudo (Horned Bat) e a Mulher Inchada (Bloated Woman). A trama é menos
impactante que as demais da campanha, tratando-se de um caso regional. Ainda
assim ela é um adendo muitíssimo bem vindo para forjar uma amizade e
cumplicidade entre Jackson Elias e os investigadores. O cenário em si é uma
bela introdução com o tradicional monstro dos Mythos e possui excelentes
ilustrações. Ele também oferece um background para Elias e se esforça em
torná-lo acessível para os demais investigadores.
Pela primeira vez, sabemos
mais a respeito de Jackson Elias e sua vida. A alteração mais notáel a respeito
do personagem é a opção de torná-lo negro nessa edição. Nas edições anteriores,
Elias era tratado como um homem branco caucasiano, uma espécie de Percy
Fawcett, que se dedicava a explorar os últimos lugares inóspitos do globo. A
ideia é interessante e explica como Jackson Elias é capaz de se misturar às
populações coloniais e ganhar a confiança dessas pessoas para depois escrever a
respeito delas. Com a aventura nas selvas peruanas ajudando a forjar as bases
de amizade e confiança entre Elias e os investigadores, tudo se encaixa de uma
maneira mais conveniente e orgânica. Além disso, a descoberta de um
considerável tesouro nessa primeira história também permitirá que os
investigadores patrocinem suas aventuras ao redor do globo. Esse é apenas o
primeiro cenário da campanha e seu início é nada menos do que promissor.
Há um esforço bastante grande
dos autores em remodelar os cultos e fazer com que eles sejam mais do que
grupos estereotipados de "selvagens perigosos". Também são feitas
mudanças em pelo menos dois NPCs importantes. No Capítulo da Inglaterra Tewfik
al-Sayed, o proprietário de uma Casa de Temperos no Soho, passa a ser uma
perigosa mulher chamada Zahra Shafik, dona de uma companhia importadora. No
capítulo do Quênia, Tandoor Singh, o dono de um empório de chá, passa a ser
Taan Kaur, novamente, uma mulher a serviço de poderosos inimigos dos
investigadores. Essas mudanças, mais do que afastar os estereótipos permitem
reexaminar as motivações dos NPCs e torná-los mais interessantes para a trama
central.
Para ajudar o Guardião a narrar Masks of Nyarlathotep, conselhos e dicas são fornecidas ao longo das páginas. Essas dicas começam com a preparação e cobre temas como letalidade, como lidar com a história e ambientação, como criar e substituir investigadores, etc. Dentro de cada capítulo são estabelecidas conexões com a Campanha central, diagramas das pistas coletadas em cada localidade, as pistas que são essenciais e assim por diante. Tudo isso auxilia o Guardião a manter a campanha rolando mais tranquilamente. Similarmente, todos os NPC's que aparecem em cada capitulo são listados no início deles acompanhados de estatísticas, informações e uma imagem com uma moldura que o identifica como aliado, inimigo ou neutro. Quatro apêndices cobrem as informações pertinentes a respeito de viagem no período, artefatos que são encontrados, magias e tomos. Não resta dúvida de que o Guardião precisa gerenciar muitos elementos para conduzir a campanha, mas o esforço em relacionar todas essas informações de uma forma intuitiva é louvável. Masks continua sendo uma campanha desafiadora para o Guardião, mas essa edição torna a tarefa consideravelmente mais tranquila. Uma outra informação útil é que no início de cada capítulo o livro fornece dicas de livros, séries de televisão e filmes que servem de inspiração para a aventura.
Outro aspecto muito importante para a campanha é discutir o estilo do jogo a ser adotado - Pulp ou convencional? Até esta edição, adotar um estilo para os cenários da campanha poderia ser complicado, mas com a publicação do muito aguardado Pulp Cthulhu (que nós já resenhamos aqui no Mundo Tentacular - LINK AQUI) esta questão pode ser respondida com maior facilidade. Existem várias sugestões para narrar o jogo usando as regras opcionais do suplemento pulp, que se encaixam muito bem no clima da campanha. Há dicas valiosas de como adaptar os personagens e antecipar os desafios impostos, criando um clima permanente de aventura e excitação.
A Campanha em si se encerra com o capítulo "Grand Conclusion" (A Grande Conclusão), uma análise dos acontecimentos e do climax de Masks of Nyarlathotep. Ele também fornece "The Ultimate Outcome" (O Resultado Final), uma forma de acompanhar o progresso dos investigadores e como as suas ações influem no resultado final. Essa é uma ferramenta para medir como as ações do grupo resultam na conclusão da campanha.
Apesar de todas as dicas que auxiliam o narrador, Masks of Nyarlathhotep continua sendo uma campanha de proporções épicas.
Dito tudo isso, o que podemos dizer a respeito das mudanças realizadas das prévias edições para a atual? Obviamente, o novo cenário detalhando o primeiro encontro dos personagens com Jackson Elias no Peru é a maior novidade, mas também há interessantes adições em cada um dos cenários clássicos. As aventuras ainda são as mesmas, mas com detalhes muito bem vindos que ajudam na sua compreensão e clarificação. Além disso, há excelentes apêndices com informações adicionais: sobre magias (9 páginas), tomos (10 páginas), artefatos (6 páginas) e um índice bastante completo (9 páginas). Ao longo do livro temos ainda impressionantes 45 páginas de recursos, 38 páginas de mapas, 13 páginas de retratos de personagens e 85 páginas de NPC. Com esses números é possível ter uma ideia do tamanho da Campanha.
No que diz respeito a Valores de Produção, Masks of Nyarlathotep: Dark Schemes
Herald the End of the World nunca pareceu tão bonito. Como em todos os novos títulos da Chaosium, o cuidado com o visual é enorme. O livro é colorido, as páginas brilham com novas e empolgantes ilustrações, fotografias de época e mapas. Tudo é muito bem feito e com um capricho notável. A cartografia em geral é muito boa, os mapas são bonitos e detalhados, especialmente aqueles dedicados aos países e regiões exploradas pelos jogadores. De fato, alguns mapas são tão bacanas que penso já em fazer uma ampliação colorida de alguns e mandar enquadrar. O mapa mundi com os detalhes e trajeto da Expedição Carlyle é o que mais chama a atenção no pacote, mas há vários outros igualmente bonitos.
A edição especial dentro de um Slip Case conta com um pacote especial, o Kit do Guardião no qual TODOS os Handouts são reproduzidos em papel especial colorido para serem cortados e usados diretamente na mesa de jogo. Material de primeira, tudo pronto e muito bem feito. O kit trás ainda fichas de personagens prontos, um Escudo do Mestre exclusivo da campanha e outros detalhes importantes para a trama.
Essa edição de Masks of Nyarlathotep opera as maiores mudanças na campanha nos últimos 20 anos, após a adição do cenário "City
Beneath The Sands" que foi pinçada do suplemento Terror Australis e incluído nas duas edições anteriores. De um modo geral, a campanha foi muito bem trabalhada para as regras da sétima edição e o acréscimo de detalhes concede um nível extra de profundidade.
No coração de todas essas mudanças, a campanha continua sendo o que sempre foi: Monumental, colossal e intrincada. Muitos a tratam como "A" GRANDE CAMPANHA de Call of Cthulhu, e estes não estão errados em colocá-la no topo, ou ao menos entre as três mais populares campanhas de todos os tempos. As mudanças e novidades realizadas em Masks
of Nyarlathotep: Dark Schemes Herald the End of the World, não apenas confirmam seu status e longevidade, mas a tornam mais acessível e fácil de narrar.
Glorioso!
ResponderExcluirExiste alguma versão digital dela, mesmo que edições anteriores? Quero transformar ela em uma Campanha épica pra D&D 3.5 (já tive sucesso com Devils Rift, pra Old Dragon)
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