A pouco mais de trinta milhas ao norte de Dover, um percurso de 40 minutos de carro, encontra-se a cidade costeira de Margate. Localizada no distrito de Kent, ela tem hoje cerca de 57,000 habitantes e uma orgulhosa tradição marítima. Desde 1760 Margate é um dos destinos de férias prediletos para muitos moradores de Londres, ávidos por desfrutar de suas praias e mar.
No curso da história, houve violentos incêndios que destruíram prédios e construções antigas, sendo que a última grande destruição ocorreu com bombardeios nazistas em 1941. Desde metade do século passado a indústria pesqueira perdeu bastante espaço para concorrentes e a cidade entrou em decadência. Embora o lugar faça o possível para parecer uma colônia de férias, é difícil afastar a aura que pesa sobre ela, a de uma típica cidade litorânea que já teve mais importância. Na rua principal, à beira mar, é possível encontrar hotéis, lojas e restaurantes. Próximo do porto o visitante encontra uma estátua de bronze da Dama do Mar - uma figura típica da região, vista em vários souvenir vendidos em todos os cantos e que remete a uma sereia adornada com conchas, pérolas e contas coloridas. No passado ela era considerada uma figura assustadora, como uma bruxa maligna que arrastava os marinheiros para as profundezas, nas últimas décadas ela se transformou numa figura amistosa, como uma ninfa marinha.
No curso da história, houve violentos incêndios que destruíram prédios e construções antigas, sendo que a última grande destruição ocorreu com bombardeios nazistas em 1941. Desde metade do século passado a indústria pesqueira perdeu bastante espaço para concorrentes e a cidade entrou em decadência. Embora o lugar faça o possível para parecer uma colônia de férias, é difícil afastar a aura que pesa sobre ela, a de uma típica cidade litorânea que já teve mais importância. Na rua principal, à beira mar, é possível encontrar hotéis, lojas e restaurantes. Próximo do porto o visitante encontra uma estátua de bronze da Dama do Mar - uma figura típica da região, vista em vários souvenir vendidos em todos os cantos e que remete a uma sereia adornada com conchas, pérolas e contas coloridas. No passado ela era considerada uma figura assustadora, como uma bruxa maligna que arrastava os marinheiros para as profundezas, nas últimas décadas ela se transformou numa figura amistosa, como uma ninfa marinha.
Contudo, Margate é famosa por outra coisa.
O que torna Margate especial é a presença de um misterioso sistema de cavernas e grutas que se estende ao longo de toda região. As grutas estão em toda parte, mesmo embaixo das casas, jardins e ruas da cidade, algumas podendo ser acessadas a poucos metros da superfície.
A palavra gruta, vem do italiano "grotto", em Latim pode ser traduzida como cripta. Cavernas ou grutas podem se formar naturalmente ou de forma artificial. Em formações naturais, o calcário é lentamente dissolvido por depósitos de água rica em carbono. O processo é extremamente lento, mas ao longo de séculos as rochas começam a ficar porosas e em seguida cedem, permitindo o surgimento de corredores, câmaras e recessos cheios de estalactites e estalagmites.
Cavernas sempre tiveram um papel importante na história humana. Elas foram usadas como proteção, moradia e como lugar de honra, fosse para sepultar os mortos ou para venerar os espíritos da terra. Em Lascaux (na França) artistas pré-históricos cobriram as paredes de uma caverna com algumas das representações rústicas mais belas e antigas conhecidas pelo homem. Nos tempos do Império Romano, as grutas também cumpriam um papel fundamental. O famoso Oráculo de Delphos vivia em uma gruta considerada sagrada. O maior e mais antigo cemitério de Roma se localizava em uma caverna natural. Na Odisséia de Homero, uma gruta permite que Odisseu derrote o monstruoso ciclope Polyphemus. Platão usava as grutas como uma alegoria para representar a diferença entre a ausência de conhecimento (aqueles que vivem na escuridão) e a obtenção do saber (aqueles que resolveram sair e ganhar a iluminação). Mesmo hoje, existem grutas onde as pessoas se reúnem para veneração. Por exemplo, as cavernas de Massabielle na cidade de Lurdes onde a Virgem Maria apareceu em um milagre em 1858.
Após o século XVI e dali em diante, as pessoas começaram a construir grutas artificiais em jardins na Itália e França. Decoradas com fontes, cachoeiras, estátuas de ninfas, pedras preciosas e conchas coloridas elas eram usadas como piscinas, capelas e teatros. Sabe-se que existe algo entre 20 e 30 grutas desse tipo na Inglaterra. Entretanto, é surpreendente que em Margate, exista uma das maiores e mais enigmáticas que se conhece.
Mas o que faz dessa gruta um lugar estranho, vocês podem estar se perguntando.
Em 1835, o diretor de uma escola local, o Sr. James Newlove desejava construir um lago artificial em seu jardim de campo. Enquanto escavava, sua pá desapareceu em uma abertura de baixo de uma placa de pedra. Removendo essa placa ele encontrou o que parecia ser a entrada para uma caverna muito profunda que estava imersa nas trevas. Ele amarrou seu filho Joshua em uma corda e o desceu pela abertura com um lampião. Depois de verificar o interior da caverna, o garoto foi puxado de volta e retornou falando de estranhas decorações nas paredes e de coisas que ele sequer conseguia descrever. "É como um outro mundo" disse o menino.
Várias pessoas desceram e tiveram a mesma impressão: estavam diante de algo inexplicável. Para facilitar o acesso para a caverna uma rampa horizontal foi escavada e aberta ao público. Os corredores foram iluminados com lampiões à gás que concediam uma aura sobrenatural ao interior.
O que torna a gruta de Margate um mistério incomum é que não se sabe praticamente nada a respeito de sua origem. Não se sabe, por exemplo quem o construiu, quando e para qual propósito. Tudo indica que o lugar tenha sido erguido como uma espécie de Templo, mas não há qualquer pista de quais divindades eram veneradas naquelas câmaras profundas alagadas de acordo com a variação da maré. O trabalho de construir e ornamentar toda a caverna deve ter sido monumental, consumindo anos e indicando que um número considerável de pessoas esteve envolvida na tarefa.
Pesquisadores calculam que mais de 4,6 milhões de conchas ornamentam as paredes, espalhadas ao longo de um paredão de 21 metros que se ergue como um mosaico até a superfície. As conchas de todos os tamanhos foram dispostas uma ao lado da outra em padrões simétricos diferentes: estrelas, espirais, triângulos, círculos... as imagens formadas com as conchas são alinhadas e lembram os padrões utilizados em igrejas ou catedrais medievais, exceto pelo fato de que são muitíssimo mais antigas.
Na câmara maior, onde Newlove encontrou a entrada para a gruta, existe um enorme bloco de pedra ornamentado com conchas que lembra um altar rudimentar. Diante dele, uma espécie de piscina ou túnel alagado ligava o centro da câmara a túneis inundados. Em 1850, essa piscina foi lacrada com pedras por motivo de segurança. O propósito desse acesso para o mar só pode ser especulado, mas tudo indica que a água tivesse uma importância vital nos rituais ali realizados.
Os corredores terminam em portas no formato de arcadas e são exatamente do mesmo tamanho. Esses corredores ligam quatro câmaras distintas, três delas aparentemente naturais e a quarta escavada artificialmente. Os desenhos no interior das câmaras parecem reminiscentes de padrões orientais. Com um pouco de imaginação, é possível enxergar tartarugas, pássaros, flores, luas e árvores em alguns desenhos. Não há, contudo, nenhum símbolo que remete a cristandade, nem mesmo o peixe que era um símbolo associado aos primeiros cristãos.
Oitenta por cento das conchas nas paredes são típicas da costa britânica, as outras parecem ter vindo de longe - algumas são típicas da Costa da França e Irlanda e foram colocadas em lugares de destaque como para evidenciar o fato delas terem sido trazidas de regiões distantes. Estudiosos afirmam que na câmara maior existem conchas cor de rosa que são típicas do Caribe e outras que só podem ser encontradas no litoral de Cuba. O fato seria apenas curioso se muitos não tivessem atribuído a construção da gruta a homens pré-históricos ou a pescadores anteriores ao período de ocupação romana nas Ilhas Britânicas, ou seja muitos séculos antes dos primeiros navegadores chegarem a América.
Outra possibilidade, levantada por pesquisadores é que a caverna tenha sido construída por Fenícios. Esse povo que habitava as regiões que hoje conhecemos como Síria e Líbano tiveram seu apogeu entre 1500 e 400 antes de Cristo. Sabemos que os Fenícios eram excelentes navegadores e responsáveis pela criação de um alfabeto complexo. Entretanto, a cidade de Margate se localiza no ponto mais distante de Kent uma região que na época dos Fenícios dificilmente poderia ser atingida através da costa. Além disso, nenhum dos padrões remete a divindades cultuadas por esse povo.
A verdade é que até hoje foi impossível precisar a idade das conchas que não são passíveis de análise por radiocarbono. É bem provável que na ausência de pistas adicionais, jamais venhamos a saber quando a Caverna de Conchas de Margate foi construída.
Outro tema polêmico diz respeito a utilização da gruta como Templo Pagão. Os desenhos permitem uma ampla especulação a respeito de sua origem, podendo ser Fenícios, Romanos, Egípcios, Cópticos e até Templários dependendo a quem se pergunta.
O fato da Caverna ter servido como Templo religioso, no entanto, parece óbvio.
No final do corredor, na câmara principal existe um altar que tudo indica, era o ponto central da construção e onde a congregação devia se reunir para assistir as celebrações. No chão, ao redor do altar há indícios de que o piso foi gasto, formando um padrão de círculos concêntricos o que é condizente com várias religiões do mundo antigo, onde andar ao redor de um altar, fazia parte do rito. Apenas para citar alguns exemplos, os Dervishes dançavam em círculos concêntricos para se aproximar de Deus. Na Bíblia, o povo de Jericó precisou dar sete voltas em torno da cidade para causar a destruição de suas muralhas. Muçulmanos dão sete voltas em torno da Kaaba de Meca durante o Hajj para se elevar espiritualmente. Seriam as marcas no chão uma indicação de que as pessoas que usavam a gruta tentavam contatar um poder superior?
Se esse é o caso, quais Deuses teriam sido venerados naquela Caverna próxima do Litoral?
Muitos acreditam que Deuses e Espíritos Marinhos seriam as divindades mais prováveis de receber a atenção daquela congregação formada por homens do mar. Grupos de pescadores primitivos poderiam se reunir na gruta afim de pedir proteção ou o favor dos deuses para que eles proporcionassem uma pesca abundante. Comunidades pesqueiras desse tipo eram comuns em muitas regiões da Europa, mas em nenhuma se viu tamanho grau de devoção.
Outro elemento importante é a piscina que leva a um túnel alagado que também sugere ser o mar um elemento importante dos rituais ali conduzidos. Especialistas não afastam a possibilidade de que esse túnel fosse utilizado para rituais de sacrifício, no qual vítimas poderiam ser lançadas no túnel para morrerem afogadas, cumprindo assim o papel de oferendas para divindades marinhas.