terça-feira, 27 de agosto de 2019

Erguendo o Véu - Filmes para inspirar cenários de KULT - Divinity Lost (Parte 1)


KULT é um RPG complicado.

Para quem leu a resenha em duas partes respeito dele, publicada recentemente aqui no Blog, percebeu que se trata de um RPG incomum e que escapa do convencional.

Eu sempre achei que uma das melhores maneiras de entender a proposta de uma ambientação é comparando ela com filmes que tem uma premissa semelhante. Por isso, preparei uma seleção de dez filmes que podem ser assistidos como referência a KULT. São filmes de horror, alguns recentes, outros mais antigos. 

Em comum, o fato de todos serem viscerais, perturbadores e estranhos. Alguns destes são fáceis de serem encontrados em Netflix e outras plataformas de stream, outros já passaram na televisão ou são velhos conhecidos dos fãs do horror. Eles compõem um panorama bastante assustador que vai ser um prato cheio para os fãs do gênero.

Então, sem mais delongas...   

A Dark Song 
(A Dark Song/ 2016 - Irlanda/Reino Unido) 


Sinopse: 

Ainda de luto e se recusando a aceitar a morte de seu único filho, Sophia (Catherine Walker), planeja usar o sobrenatural como ferramenta de vingança. Ela aluga uma mansão isolada no interior do País de Gales e se sujeita a complexos preparativos sob a tutela de Joseph Solomon (Grant Oram) um calejado e cínico ocultista. Solomon é contratado para ensinar tudo o que ela precisa saber a respeito de um Ritual. Determinada a seguir em frente, apesar dos perigos e sacrifícios envolvidos, Sophia terá de descobrir até onde está disposta a ir para completar sua vingança.    

Comentário: 

Filmes de horror vem em várias formas. Alguns são sobre sangue e vísceras, sobre sustos e arrepios ou a respeito de monstros aterrorizantes, mas há alguns que conseguem ser simplesmente perturbadores. E esses são ótimos! Bons filmes de horror conseguem incomodar e fazer com que você pense a respeito dele horas ou mesmo dias depois de assistir. Estes geralmente te obrigam a perguntar o que você faria se estivesse na pele do protagonista. O que você faria se fosse com você? Como você reagiria? Dark Song é um filme sutil, alguns diriam até parado. Mas ele consegue ser bastante assustador em sua simplicidade diabólica. O que torna esse filme especial é a construção das cenas e a preparação para seu climax. A atmosfera vai se tornando cada vez mais claustrofóbica e sinistra, a medida que os personagens escorregam cada vez mais para o lado sombrio. E quando cruzam um determinado ponto, não tem mais volta! A Dark Song que foge de clichês e aposta em uma história muito original disposto a ser assustador sem recorrer a choque e sustos.    

Por que ele lembra KULT: 

Todo esse filme cheira a Kult. Nele a gente percebe o quão perigoso pode ser se meter com forças sobrenaturais e como isso pode demandar sacrifício das pessoas. Boa parte do filme é a respeito dos preparativos para um ritual, o restante é como lidar com  as suas consequências. Em KULT magia não é apenas formular meia dúzia de palavras, passes e misturar ingredientes. A coisa é bem mais complexa e Dark Song exemplifica perfeitamente como funciona essa dinâmica.

Além disso, Dark Song é bizarro! A atmosfera rescende a KULT e a gente percebe desde o início que, seja lá o que vai acontecer, será ruim para os personagens e trará repercussões.  


Mártires 
(Martyrs/2008 - França)


Sinopse: 

Brutalmente abusada, aprisionada e torturada desde a infância, a jovem Lucie escapa de seus captores e faz amizade com Anna, outra alma amargurada que vive num orfanato. Quinze anos mais tarde, Lucie acredita ter encontrado aqueles que a atormentaram e massacra uma família inteira enquanto experimenta alucinações. Qual o significado dessas visões grotescas e qual o segredo por trás de seu sofrimento? Em meio a revelações, Anna descobrirá que é preciso encarar horrores antes de atingir a salvação.


Comentário:

Mártires é um dos filmes mais sinistros, violentos, e perturbadores que eu já assisti. Quando me indicaram ele pensei que fosse exagero de gente querendo promover. Não é! O filme era tudo o que diziam e ainda mais... esse aqui me deixou realmente incomodado. Pra começar o tema central é indigesto e dependendo da atenção que você dispensa a ele, pode ter certeza, ele vai ficar "sob a sua pele" por um bom tempo.

Para quem fica perturbado com violência e gore, melhor passar longe. Obviamente esses não são os únicos fatores que tornam esse filme aterrorizante, mas assistir impassível cenas de cortes, surras e mutilação com efeitos muitíssimo realistas é duro. É o roteiro convincente e bem amarrado que te obrigam a suportar tudo isso e ir até o fim, apesar de seu melhor julgamento. Eu assisti uma única vez e foi mais do que o suficiente. Não sei se teria ânimo para ver de novo, mas é um baita filme de horror.    

Por que ele lembra KULT: 

Um dos temas recorrentes de KULT é violência e a busca por cruzar os limites. Em Mártires a violência e o sofrimento é usado como ferramenta para transcender todos os limites impostos pela nossa existência. Só isso já torna esse filme uma perfeita metáfora para o Além do Véu.

Se isso não fosse o bastante para colocar esse filme na lista obrigatória de quem quer ter um lampejo da ambientação, basta dizer que ele é perverso. Tem coisas ali que vão fazer você virar a cara em desgosto, se sentir enojado e te fazer tentar esquecer. Mas vai ser tarde demais... vai por mim, esse aqui é brabo!



Pi
(Pi/ 1998 - EUA)


Sinopse: 

Em Manhattan, protegido por seis fechaduras e trancas vive Max Cohen, um matemático e mestre em computadores. Desde a infância ele tem dores de cabeça terríveis e ele tenta se manter longe de outras pessoas com exceção de um velho professor. Ele é obcecado por padrões matemáticos. Suas teorias a respeito de padrões abrem as portas para Wall Street, mas ele se interessa mesmo é pelos mistérios ocultos na Torah. Examinando os textos sagrados ele começa a ter lampejos do que está oculto e isso leva a alucinações e as dores de cabeça ainda mais fortes. Quais segredos ele poderá descobrir mergulhando de cabeça nos textos cabalísticos?    

Comentário:

O que mais impressiona nesse filme independente é o quanto ele é diferente. Eu não consigo comparar Pi com nenhum outro filme que eu tenha assistido em termos de roteiro e estilo. Ainda que seja um filme claramente produzido com orçamento apertado ele consegue ser visualmente impressionante e deixar sua marca. Preto e branco e confuso, Pi demora a engrenar e você fica sem entender muito no início, até que começa a compreender as implicações por traz da mente do protagonista. O visual atordoante traduz a mente alucinada do sujeito e as milhões de conexões que ele faz ao analisar as coisas mais simples até as mais complexas em busca de padrões.

E tem a paranoia! A medida que Max vai descobrindo as conexões ele vai ficando cada vez mais convencido de que tudo no mundo está encadeado. Seguem-se alucinações, loucura, devaneios e visões pra lá de estranhas.  

Por que ele lembra KULT:

O tema de um mundo secreto que pode ser acessado se você souber exatamente onde procurar e analisar é puro KULT. Em Pi a mente analítica do matemático permite que ele correlacione todos os elementos da realidade e passe a compreender os mistérios existentes. E essa compreensão ao mesmo tempo que destrava as portas para grandes mistérios, lentamente o faz escorregar para a insanidade. Conhecimento e perigo estão intimamente ligados, no filme e no RPG que explora esses mesmos conceitos.

A paranoia de Max que se vê cada vez mais confuso e se sente perseguido por grupos dispostos a fazer de tudo para evitar que ele descubra a verdade também é perfeito. Basta substituir os operadores da Bolsa querendo lucrar por feiticeiros e outras pessoas interessadas em romper o véu em benefício próprio e os religiosos ortodoxos por carcereiros interessados em impedir seu despertar. Pronto! É perfeito para entender KULT. 


Alucinações do Passado
(Jacobs Ladder/ 1990 - EUA)



Sinopse: 

Em 6 de outubro de 1971, no Vietnã, o soldado americano Jacob Singer é ferido por uma baioneta durante um ataque de seu pelotão. Ele então acorda no metrô de Nova York, voltando para casa depois de um dia exaustivo de trabalho no correio. Jacob é divorciado, vive com uma colega em um pequeno apartamento e sente falta de seu filho, que morreu em um trágico acidente. Ele passa a ser assombrado por pesadelos nos quais se vê atormentando por criaturas aterrorizantes em diferentes momentos de sua vida.   

Comentários

Esse filme! Ah, esse filme me deixou apavorado quando eu era criança. Alucinações do Passado (ou Jacobs Ladder - a Escada de Jacob) é um filme complicado ao ponto de muita gente simplesmente desistir dele por não entender. Eu mesmo tive de assistir algumas vezes até entender e mesmo assim, sempre que assisto encontro algo diferente ou que não havia percebido.

O mistério central na trama, o que está acontecendo com Jacob e por que está acontecendo com ele é ambíguo e difícil de explicar. Não é um filme em que as peças do quebra-cabeça se encaixam de repente e você consegue entender. Ele demanda um certo grau de reflexão e imaginação de quem estiver assistindo para tirar suas próprias conclusões.

E isso sem mencionar o choque que ele causa. As imagens das alucinações são apavorantes e você realmente se sente mal pelo sujeito que está passando por essa situação. É como mergulhar no pesadelo de outra pessoa e testemunhar seus maiores medos.

A atmosfera do filme é perfeita. Os atores ótimos e os diálogos muito bem escritos. A explicação de um dos personagens a respeito do papel de anjos e demônios ainda é de arrepiar e as cenas dentro do manicômio mantém o impacto original. Sei que fizeram um remake dele recentemente, mas estou com receio de assistir. Certos filmes são perfeitos da maneira em que foram concebidos e mexer neles parece simplesmente errado ou incrivelmente desnecessário. 

Por que ele lembra KULT:

Quanto menos se falar a respeito desse filme melhor. As surpresas dele e os elementos ocultos são melhor apreciados se pegarem o espectador sem saber nada.

O que posso dizer, sem medo, é que ele parece um pesadelo e que a medida que Jacob vai afundando nele, as coisas ficam cada vez mais surreais e bizarras. Como em um cenário de KULT, o herói sofre pra caramba e demora a compreender seu papel na trama. E quando se vê totalmente envolvido por essas revelações, descobre que há muitas outras e que até o momento viu apenas a ponta do iceberg.

Se você pretende narrar KULT e quer entender como se dá a deterioração mental dos personagens, então assista esse filme. Não vai se arrepender.


O Último Trem
(The Midnight Meat Train/ 2008 - EUA)


Sinopse: 

Um fotógrafo free-lancer vaga pelas ruas de Nova York em busca de imagens que mostrem a verdade sobre a metrópole. Ele acaba ouvindo rumores a respeito de um assassino em série responsável pelo desaparecimento de várias pessoas e que comete seus crimes por razões desconhecidas. Sua investigação acaba levando-o até o gigantesco sistema de metrô da cidade, o reduto do matador que esconde uma motivação especial para seus crimes.   


Comentários:

Baseado no conto de Clive Barker, o filme envolve uma investigação no lado obscuro de uma cidade grande. Quais os segredos que se escondem nas entranhas de uma metrópole? O que acontece na escuridão onde ninguém vai? Qual o preço para manter as coisas como estão?

O roteiro escapa um bocado da história original de Barker, que foi publicada como um dos episódios de Livros de Sangue, antologia de contos curtos de horror moderno. Essa história por sinal foi meu primeiro contato com Barker e onde eu me tornei fã. Confesso que eu esperava um pouco mais, mas esse filme dificilmente é ruim. Há muitos méritos na forma como o diretor escolheu filmá-lo, como se fosse uma viagem de trem ao coração do horror mais aterrorizante.

Sangue, gore, vísceras e medo. O Último Trem (que poderia ter mantido o título ao pé da letra "Trem da Carne da Meia-Noite") tem um pouco de tudo. Talvez a trama pudesse ser um pouco mais elaborada, mas não no fim das contas não importa. Ele é uma desculpa para hora e meia de horror, choque e medo de boa qualidade.

Para uma resenha completa, vale a pena ler AQUI

Por que ele lembra KULT:

Clive Barker é um nome ligado diretamente a KULT.

Os autores do RPG sempre afirmaram que a obra de Barker, especialmente a novela The Hellbound Heart (que nós conhecemos como Hellraiser - Renascido do Inferno) serviram como base para muitas ideias contidas em KULT. Desse modo, filmes inspirados por Barker parecem perfeitos para o contexto da ambientação.

O Último Trem funciona muito bem para contextualizar um cenário de KULT. Nele, o ambiente sufocante, claustrofóbico e sujo das metrópoles é usado como pano de fundo para o horror mais profundo. Quais os segredos que se escondem da população e o que acontece sem que as pessoas saibam? Grandes centros urbanos, repletos de gente são parte importante na ambientação. As cidades de concreto e vidro são o esconderijo das maiores e mais medonhas entidades. Elas vivem em meio aos homens e mulheres, extraindo deles o terror que alimenta a ilusão. O assassino do filme e seus mestres parecem ser personagens perfeitos para uma sessão do jogo. Da mesma maneira, o fotógrafo em busca da verdade também funciona como um excelente exemplo de personagem dos jogadores.


Bom já foram cinco filmes...

Fiquem conosco para a segunda parte desse artigo, que vai completar a lista de referências cinematográficas para KULT.

4 comentários:

  1. cada vez mais inclinado a adquirir esse jogo...

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  2. Jacob´s Ladder é muito bacana, sem duvida nenhuma no final vc entende a historia ( jacob´s ladder, o titulo ja explica o filme - leiam sobre a "escada de jaco") e é impressionante como filme. Confesso que no final chorei copiosamente pelo drama do personagem, e como uma vida por se tornar impossivel de ser vivida! Sempre excelentes posts, Luciano! Grande abraço e aguardando o restante da seleção! E vou comprar Kult!

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  3. Vi o pessoal jogando no YouTube. Me amarrei!!!!

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  4. Incluiria tbm o filme Stay ((A Passagem).

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