terça-feira, 23 de agosto de 2022

O Assassino do Terremoto: Os Crimes de Herbert Mullins


O dia 18 de abril é uma data inesquecível para os habitantes da Califórnia pois marca o dia em que o chão tremeu em toda Costa Dourada, causando danos principalmente em San Francisco. O Grande Terremoto de San Francisco, como passou a ser chamado, ocorreu em 18 de abril de 1906, devastando a cidade e deixando um rastro de destruição sem precedentes na história. Aniquilação, caos e mortes foram registradas em toda cidade que ficou em ruínas após o tremor de magnitude 7,9.

O Terremoto de San Francisco foi uma das grandes tragédias americanas com milhares de mortos.

O medo diante de um novo incidente de grandes proporções, capaz de devastar uma cidade em poucos segundos, se tornou uma preocupação recorrente entre os habitantes de San Francisco. Mais que isso, o terror se tornou parte do inconsciente coletivo de todos que residiam no Sul da Califórnia. Nos anos 1910 e 1920, apesar do acelerado crescimento da costa oeste, muitos dos moradores originais partiram justificando seu êxodo sob a seguinte alegação: "medo dos tremores". Muitos dos que sobreviveram ao terremoto desenvolveram fobias: crises de pânico e ansiedade diante do mais leve tremor. Era algo preocupante, já que a Califórnia repousa próxima da Falha de San Andreas que causa frequentes abalos sísmicos. A região registra ao menos 10 mil tremores anuais, ainda que a maioria deles sejam quase imperceptíveis, com algumas centenas acima dos 3 pontos na Escala Richeter e algumas dezenas acima de 5.  

Para os pessimistas não se tratava de uma questão de "se", mas de "quando". Quando um novo e igualmente potente terremoto iria se abater sobre a Califórnia?

Herbert William Mullin nasceu em Salinas, na Califórnia em 1947, filho da primeira geração de californianos nascidos sob o temor dos tremores. É interessante que ele tenha vindo ao mundo no dia 18 de abril, aniversário do terremoto, e o leitor logo irá entender porque. A vida de Herbert Mullin seria moldada por essa tragédia de uma forma estranha e imprevisível.


O pai de Herbert era um veterano condecorado da Segunda Guerra Mundial, um sujeito que exigia disciplina e respeito em sua casa - embora não fosse especialmente abusivo. Haviam regras e estas deviam ser cumpridas. O menino teve uma infância comum, apesar de já esboçar, ainda muito novo um medo patológico diante da mais leve agitação do solo. Herbert se escondia de baixo da cama, urinava e chorava nessas ocasiões. Ele havia feito uma estranha conexão entre a data de seu aniversário e a do Grande Terremoto e sentia que desempenharia uma função importante.

Apesar desses delírios, o rapaz cresceu em um ambiente social, contando com muitos amigos na época da escola. Jogou futebol americano, saiu-se bem nos estudos e foi nomeado pelos colegas "um dos que tinham maior chance de ter sucesso na vida". Nada apontava para o horrível futuro que estava reservado para Herbert Mullin.

Após a formatura, as coisas começaram a mudar. Um de seus melhores amigos sofreu um acidente fatal de automóvel e Herbert não conseguiu aceitar o incidente. Tomado por uma forte depressão, ele se isolou de tudo e de todos, construiu um tipo de altar dedicado ao falecido amigo em seu quarto e lá passava os dias. Seu sofrimento era tamanho que algumas pessoas mais próximas cogitaram que os dois tinham algum tipo de relação secreta. Eram os anos 60, e insinuações à respeito de homosexualidade podiam ser bastante cruéis. Apesar de Herbert ter uma namorada, ele próprio começou a expressar temores de que pudesse ser gay e odiava a si mesmo por conta disso.

Em 1965, Herbert fugiu de casa e seguiu para San Francisco onde acabou se juntando a uma comunidade de hippies que lhe apresentaram o uso de drogas e amor livre. Por algum tempo ele viveu nessa comunidade, mas acabou sendo expulso pelos demais membros por apresentar um comportamento estranho. Herbert costumava ser agressivo, possessivo e paranoico sobre praticamente tudo. Em certa ocasião, quando houve um pequeno terremoto, ele se tornou incontrolável e agrediu com socos e pontapés um dos seus colegas. Quando o tremor cessou ele desmaiou e acordou na delegacia de polícia descobrindo que quase havia matado o sujeito. Diagnosticado com esquizofrenia ele deveria ter sido recolhido para tratamento, mas ao invés disso, escapou e se mudou para Los Angeles.


Depois disso, Mullin tentou se tornar padre e ingressar nas forças armadas, mas não foi aceito por nenhuma das instituições. Uma simples entrevista demonstrava que ele sofria de transtornos acentuados. Sem perspectivas, ele voltou a usar anfetaminas e LSD, que aceleraram seu quadro agudo de esquizofrenia paranoide. Mullin foi despejado do apartamento que alugava por bater a cabeça contra a parede e gritar com pessoas que não estavam lá. 

Com tudo isso, em meados de 1969, não foi nenhuma surpresa que aos 21 anos ele tenha sido enviado para um asilo mental para tratamento. A família conseguiu uma vaga num instituto, mas ele acabou sendo recusado após sucessivos episódios de violência. As opções de Herbert foram reduzindo e ele acabou indo parar em um Manicômio Judiciário, o único lugar onde foi aceito mediante seu tumultuado histórico de agressões. Mas mesmo lá, ele não conseguiu ficar muito tempo. Herbert fugiu em 1970, e desapareceu, tornando-se um morador de rua.

Ele ressurgiu apenas em 1972, com 25 anos de idade, quando buscou ajuda de parentes que viviam em Felton, California. Ele dizia ter abandonado as drogas, mas é possível que ainda estivesse fazendo uso de substâncias entorpecentes com o objetivo de bloquear as vozes que ouvia em sua mente e que estavam cada vez mais altas. As vozes supostamente avisavam Herbert de que um terremoto estaria prestes a acontecer e que este seria mais destrutivo do que qualquer outro na história. Ele alegava ter pesadelos em que via a Costa Oeste inteira desabar no mar, com cidades sendo devastadas e incontáveis pessoas morrendo.

Herbert havia desenvolvido um terror absoluto desses delírios, ao sofrer tais episódios ficava dias paralisado, tamanho era seu medo. Ele também desenvolveu uma sensibilidade notável para detectar o menor tremor no solo. Quando tal coisa acontecia ele era tomado de um frenesi que o levava a agredir quem estivesse por perto. 


Expulso da casa dos parentes, ele voltou às ruas e começou a conjecturar uma teoria absurda sobre as causas para os terremotos. Em sua mente fragmentada, Herbert passou a acreditar que os terremotos eram um tipo de castigo divino por tudo que acontecia na Guerra do Vietnã. Os americanos teriam causado muitas mortes e tragédias no conflito do sudeste asiático e por uma questão de compensação, eles deveriam sofrer um número equivalente de mortes num futuro terremoto. Herbert escrevia suas teorias confusas em cadernos e mantinha um cuidadoso esquema em que registrava os menores tremores de maneira meticulosa. Também passou a correlacionar acontecimentos casuais, como o voo de pássaros ou um determinado padrão de movimento do trânsito com sinais de que a grande destruição estaria cada vez mais próxima.

Aterrorizado com os pesadelos, ele passou a acreditar que havia apenas uma maneira de postergar o Terremoto. Em sua insanidade, ele traçou um plano que visava realizar sacrifícios humanos que evitariam a destruição vindoura.

O primeiro assassinato ocorreu em 13 de outubro de 1972. Mullen havia roubado um carro e  estava vagando pelas ruas em busca de uma vítima em potencial. Ele avistou um morador de rua chamado Lawrence White quem já conhecia. Ele parou o carro e ofereceu carona ao sujeito, atraindo-o com uma garrafa de bourbon. Ele então dirigiu até um lugar isolado. Em determinado momento, deixou o carro dizendo que iria pegar outra garrafa no porta malas. Voltou com um taco de baseball e o usou para agredir violentamente o morador de rua. White tentou escapar, rastejou para fora do carro, mas foi perseguido por cerca de 10 metros, recebendo golpes violentos no corpo e na cabeça. Quando perdeu os sentidos, Herbert continuou batendo até que o pobre coitado estivesse morto. Os golpes foram tão fortes que o cadáver ficou irreconhecível. Em seguida, Herbert entrou no carro e foi embora. O corpo só foi encontrado no dia seguinte e mesmo os policiais mais veteranos se impressionaram com a forma como ele havia sido massacrado. 

Mais tarde, Herbert contaria que as vozes o mandaram escolher Lawrence White pois ele era a reencarnação do personagem bíblico Jonas. Enquanto conversava com sua vítima no carro, Herbert teria ouvido as vozes dizerem: "Não se preocupe, você está fazendo um trabalho importante. Mate-o, pois ele nasceu para ser sacrificado. Só assim muitos outros serão salvos".


Herbert voltou para o quartinho que vinha alugando numa pousada sórdida, tomou um banho para limpar o sangue e ficou em um estupor delirante por três dias. Sentia como se a sua missão sagrada estivesse sendo cumprida e se reconfortava pedindo comida chinesa e bebendo vinho barato. Quando ligava a televisão ou rádio, ouvia mensagens que o encorajavam a seguir matando e que isso era importante para salvar a Califórnia dos terremotos.

A vítima seguinte foi a estudante universitária Mary Guilfoyle de 24 anos de idade. Em 24 de outubro de 1972, ela estava à caminho de uma entrevista de emprego e como estava atrasada decidiu pedir carona. Mullin parou o carro e a deixou entrar. Ele dirigiu por apenas 200 metros, quando sacou uma faca e apunhalou a carona no peito. A lâmina entrou fundo e perfurou o pulmão da vítima. A surpresa do golpe a jogou para trás e ela tentou gritar por socorro mas sua boca estava cheia de sangue. O maníaco pedindo desculpas a cada investida a apunhalou mais 8 vezes, dirigiu até um beco e desferiu mais 10 golpes. Em seguida, deu início a um horrível ritual de dissecação, sempre por sugestão das vozes que diziam a ele o que deveria fazer. Ele a jogou no banco traseiro do carro, arrancou vários órgãos, inclusive o coração de Mary e dirigiu por estradas marginais atirando pela janela o que havia extirpado. Por fim, estacionou o carro numa estrada deserta e lá abandonou os restos sangrentos de sua obra.

A polícia é claro encontrou os restos humanos largados nas estradas e após uma busca na região descobriu o cadáver. Concluíram que estavam diante de um louco perigoso, mas não fizeram conexão entre a morte de Mary Guilfoyle e Lawrence White. Após o crime, Mullin trocou de pensão, se hospedou em um motel de beira de estrada e lá ficou até ouvir um novo chamado das vozes.

Elas não demorariam a contatá-lo e logo haveria mais sangue.

Cont...

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