sábado, 11 de maio de 2019

A Verdadeira Baba Yaga - Os crimes da assassina idosa Tamara Sansonova


No dia 26 de julho de 2015, cães sentiram um cheiro estranho nos arredores de um subúrbio de São Peterburgo. Os animais agiam estranhamente quando passavam perto de um terreno-baldio em uma tranquila vizinhança. Eventualmente, bombeiros foram chamados, pois acreditava-se que algum animal havia morrido no lugar.

Os bombeiros encontraram sete grandes sacos de lixo preto espalhados ali. O cheiro era forte e quando um dos homens abriu a sacola recuou nauseado: eram restos humanos!

A horrenda descoberta atraiu policiais e curiosos de todo canto. O conteúdo macabro dos sacos de lixo indicavam que a vítima era uma mulher idosa, cujo cadáver fora decapitado e esquartejado. Os policiais descobriram que uma loja na esquina do terreno, havia instalado recentemente uma câmera de vigilância. Com sorte ela poderia ter filmado o assassino se livrando das provas. Ao assistir o vídeo, perceberam uma mulher também de idade, carregando os sacos e despejando-os no local, um de cada vez. Sete viagens completas. Uma segunda câmera indicou a direção que a mulher seguia. Os policiais encontraram um rastro de sangue - aparentemente uma das sacolas pingava e este os levou até um modesto prédio de apartamentos. Lá perguntaram a respeito de moradores de terceira idade e descobriram que haviam duas: Valentina Ulanova de 79 anos e Tamara Samsonova de 68, que era sua acompanhante.

A polícia tocou a campainha e Samsonova abriu a porta. Antes dos policiais fazerem qualquer pergunta ela acenou com a cabeça e disse: "Fui eu!".


Os policiais ficaram confusos. A assassina confessa não parecia ser alguém capaz de tamanha atrocidade. Ela os convidou para entrar e então os chocou com outra revelação bombástica: "Esse não é o meu primeiro assassinato, já matei outras pessoas."

A mulher foi levada a uma delegacia próxima e naquela mesma noite, uma história medonha de loucura e perversidade começou a vir à tona. À medida que policiais vasculhavam a residência das idosas, desencavavam de seu interior relíquias macabras, coletadas por uma mente doentia.

O banheiro do pequeno apartamento estava coberto de sangue, com sinais inequívocos de que ali havia ocorrido o esquartejamento do cadáver. Serras e facas de cozinha ensanguentadas ainda estavam dentro da banheira, com uma crosta avermelhada na borda. Alguns pedaços do cadáver foram envolvidos com papel laminado e guardados na geladeira. E pior de tudo, na cozinha, sobre o fogão, a cabeça de Valentina fora colocada em uma panela de pressão e encolhida para que pudesse ser disposta mais facilmente. O lugar parecia um medonho açougue, rescendendo com um cheiro ocre de putrefação.  

Detetives da Polícia Investigativa, o equivalente russo ao FBI, foram chamados para avaliar a situação e verificar se Samsonova era lúcida e se a sua história tinha algum fundo de verdade. Um interrogatório preliminar foi feito e os detetives ficaram chocados com o que ela começou a contar. 


Aquela senhora articulada e aparentemente inofensiva se dizia fascinada por Andrei Chikatilo, um dos mais terríveis e prolíficos assassinos em série da antiga União Soviética. Um monstro que entre 1979 e 1989 fez mais de 50 vítimas - embora alguns acreditem que estas podem ter chegado a mais de uma centena. Samsonova sabia detalhes a respeito do caso de Chikatilo, que agia em Rostov on Dom, e colecionava recortes e material sobre ele. "Algo nele me atrai, em sua história e nas coisas que ele fez", contou a mulher.

Tamara nasceu em Krasnoyarski, em 1947, em uma família com conexões no governo comunista e que dispunha de um padrão de vida confortável. Ela teve uma infância e adolescência normal, graduou-se em Moscou em Letras e estudou idiomas, dominando o alemão e inglês. Casou em 1971 e se mudou com o marido Alexei para uma vizinhança de São Petersburgo. Samsonova trabalhou em agências de viagem conhecidas, desempenhando a função de intérprete. Em 2000, seu marido desapareceu, supostamente a abandonou e a vida começou a ficar mais difícil. Nos últimos anos, ela vinha trabalhando (e morando) na casa de Valentina Ulanova, fazendo o serviço de cuidadora da idosa. 

Ela confessou ter matado a patroa depois de uma discussão em que Ulanova disse estar cansada dela. Samsonova temia ser mandada embora e entrou em pânico. Ela usou uma dose cavalar de Phenazepam, um poderoso tranquilizante, para dopar Ulanova e depois a sufocou com um saco plástico. A ideia de esquartejar o cadáver veio mais tarde, quando este começou a entrar em decomposição. Antes de decidir se livrar do corpo, a mulher confessou aos atônitos detetives que tentou diminuir a quantidade de restos, cozinhando e comendo sua vítima. Ela teria se livrado de pelo meio quilo dessa maneira.  

Quando a  história parecia não poder ficar pior, os detetives questionaram a respeito de sua confissão a respeito de ter matado outras pessoas e ela acenou com a cabeça. "Faça um bule de café, essa história é longa", teria dito a mulher.


A imprensa do lado de fora já apelidava Samsonova de "Granny Ripper" (Vovó Estripadora) e de Baba Yaga, a mítica bruxa velha do folclore russo, conhecida por matar e cozinhar as suas vítimas. Mal podiam imaginar o que estava por vir.

A idosa à princípio confessou ter matado mais uma pessoa, um inquilino que ocupava um quarto que ela alugava antes de ir morar com Ulanova. Ela disse que havia se livrado do cadáver esquartejando-o, comendo algumas partes e deixando outras em diferentes pontos da cidade. "Eu matei meu inquilino, um sujeito chamado Volodya. Cortei seu corpo em pedaços no banheiro usando uma faca de cozinha, coloquei em sacos plásticos e atirei em bueiros no distrito de Frunzensky.” Ao ser perguntada quando isso aconteceu ela respondeu que achava ter sido em 2006.

Samsonova contou que, uma vez que esse plano havia funcionado anteriormente, pretendia repeti-lo. Mas dessa vez foi muito difícil carregar os sacos e por isso ela decidiu atirá-los no terreno baldio.

Os policiais questionaram também a respeito de seu marido, Andrei Samsonov que estava desaparecido há 15 anos e de quem não se tinha notícias. Ela demorou a confessar, tentou desconversar, mas eventualmente reconheceu que também o havia matado e se livrado do cadáver da mesma maneira.


A essa altura, os policiais que vasculhavam o apartamento, encontraram no quarto usado por Samsonova uma série de objetos estranhos que chamaram a atenção imediatamente. Uma quantidade enorme de livros sobre o caso Chikatilo e outros versando sobre feitiçaria, satanismo e ocultismo. Contudo, a grande descoberta foi uma coleção de diários escritos ao longo de mais de uma década e meia, nos quais estavam descritos não apenas um ou dois assassinatos, mas uma dezena deles.

Os diários, escritos em russo, alemão e inglês continham descrições detalhadas das vítimas e as circunstancias de cada crime. Mencionavam como Samsonova havia procedido para descartar os cadáveres, usando frequentemente a estratégia de esquartejar e comer os corpos. Em um parágrafo, escrito em 2002, ela afirma "estou enjoada de comer esse cadáver" e "não aguento mais nem um pedaço, vou me livrar dos restos de uma vez por todas".

Uma força tarefa de policiais se revezou por dias para ler todas as anotações feitas pela idosa nos diários que eram mantidos em uma prateleira em seu quarto. Os trechos em alemão e inglês em geral se referiam aos crimes cometidos, possivelmente escritos em outro idioma para despistar alguém que tivesse acesso ao material. A polícia apurou que haviam 11 descrições de assassinatos cometidos ao longo de 15 anos. As vítimas incluíam vizinhos, inquilinos, o marido e sua sogra. Nenhum cadáver foi encontrado e acredita-se que agora seria impossível recuperá-los. 

Confrontada com a descoberta dos diários, a idosa não esboçou qualquer reação. Ao invés de contestar a veracidade das páginas e páginas cobertas de rabiscos, ela afirmou que preferia não falar mais nada, já que nos diários os investigadores poderiam ler toda a história.


Apresentada diante de uma Corte de Justiça alguns dias depois de sua prisão, a Baba Yaga, sorriu e lançou beijos para os jornalistas que se acotovelavam para registrar a cena em fotografias. Quando o juiz decidiu mantê-la sob custódia ela agradeceu, dizendo que estava feliz de ter um lugar onde pudesse dormir, pois temia que seria obrigada a viver nas ruas. Os promotores responsáveis pelo caso alegaram que a idosa constituía um perigo para a sociedade e um psiquiatra atestou que havia o risco dela voltar a cometer crimes, já que não demonstrava arrependimento ou compreensão da gravidade de seus atos. 

Após julgamento, Sansonova foi mandada para um manicômio judiciário na cidade de Kazan, especializado na custódia de criminosos insanos. Ela continua sob os cuidados dessa instituição e não tem nenhuma previsão de ser liberada. 

A polícia investiga o possível envolvimento dela em pelo menos 14 casos, mas há suspeitas de que ela possa ter matado pelo menos 21 pessoas. Ninguém jamais suspeitou da velhinha de sorriso fácil e apetites vorazes...

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