E já que estamos falando esse mês inteiro de Abismos e Mares profundos que tal encarar algumas criaturas e entidades dos Mythos que habitam os recessos submarinos.
Essa é uma reedição de um artigo postado originalmente em 2010, com um adendo de mais três criaturas.
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O Universo imaginado por H.P. Lovecraft é rico em seres medonhos que habitam os mares revoltos e escuros.
Quando falamos das criaturas dos Mythos que vivem no mar, imediatamente nos vem a mente os Deep Ones, Dagon e o próprio Cthulhu.
Mas há outros horrores menos conhecidos criados pelo círculo de escritores que expandiu as criações de Lovecraft e apresentaram toda uma hoste de monstros habitando as profundezas abissais.
Aqui estão alguns deles.
Habitante das Profundezas (Raça Independente Serviçal)
Baseado no conto "The Horror from the Bridge" por Ransey Campbell
"A coisa era abominável, com mais de dois metros de altura se equilibradando em nadadeiras ventrais que permitiam a ela ficar de pé. Seu corpo sinuoso e coberto de escamas gotejava uma espécie de óleo de odor nauseante. Tinha vários tentáculos que serpenteavam no ar chicoteando e agarrando à esmo. Sua cabeça era estreita dotada de guelras e protuberâncias ósseas que formavam uma espécie de coroa no topo. Seus olhos eram grandes e a boca rasgada de lado a lado tinha enormes dentes, finos e pontiagudos".
Habitantes das Profundezas são uma raça de criaturas anfíbias que servem aos Grandes Antigos, particularmente aqueles associados a água: Cthulhu, Dagon, Hydra, Ythogtha e Zoth-Ommog. Essa raça possivelmente foi criada pela magia ou ciência dos Abissais e em algumas ocasiões são vistos na companhia da raça de homens peixe, vivendo nas suas cidades submarinas ou pequenos vilarejos costeiros com populações de híbridos.
Eles habitam formações rochosas, fossas e cavernas subaquáticas no fundo do oceano. Em seu habitat conseguem suportar a esmagadora pressão das profundezas. Na superfície eles não ficam tão à vontade, mas são capazes de sobreviver por várias horas.
Magias e rituais antigos permitem que essas criaturas sejam invocadas para espalhar o caos e a destruição. Comunidades pesqueiras formadas por híbridos de Deep Ones por vezes conhecem o método de invocação dessas criaturas. Elas são chamadas para enfrentar inimigos e trazer-lhes a destruição.
A carne dos habitantes das profundezas é imune a maioria dos ferimentos físicos, mas quando um deles é morto, o corpo se decompõe rapidamente deixando apenas um fedor nauseante de peixe.... o único sinal de sua existência.
Crias do Abismo Verde (Raça Independente)
Baseado no conto "The Spawn of the Green Abyss" por C. Hall Thompson
"Lembrava uma enorme lesma ou um caracol com uma carapaça grossa e coreácea de cor limosa cobrindo sua forma repulsiva. A concha era resistente e dura, protegendo a parte interna bem mais frágil. Do corpo pálido e inchado brotavam pequenos tentáculos que podiam se estender quando necessário para agarrar e manipular. A criatura os usava para capturar suas presas e carregá-las para a pequena boca circular semelhante a um tubo recoberta de pequenos e afiados dentes".
Essas criaturas habitam os mares de um outro mundo conhecido apenas como Abismo Verde formada por intermináveis oceanos de cor esmeralda e céus cinzentos cobertos de tempestades elétricas. Eles conhecem magias que lhes permitem abrir portais e viajar até os mares da Terra.
Eles vivem em uma sociedade sub-aquática altamente evoluída e inteligente, são servos devotados de Zoth-Syra, a mãe de toda a raça.
Os habitantes do Abismo Verde são carnívoros que atravessam enormes distâncias utilizando portais para se alimentar em nossos mares. São predadores vorazes que atacam cardumes inteiros sem distinguir outros predadores como tubarões e baleias. Eles preferem se manter em águas profundas, mas ocasionalmente podem ser atraídos à superfície em busca de alimento. Embora seres humanos não sejam uma presa comum, embarcações podem ter o azar de cruzar com uma dessas criaturas.
Crias do Abismo Verde são capazes de produzir estranhos sons, semelhantes ao canto de baleias que ocasionam um efeito hipnótico. Indivíduos sob a influencia dessas criaturas tendem a obedecer suas ordens. É possível que estórias sobre navios fantasma em perfeito estado com tripulações desaparecidas em alto mar, tenham ligação com o ataque dessas criaturas.
Em raras ocasiões embarcações e tripulações inteiras podem ser deslocadas através dos portais dimensionais que ligam a Terra ao Abismo Verde. Indivíduos nessa situação raramente conseguem retornar ao seu ponto de origem.
Hydra (Grande Antigo)
Baseado no conto "Hydra" por Henry Kuttner
"Parecia meramente um interminável Mar de Sargasso de uma coloração verde doentia. Mas de forma repentina a massa inteira se moveu como uma coisa viva, crescendo e se erguendo das águas como se fosse um mítico leviatã. A coisa não tinha apenas um par de olhos, tinha centenas que surgiam e desapareciam reabsorvidos pelo corpo. Não tinha apenas uma boca, mas centenas que se abriam e murmuravam antes de sumir".
Esta Hydra não deve ser confundida com a enorme matriarca dos Abissais que tem o mesmo nome.
Ela é composta de quilômetros de matéria que à primeira vista parece ter origem vegetal, semelhante ao sargasso. Na realidade essa matéria é uma espécie de protoplasma flutuante que forma a massa corporal da entidade. Se necessário, Hydra é capaz de moldar esse protoplasma em outras formas conforme sua necessidade.
Hydra habita uma dimensão alienígena fora do tempo e espaço convencional, mas em determinadas épocas (possivelmente reguladas pelas estrelas) surge fisicamente nos mares da Terra.
Felizmente sua permanência é breve, contudo qualquer embarcação corre grave risco se atravessar a área ocupada pela criatura. Hydra é uma criatura parasítica que absorve a mente de espécies inteligentes, ela é capaz de captar emanações psíquicas. Suas vítimas são então atraídas para fora das embarcações, despertando sobre uma massa de sargaço que se estende a perder de vista e flutua. A Hydra absorve lentamente a memória de suas vítimas até finalmente decapitá-las uma vez que a cabeça é a única parte que interessa à criatura.
Normalmente Hydra só pode ser contatada através de transe profundo ou projeção astral. Um complexo ritual de meditação intitulado "Ritual que separa alma e corpo" permite que um viajante astral inadvertidamente visite a bizarra dimensão desta entidade. Explorar a dimensão de Hydra é uma experiência perigosa e assustadora, o lugar é frio e úmido, imerso em um denso nevoeiro. Quando o nevoeiro cessa, o viajante descobre que está caminhando sobre uma interminável massa de sargasso, que na verdade é o corpo de Hydra. O corpo astral não pode ser ferido, contudo isso abre as portas para que a criatura venha até o viajante e o transporte para sua dimensão quando bem entender.
Ao longo das eras, feiticeiros tentaram fazer acordos com a criatura, mas ela não parece ter o mínimo interesse em cultos ou na adoração de seres inferiores.
Ubb (Criatura Única)
Baseado no conto "Out of Ages" por Lin Carter
"Sua forma se estendia por metros e se perdia no turbilhão submarino a medida que ele nadava velozmente. Seu corpo era musculoso e com grossas escamas cinzentas. O pai de todos os vermes... o imortal Ubb".
Ubb é chamado de o Pai dos Vermes e tem relação direta com a raça dos Yuggs, criaturas marinhas que habitam mares profundos a pelo menos 4000 metros. É possível que Ubb seja uma espécie de progenitor da espécie ou ancião com milhares de anos de idade.
De qualquer forma ele é maior que todos os outros de sua espécie, e age como um servo de Zoth-Ommog, entidade venerada pelos Yuggs. Segundo o mito, o Grande Antigo dorme em sua tumba ancestral próxima a Ilha de Ponape no Pacífico tendo Ubb como seu fiel guardião.
Venerado por tribos ferozes e degeneradas na Polinésia, Ubb tem a forma de uma colossal moréia ou de um verme com mais de 100 metros de comprimento.
Raramente ele é visto na superfície, mas quando é invocado pelos seus cultistas surge à noite para receber sacrifícios depositados em canoas ou na areia das praias. Ponape é o centro do culto praticado por selvagens aborígenes que adoram Ubb pela sua força e fúria. Segundo o mito compartilhado por estas tribos, Ubb vive em uma grande caverna submarina conectada ao túmulo de Zoth-Ommog nas profundezas.
Zoth-Syra (Entidade Única)
Baseado no conto "The Spawn of the Green Abyss" por C. Hall Thompson
"Uma horrenda aberração, maior que todos os outros a ponto de fazê-los parecer meros anões. Zoth Syra é a Mãe de todas as bestas nascidas no Abismo Verde progenitora de uma infinidade de crias famintas".
Zoth-Syra é a mãe de todas as crias do Abismo Verde, uma entidade venerada e respeitada por toda sua espécie que habita os vastos mares do mundo conhecido como Abismo Verde. Segundo alguns teóricos dos Mythos Ancestrais, o Abismo Verde é na verdade um planeta na órbita da Estrela de Xoth, na Constelação de Touro. É possível também que a estrela mais proxima seja Ymar, contudo a localização exata do mundo verde é matéria de debate. O Abismo Verde é um mundo de mares cor esmeralda e de céus plúmbicos cobertos de densas nuvens carregadas de energia elétrica propensas a furiosas tempestades.
Zoth-Syra é tratada como a Deusa única deste mundo, uma entidade colossal que vive sob as águas em profundidades insondáveis. A grandiosa monstruosidade sempre está acompanhada de suas crias que satisfazem prontamente seus menores desejos. Sua função principal é perpetuar a espécie gerando novas crias e para cumprir essa missão ela é fecundada e alimentada pelos seus acólitos continuamente.
O canto de Zoth-Syra é tão alto que pode ser ouvido à quilômetros no Abismo Verde. Assim como suas crias ela exerce um efeito hipnótico na mente de todos que ouvem a cacofonia por ela produzida.
Zoth-Syra é quem ensina às suas crias as magias que permitem abrir portais dimensionais para outros mundos entre os quais a Terra. Ao contrário de suas Crias, a Entidade jamais cruzou um portal para a Terra, mas se um dia tal coisa acontecer sem dúvida trará graves consequências para a vida no planeta. É possível que Zoth-Syra tenha um parentesco com as entidades de Xoth, entre as quais Cthulhu, Zoth-Ommog e Ghatanathoa.
Monstro de Martin's Beach (Raça Menor Independente)
Baseado no conto "The Horror at Martin's Beach" por Sonia Greene e H.P. Lovecraft
"A criatura tinha estranhas deformidades anatômicas como rudimentares membros inferiores e barbatanas semelhantes a pés terminando em seis dedos separados. Ela media cerca de 50 pés da barbatana traseira até a ponta da cabeça. A boca era larga como a de uma baleia capaz de engolir um homem adulto. Ela possuía um único olho central".
Em 1922, a tripulação do barco de pesca Alma, comandado pelo Capitão James Orne avistou em alto mar na costa da Nova Inglaterra uma criatura que julgaram ser uma baleia. Após uma árdua luta, a tripulação teve sucesso em abatê-la. Em seguida a carcaça foi rebocada até Martin's Beach onde diante de estupefatos curiosos descobriram se tratar de um animal desconhecido, semelhante a um cetáceo mas com bizarras irregularidades. Biólogos marinhos foram chamados para inspecionar o animal e estes relataram se tratar de um filhote.
Posteriormente a carcaça foi preservada e apresentada como curiosidade pelo próprio Capitão Orne que cobrava ingresso para aqueles que desejavam vê-la. Após uma temporada pelo interior, o Capitão retornou a Martin's Beach para um festival local. Na ocasião vários banhistas foram atacados por um misterioso animal em mar aberto. Um grupo de resgate chefiado pelo próprio Capitão Orne tentou descobrir o que vinha acontecendo, mas todos acabaram se afogando em uma acidente no mínimo estranho visto que todos eram experientes homens do mar.
Segundo testemunhas um enorme animal semelhante àquele capturado pelo Alma teria sido visto na área e foi o causador da tragédia. Desde então não houve outros avistamentos do Monstro de Martin's Beach, contudo é possível que a criatura e outras de sua espécie ainda habitem a costa da Nova Inglaterra.
Phisious (Raça Menor Independente)
Baseado no conto "The Deep Threat" de William Summer.
"Media pouco mais de um metro e nadava de forma delicada ao largo da escotilha como se estivesse estudando o veículo e examinando a forma. As barbatanas curtas se agitavam como asas, embora fossem pequenas demais para sustentar uma criatura com o corpo tão maciço. Tinha uma forma ovalada, com uma cabeça enorme em destaque, de onde se sobressaia uma boca vertical cheia de dentes curtos e afiados. Ela abria e fechava e os olhos de um azul pálido pareciam incrivelmente inteligentes para um peixe... se é que aquela coisa era realmente um peixe".
Phisious são uma raça de predadores de alta profundidade que habitam as trincheiras oceânicas e abismos insondáveis. Não há um consenso a respeito de sua origem ou natureza, é possível que a raça seja alienígena, uma vez que são totalmente estranhos a natureza das criaturas marinhas encontradas em nosso planeta.
A espécie foi observada apenas uma vez por cientistas trabalhando à bordo da estação experimental Deep Six, estabelecida no Pacífico Sul. O objetivo da missão era estudar os efeitos da longa permanência e exposição humana ao ambiente submarino. O contato com os Phisious se deu acidentalmente quando um submarino encontrou um grupo dessas estranhas criaturas em um ambiente com pressão de 60 mil libras por metro quadrado. Demonstrando uma enorme agressividade, as criaturas atacaram e avariaram o veículo que conseguiu retornar a base seriamente danificado. Posteriormente, uma segunda missão que buscava obter um espécime para estudo também foi atacada resultando na perda de um submarino e de três tripulantes. Depois desse trágico incidente, a estação foi atacada por vários destes seres. A comunicação com a superfície foi cortada e um barco de resgate supostamente destruído pela ação dos Phisious. Ao fim do ataque a estação foi arrasada por uma explosão, acarretando em imenso prejuízo humano e financeiro.
Câmeras de vigilância recuperadas dos destroços anos depois revelaram a natureza do ataque e confirmaram que a estação não foi destruída em um acidente como muitos acreditavam. Analistas que tiveram acesso às filmagens concluíram que as ações dos Phisious sugerem um enorme grau de organização e tática de bando, o que sugere se tratar de criaturas muito inteligentes.
Não houve contatos posteriores com essas criaturas, mas autoridades de estudo submarino desde então buscam compreender a natureza dos Phisious afim de se precaver de outros incidentes. A questão é tratada com enorme seriedade uma vez que qualquer contato pode ter graves consequências.
Khamir Suma-Khuri (Grande Antigo)
Baseado no Conto "From the Abyss" de Rudolph P. Blatt
"A medonha estátua de basalto negro traduzia todo aquele horror primitivo que os habitantes das Andaman haviam aprendido a acreditar e temer. Era chocante e surreal, uma peça única talhada numa forma nociva à noção de sanidade, amoral para qualquer percepção de civilidade. Representava um monstro serpentóide, talvez um verme imenso repulsivo, com uma imensa cabeça negra coroada por uma crista de chifres e dotada de olhos globulares. Ao redor dessa abominação os Vinayaka dançavam e evoluíam em sagrada e doentia adoração, era afinal seu Deus profano. O Deus do Inferno Submerso que devorava as almas afogadas".
Pouco se sabe a respeito dessa entidade medonha, além dele ser um dos mais obscuros Grandes Antigos que habitam nosso planeta.
Khamir Suma-Khuri habita as profundezas do Oceano Indico, mais especificamente na Baía de Bengala que separa a India e o Sri Lanka. Esse horror era cultuado exclusivamente por uma tribo de humanos degenerados - possivelmente com sangue dos Tcho-Tcho, na sinistra Ilha de Andaman. Os shamans conheciam rituais de invocação que permitiam despertar brevemente Khamir Suma-Khuri e fazer com que ele viesse à superfície para receber sacrifícios e os louvores de adoradores.
A primeira menção a esse horror marinho data de 1824 quando várias embarcações mercantis fazendo a rota entre o porto de Chenai na India e Port Blair nas Ilhas Andaman desapareceram sem deixar vestígios. O único sobrevivente de uma dessas embarcações foi resgatado delirante por um mercante português e deu um testemunho dramático a respeito de um monstro colossal que destruiu o barco em que ele viajava que havia partido de Port Blair com destino ao subcontinente indiano.
O sobrevivente relatou que pouco antes de deixar seu porto de origem um feiticeiro da proscrita tribo Vinayak havia realizado um tipo de ritual no qual apontava repetidas vezes para o navio e gritava palavras em um idioma gutural. Apesar dos britânicos baseados na Índia terem desconsiderado o relato sobre o alegado monstro marinho e maldições de feiticeiros como sendo, tão somente, delírios de um homem que passou por situações extremas, as autoridades nas Andaman levaram à sério o relato. Um grupo de militares que ocupava a ilha e controlava a Colônia Penal de Ross viajou até a face oste da ilha onde encontrou a Tribo Vinayak que venerava uma enorme estátua representando uma divindade primitiva identificado como Khamir Suma-Khuri (que traduzido do dialeto Shompen significa "O Deus do Inferno Submerso"). A expedição massacrou a tribo e destruiu o ídolo de pedra, pondo fim aos desaparecimentos de embarcações na rota.
Em 1943, durante a Ocupação Japonesa das Ilhas, duas embarcações com a bandeira imperial também desapareceram misteriosamente. Na ocasião houve rumores de que feiticeiros da mesma tribo tiveram êxito em despertar o Deus das profundezas para atacar os invasores responsáveis por violentas perseguições durante sua permanência na ilha. O comandante da Marinha Imperial, Almirante Nagata ordenou a execução dos últimos remanescentes da tribo que ainda viviam na Ilha. Supostamente isso terminou com os incidentes.