quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Ouçam o Chamado III - Começou o Financiamento de "Chamado de Cthulhu"

Pessoal, acaba de se iniciar o Financiamento Coletivo de "Chamado de Cthulhu" através da página do Catarse:

Financiamento Chamado de Cthulhu

As estrelas estão alinhadas no firmamento, as coisas estão acontecendo e os antigos agitam seus tentáculos.

A meta para publicação é 38 mil reais, e existem várias opções para compra sendo que os que forem mais rápidos vão conseguir um preço mais camarada se desejarem apenas o livro e PDF.

A edição nacional terá 300 páginas, capa dura e interior em papel de qualidade Lux Cream remetendo a um livro de anotações dos anos 1920. O texto é o da sexta edição de Call of Cthulhu da Chaosium, mas a arte (de Walter Pax), diagramação e fotos no interior serão originais.

A imagem que emoldura esse artigo é a previsão da capa que eu pessoalmente achei excelente.

É possível adquirir o livro e obter alguns extras, como ter um personagem exclusivo nas páginas finais (fiquei tentado a fazer um bisavô meu), receber uma ilustração especial, auxiliar na criação de um cenário ou investir na compra de uma edição exclusiva comemorativa em legítimo couro de Byakhee e dados que brilham no escuro.

Quanto às Metas Extras temos algumas coisas bem bacanas, como por exemplo um livro com a Arte de Chamado de Cthulhu, uma versão do Dire Documents (chamada de Documentos Sinistros) que fornece vários Handouts de Pistas prontas para serem usadas no seu jogo, e é claro, vários cenários exclusivos para lançar os investigadores em terríveis estórias de horror e mistério.

Entre os autores dessas aventuras prontas, temos além de Kairan Hamdan e Pedro Ziviani (do Mythic Iceland), dois dos responsáveis pelo lançamento do livro em português, estórias escritas por Dennis Detwiller (um dos melhores autores de Call of Cthulhu, famoso pelo Delta Green) e uma aventura de Sandy Petersen (o big-kahuna em pessoa, criador do Call of Cthulhu RPG). E fico muito feliz em dizer que uma das metas também prevê uma aventura de minha autoria se passando no Brasil de 1920, ponto inicial para coisas bem interessantes que ainda estão por vir, se tudo der certo... Mas vamos manter esses Mistérios (do Brasil) dessa maneira, por enquanto...

Mesmo para quem já tem alguma edição de Call of Cthulhu americano, essa é uma oportunidade de ouro para ter um livro lendário esperado há décadas. Além disso, é uma ótima opção para usar termos de jogo devidamente traduzidos em português e uma ficha nacional, algo que facilita muito a introdução de novos jogadores ao sistema (venham a nós, jovens cultistas!).

Então é isso, acessem a página do Catarse no link acima e vejam mais detalhes a respeito desse grande lançamento.

Mais do que nunca Iä! Iä!

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Explorando os Mythos mais Obscuros: Atlach-Nacha - O veneno da Deusa Aranha


A grande maioria das entidades do Mythos de Cthulhu são absolutamente alienígenas para os padrões da natureza terrena, com seus muitos tentáculos, formas amorfas e misteriosos apêndices. São abominações que não sugerem qualquer grau de familiaridade com as formas de vida nativas de nosso planeta.

Contudo essa não é de modo algum a regra. Nem todas as entidades assumem uma forma incompreensível, inexplicável ou totalmente fora dos padrões existentes.  

Há deuses no Universo do Mythos cuja forma encontra eco em animais e seres aborígenes. Se essas formas foram adotadas propositalmente ou se essas eram suas aparências originais, é impossível saber. O fato é que algumas entidades assumem uma faceta similar a de criaturas da Terra. Yig, o pai das Serpentes que se assemelha a um imenso réptil, Chaugnar Faugn cuja aparência remete a traços elefantinos e o próprio Cthulhu cuja face sugere similaridade com um octopos - ainda que estejam presentes traços humanoides, são bons exemplos.

Outra divindade que assume a forma aproximada de um animal terreno é Atlach-Nacha, um dos mais curiosos e misteriosos Grandes Antigos.

Atlach-Nacha é chamada de "Deusa Aranha" por razões óbvias. Essa entidade obscura tem o aspecto de um monstro aracnídeo de tamanho colossal, muito maior do que um homem e supostamente capaz de alterar suas dimensões. Alguns teóricos do Mythos afirmam que Atlach-Nacha pode assumir o tamanho que desejar, sendo, no entanto, consenso que na maioria das vezes, seu tamanho se equipara ao de uma pequena casa. A deusa possui um corpo dividido em dois segmentos como a maioria dos artrópodes araneídeos.

A parte frontal é formada por um cefalotórax maciço e quitinoso, dotado de quatro pares de pernas articuladas que se movem agilmente a fim de permitir seu deslocamento. Esses membros são longos e grossos, cobertos de cerdas semelhantes a fios de cabelo negro distribuídos ao longo de toda extensão. Atlach Nacha capta mínimas variações através desses pelos como se eles fossem antenas extremamente sensíveis. Os quatro pares de pernas, permitem que ela corra a uma velocidade de até 50 quilômetros por hora em linha reta, o suficiente para empreender uma perseguição persistente a maioria das presas. As pernas são muito ágeis e capazes de manipulação, uma vez que terminam em três dedos rudimentares. As extremidades das patas aderem a superfícies lisas facilitando a escalada vertical.

Na porção anterior do corpo se destaca um enorme abdômen mais ou menos ovalado e anormalmente inchado. Esse abdômen tem uma coloração escura com raias avermelhadas na maioria das vezes, púrpuras ou amareladas segundo certas descrições. Os cabelos que recobrem o abdômen são mais ásperos e resistentes como fios de arame cuja função é protetora, desviando ataques. Nessa estrutura se evidencia um duto fiandeiro que produz fios de seda e um aguilhão retrátil que fica acondicionado no final do abdômen. Através desse aguilhão, ela transmite um veneno letal de composição desconhecida, tão poderoso que é capaz de corroer tecido orgânico como se fosse ácido. O poder corrosivo equivale ao do ácido fluorantimônico, podendo dissolver tecidos, órgãos e até ossos em instantes.  Uma quantidade relativamente pequena na corrente sanguínea já é suficiente para matar um humano adulto. Atalch-Nacha produz uma quantidade de veneno inesgotável.

Chama atenção o fato de que Atlach Nacha possui uma face estranhamente antropoide que em algumas ocasiões é descrita como a de um ancião de traços orientais reminiscente do povo tibetano. Outros descrevem essa face humana como similar a uma jovem mulher com cabelos negros e pele azeviche, dotada de uma beleza exótica que contrasta com o horror que é seu corpanzil aracnídeo. A face também já foi descrita como de uma velha com traços africanos, uma criança pálida com cabelos loiros encaracolados e como um selvagem das ilhas do sul com olhos ferozes quase animalescos. Embora nem todas as faces de Atlach-Nacha tenham uma face feminina, a maioria dos textos se refere a entidade como "deusa", ou seja um ser do gênero feminino.

É possível que Atlach-Nacha seja capaz de assumir diferentes feições e optar por aquela que seja mais interessante em um determinado momento. Os nativos da Ilha de Ponape, que veneram a Grande Aranha, acreditam que ela pode escolher a face de qualquer vítima que ela tenha devorado ao longo de sua existência. Para todos os efeitos a face do ancião é a que surge na maioria dos textos e descrições disponíveis. Em algumas circunstâncias, Atlach Nacha faz surgir um par de quelíceras dentro de sua boca para auxiliar na alimentação. Essas quelíceras são semelhantes as de aracnídeos terrestres e servem para sorver os alimentos ou segurar as presas para que a boca possa fazer o trabalho de trituração.


Horrível em cada detalhe, tenebrosa no todo, Atlach Nacha é uma visão abominável que não raramente provoca loucura e desespero. Há algo em sua forma anormal que incita ondas de repulsa e delírio na mente humana.  

Os poucos manuscritos que falam da Deusa Aranha são confusos e dificilmente podem ser interpretados como uma fonte confiável a respeito da origem de Atlach-Nacha. Existe uma lenda que menciona a Deusa como acompanhante de Tsathoggua quando este deixou seu lar original, Saturno para se estabelecer na Terra. Em outra versão desse mesmo mito, Atlach-Nacha teria construído uma teia entre os dois planetas através da qual Tsathoggua atravessou, como se fosse uma ponte. Teóricos do Mythos enxergam nessa fábula uma alusão clara a algum tipo de portal que Atlach-Nacha foi capaz de criar.

Segundo o mito, ao chegar na Terra Atlach-Nacha se estabeleceu sobre um precipício sem fundo no interior do legendário Monte Voormithadreth, na mística terra de Hiperbórea. Lá ela teria caçado e se alimentado dos selvagens Voormis que a consideravam uma entidade demoníaca. O povo da Hiperbórea teria descoberto um acesso para o precipício, e alguns desses pré-humanos chegaram a fundar um culto que a venerava em templos recobertos de teias e com grotescas estátuas de aranhas. O culto foi proibido em virtude dos rituais aterrorizantes realizados pelos seus seguidores fanáticos. Nessa mesma época, parte da vasta teia construída sob o precipício teria sido destruída em um incêndio que forçou a deusa a migrar para a Terra dos Sonhos onde ela passou a ser adorada pelas Aranhas de Leng.

Os sacerdotes hiperbóreos remanescentes teriam levado consigo o conhecimento para outras terras, criando seitas dissidentes que tinham como ponto em comum a adoração a aranhas. Supõe-se que na antiguidade o culto tenha se fixado na Fenícia e a partir desse ponto foi exportado por marinheiros para vários lugares do globo.

No Peru, a Deusa Aranha foi chamada de Tzizimica e é dito que sua teia conectava as várias passagens entre os planos. No Império Asteca seu nome era Tzitzimime - "A morte que vem do alto" e em sua homenagem seus seguidores realizavam sacrifícios em cavernas profundas. Na Sibéria ela foi chamada de Rerimuchka, e adorada por tribos selvagens de Evenkos que habitam as planícies gélidas. Seus totens medonhos ainda podem ser encontrados na paisagem cinzenta. O culto também existiu entre os malignos anões tcho-tcho de pele pardacenta que viviam no Planalto de Leng. Estes teriam levado os ensinamentos da deusa, chamada de "Mãe das Teias" através das montanhas chegando até a India. O culto foi especialmente poderoso na porção meridional do sub-continente, fixando-se entre nobres e aristocratas, mas a perseguição dos sikhs, que viam na adoração de Atlach-Nacha uma abominação, fez com que a seita acabasse proscrita. Contudo, ela ainda existe entre tribos da primitiva Ilha Andaman na costa do Mar de Bengala. Acredita-se que muitos de seus seguidores tenham o sangue miscigenado dos tcho-tchos correndo em suas veias.

A Ordem Esotérica de Dagon em algum momento - possivelmente no final do século XVIII, entrou em contato com as tribos selvagens da Ilha Andaman. Eles assumiram que Atlach-Nacha era uma serva de Dagon, a habitante solitária da "Árvore da Morte" e a guardiã que punia os homens e mulheres que se negavam a copular com os abissais. Entre os rituais da Ordem, existem invocações e maldições que citam o nome de Atlach-Nacha.

Além de tribos primitivas animistas, a Deusa Aranha, é tida como uma entidade patrona de feiticeiros, sobretudo aqueles que buscam poder e conhecimento arcano. Os magos que estão dispostos a venerá-la, por vezes são admitidos como emissários de Atlach-Nacha em troca de receber o almejado conhecimento, visões de dimensões distantes e acesso a Terra dos Sonhos. Para negociar com a deusa, eles tem que se deixar morder por uma das Aranha de Leng durante um sonho a fim de despertar em um salão da Grande Teia, na presença de Atlach-Nacha. Se o feiticeiro oferecer um presente ou sua devoção incondicional, a divindade partilhará algo que ele deseja conhecer. Aqueles que faltam com o devido respeito ou se mostram incapazes de conquistar sua atenção são cercados por Aranhas de Leng, capturados em casulos de teia e posteriormente devorados. A grande quantidade de carcaças ressecadas penduradas como macabros troféus na grande teia, demonstra que a deusa não se impressiona facilmente.

Existe uma lenda muito difundida e tida como verdadeira a respeito da Grande Teia de Atlach Nacha e o Fim dos Tempos. Essa narrativa está presente em vários tomos, como por exemplo o próprio Necronomicon e é aceita por irmandades esotéricas e sociedades herméticas, desde o início dos tempos. Diz a lenda, que quando o trabalho de construção da Grande Teia for finalizado, os Grandes Antigos irão despertar de seu sono milenar, marcando assim o dia em que as estrelas estarão certas. Para alguns estudiosos do Mythos, a Teia estaria próxima de ser completa, e até já teria sido finalizada não fosse a destruição parcial ocorrida quando ela habitava a Hiperbórea.


Os xamãs siberianos evenkos creem que quando a teia estiver pronta, as Aranhas de Leng virão através dela, deixando a Terra dos Sonhos para saciar sua fome com os humanos do mundo desperto. Astrólogos do Império Maia previram que a construção da Teia de Atlach-Nacha seria concluída em dezembro de 2012, mas aparentemente eles cometeram algum erro de cálculo. Há várias outras tradições que tentam prever a data exata da conclusão da Grande Teia, mas as teorias divergem enormemente.

Sendo um dos Grandes Antigos, Atlach-Nacha também foi afetada pelas emanações cósmicas que forçaram ela e outros seres a hibernar em lugares até o dia em que as estrelas se alinharem. A despeito dessa imposição restritiva, ela pode ser invocada por poucos instantes. Na maior parte do tempo, ela prossegue trabalhando metodicamente em sua vasta teia, e quando ela estiver pronta, quem sabe o que poderá acontecer...   

domingo, 27 de outubro de 2013

A Canção do Executor - Bem vindos ao Macabro mundo da Arqueologia da Execução


Os locais de execução logo abaixo das forcas e patíbulos tendem a ser ignorados pelos historiadores. Mas recentemente alguns arqueólogos tem demonstrado interesse em desvendar e compreender como prisioneiros medievais eram torturados e mortos - e como viviam os seus executores.

O jornal alemão Der Spiegel publicou um extenso artigo descrevendo o trabalho da arqueóloga Marita Genesis e Jost Auler, ambos especialistas na história por tráz das execuções públicas e privadas. 

De fato, o que não falta na Europa são lugares usados para essa sinistra atividade, muitos deles sancionados pelos governos como forma de impor a lei e a ordem. Marita e Jost já realizaram escavações em vários lugares e atualmente tem planos de escavar a colina de Pottenstein no sudeste da Áustria para ver o que descobrem no lugar, usado por mais de dois séculos como campo de execução de criminosos e traidores bávaros. 

A pesquisa meticulosa desses lugares, considerados por muitos uma atividade macabra e a análise dos restos mortais encontrados nesses sítios tem se mostrado extremamente valiosa do ponto de vista histórico. 

"Estamos desvendando um passado do qual pouco se fala, por ter sido considerado tabu até pouco tempo. Execuções públicas e privadas marcam a história da Europa. Praticamente todas as nações praticaram execuções em algum momento de sua história, mas essas jamais foram matéria de um estudo profundo. É uma pena pois, podemos aprender muito a respeito de uma sociedade examinando a maneira como essa mesma sociedade se livrava de seus indesejados" contou Jost.


O trabalho dos cientistas tem revelado uma surpreendente quantidade de informações, muitas das quais ausentes dos textos e documentos sobreviventes. Por exemplo:  

Evidências encontradas em um campo usado para execuções nos arredores de Dover, na Inglaterra atestam a brutalidade da Idade Média. Os cientistas descobriram restos de ossos espalhados por um descampado que servia de cemitério na época. Eles acreditam que partes da anatomia dos criminosos executados, eram negociadas por coveiros com camponeses em busca de "lembranças". Um assassino famoso, depois da execução podia ser secretamente esquartejado por um coveiro ganancioso que negociava os restos do indivíduo com curiosos que quisessem levar para casa um souvenir.

Em alguns lugares, durante o período de grande superstição, vigorava a crença que certas partes da anatomia de um indivíduo executado podiam vir a ser úteis. Dentes de um criminoso condenado, as mãos de um ladrão, a língua de um delator, as orelhas de um guarda ou mesmo a genitália de um estuprador poderiam ser surrupiados na calada da noite por pessoas que acreditavam que aqueles pedaços continham alguma força mística ou concediam algum poder sobrenatural.

Em um cemitério de condenados na Hungria, os arqueólogos descobriram que uma quantidade considerável de crânios estavam ausentes. Ao estudar os costumes locais, os pesquisadores descobriram que na Idade Média as famílias de pessoas afetadas pelo condenado ofereciam dinheiro para receber a cabeça do criminoso. Em alguns casos essas cabeças eram queimadas e suas cinzas espalhadas por plantações. Vigorava a crença de que as cinzas da cabeça de um condenado propiciavam uma farta colheita.

Na Itália, os restos de bruxas condenadas eram especialmente valiosos. Dedos, línguas, unhas, pelos pubianos e fios de cabelo eram resgatados para se transformar em amuletos de proteção contra o mal olhado de outras feiticeiras. Persistia a crença de que as bruxas tinham uma espécie de resistência a magia carregada em seus corpos mesmo após a sua morte. Ter um amuleto confeccionado com o dedo de uma bruxa e seu cabelo para usar em volta do pescoço podia afastar feitiços. Na Alemanha, epiléticos coletaram o sangue do famoso fora da lei Schinderhannes, comparado a Robin Hood, por acreditarem que isso poderia curá-los. Dizem que a cabeça do notório pirata alemão Klaus Störtebeker teve de ser vigiada por guardas a fim de que ela não fosse roubada. 


A tarefa de resgatar essas "lembranças" na maioria das vezes era facilitado pelos procedimentos empregados após a execução. Na maioria das cidades da Europa, os cadáveres das pessoas executadas ficavam em exposição, como um recado para outros criminosos. Os restos eram pendurados em portões, muros e praças públicas. Em alguns lugares eles adornavam a entrada de prédios públicos, cadeias e quartéis. Na Sérvia por exemplo, o cadáver dos executado ficavam pendurados no portão de entrada das cidades com um grande cartaz onde ficava registrada a razão da condenação. Para os que todos soubessem do crime, pessoas instruídas eram pagas para ler em voz alta o que dizia o cartaz para cada um que chegava.

Não devia ser uma visão agradável adentrar uma cidade e encontrar cadáveres e restos humanos pendendo nas muralhas, secando ao sol. Corvos costumavam se agrupar nessas muradas para bicar o rosto dos mortos, arrancando nariz, lábios e orelhas. Os olhos eram o alvo principal das aves carniceiras atraídas pelo brilho. Há um registro histórico, de que certa vez os corpos de mais de trinta criminosos foram dispostos sob o portão de entrada da cidade de Augsburg, próximo de Munique. Na ocasião, uma comitiva imperial que passava pela região, deu meia volta ao se deparar com a hedionda visão. 

Em meados do século XVI, algumas cidades adotaram leis reservando um local específico para a horrível exposição dos mortos. Isso porque às vezes o local escolhido ficava perigosamente próximo de poços públicos de água e de mercados onde se vendia comida.


Em uma época de enorme superstição, surpreendentemente, essas leis desagradavam grande parte da população. As pessoas queriam desejavam ver os corpos apodrecendo sem ter que se deslocar de um canto para outro da cidade. Visitar os cadáveres expostos parecia ser algo extremamente interessante na Idade Média, tanto que guardas e executores cobravam uma pequena comissão para permitir aos interessados se aproximar e ver de perto os corpos, em alguns casos até tocá-los.

Depois de algum tempo de exposição pública, os corpos já em estado deplorável eram descidos do local onde ficavam por dias ou até semanas, transportados até um cemitério qualquer e lançados em alguma vala como lixo. Esses enterros em solo não consagrado eram muito comuns. Não raramente os cemitérios de executados eram considerados como lugares assombrados, terreno fértil para proliferação de mortos vivos e vampiros. Na Itália, o cemitério de Ravena era benzido a cada seis meses para evitar qualquer levante sobrenatural indesejado. 

As execuções públicas eram um grande passatempo, um verdadeiro acontecimento que atraia gente de todos os cantos interessados em assistir (e vibrar) com o tormento alheio. Quanto mais notória a vítima ou o crime por ela cometido, maior o interesse. Nobres, ricos senhores e traidores conseguiam atrair verdadeiras multidões ao pátio de execução: homens, mulheres e crianças que se acotovelavam para ver o sangrento espetáculo. Além de curiosos, havia ainda mercadores, vendedores de comida, ladrões, prostitutas e religiosos interessados em aproveitar a comoção.

Poucas coisas eram mais celebradas do que as sessões públicas de tortura que antecediam as execuções. E dentre todas as ignomias e punições aplicadas, a roda talvez fosse a mais terrível. Através desse medonho objeto circular de madeira, o corpo da vítima imobilizada era torcido e lentamente despedaçado para alegria das testemunhas. Alguns poucos minutos na roda podia partir costelas, deslocar ossos e arrebentar a coluna dorsal.

"A multidão fazia um tenso silêncio para ouvir atentamente o som dos ossos se partindo a cada torção do aparelho e quando esta acontecia vibravam e festejavam". contou Auler com base em um documento oficial.

A qualidade do executor era medida pela forma como ele conseguia levar à cargo sua tarefa. Executores podiam ganhar um bom dinheiro agradando a população que lhes oferecia presentes em troca de uma boa performance. Um executor também podia ganhar um bom dinheiro se conseguisse negociar com a vítima ou com um parente desta para garantir uma morte rápida e limpa. Mas tal atividade podia ser arriscada: nos autos de um processo em Toledo, na Espanha, consta que um executor foi condenado a ser açoitado depois que ficou claro que ele havia executado uma vítima de forma muito rápida mediante acordo com o marido desta para que "ela não sofresse demasiadamente".

A roda contudo não era o único método de tortura empregado nas execuções públicas na Europa. Cada lugar possuía os seus métodos característicos.

Robert François Damiens, condenado a execução pública por ousar atacar o Rei Louis XV, sofreu uma sentença incomum levada adiante em praça pública. Oficiais de Justiça usaram pedras de enxofre aquecidas para queimar sua pele e fazê-la descascar. Em seguida usando pinças arrancaram a pele de seus braços, peito e virilha, para que então as feridas fossem cauterizadas com chumbo derretido.

Outro criminoso famoso, o patriota rebelde escocês William Wallace (o mesmo do filme Braveheart) foi torturado no patíbulo de Londres diante de uma multidão. Wallace foi enforcado, suas costelas foram quebradas depois de ser suspenso numa polia, teve partes de seu corpo arrancadas com pinças quentes, seus intestinos foram removidos e queimados quando ele ainda estava vivo, até que, finalmente, ele foi decapitado.

As evidências arqueológicas confirmam que um dos métodos preferidos de execução na Idade Média era a decapitação. O condenado tinha de se ajoelhar diante de um banco e repousar a cabeça sobre esse cepo expondo seu pescoço. O executor usando uma lâmina pesada, geralmente uma espada, executava o golpe mortal. No final do século XVII, machados e blocos de corte passaram a ser utilizados. As guilhotinas entrariam em operação no século seguinte fazendo enorme sucesso na Revolução Francesa, quando elas trabalharam sem parar.

Jovens executores, é claro, tinham de passar por testes que demonstrassem as habilidades necessárias. Documentos encontrados pelos arqueólogos, na cidade alemã de Alkersleben atestam que um executor tinha de praticar por pelo menos dois meses cortando repolhos e abóboras antes de se dedicar a arte de separar cabeças de corpos.  despeito do "treinamento", alguns executores ficavam nervosos e erravam o golpe fatal. Vários crânios encontrados pelos arqueólogos atestam que muitas vezes, mais de um golpe era necessário para concluir a tarefa.

Erros podiam ocorrer, os executores não estavam livres de vacilos. Em um cemitério alemão, foi encontrado um corpo com vários ferimentos na coluna que apontavam para erros sucessivos na tentativa de decapitação. É possível que a vítima tenha tentado se levantar depois do primeiro golpe, o que obrigou o carrasco a realizar vários golpes.  

A forca também era um método popular de execução. Para enforcar um condenado uma corda devidamente preparada, besuntada com óleo era amarrada em volta do percoço do criminoso e lançada sobre uma apara de madeira ou um galho forte de árvore. A vítima era jodaga de uma altura e se essa fosse suficiente seu pescoço se partia causando a morte imediata. Do contrário, a corda comprimia as artérias do pescoço induzindo a sufocação e asfixia alguns segundos. Alguns executores seguravam os pés da vítima ou se pensuravam em suas pernas para acelerar o processo garantindo uma "morte limpa". 

Apesar da importância de seu trabalho e de serem em alguns casos admirados pela sua habilidade, a maioria dos executores tinha uma vida complicada. Genesis e Auler devotaram boa parte de suas pesquisas a conhecer um pouco sobre a vida desses homens que ganhavam o pão de cada dia torturando e matando.  

"Um executor era evitado por todas as pessoas que conheciam sua ocupação. A profissão era tida como "desonrosa". O dono de uma taverna podia se negar a vender bebida ou aceitar um executor em seu estabelecimento. Era, afinal, ruim para os negócios. Alguns mercadores se negavam a vender para esses homens e em alguns casos, padres não davam a eles sequer a extrema-unção. Era difícil um homem nessa profissão conseguir casar e constituir família.

Muitos executores guardavam segredo sobre a sua atividade, e se valiam dos capuzes que usavam para esconder a sua identidade. Alguns deles ganhavam um dinheiro extra realizando atividades úteis: matando animais doentes, castrando cães ou limpando prisões. A proximidade de corpos humanos e cadáveres, permitia que eles aprendessem noções básicas de anatomia e medicina. Um executor alemão que viveu em Rheims no século XVII chegou a desistir do seu trabalho e se dedicar a curar, extirpando tumores e órgãos doentes nas ruas da cidade, o equivalente a um médico itinerante.

A despeito de seu conhecimento anatômico, executores mantiveram sua sinistra reputação. Embora fossem elogiados por fazer um trabalho necessário no "Sachsenspiegel" ("Espelho dos Saxons"), um código legal rascunhado no século XIII, a maioria deles eram evitados pela sociedade. Na Áustria uma lei os obrigava a usar luvas, pois não deveriam encostrar as mãos em ninguém. 

Por muito tempo esses homens figuraram como coadjuvantes em momentos importantes da história, a mão que aplicava a justiça bárbara e sangrenta. 

Suas vozes e seu lado jamais foram ouvidos, mas com o trabalho de especialistas como Auler e Genesis isso tende a mudar.

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Sobre Decapitações e Guilhotinas

A Temida Águia Sangrenta

Teatro de Sangue

Ecos nos Campos de Batalha

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Mesa Bárbara: Beasts and Barbarians - Jogo de Sword and Sorcery no Saia da Masmorra


Olá pessoal,

Semana passada, tivemos mais uma edição do Saia da Masmorra, encontro para mestres e jogadores, com uma proposta de apresentar jogos e sistemas de RPG pouco conhecidos. Os encontros mensais acontecem sempre na Galeria da loja Point HQ em Ipanema.

Nessa edição, o tema do encontro era Sword and Sorcery, ocasião perfeita para narrar pela primeira vez Beasts and Barbarians um jogo para o sistema Savage Worlds (da Retropunk) que se passa em um mundo de decadência, barbárie e magia.

Eu gostei bastante...vamos ver como foi a sessão. Mas antes, para aqueles que não conhecem, deixe eu falar um pouco sobre Sword and Sorcery.

Sword and Sorcery (literalmente Espada e Feitiçaria) é um sub-gênero da literatura de Fantasia, geralmente caracterizado por espadachins aventureiros envolvidos em sangrentos combates e emocionantes tramas de perigo e ação. As estórias envolvem romance, elementos de magia, horror e sobrenatural. Nessas estórias, algumas vezes épicas, a ação se fixa no herói, na maioria das vezes um guerreiro bárbaro, que precisa se valer de suas habilidades extraordinárias para triunfar diante de inúmeras adversidades. O pano de fundo para essas estórias são mundos inspirados por civilizações antigas e terras distantes com reinos e povos exóticos. O termo "Sword and Sorcery" foi criado por Michael Moorcock, autor das estórias de Elric de Melniboné, um dos mais conhecidos escritores no gênero, que tem em Robert E. Howard seu maior expoente. Howard foi o criador de Conan, o Bárbaro, Kull, Solomon Kane e Bran Mak Morn, além de ter escrito inúmeros contos de aventura pulp. Não por acaso, ele é considerado o pai do gênero.

Curiosamente, o gênero tem uma estreita ligação com o Horror Cósmico criado por H.P. Lovecraft. Robert E. Howard, Clark Ashton Smith, Fritz Leiber, nomes que ajudaram a criar o Sword & Sorcery eram amigos e correspondentes de Lovecraft e utilizaram bastante os conceitos do Mythos de Cthulhu em suas estórias. Deuses, monstros e criaturas tipicamente lovecraftianas figuravam como entidades obscuras nos contos Sword and Sorcery, e aos poucos alguns temas fizeram o caminho inverso, visitando narrativas dos Mythos.

Por essa razão, Sword and Sorcery e os Mythos podem ser considerados gêneros que desfrutam de um certo grau de parentesco.

O cenário de Beasts and Barbarians (daqui em diante B&B) se passa em um típico mundo de fantasia, magia e aventura. Nele, os jogadores criam seus personagens inspirados pela tumultuada estória de decadência de uma região conhecida como Dread Domains (Domínios Sinistros). O continente de B&B, assim como a Terra Hiboriana de Conan, é uma enorme massa de terra, com uma colcha de retalhos de Reinos semelhantes a civilizações antigas divididos em povos civilizados e bárbaros. No centro do continente desponta o Império de Ferro de Faberterra, o mais poderoso dos Impérios que conquistou e se espalhou pelo mundo conhecido e que agora se encontra em franca decadência com invasões de povos bárbaros, pilhagens e corrupção corroendo suas instituições. É questão de tempo até o Império ruir por completo e o que surgirá de suas cinzas, ninguém pode prever.  

O cenário que narrei para B&B foi inspirado em uma aventura de Conan, o Bárbaro, escrita por Howard, tendo como título "O Mausoléu dos Famintos". Nela, um grupo de audazes aventureiros em viagem pela perigosa Cordilheira de Ferro aceita a oferta de um misterioso nobre. Através de um antigo manuscrito, ele tomou conhecimento da localização de um mausoléu encravado na montanha que serviu de repouso para um poderoso monarca. Seduzidos pela promessa de ouro e riquezas inestimáveis, os aventureiros aceitam explorar o lugar, descobrindo coisas muito mais sinistras habitando seus corredores amaldiçoados.

Aqui estão algumas fotos do encontro e do material de jogo: 


Uma das coisas mais bacanas no Savage Worlds é que o jogo é fácil: de jogar, de narrar e de ensinar... não tem muito segredo, o jogo flui muito facilmente e memso quem nunca jogou pega rapidamente as manhas. 


O grupo que deu vida aos aventureiros. Um típico Bárbaro da Fronteira Selvagem, um Nobre herdeiro do Império de Ferro, uma perigosa Amazona da Ilha de Ascaia e um Monge guerreiro do distante reino oriental de Lhoban.  


Um daqueles momentos de interpretação quando uma aberração morta-viva sem a cabeça emerge das sombras e avança sobre o grupo com garras afiadas, enquanto sua cabeça decepada fincada na ponta de uma lança grita enlouquecida... Sword and Sorcery, como não amar isso? 



Antes de começar a sessão uma breve história dos Dread Domains, de seus reinos, povos e tradições... muito mais do que um reino de pancadaria, morte e destruição, os Reinos possuem uma cronologia bem definida com mais de 3000 anos desde os antigos impérios, passando por um apocalipse (na forma de um meteoro) até chegar aos últimos anos de Faberterra.



Uma vez que Savage Worlds é um sistema em que o posicionamento dos personagens é importante, fiz algumas miniaturas de papel para facilitar. Mas só os heróis ganharam tokens coloridos...


O Baralho de Iniciativa de Savage Worlds sempre é uma atração... muito bom esse sistema de iniciativa baseado em cartas. Por sinal, nessa mesa rolou Coringa toda hora.


Apesar do livro básico de B&B trazer um mapa do Continente dos Dread Domains, eu achei ele meio pequeno e francamente sem graça. Os lugares assinalados são tão pequenos e a escala parece tão reduzida que um reino fica literalmente acavalado no outro. Preferi então usar um pouco de licença poética e criar o meu próprio mapa.


Deu um pouco de trabalho, mas no fim ficou do jeito que eu queria. Para fazer o mapa usei uma folha de papel pardo normal, tracei o desenho do continente, espalhei os reinos aqui e ali, dando uma distância maior entre eles e depois pintei com pilot e giz de cera.


Tudo bem, dava para ter ampliado o mapa original em alguma gráfica, mas não teria a mesma graça... não é de hoje que eu adoro fazer os mapas das minhas ambientações, devo ter um monte desses mapas guardados de 7th Sea, Ravenloft, Five Rings e outros tantos...


Ah sim, a sessão foi legal para que eu pudesse estreiar esse Battle Mat. Embora ultimamente eu tenha usado bem pouco grids de combate tático. O melhor desse grid é poder escrever em cima, fazer apontamentos e detalhar com diferentes cores o que está acontecendo. Isso sem dúvida cria uma dimensão extra no jogo e o torna mais envolvente.


E no fim, os heróis conseguiram escapar do terrível Mausoléu dos Famintos abrindo caminho à golpes de espada e machado...

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Visitante Sombrio - Minha experiência com Paralisia do Sono


Confesso que não conhecia nada a respeito de Paralisia do Sono.

Não sabia o que era e nem os sintomas ligados a essa desordem do sono. Para falar a verdade, eu comecei a ler o artigo a respeito imaginando que a coisa era meio que papo furado, lenda urbana, uma "estória de terror" para se contar na internet. Ledo engano! Aparentemente o distúrbio ocorre muito mais frequentemente do que se imagina. Além de ser muito pesquisado pela comunidade médica, tendo ganho enorme destaque como tema central de estudos em importantes universidades ao redor do mundo. Fiz uma pesquisa a respeito e descobri alguns fatos curiosos.

Um estudo sério da Unversidade de Michigan constatou que mais de 50% dos americanos já tiveram episódios de Paralisia do Sono, que algo entre 30% e 35% dessas mesmas pessoas sofre do distúrbio a cada seis meses. Finalmente, aproximadamente 12% afirmaram que sofrem os efeitos da paralisia ao menos uma vez ao mês.

Stress e inconstância na frequência do sono (como a causada pelo jet lag em viagens) podem agravar o distúrbio que se estabelece em indivíduos com um quadro de ansiedade e desordens sociais. Mas até a alimentação pode ser um fator determinante. Alguns cientistas acreditam que a paralisia do sono possa ter algum componente genético transmitindo hereditariamente.

Enquanto escrevia o texto e pesquisava a respeito dele comecei a perceber algumas coisas... alguns padrões que fizeram com que eu dissesse "espera aí, isso aqui é muito familiar".

Lá pela metade do artigo, quando o texto já estava tomando forma, percebi que as descrições de casos de Paralisia do Sono se encaixava perfeitamente em situações que eu experimentei em pelo menos duas ocasiões quando era criança.

É curioso como são as coisas... eu até hoje me recordo desses dois casos, mas apenas quando comecei a escrever o artigo é que vieram à tona alguns detalhes que aparentemente estavam perdidos em algum canto da minha memória e que foram trazidos de volta repentinamente esses dias quando estava me preparando para ir dormir.

Antes que alguém pergunte: NÃO eu não tive um novo episódio de Paralisia do Sono influenciado pelo conteúdo do artigo anterior. Não acho que eu seja tão sugestionável... O que aconteceu foi que por intermédio do artigo, acabei me recordando de detalhes de algo que aconteceu muitos anos atrás e que se assemelha a Paralisia do Sono.

Sinceramente, não tenho como afirmar com certeza absoluta se foi um episódio legítimo ou apenas um pesadelo. Eu não tenho o know how médico-psicológico para dizer, mas os detalhes se encaixam perfeitamente no que experimentei. Mas que é parecido, é.

Surpreso por me tornar personagem de algo sobre o que escrevi no Mundo Tentacular - uma circunstância não inteiramente confortável, tendo em vista o que se publica por aqui, ponderei um bocado sobre a validade de contar sobre o episódio. O pessoal vai achar que estou inventando, mas que se dane. Esse é um Blog de Horror, e não é todo o dia que posso falar de algo que realmente aconteceu, ou que eu imagino ter acontecido, pois lá estava eu, na qualidade de testemunha (ou seria vítima?).

Outra razão para falar a respeito é que quando publiquei o artigo sobre Paralisia do Sono, muitos leitores comentaram que experimentaram ocorrências semelhantes. Recebi três mensagens privadas de pessoas contando seus casos e jurando que realmente aconteceram. Normalmente eu pensaria que é invenção, mas nessas circunstâncias, quem sabe não estamos todos no mesmo barco?

Não sei quanto a eles, mas eu sei que, o que vou contar aconteceu. Assim sendo, deixe-me falar sobre a figura sombria que eu tive o desprazer de encontrar (imaginar? ver?)

Não sei exatamente quando aconteceu, mas suponho que no primeiro episódio eu tivesse menos de dez anos, pois foi quando eu ainda dividia o quarto com meu irmão quatro anos mais velho.

A primeira coisa que me vem à cabeça é que ainda era noite, pois estava escuro e quieto. Lembro que havia uma fresta na cortina através da qual entrava uma certa luminosidade. O quarto não estava um breu total, acostumando os olhos por tempo suficiente, era possível discernir os móveis e objetos no quarto. Na época, minha família vivia em um apartamento de segundo andar, e a janela dava para os fundos de um prédio vizinho, onde havia uma luz de rua sempre acesa.

Lembro de ter acordado em um sobressalto, possivelmente de um outro pesadelo. Estava tudo muito tranquilo, e me recordo perfeitamente de ter tentado virar para dormir novamente, mas por alguma razão não consegui fazê-lo. Os braços pareciam estar dormentes, pesando uma tonelada. Eu sentia como se estivessem formigando (e esse foi um detalhe que lembrei recentemente!). Apesar de estranho, isso não chegou a me preocupar muito, talvez porque eu estivesse apenas parcialmente consciente.

O que realmente me intrigou foi que eu tentei coçar nariz, mas não conseguia por mais que quisesse. Só então me dei conta de que não conseguia me mover. Braços, pernas, cabeça... nada! Apenas piscava os olhos sem entender o que estava acontecendo, mas não me importava especialmente com aquilo. Até então era apenas estranho.

Foi então que tive aquela sensação esquisita. Me desculpem, mas não tem como explicar decentemente. É algo que apenas quem experimentou isso consegue entender e por mais que se tente explicar (e estou batalhando com o teclado para achar as palavras) não há como descrever. Não é um arrepio ou um tremor involuntário, tampouco é aquela sensação na boca do estômago causada pela ansiedade. Na ausência de qualquer outra palavra que possa exprimir a sensação, é um terror invisível, sem forma, motivo, razão.

Não se compara aos sustos nossos do dia a dia, ou aos medos que sabemos ter e com os quais estamos habituados a lidar... é algo mais profundo. Como uma apreeensão irracional vinda de lugar nenhum. A sensação não começa de repente e vai crescendo (e disso me recordo com exatidão). Você salta da tranquilidade direto para o sentimento de ameaça plena, perigo real e imediato, no qual sabe intuitivamente que alguma coisa está ali com você. Eu não me recordo de ter sentido medo de morrer, não era esse tipo de medo, era como ter medo de "ver" alguma coisa inesperada saltando do escuro. Sabendo que "ver" essa coisa, seria mil vezes pior do que morrer. Apesar de ter consciência disso, eu não conseguia fechar os olhos ou pedir ajuda, embora meu irmão estivesse dormindo ali, poucos metros na cama ao lado.

Uma das coisas que crianças fazem é tentar puxar a coberta sobre a cabeça para se esconder e não ver o que está acontecendo. Mas não tinha como... com braços pesados e o corpo imobilizado tudo o que restava era olhar.

O mais curioso é que eu não vi nada. Nada ao menos que pudesse ser visto mas, nossa, eu podia sentir que alguma coisa estava ali comigo. Acho que eu não preciso explicar como é a sensação de imaginar estar sendo observado, todo mundo já deve ter sentido isso e virado bruscamente, olhando por sobre o ombro esperando encontrar alguém próximo. Foi a mesma coisa, mas multiplicada por mil vezes e com o agravante que eu não podia virar. Não é algo agradável... nem um pouco!

Eu dormi novamente e na manhã seguinte imaginei que aquilo tinha sido só um sonho ruim. É engraçado que mesmo quando criança tentamos racionalizar as coisas e como à luz do dia, tudo de ruim que acontece à noite, perde seu impacto. Mas é claro, quando anoiteceu eu fiquei com temor de que aquilo acontecesse de novo e o inoportuno visitante viesse novamente. 

Mas não... o visitante sumiu, só retornando anos mais tarde e esse segundo caso foi bem mais estranho.

Acho que eu devia ter uns 12 anos e já tinha meu próprio quarto em outra casa. O incidente seguiu mais ou menos o mesmo roteiro do primeiro:

Acordei de madrugada, e descobri que meus braços e pernas estavam paralizados. Havia aquela sensação de formigamento em todo o corpo e por mais que eu tentasse, não conseguia me mover. Tudo o que podia fazer era mover os olhos de um lado para o outro. Eu lembro de fazer uma força enorme para tentar me virar, mas os músculos pareciam travados, como quando a gente se esforça demais fazendo exercícios, passa da conta e fica exausto demais para prosseguir.

Fiquei ali não sei quanto tempo, o formigamento continuava se espalhando e quando eu tentava ordenar que meus braços se movessem senti aquela sensação desagradável de que não estava sozinho. Era idêntica ao primeiro caso, mas dessa vez havia um fator a mais. Eu sentia um frio danado, como se a temperatura do quarto tivesse despencado vertiginosamente. E isso em uma noite quente no Rio de Janeiro. O frio era tanto que eu batia o queixo sem parar. Não sei porque correlacionei o frio com aquela presença mas bastou isso para que o temor aumentasse.

Foi então que vi - ou pelo menos acho que vi, uma figura escura, tão escura que tudo que eu conseguia ver era sua silhueta na penumbra. Parecia estar de costas para a janela, voltado para a cama. Ficou inerte por um bom tempo e apesar de eu não ter percebido olhos ou uma expressão, sabia que ele estava olhando fixamente na minha direção. Era incrivelmente escuro, como uma sombra, mas quando me apeguei a essa esperança ("É só uma sombra... só uma sombra e nada mais!"), ele se moveu bruscamente, se ajoelhando. Eu fechei os olhos e tentei chamar ajuda, mas não havia som possível. Quando abri os olhos ele estava mais perto, parado do lado da cama, imóvel como antes, mas eu só conseguia vê-lo pelo canto do olho, pois o ângulo não permitia mais do que isso .


Eu sabia que ele estava bem próximo, como se estivesse esperando alguma coisa. Parecia indeciso, como se não tivesse certeza se eu estava acordado ou não, se o estava vendo ou não. Me recordo também de ouvir estalos no quarto, não eram passos, mas estalos secos como se alguém estivesse pisando em gravetos que quebravam. Sei que é loucura, mas é do que lembro. A forma escura ficou ali me encarando, não fez nada, não ouvi nenhum murmúrio, palavra ou ruído vindo dele. Não ouvi qualquer coisa além do som dos meus dentes batendo e dos ocasionais estalos que desviavam minha atenção. Não sei quanto tempo durou tudo aquilo, mas no fim, acabei simplesmente dormindo.

Na manhã seguinte eu lembrava de flashes do que havia acontecido, como se tivesse sido um pesadelo. Por algumas noites fiquei esperando aquilo acontecer novamente. Eu evitava passar pela sala da nossa casa à noite, e em mais de uma ocasião tive a impressão de ver alguma coisa parada num canto escuro observando. Mas é claro, não era nada.

Talvez seja a lembrança desse incidente que faz com que eu deteste até hoje chegar em casa de madrugada e acender a luz, imaginando que ao fazê-lo vou flagrar alguma coisa escondida num canto, alguma coisa que vai se dissipar imediatamente, mas que por um breve momento, por um piscar de olhos, eu vou ver claramente.

Felizmente isso nunca aconteceu...

(eu ia terminar com um ... "até agora", mas fala sério, né)

Melhor não provocar quem está quieto.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O Experimento Russo de Privação do Sono

Essa estória começou a circular pela internet em meados de 2010, depois sumiu por algum tempo, tendo retornado esse ano.

Acredito que muitos já tenham lido a respeito dela em outros lugares, mas como era uma estória estranha, bizarra mesmo e se encaixa bem no tema "Sono", resolvi trazê-la de volta, sobretudo porque ela ainda não havia figurado aqui no Mundo Tentacular.

Então, sem mais, eis aqui:

O EXPERIMENTO RUSSO DO SONO

Pesquisadores Russos, no fim dos anos 40, deixaram cinco pessoas acordadas por quinze dias, usando para isso um gás experimental estimulante. Eles foram mantidos em um ambiente selado, e monitorando o oxigênio deles, para que o gás não os matasse, já que possuía altos níveis de toxina concentrada. Para observá-los, havia um circuito interno de câmeras com microfones de cinco polegadas e pequenas janelas de vigia dentro do ambiente. O compartimento estava cheia de livros e cobertores, mas sem colchões, água corrente e banheiro; também havia ração desidratada para todos os cinco, suficiente para um mês.

As cobaias do teste eram prisioneiros políticos declarados inimigos do Estado durante a Segunda Guerra Mundial.

Tudo estava bem nos primeiros cinco dias, as cobaias dificilmente reclamavam, já que haviam sido avisados (falsamente) de que seriam libertadas se participassem do teste e não dormissem por 30 dias. Suas conversas e atividades eram monitoradas, e foi notado que elas conversavam constantemente sobre incidentes traumáticos no passado, sendo que o tom geral da conversa tomou um tom sombrio a partir do quarto dia.

Depois de cinco dias, as cobaias começaram a reclamar das circunstâncias e eventos que os trouxeram à atual e começaram a demonstrar paranóia severa. Elas pararam de falar umas com as outras e começaram a sussurar alternadamente nos microfones e a bater nas janelas. Estranhamente eles pensavam que poderiam conseguir a confiança dos cientistas ao se tornarem colegas, e tentavam conquistá-los. No começo, os pesquisadores suspeitaram que se tratava de algum efeito secundário do gás...

Depois de nove dias, um deles começou a gritar. Corria por toda a extensão da câmara gritando a plenos pulmões por três horas seguidas. Ele continuou a gritar, mas depois de algum tempo só conseguia produzir grunhidos. Os pesquisadores acreditaram que ele conseguira fisicamente romper as próprias cordas vocais. O mais surpreendente nesse comportamento foi como os outros reagiram a ele... ou melhor, não reagiram. Eles continuaram a sussurrar nos microfones até que finalmente outro prisioneiro começou a gritar. Os que não gritavam pegaram os livros disponíveis, arrancando página atrás de página e começaram a colá-las sobre o vidro das vigias usando as próprias fezes. Os gritos logo pararam.

Mais três dias se passaram. Os pesquisadores checavam os microfones de hora em hora para ter certeza de que funcionavam, já que pensavam ser impossível que cinco pessoas, naquelas condições não poderiam estar em total silêncio. O consumo de oxigênio indicava que pessoas ainda estavam vivas. Na verdade, acontecera um aumento no índice de oxigênio, indicando um nível condizente ao consumo após exercícios pesados. Na manhã do décimo quarto dia, os pesquisadores usaram um interfone dentro da câmara, esperando alguma reação dos prisioneiros, que não estavam dando sinais de vida. Os cientistas acreditavam que eles estavam mortos ou vegetando.

Estamos abrindo a câmara para testar os microfones, fiquem longe da porta e deitem no chão ou atiraremos. A colaboração dará a um de vocês liberdade imediata.” explicou um dos cientistas.

Para a surpresa de todos, alguém respondeu calmamente em uma única frase: “Não queremos mais sair.”

Discussões se iniciaram entre os pesquisadores e as forças militares que idealizaram a experiência. Não obtendo mais resposta alguma através do interfone, foi finalmente decidido abrir a porta à meia-noite do décimo quinto dia.

O gás estimulante foi retirado da câmara e substituído por ar fresco, imediatamente vozes vindas dos microfones começaram a reclamar. Três vozes diferentes imploravam pela volta do gás, como se pedissem para que poupassem a vida de alguém que amassem. A câmara foi aberta e soldados entraram para retirar as cobaias. Elas começaram a gritar mais alto do que nunca, e o mesmo fizeram os soldados quando viram o que tinha dentro. Quatro das cinco cobaias estavam vivas, embora ninguém pudesse descrever o estado deles como “vivos”.

As rações a partir do quinto dia não haviam sido tocadas. Havia pedaços de carne vindas do peito e das pernas tapando o ralo no centro da câmara, bloqueando-o e deixando 4 polegadas de água acumulando no chão. Nunca determinou-se o quanto dessa água era na verdade sangue.

Os quatro “sobreviventes” do teste também tinham grandes porções de músculo e pele extraídos de seus corpos. A destruição da carne e ossos expostos na ponta de seus dedos indicava que as feridas foram feitas à mão, e não por dentes como se pensava inicialmente. Um exame mais delicado na posição das feridas indicou que alguns, senão todos, ferimentos foram auto-induzidos.

Os órgãos abdominais abaixo da costela das quatro cobaias haviam sido removidos. Enquanto o coração, pulmões e diafrágma estavam no lugar, a pele e a maioria dos órgãos ligados à costela haviam sido extirpados, expondo os pulmões através delas. Todos os vasos sanguíneos e órgãos remanescentes permaneceram intactos, eles só haviam sido retirados e colocados no chão, rodeando os corpos eviscerados, mas ainda vivos das cobaias. Podia-se ver o trato digestivo dos quatro trabalhando, digerindo comida. Logo ficou aparente que o que estava sendo digerido era a própria carne que eles haviam arrancado e comido durante os dias.

A maioria dos soldados ali presentes eram membros das operações especiais russas, mas muitos se recusaram a voltar à câmara e remover as cobaias. Elas continuaram a gritar para serem deixadas ali e também pediam para que o gás voltasse.

Para a surpresa de todos, as cobaias ainda lutaram durante o processo de serem removidas da câmara. Um dos soldados russos morreu ao ter sua gargante cortada, e outro foi gravemente ferido ao ter seus testículos arrancados e uma artéria da sua perna atingida pelos dentes de uma das cobaias. Outros cinco soldados perderam suas vidas, se você contar que se suicidaram semanas após o incidente.

Durante a luta, um dos quatro sobreviventes teve seu baço rompido, e ele começou a perder muito sangue. Os pesquisadores médicos tentaram sedá-lo mas foi impossível. Ele havia sido injetado com mais de dez vezes a dose normal de morfina para humanos e ainda lutava como um animal, quebrando as costelas e o braço de um médico. Houve um ponto em que seu coração bateu forte por dois minutos, após ele ter sangrado tanto a ponto de ter mais ar em seu sistema vascular do que sangue. Mesmo depois do coração ter parado, ele ainda continuava a gritar e a lutar por três minutos, gritando a palavra “MAIS” sem parar até ficar fraco e finalmente calar-se.

O terceiro sobrevivente estava muito contido e foi levado para um consultório, os outros dois com as cordas vocais intactas continuavam a implorar pelo gás para serem mantidos acordados...

O mais ferido dos três foi levado para a única sala cirúrgica que havia. Durante o processo de preparar a cobaia para receber seus órgãos de volta, foi descoberto que ela era totalmente imune ao sedativo que estavam dando a ele. O homem lutou furiosamente contra as amarras que o prendiam à cama quando trouxeram gás anestésico para sedá-lo. Ele conseguiu rasgar mais de 4 polegadas de couro das amarras de um dos pulsos, mesmo com um soldado de 90 quilos segurando o mesmo pulso. Levou mais do que o necessário de anastésico para sedá-lo, e na mesma hora em que suas pálpebras se fecharam, seu coração parou. Na autópsia foi reveleado que seu sangue possuía o triplo do normal de oxigênio. Os músculos que estavam presos aos seus ossos estavam destruídos, e ele havia fraturado nove ossos na luta para não ser sedado. A maioria pela força que seus próprios músculos haviam exercido.

O segundo sobrevivente era o primeiro que começara a gritar. Suas cordas vocais estavam destruídas, e ele não era capaz de gritar e implorar para não passar por cirurgia, e a única forma de reação que ele exibia era sacudir sua cabeça violentamente em desaprovação quando o gás anestésico foi trazido. Ele balançou sua cabeça positivamente quando alguém sugeriu, relutantemente, se os médicos aceitavam fazer a cirurgia sem a anestesia. O sobrevivente não reagiu durante as seis horas de procedimentos para repor seus órgãos e tentar cobrí-los com o que restou de pele. O cirurgião de plantão repetia várias vezes que não era medicamente possível o paciente estar vivo. Uma enfermeira aterrorizada que assistiu à cirurgia constatou que vira a boca do paciente virar um sorriso toda vez que seus olhos se encontraram.


Quando a cirurgia acabou, o paciente olhou para o cirurgião e começou a grunhir alto, tentando falar enquanto lutava. Acreditando ser algo de extrema importância, o médico pegou uma caneta e papel para que o sobrevivente escrevesse sua mensagem, “Continue cortando.”

Os outros dois sobreviventes passaram pela mesma cirurgia, os dois sem anestésico. Mas ambos tiverem um paralisante injetado durante a operação, pois o cirurgião achou impossível continuar o procedimento enquanto os pacientes riam histericamente. Uma vez paralisados, as cobaias só podiam acompanhar o procedimento com os olhos, mas logo o efeito do paralisante passou e em questão de segundos eles começaram a lutar contra suas amarras. Quando perceberam que podiam falar novamente, começaram a pedir pelo gás estimulante. Os pesquisadores tentaram perguntar por que eles haviam se ferido, por que haviam arrancado as próprias entranhas, e por que queriam tanto o gás.

Uma única resposta foi dada: “Eu preciso ficar acordado.

Todas as três cobaias sobreviventes foram colocadas de volta na câmara, enquando esperavam alguma resposta para o que seria feito com elas. Os pesquisadores, encarando a ira dos “benfeitores” militares, por terem falhado em seus objetivos, consideraram eutanásia aos pacientes. O comandante do processo, um ex-KGB, viu algumas possibilidades, e quis que as cobaias fossem colocadas novamente sob o gás estimulante. Os pesquisadores se recusaram fortemente, mas não tiveram escolha.

Em preparação para serem seladas novamente na câmara, as cobaias foram conectadas a um monitor EEG, e tiveram suas extremidades acolchoadas em troca do confinamento. Para a surpresa de todos, todos os três pararam de lutar assim que souberam que seriam colocados de volta ao gás.
Era óbvio que até aquele ponto, os três estavam lutando para ficarem acordados. Um dos sobreviventes que podia falar estava cantarolando alto e continuosamente; a cobaia calada estava tentando soltar suas pernas das amarras com toda a sua força; primeiro a esquerda, depois a direita, depois a esquerda novamente, como se quisesse se focar em algo.

A cobaia restante estava mantendo sua cabeça longe de seu travesseiro e piscando rapidamente. Como fora o primeiro a ser conectado ao EEG, a maioria dos pesquisadores estava monitorando suas ondas cerebrais. Elas estavam normais na maioria das vezes, mas às vezes se tornavam uma linha reta, sem explicação. Era como se ele estivesse sofrendo mortes cerebrais constantes. Enquanto se focavam no papel que o monitor soltava, apenas uma enfermeira viu os olhos do paciente se fecharem assim que sua cabeça atingiu o travesseiro. Suas ondas cerebrais mudaram para aquelas de sono profundo e então tornaram-se uma linha reta pela última vez enquanto seu coração parava na mesma hora.

A única cobaia que podia falar começou a gritar. Suas ondas cerebrais mostravam as mesmas linhas retas que o paciente que acabara de morrer. O comandante deu a ordem para ser selado dentro da câmara com as duas cobaias e mais três pesquisadores. Assim que entraram na câmara, um dos pesquisadores pegou sua arma e atirou entre os olhos do comandante, depois voltou para a cobaia muda e também atirou em sua cabeça.


Ele apontou sua arma para o paciente restante, ainda preso à cama enquanto os outros pesquisadores saíam da sala. “Eu não quero ficar preso aqui com essas coisas! Não com você!” ele gritou para o homem amarrado “O que é você?” ele ordenou “Eu preciso saber!

Você se esqueceu?” O paciente perguntou “Nós somos você. Nós somos a loucura que vaga em todos vocês, implorando para sermos soltos toda vez dentro de sua mente animal. Nós somos aquilo de que vocês se escondem em suas camas toda noite. Nós somos aquilo que vocês sedaram no silêncio e paralisam quando vocês atingem o paraíso noturno do qual não podem sair.

O pesquisador ficou quieto. E então mirou no coração do paciente e atirou.

O EEG tornou-se uma linha reta enquanto o paciente gaguejava “tão...perto...livre...

*     *     *

Essa creepypasta supostamente faz parte de um livro publicado em 1998, em russo, após as aberturas dos arquivos da KGB em 1995. O livro descrevia vários arquivos relacionado as operações secretas realizadas na época da antiga União Soviética. Logicamente, por se tratar de uma lenda urbana, nada disso pode ser confirmado, muito menos podemos dizer até que ponto essa narrativa é verdadeira ou se há algo de real nela. Em alguns fóruns a autoria do texto é atribuída a rodrigo31, colaborador de um site de fanfictions

Todavia, outros afirmam que a data de entrada da história em alguns fóruns é anterior a data de entrada da história no site de fanfiction, o que leva ao prolongamento da discussão sobre a autoria e veracidade da obra.

O recorde registrado no Guiness Book para o maior tempo possível de privação de sono registrado é de 11 dias. Após este recorde ter sido registrado o Guiness retirou qualquer registro para não estimular outras pessoas a tentar algo semelhante. Segundo a maioria dos médicos, qualquer período de privação acima de cinco dias pode representar um perigo para a saúde.

Agora quanto a estória...

Existem teorias a respeito da relação sono-espiritualidade... algumas religiões atestam que a humanidade possui uma espécie de "centelha divina". Um tipo de pré-disposição que permitiria ascender espiritualmente rumo a uma condição de existência superior. Algumas tradições sustentam que através da privação completa dos sentidos é possível acessar esse estado superior, divino. Essa estória parece se basear nessas teorias.

As cobaias privadas artificialmente de seu sono teriam de alguma maneira se aproximado após quinze dias de privação do sono, desse estágio e por essa razão desejavam continuar e transcender... ao menos é a interpretação que tenho dessa estória bizarra.

Experiências curiosas envolvendo Privação de Sentidos (não apenas do sono) foram realmente realizadas ao redor do mundo... raramente se sabe o que os cientistas por trás dessas experiências desejavam atingir.

Talvez seja melhor não saber...