quinta-feira, 25 de agosto de 2022

O Assassino do Terremoto: Os crimes de Herbert Mullin (parte 2)

A conclusão do artigo à respeito do Assassino do Terremoto.

O mês era Novembro de 1972 e no dia 2, um homem de aspecto estranho entrou na Igreja católica de St. Mary em Los Gatos, Califórnia. O sujeito vestia roupa preta, gorro e botas escuras. Tinha um olhar nervoso que o levava a olhar por cima do ombro, como se estivesse apreensivo com alguma coisa. Ele se aproximou da cabine do confessionário que ficava numa lateral da Igreja e sentou em uma cabine. Lá dentro, atrás da cortina estava o Padre Henry Tomei de 64 anos. Francês e ex-membro da Resistência durante a Segunda Guerra, o Padre era muito bem quisto pela comunidade local, sendo o organizador do coral local.

Quando o padre percebeu que havia alguém na cabine assumiu que se tratava de um fiel querendo se confessar. O homem não disse nada, apenas ficou respirando fundo do outro lado. Quando ele perguntou pela terceira vez se a pessoa queria se confessar, uma mão atravessou a cortina violentamente e o agarrou. O padre tentou se livrar, mas logo em seguida a mão esquerda avançou trazendo uma faca. A lâmina fez um corte no ombro e o padre tentou escapar, mas em seguida o homem de preto entrou no pequeno espaço do confessionário e o imobilizou com o joelho. O padre tentou um último movimento desesperado, mas os socos o mantiveram ali. Uma nova punhada o acertou no coração e ele deixou de lutar.

Os fiéis que estavam na igreja ouviram os gritos abafados e viram o homem de preto sair rapidamente com a cabeça baixa. Quando se aproximaram da cabine o padre ainda estava agonizando e sangue corria por baixo da cortina. Padre Tomei morreu alguns minutos antes da ambulância chegar.

Mais tarde,  Herbert Mullin, o assassino diria que enquanto o padre falava, tudo que ele ouvia, eram as vozes em sua mente garantir que o sacerdote aceitava se sacrificar em nome da missão sagrada de Mullin: Evitar novos terremotos na Califórnia. Ele estava em dúvida, conhecia o Padre de nome e o admirava, mas as vozes deviam saber o que estavam dizendo. O Padre, portanto, precisava morrer.

As testemunhas fizeram um bom trabalho ao descrever a aparência de Mullin, mas a polícia trabalhava na hipótese de que o assassino era um ladrão, já que dias antes a igreja havia sido arrombada por alguém vestido de preto. Eles assumiram que o criminoso havia voltado para se vingar.

Mullin ficou abalado depois desse crime; sentia que poderia ter ido longe demais e que as vozes poderiam ser algum tipo de confusão. Ele se escondeu por alguns dias em um motel de beira de estrada e certo dia foi até uma junta de alistamento dos Fuzileiros Navais. Ele se ofereceu para servir e queria ser voluntário para lutar no Vietnã. Sua ideia era ser mandadopara o front e lá matar o maior número possível de soldados, como um sacrifício para salvar o Sul da Califórnia. O Vietnã, na mente de Mullin iria causar uma grande tragédia que estava cada vez mais próxima. Embora tenha passado nos testes físicos, os testes psiquiátricos demonstraram que Mullin era incapaz de servir. Além disso, ele havia tido uma série de infrações menores e sua folha era marcada por incidentes que o desqualificavam. A rejeição fez com que Herbert ficasse ainda mais abalado. Suas alucinações retornaram com força depois de uma notada em que ele bebeu até o estupor.

Em janeiro de 1973, ele decidiu que pararia de usar drogas e que elas eram as causas de seus problemas. Ele assumiu que o motivo para sua vida ter saído dos trilhos era ter experimentado drogas ainda no colégio. Decidido a se vingar, ele rastreou a pessoa que lhe ofereceu maconha anos antes, um ex-colega chamado Jim Gianera de 25 anos. 

Em 2 de janeiro de 1973, Herbert foi até a casa de Gianera, uma cabana perto de Mystery Spot. Ele não sabia, entretanto, que a casa havia sido vendida para uma mulher chamada Kath Francis, amiga de Gianera. Ela explicou a situação e acreditando na desculpa de que Mullin era um amigo de Jim, passou a ele o endereço de onde ele poderia ser achado. 

Herbert dirigiu até a casa de Gianera e tocou a campainha esperando ansioso ao lado. Quando uma voz perguntou quem era, Herbert disse apenas que se tratava de "um amigo". Jim Gianera abriu uma fresta na porta para espiar e nesse momento Herbert deu um chute na porta jogando-o para trás. Ele então entrou envergando uma pistola 22. Ele matou Jim Giardela que provavelmente sequer teve tempo de entender o que estava acontecendo antes de ser baleado três vezes. A esposa de Giardela, Joan de 21 anos correu para acudir, mas recebeu um tiro no pescoço e em seguida um na cabeça em estilo de execução. Ela ainda foi esfaqueada três vezes. 


Sabendo que não podia deixar uma testemunha, o assassino dirigiu de volta até a casa de Kath Francis. Tocou a campainha e disse que havia perdido o endereço que ela havia dado horas antes. Kath desconfiou e o mandou embora. Herbert então entrou pela janela, a perseguiu por dentro da casa e a feriu com um tiro. Em seguida a arrastou até a cozinha, abriu uma gaveta e encontrou ali uma faca. Ela já estava morta quando ele a apunhalou repetidas vezes. 

Para completar a tragédia, antes de sair, Herbert decidiu revistar a casa e procurar alguma coisa de valor para forjar um roubo. Ao subir as escadas descobriu que Kath Francis não estava sozinha em casa; em um quarto seus dois filhos de 9 e 4 anos estavam dormindo profundamente. Herbert ficou em choque, não sabia o que fazer e suspeitava que as crianças poderiam estar fingindo dormir. Foram as vozes que decidiram por ele, afirmando que crianças sacrificadas eram uma recompensa ainda maior para conter o terremoto. E afinal; o terremoto não mataria crianças também?

Ele desceu as escadas, foi até o automóvel apanhou munição, carregou a pistola 22 e descarregou os projéteis à queima roupa. Em seguida, garantiu que estavam mortos com 3 facadas na garganta de cada um. 

Os detetives de polícia imediatamente fizeram a conexão entre os crimes de Kath e sua família com as mortes no endereço de Jim Giardela. Cinco pessoas haviam sido mortas em uma noite e tudo indicava que o assassino era o mesmo. A comprovação de que se tratava da mesma pistola calibre 22 e a mesma faca nas duas cenas de crime colocaram a polícia em alerta máximo.

Após esse banho de sangue, Herbert Mullin trocou de hotel e se escondeu em uma pensão se escondendo lá por uma semana. O dono da pensão disse ter ouvido repetidas vezes o inquilino no quarto falar sozinho e bater com a cabeça na parede. Em certa ocasião chegou a bater na porta para reclamar do barulho. Quando abriu a porta, o homem estava suado e desgrenhado. O quarto exalava um fedor forte de suor e urina e estava quente lá dentro. Mullin não disse nada, apenas acenou com a cabeça quando o senhorio pediu para ele baixar a voz pois outras pessoas estavam reclamando. Em retrospecto, lembrou-se que naquela semana houve um leve abalo sísmico na região de Los Angeles que chegou a ser noticiado na televisão. É possível que o assassino tenha ouvido a notícia?  Quem sabe?


Em 10 de Fevereiro as buscas pelo assassino continuavam e Herbert resolveu deixar a cidade para não correr riscos de ser capturado. Ele dirigiu para o Parque estadual Henry Cowell Redwoods onde já havia ido outras vezes fazer trilha. Ele gostava do contato com a natureza e quando criança dizia querer ser guarda florestal. Durante a trilha, Mullin avistou uma barraca e quatro jovens acampando ilegalmente. O parque não aceitava campistas naquela área e Herbert resolveu se aproximar. Fingindo ser um Guarda Florestal ele ordenou que os rapazes fossem embora, alegando que eles estavam poluindo a floresta. Os rapazes - David Oliker (18), Robert Spector (18), Brian Scot Card (19) e 
Mark Dreibelbis (15), desconfiaram que o homem mau encarado e de fala confusa0 não era quem dizia ser e pediram para ver suas credenciais de guarda. Mulin não disse nada, apenas levantou e foi embora com os rapazes rindo e o chamando de mentiroso.

Algumas horas mais tarde ele retornou. Trazia consigo a pistola 22 e abriu a barraca onde os rapazes dormiam atirando sem dizer nada. Dois foram feridos de raspão e os demais se renderam implorando para serem poupados. Ele os amarrou e colocou de joelhos. Em seguida atirou na cabeça de cada um à queima roupa. Ele roubou 20 dólares e um rifle leve.

Os corpos foram achados e quando a balística bateu com os crimes de janeiro a polícia não teve como guardar a informação de que o sul da Califórnia tinha um novo Assassino em Série. O matador escolhia qualquer alvo e fazia vítimas aleatoriamente descarregando sua pistola 22 sempre na cabeça. O Pânico se espalhou pela região e a população pedia a captura imediata do responsável por aquele horror.

Não foi preciso esperar muito para a próxima ação do maníaco. Mullin estava passando de carro por um riacho quando avistou Fred Perez, um senhor de 72 anos pescando na margem. Por razões desconhecidas (que nem Mullin soube explicar posteriormente), o assassino fez a volta e parou o carro no acostamento da estrada. Ele apanhou o rifle que havia roubado dos rapazes no acampamento e ficou mirando por longos minutos até desferir um tiro mortal que atingiu Perez no coração. Ele morreu imediatamente.

O crime foi cometido à luz do dia, diante de várias testemunhas que viram a ação. Uma pessoa memorizou a placa do carro que se afastou em seguida e enviou para a polícia rodoviária. O carro que Herbert Mullin dirigia foi abordado cerca de 15 quilômetros adiante e os policiais ordenaram que ele se entregasse. Ele apenas acenou com a cabeça e disse que não iria reagir. No carro os patrulheiros encontraram o rifle usado poucos instantes antes e a pistola 22 que foi usada nos massacres de janeiro e fevereiro.


Enquanto era interrogado na Delegacia pelos Detetives, um terremoto de magnitude 5,8 atingiu o sul da Califórnia causando danos estimados em 1 milhão de dólares. Ninguém no entanto se feriu gravemente e Mullin, orgulhoso ofereceu uma explicação que chocou os investigadores: ele havia sacrificado vítimas que evitaram uma tragédia em larga escala.  

Herbert Mullin admitiu sua culpa nos crimes e relatou seus motivos para os assassinatos, recebendo imediatamente a alcunha de "Assassino do Terremoto". A mídia fez um enorme alvoroço em cima de suas revelações e ele parecia realmente orgulhoso de tudo que promoveu e por ter "conseguido salvar a Califórnia de algo muito pior". Para evitar que algum imitador aparecesse desejando continuar o trabalho do assassino, a polícia decidiu não divulgar todos os detalhes de suas entrevistas, sobretudo os trechos em que ele dizia que, se ninguém assumisse seu trabalho, um Terremoto eventualmente aconteceria.

Durante o julgamento, o advogado de Mullin alegou insanidade, mas a promotoria conseguiu provar que vários dos crimes haviam sido premeditados e que ele chegou a fazer vítimas para ocultar suas ações, algo que alguém são faria. Á princípio a polícia da Califórnia chegou a imputar a ele outros crimes cometidos na área, sem saber que o serial-killer Edmund Kemper também estava agindo na região. A defesa chamou um especialista em transtornos psiquiátricos que atestou que Herbert Mullion sofria de transtorno esquizoide e que deveria ser tratado como insano. Ao ser interrogado, ele disse que sua missão era salvar a Califórnia e que lamentava ter matado tantas pessoas, mas que não se arrependia de tê-lo feito e que continuaria fazendo caso fosse libertado. O testemunho foi convincente para ele ser declarado legalmente insano.

Ele foi enviado para o Mule Creek State Prision onde ironicamente foi vizinho de cela de Edmund Kemper de quem se tornou colega. Os dois supostamente conversavam e trocaram informações sobre os crimes que cometeram. Uma vez sob supervisão psiquiátrica, o Assassino do Terremoto recebeu medicação e conseguiu ficar estável. Ele fez dez tentativas de pedido para liberdade condicional desde 1980, mas todas as vezes o direito lhe foi negado pela Junta Prisional.


O caso de Herbert Mullin é considerado um clássico exemplo de Assassino Missionário indivíduos que acreditam cumprir algum tipo de missão ou cruzada. Suas ações são resultantes de uma linha de pensamento superior que não se confunde com insanidade. Muitas vezes, eles acreditam que seus crimes são uma forma de conscientizar a sociedade e de chamar a atenção para algo que a destrói de dentro para fora. Por isso, de certa maneira eles pretendem ser capturados para em seguida ganhar acesso aos meios de comunicação e expor seu "trabalho" como mártires. 

"O Assassino do Terremoto" ganhou grande destaque e foi estudado por psiquiatras forenses e especialistas em Ciência Comportamental.  Hoje aos 74 anos ele parece um senhor inofensivo, mas suas avaliações demonstram que se ele parasse de tomar os remédios, ainda poderia ser uma ameaça para a sociedade. Por conta disso, é pouco provável que ele um dia seja colocado em liberdade.

E provavelmente todos estaremos mais seguros dessa forma.

Um comentário:

  1. Não fosse o delírio missionário, a falta de padrão entre as vítimas me fez lembrar de Michael Myers... Ou seja, qualquer pessoal aleatória que tope com o assassino pode ser a próxima vítima em potencial. Isso é bem desesperador.

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