sexta-feira, 30 de março de 2018

A Melodia das Caveiras - O apito da Morte dos Astecas


Existem sons que conseguem despertar efeitos nas pessoas.

O som do sibilar de uma serpente dizem alguns, é suficiente para fazer muitas pessoas saltarem quase que instintivamente. É uma espécie de memória instintiva que nos leva a reagir imediatamente diante de um perigo iminente. Dizem que soldados sujeitos ao fogo de artilharia, desenvolvem uma sensibilidade a ruídos altos e são capazes de detectar segundos antes, quando um som alto será produzido. Durante os bombardeios nazistas na Inglaterra na Segunda Guerra, muitas pessoas acreditavam ter desenvolvido um tipo de sentido que lhes permitia saber onde as bombas iriam cair. Esse sentido se baseava no ruído estridente dos aviões bombardeiros e das bombas em queda. Com incrível precisão as pessoas em solo eram capazes de determinar se havia uma ameaça ou não. 

Nosso sentido da audição, embora não tão desenvolvido quanto o de muitos animais na natureza, é capaz de detectar aquilo que captamos e interpretar o que os ruídos significam. Em milésimos de segundo, o som captado é processado em nosso cérebro, fazendo com que a resposta seja dada a tempo de identificar uma ameaça e reagir a tempo.

Esse mecanismo de interpretação de sons foi essencial para nos proteger no início de nossa evolução como espécie. Se não fosse por esses sentidos apurados, nossos ancestrais não conseguiriam sobreviver a predadores, armadilhas da natureza e outros perigos.

Isso nos leva ao tema desse artigo, um som tão aterrorizante que é capaz de levar aqueles que o escutam a inconscientemente fugir.


Imagine a cena que se passa no México antes da chegada dos Conquistadores Espanhóis. Você é um guerreiro obrigado a pegar em armas para defender sua cidade ou vilarejo que está sendo ameaçado por guerreiros de um Império muito mais poderoso e beligerante. Sabemos hoje em dia que os Astecas costumavam atacar seus vizinhos em busca de riqueza, escravos e alimentos. Seus ataques eram rápidos e letais, os alvos eram dizimados, as mulheres e crianças capturadas e levadas para sacrifício, as colheitas recolhidas... A única maneira de não se sujeitar a eles era lutar.

O problema é que os Astecas além de possuir um exército muito bem preparado e equipado, empregava métodos de intimidação extremamente eficientes. Em primeiro lugar, a visão do exército era por si só assustadora. Os astecas se organizavam empregando um tipo de guerra psicológica antes mesmo de derramar o primeiro sangue. Historiadores acreditam que eles espalhavam boatos nos lugares que tencionavam conquistar, meses antes de se mover para lá. Criavam através desses rumores condições para que as pessoas ficassem preocupadas e temessem pelo pior. Por exemplo, meses antes de se mover para conquistar um vilarejo, eles pagavam comerciantes para espalhar histórias sobre massacres e a crueldade de seus guerreiros, plantando assim um temor. Eles também buscavam saber a respeito das lendas e tabus de povos a serem atacados, conhecendo de antemão detalhes sobre o que os assustaria mais. Sabe-se que os Astecas muitas vezes, usavam máscaras e adereços específicos nas suas investidas militares. Se eles descobriam que determinado povo temia um Deus, eles davam um jeito de criar máscaras com a face furiosa desse Deus para usar durante sua campanha. E no momento em que atacavam, gritavam o nome dessa divindade, como se fossem agentes divinos. Isso afundava o moral do inimigo e fazia com que muitas vezes eles se rendessem.

Uma das ferramentas mais temíveis usadas por essa civilização em campo de batalha era um instrumento criado para afetar a memória auditiva, causando um horror sem precedente. 

Eu lhes apresento o Apito da Morte, um dos objetos mais terríveis do arsenal de guerra psicológica do Império Asteca. Conhecido como a "Melodia das Caveiras", o som do Apito da Morte é uma das coisas mais aterrorizantes que se poderia ouvir num campo de batalha.

Ele é um som que combina lamúria, sofrimento e crueldade, gerando um temor que se espalhava e contaminava os oponentes. Só podemos imaginar como seria ouvir centenas desses apitos sendo soprados ao mesmo tempo, a medida que o exército marchava na sua direção com tambores e chocalhos. Para aumentar o impacto, os guerreiros - trajando máscaras assustadoras, ainda usavam disfarces, por vezes pernas de pau ou fantasias que os deixavam ainda mais grotescos. Queimavam substâncias que exalavam odores pungentes, acendiam tochas que emanavam um brilho verde-amarelado (graças a adição de enxofre) e usavam todo tipo de temor sobrenatural contra o inimigo. O efeito final deveria ser simplesmente apavorante!


Há motivos de sobra para acreditar que diante desses "efeitos especiais" e pirotecnia, os oponentes simplesmente largavam as armas e se curvavam esperando assim, quem sabe, receber piedade. Mas esta raramente vinha, os Astecas eram um povo especialmente engenhoso e com costumes cruéis.

Em 1999, uma equipe de arqueólogos encontrou um sacerdote com adereços cerimoniais sepultado no Templo do Deus do vento Ehecatl em Tlatelolco. A múmia portava além de sua indumentária, uma faca de sílex na cintura, usada para realizar os sacrifícios e tinha um apito em forma de caveira em cada mão.

Acredita-se que os sacerdotes usavam esses apito em seus rituais para simular o som do Deus do Vento soprando furioso exigindo o seu sacrifício. Ouvir esse som, estando prestes a ser morto em um altar devia ser uma experiência aterrorizante. Meramente assistir esse ritual, com direito a sons (que pareciam vir do além) era o suficiente para criar a ilusão de que os deuses estavam presentes.


Antropólogos e estudiosos acreditam que existe uma relação íntima entre certos sons e os instintos que herdamos de nossos antepassados. Quando captamos determinados sons, eles causam uma reação imediata que deflagra o mecanismo que a neurobiologia chama de "Fight or Flight" (Lutar ou Fugir). Pesquisadores como o Engenheiro de Som Roberto Velasquez que pesquisa os efeitos do Apito da Morte Asteca há mais de 10 anos, supõe que a macabra "Melodia das Caveiras" constitui um exemplo perfeito da vertente "fuga", capaz de desarmar e criar um sentimento de temor extremo.

Velasquez realizou simulações de ar, sintetizando os ruídos produzidos pelo apito e medindo a intensidade e a reação que eles provocam em indivíduos. Os resultados demonstram que pessoas submetidas ao som sem prévio aviso reagem de maneira dramática a ele. O ritmo cardíaco, a reação das pupilas e até a disposição geral são afetadas de imediato pelo ruído. Em maior intensidade, ele provocou sangramento nasal, desmaios e efeitos semelhantes a ataques de ansiedade.

Ouvindo o som, é possível compreender tudo isso:


Aqui temos o som sendo reproduzido através de um apito feito de jade esculpido. O acompanhamento do chocalho demonstra como era feita a intimidação em campo de batalha. Imagine centenas desses ruídos simultaneamente;


Finalmente, esse vídeo mostra o músico itinerante Xavier Quijas Yxayotl apresentando o som do Apito da Morte (aos 0:52 segundos) em uma praça pública.

Segundo testemunhas, esse ruído já fez com que pessoas comuns corressem e buscassem proteção em lojas e lugares fechados. Em uma clara reação instintiva de fuga.


Se de fato estes instrumentos de sopro assustadores foram largamente usados em campos de batalha ainda é uma questão que divide historiadores. Mas é inegável que eles provocam uma reação instintiva em quem o ouve.

Pessoalmente, eu sei que não gostaria de ouvir essa coisa sendo soprada por um inimigo vindo na minha direção.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Cadáver andarilho - A estranha vida após a morte de Elmer McCurdy


O ano era 1911, o Oeste Selvagem já estava em seus suspiros finais, mas nem por isso era menos violento e estranho. Naqueles tempos, um certo bandido raia miúda chamado Elmer McCurdy teve uma ideia mirabolante. Ele pretendia assaltar um trem em plana viagem, a composição férrea passaria próximo da fronteira e ele conseguiria saltar e escapar para o México, driblando a jurisdição da lei. Uma vez ao Sul da Fronteira ele pensava em se aposentar, com direito a sombrero, tequila e señoritas.

Elmer planejou o assalto na companhia de três comparsas, mas no dia, dois deles supostamente embarcaram no trem errado. Quando Elmer anunciou o assalto ao vagão de passageiros, ele se viu sozinho sem cobertura em um lugar cheio de pessoas que por acaso também portavam armas. Ele ainda conseguiu escapar com um saco contendo 46 dólares e algumas garrafas de uísque que aproveitou para surrupiar no bar do trem. Mas a coisa ficou feia e ele teve de abrir caminho à bala.

O bandido desceu do trem antes do que esperava e teve que roubar um cavalo. Foi perseguido então pelo xerife, delegados, alguns passageiros enfezados e uma posse de vigilantes fortemente armados. Elmer ainda conseguiu escapar por alguns quilômetros mas acabou alcançado pelos seus perseguidores. Dizem as lendas que ele tentou se render, mas o grupo de vigilantes exercendo a lei do oeste não quis saber de rendição. Encheram o pobre Elmer de chumbo ali mesmo, com mãos para cima e tudo!

Esse provavelmente seria o fim da história, apenas mais um caso de violência e morte entre os vários envolvendo bandidos e justiceiros do Oeste, isso se não fossem algumas pequenas reviravoltas.


O corpo de Elmer foi levado para a cidade de Pawhuska, Oklahoma e entregue aos cuidados d eum agente funerário que embalsamou, tratou e limpou o cadáver acreditando que algum parente pagaria pelo serviço. Infelizmente, ele não tinha nenhum conhecido na região e o agente funerário se sentiu logrado. Para conseguir algum trocado ele decidiu vestir o cadáver com uma roupa de vaqueiro, colocar em sua cintura uma cartucheira com dois colts e deixar ele dentro de um caixão apoiado na parede. A seguir, o papa defuntos colocou uma placa identificando o morto como um dos maiores bandoleiros da região. As pessoas pagavam um níquel para dar uma olhada no bandido. Formavam-se filas e de vez em quando alguns voltavam para ver duas, três, dez vezes o morto famoso.

Certo dia um homem chamado Avery chegou à cidade e se disse ultrajado pelo tratamento que estavam dando ao pobre bandido. Quando perguntaram quem era o sujeito e o que ele tinha com isso, Avery respondeu que o defunto era seu meio irmão há muito desaparecido. Na época não havia como confirmar as coisas, e a palavra de um homem, mesmo a de um mentiroso, aproveitador e charlatão como aquele valia alguma coisa.

Acontece que o irmão não era irmão coisa nenhuma, seu nome verdadeiro era James Paterson e ele era o proprietário de um show itinerante chamado Great Patterson Carnival Show. Sabendo que as pessoas tinham um interesse mórbido em ver o cadáver e percebendo as implicações econômicas disso, ele planejou um esquema para reclamar o defunto e colocar ele entre as atrações de seu circo de pulgas. Apresentar foras da lei como um estranho tipo de troféu para os curiosos era o negócio perfeito, sobretudo porque o funcionário não falava, não ganhava salário e trabalhava a qualquer hora e todos os dias. Elmer, chamado então de "O criminoso que a lei não conseguiu capturar vivo" foi apresentado como uma das atrações até que Patterson decidiu vender seu negócio lá pelos idos de 1922.


O cadáver foi colocado em um depósito e ficou lá por um bom tempo até que alguém resolveu se livrar daquelas tranqueiras. Para conseguir um trocado, o dono do depósito vendeu o lote todo em um leilão para um tal Louis Sooney que tinha um "Museu do Crime" em que apresentava bonecos dos foras da lei mais conhecidos do oeste. No show estavam modelos em cera de Jesse James, Bill Doolin e outros criminosos famosos. Elmer foi acrescentado ao espetáculo como o "Fora da Lei de Oklahoma" e chegou a ser alugado em 1933 como figuração para o filme Narcotic! Na produção, que falava dos riscos do uso de drogas, o cadáver serviu de exemplo como o corpo de alguém que usou drogas durante parte de sua vida e por isso tinha a pele deteriorada. Na realidade o estado de conservação da múmia não era dos melhores depois de tantas peripécias e ele precisou até ser restaurado.

De uma forma ou de outra, em 1949 a múmia, que muitos tratavam a essa altura como um boneco acabou sendo vendida novamente, dessa vez para o Museu de Cera de Hollywood. O Museu costumava emprestar ou alugar seu acervo para o pessoal do cinema e nesse meio tempo Elmer conseguiu fazer uma ponta em pelo menos mais duas produções baratas e realizar algumas aparições na televisão. Em 1968 uma tempestade atingiu o depósito onde Elmer estava guardado e ele acabou sofrendo alguns danos. Um dos rapazes que fazia o inventário descobriu que a ponta das orelhas e do nariz dele haviam sido danificadas e ele constatou surpreso que do nariz se projetava um osso. Até então, o pessoal do depósito tratava a peça como um boneco de cera e descobrir que ele era um cadáver foi um tanto... desagradável.

A dona do depósito resolveu se livrar dele e ofereceu a uma série de pessoas, mas ninguém queria aquele negócio, ainda mais depois que ficava claro sua natureza. Além do mais, a exposição havia feito com que a múmia escurecesse e ganhasse um aspecto macabro. Para comprar aquilo, só mesmo alguém que não se importasse com coisas medonhas. E foi o que aconteceu! Em 1972,o dono de um Parque de Diversões em Long Beach bateu os olhos na Múmia e se apaixonou (ao menos platonicamente!)

A múmia foi arrematada por uma ninharia e levada para o "The Pike", um parque que tinha entre suas principais atrações um Trem Fantasma. Colocaram uma fantasia no pobre do Elmer, cobriram ele de teias de aranha de mentira, fuligem e pronto, ele estava preparado para seu próximo trabalho como morto vivo.


Elmer ficou ali fazendo seu bom trabalho até que o Parque foi contratado para servir de locação em um episódio da série televisiva "O Homem de Seis Milhões de Dólares" em 1976. Durante as filmagens um dos braços do "boneco"se soltou e quando foram prender ele no lugar descobriram ossos humanos.

A polícia foi chamada e o cadáver levado como evidência para ser analisado. os donos do Parque disseram que não sabiam detalhes a respeito e que haviam adquirido a peça como se fosse um boneco de cera. Um exame de raio X determinou que o "boneco" tinha ossos e órgãos que haviam sido recobertos com camadas e mais camadas de cera, serragem e preenchimento à base de enxofre. Dentro da boca dele encontraram além de lixo, uma moeda e tickets do Museu do Crime de Louis Sooney. Também descobriram ferimentos de tiro que foram preenchidos com serragem e as balas que mataram o pobre sujeito. Analisando a munição, a polícia conseguiu determinar que ele havia morrido no início do século.

O trabalho para determinar quem era o sujeito incluiu a remoção da arcada dentária e uma análise dos dentes. Enquanto isso, detetives buscaram informações a respeito da origem e seguiram passo a passo as indas e vindas do "boneco". A imprensa ficou sabendo do ocorrido e também ajudou nas investigações publicando a fotografia de Elmer. Logo, pessoas que haviam visto a figura em shows itinerantes a identificaram positivamente como Elmer McCurdy, que havia morrido em 1911 após um assalto mal sucedido.

Em abril de 1977, sua longa jornada chegou ao fim.

Morto a tiros pela Posse do Xerife nas Montanhas de Osage em 7 de outubro de 1911
Retornado a Guthrie, Oklahoma de Los Angeles para enterro em 22 de abrilde 1977
O cadáver foi levado para Guthridge, Oklahoma e enterrado em uma cerimônia com a presença de mais de 300 pessoas. Para evitar que ele fosse roubado novamente, ou quem sabe se erguesse para prosseguir em sua carreira no show-business, a sepultura foi coberta com uma camada de 60 centímetros de concreto. 

Até onde se sabe, ele finalmente descansou depois disso.

Apenas para constar, um último detalhe curioso. Enquanto Elmer esteve exposto no Parque de Diversões Pike, ele se tornou um dos "monstros" favoritos de muitas crianças. Afinal, diferente dos demais, ele incorporava perfeitamente o papel de morto vivo.

Uma das crianças que passeavam no brinquedo iria crescer e se tornar o designer de uma linha de brinquedos para a empresa Mattel. Anos mais tarde, quando ele recebeu instruções para criar o visual de uma nova linha de action figures, ele recorreu às suas lembranças de infância como inspiração para o principal vilão. Ele queria que o personagem fosse assustador e bizarro e nada se encaixava melhor nessa descrição do que o boneco que o assustava tanto quando criança. Foi assim que nasceu o visual do principal inimigo de He-Man, o Esqueleto na década de 80.

O pós-vida de Elmer McCurdy foi realmente muito incomum.

domingo, 25 de março de 2018

A morte onde menos se espera - Um crime macabro a bordo de um ônibus


Existem crimes, e existem CRIMES.

No caso de Tim McLean, um jovem que foi vítima de uma chocante violência enquanto viajava de ônibus a caminho da cidade canadense de Winnipeg, os detalhes vão muito além de um crime convencional. O assassinato, horrível e grotesco deixou uma marca impossível de ser apagada na mente das testemunhas e desafiou o eficiente sistema de justiça do Canadá. Esta viagem de ônibus ao inferno não apenas custou a vida de um jovem de 22 anos, mas expôs de uma maneira até então inimaginável a realidade do que pode acontecer quando uma pessoa atormentada por uma grave doença mental perde o controle. 

Quando Vincent Li, um paciente diagnosticado com esquizofrenia, decidiu embarcar em um ônibus naquele dia, ninguém podia imaginar as consequências de seus atos e o terror que as vozes em sua mente desencadeariam. Mais tarde, chamado de "Matador do Ônibus Greyhound", Li cometeu um dos mais perturbadores e inacreditáveis assassinatos da década. Ele se tornou referência de horror, medo e choque em todo mundo. O que faz esse caso ser especialmente perturbador, aterrorizante não são os macabros detalhes, mas o fato de que poderia ter acontecido com qualquer um que estivesse no lugar errado, na hora errada.

Foi por volta das 18 horas, do dia 30 de julho de 2008 que Vince Li, um sujeito alto e forte de origem asiática, embarcou em um ônibus da Empresa Greyhound que seguia da Colúmbia Britânica para Winnipeg. Com quase 1.90 m e mais de 110 quilos, Li era uma figura fácil de ser percebida. Quando subiu no ônibus ele parecia confuso e agitado, alguns passageiros lembram que ele subiu e desceu duas vezes, supostamente para buscar alguma coisa em sua bolsa de viagem no compartimento de bagagens. Apesar disso, ele não parecia ameaçador. 

Li escolheu uma poltrona bem na frente do veículo, não falou com ninguém, e eventualmente desceu do ônibus rapidamente em uma parada para fumar um cigarro. Quando voltou para seguir viagem ele decidiu mudar de assento, escolheu um bem no fundo perto do banheiro, ao lado de Tim McLean que estava viajando sozinho.

Com apenas 22 anos de idade, McLean era um atleta e filho modelo, amado por sua família e amigos. Ele tinha uma família numerosa e estava voltando para Winnipeg, depois de conseguir uma folga em seu emprego como animador numa firma de entretenimento. Ele embarcou no ônibus 1170 passando por Saskatchewan e esperava chegar a tempo de encontrar seu irmão e sobrinho.


Quando Li mudou de assento, ele não disse nada, apenas removeu a mochila que estava ao seu lado sobre a poltrona e a acomodou na parte de cima. Segundo testemunhas Tim havia dormido encostado na janela ouvindo música no fone de ouvido. Não há razão para acreditar que ele tenha suspeitado do que estava para acontecer.

Vince Li não era um sujeito simpático. Antes de embarcar no ônibus naquela tarde, ele já vinha demonstrando alguns sinais de que estava perto de um surto mental. Ele passou a tarde inteira na estação rodoviária esperando a hora da partida. As câmeras de vigilância o filmaram sentado com o olhar fixo no vazio por várias horas. Em um determinado momento ele apanhou o celular e postou uma mensagem em um site de vendas: "Laptop à venda, 300 dólares". Em seguida apanhou a bolsa de viagem abriu, conferiu as coisas dentro e se deteve em algo embrulhado em uma camisa de flanela vermelha. Guardou a mochila entre as pernas e voltou a olhar o vazio com a mesma expressão distante. Por mais de seis horas ele permaneceu assim, vez ou outra repetia o ritual de abrir a mochila cuidadosamente e verificar o que levava embrulhado na camisa.

Li recebeu uma confirmação de venda do laptop enquanto ainda estava na estação. O aparelho foi comprado por um estudante, mas a polícia o confiscou após os acontecimentos. Quando os auto-falantes anunciaram a chegada do ônibus 1170, Vince levantou do banco, se espreguiçou e andou calmamente até ele. Uma fila já se formava e ele foi o quarto a embarcar.

Vince Li tinha 44 anos de idade e havia imigrado da China para o Canadá em 2001. Desde sua chegada havia encontrado dificuldades em se estabelecer, trabalhava em uma lanchonetes num Wallmart como funcionário de meio expediente. Dizia que tinha um outro emprego, mas na verdade dormia a manhã toda, às vezes com o auxílio de remédios controlados. As drogas eram para bloquear as vozes e os ruídos que ele afirmava escutar. O som, em seus delírios, era produzido por uma espécie de aparelho que havia sido implantado cirurgicamente por alienígenas na sua cabeça. Li dizia que havia sido abduzido por alienígenas e que eles o monitoravam constantemente, plantando pensamentos e tentando controlar suas ações.

Fazia duas semanas que Vincent Li havia cedido a outro delírio, o de que Deus havia dado a ele a missão de se livrar destes extraterrestres. Deus o instruiu a parar de tomar os remédios e jogá-los fora, Naquela manhã, ele havia feito um corte fundo com uma faca ao lado da orelha esquerda procurando o implante. Quando não o achou, decidiu cauterizar o corte com um ferro quente de passar roupa. Frustrado fez também cortes nos braços e pernas com a lâmina afiada. Os ferimentos auto infligidos ainda doíam, mas ele os disfarçou com um cachecol e roupas de manga comprida. Li costumava ficar diante de espelhos procurando transmissores sob a pele, em certa ocasião havia perdido o emprego depois de ser flagrado nu em um vestiário coletivo.

As vozes, é claro, eram um sintoma da esquizofrenia profunda que ele sofria. Li acreditava que aquele dia seria especial: Deus havia falado com ele e dito para que ele viajasse para Winnipeg onde encontraria os alienígenas que deveriam ser destruídos. De acordo com Deus, ele estava fazendo aquilo que era correto e necessário para salvar a humanidade.


Cerca de 40 minutos depois do ônibus continuar viagem, ele respirou fundo e falou sozinho em um tom enérgico. As pessoas que estavam próximas lembram que a voz soou nervosa em meio ao silêncio geral. Ele disse algo como "Está bem, está bem! Eu vou fazer". Mas todos imaginaram que ele estivesse simplesmente falando em um celular, não houve alarde. McLean com os fones no ouvido nem se deu conta.

Li então desembrulhou o objeto envolvo na camisa de flanela vermelha que estava escondido no seu casaco. Era uma faca de caça que ele havia comprado dias antes, a mesma lâmina que ele usou para se ferir. Calmamente, Li segurou a faca com a ponta para baixo e se inclinou sobre McLean que estava dormindo. O primeiro golpe atingiu violentamente o pescoço do rapaz que abriu os olhos com o susto. A faca foi removida e seguiram-se mais dois ataques, ambos no peito, antes que ele pudesse entender o que estava acontecendo e gritar em desespero. Os gritos alertaram os demais passageiros que perceberam uma agitação no assento dos fundo.

A essa altura Li já havia desferido mais dois ataques brutais e a vítima não mais reagira As testemunhas que se depararam com a cena dizem que o agressor parecia calmo e seus movimentos eram quase robóticos. Ele não demonstrava nenhuma emoção. A faca continuava entrando e saindo do corpo de McLean e o sangue escorria em profusão.

Com os gritos e correria, o motorista encostou urgentemente na estrada. Imediatamente os passageiros começaram a descer do veículo, alguns caindo e levantando. Logo todos haviam saído e muitos telefonavam em celulares para reportar aquele horror à polícia.

Enquanto isso, no fundo do ônibus Li continuava a esfaquear o corpo já sem vida de McLean, produzindo um total de 62 estocadas distribuídas pelo pescoço, face, tórax e estômago. Alguns golpes foram tão fortes que quebraram o osso da face enquanto outros fraturaram costelas e perfuraram os pulmões. McLean morreu depois da quinta investida.


Os passageiros do lado de fora gritavam e tentavam parar algum carro. Finalmente o motorista e dois bravos passageiros decidiram entrar no veículo para tentar ajudar a vítima. Li percebeu o grupo e os perseguiu para fora, com a faca em punho e coberto de sangue. A visão era simplesmente apavorante!

Assim que o primeiro carro de polícia apareceu com as luzes da sirene piscando, cerca de 15 minutos haviam se passado. Li apareceu então na porta do ônibus e gritou algumas palavras sem sentido. Em seguida apanhou alguma coisa dentro do ônibus e atirou na direção da viatura. Era a cabeça de Tim McLean que havia sido decepada com a faca de caça. Ele voltou para o interior do veículo e se deitou entre os bancos empapados com o sangue pegajoso.

O policial enviou uma mensagem por rádio solicitando que outras viaturas fossem despachadas imediatamente. Havia a possibilidade de algum passageiro ainda estar lá dentro com o maníaco e se configurar numa situação com reféns. A Polícia Montada Real Canadense respondeu ao chamado e chegou ao local cercando a área e interrompendo o tráfego. Também tiveram o cuidado de desligar os cabos de ignição do motor.

Três policiais se prepararam então para abordar o ônibus e verificar a situação. Nenhum deles estava preparado para o que iriam ver. A cena no interior da cabine dos passageiros era de completa desordem, havia sangue para todo canto acumulando em poças e pegadas no chão, escorrendo nas paredes, nas janelas e poltronas. O cheiro era horrível já que o ambiente estava todo fechado. Algumas bolsas, malas e jornais estavam jogados pelo corredor central. No fundo do ônibus eles ouviram alguém xingando em uma língua estranha, mas estava muito escuro. 

Então, repentinamente viram um homem grande que estava escondido entre os assentos levantar. O sujeito estava coberto de sangue a ponto de seus cabelos ficarem emplastados. Ele segurava uma faca de caça e gritava alguma coisa fazendo menção de avançar. Um dos policiais armado com um taser disparou uma carga de eletricidade. O homem continuou avançando e outro taser foi acionado crepitando com uma luz azulada. O sujeito diminuiu o ímpeto, mas ainda foi preciso que o terceiro policial disparasse, com isso, finalmente, ele caiu inconsciente. 

Os policiais carregaram o assassino para o lado de fora onde ele foi imediatamente algemado e colocado em uma ambulância para ser levado a um hospital. Os paramédicos correram para socorrer a vítima, mas encontraram apenas uma cena dantesca. Nos quinze minutos em que ficou sozinho com McLean, o assassino se dedicou a mutilar o corpo e desmembrá-lo. Mais tarde ele explicou que em seus delírios via o rapaz como um dos alienígenas que o perseguiam e que ele regenerava os ferimentos e ainda parecia estar vivo.


Ainda mais chocante, em sua fúria, Li havia mordido e arrancado pedaços da vítima que foram mastigados e engolidos. Em determinado momento ele vomitou, mas então voltou a morder e lacerar. A polícia encontrou o nariz e a língua do rapaz dentro do bolso da calça do assassino, ambos foram arrancados a mordidas. O corpo mutilado e decapitado também não tinha o coração, supostamente este foi removido e devorado.

Embora Li fosse obviamento o único responsável pelo horrendo crime, a lei canadense concedia um tratamento relaxado para casos envolvendo doença mental. Li se recusava a aceitar um advogado e teve de ser colocado sob efeitos de tranquilizantes nas duas vezes em que foi apresentado a defensores públicos. Por fim, decidiram que ele deveria ser primeiro medicado até que seu surto diminuísse. Eventualmente ele acabou se acalmando e ofereceu completa cooperação com os médicos psiquiatras e autoridades.

Li abriu mão de se defender e reconheceu sua participação naqueles acontecimentos medonhos pelos quais pediu perdão. Ele aceitou se internar no Centro Selkirk de Saúde Mental em Manitoba onde foi mantido sob vigilância constante. Durante o tratamento para o quadro agudo de esquizofrenia ele se mostrou um paciente cooperativo e com o tempo ganhou o privilégio de receber visitantes e de sair de sua cela. Li adotou o nome Will Baker.

A família de Tim McLean preferiu não se manifestar a respeito do ocorrido, embora "Baker" tenha enviado a eles repetidos pedidos de perdão por conta de toda dor e sofrimento que ele havia causado. Através de uma entrevista em um jornal, os pais de McLean disseram que não queriam encontrar com o assassino de seu filho e que não estavam prontos para perdoá-lo pelo que havia acontecido. Eles afirmaram compreender que na ocasião o assassino não tinha controle sobre seus atos, mas que ainda assim, não teriam condições de encontrá-lo.

Muitas testemunhas daquela viagem de horrores também nunca se recobraram por completo do trauma. Alguns desenvolveram sintomas semelhantes a SPT (stress pós-traumático) e experimentavam pesadelos, crises de ansiedade e pavor em espaços confinados ou ao ouvir sons altos. A coisa que a maioria dos passageiros dizia se lembrar com perfeita clareza era o som dos gritos desesperados da vítima e acordar em meio aquele terror. Muitos afirmam que jamais conseguiram esquecer daquele som aterrorizante.

Em fevereiro de 2017 a corte de justiça do Canadá decidiu que Will Baker não representava mais uma ameaça significativa a segurança pública e para a comunidade. Por isso decidiram liberá-lo para a vida em sociedade, treinando-o em uma ocupação, garantindo a ele total reintegração. Entre as condições para sua soltura, ele deve tomar remédios regularmente e reportar a um médico toda semana. 

O Crime no Ônibus Greyhound é considerado ainda hoje um dos casos mais terríveis ocorridos no Canadá, um país seguro e com uma taxa de homicídios muito baixa. Uma pesquisa realizada em 2014 apurou que o incidente no ônibus 1170 se encontra no topo de uma lista de medos mais profundos entre a população.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Obsessão Imortal - A história bizarra do Dr. Tanzler


Dizem que o amor nunca morre, e talvez o mesmo possa ser dito da obsessão.

Um homem chamado Carl Tanzler possivelmente levou o que ele considerava amor - ou que talvez fosse apenas obsessão, longe demais.

Tanzler era um médico dedicado e um sujeito realmente apaixonado por uma mulher chamada Elena Milagro de Hoyos que tornou-se sua paciente. O ano era 1930 e o médico se apaixonou perdidamente assim que conheceu a jovem. Contudo, a tragédia os atingiria, já que um exame revelou que ela sofria de uma doença grave e tinha pouco tempo de vida.

Carl sempre foi um homem estranho. 

Primeiro havia a questão de seu nome. Quando ele imigrou da Alemanha para a América com sua esposa e dois filhos, ele usava o nome de Carl Tanzler, mas no novo mundo decidiu adotar o título aristocrático de Conde Carl Tanzler von Cassel. Ele não era realmente um Conde, tampouco um nobre. Não se sabe exatamente em que circunstâncias ele deixou a cidade alemã de Nuremberg, mas alguns especulavam que na Europa ele havia se envolvido em algum escândalo envolvendo ética profissional.


A bem da verdade, muitos questionavam até mesmo se ele realmente tinha formação como médico, mas isso não o impediu de abrir um consultório e obter uma clientela bastante seleta nos Estados Unidos. Quando conheceu Elena ele já havia completado 50 anos e seu casamento estava por um fio. Tanzer decidiu pedir o divórcio, abriu mão da guarda dos filhos e de sua bela casa em Key West na Flórida. Ele relatou que nutria uma fantasia desde a infância: a de um dia casar com uma mulher morena que estaria destinada a ser seu "verdadeiro amor". Ele sonhava constantemente com essa mulher misteriosa e quando conheceu Elena acreditou que era ela.

Maria Elena Milagro de Hoyos era uma bela moça de origem cubana com apenas 21 anos de idade. A família havia feito fortuna com produção agrícola e imigrou para Miami com o objetivo de buscar tratamento para as frequentes crises respiratórias que afligiam a filha. O diagnóstico foi o pior possível, Elena sofria de tuberculose, doença que em 1930 muitas vezes se provava fatal. 

Contrariando todas as regras, Tanzler se dispôs a tratar da doença e encontrar uma maneira de salvá-la. Ele colocou em prática um tratamento bizarro que envolvia um regime de tônicos caseiros e de raios x, usando equipamentos que removeu de uma unidade de radiologia e instalou na casa dos Hoyos. O tratamento envolvia sessões com doses maciças de radiação, imersão em banheiras com gelo e estranhas fórmulas químicas que eram injetadas diretamente na corrente sanguínea da paciente. Tanzler garantia a Elena e aos seus pais que aquele tratamento era a única maneira de salvá-la e por algum tempo, eles acreditaram.


Mas é claro, os métodos empregados acabaram causando mais danos do que benefícios.Quando Elena morreu em outubro de 1931 depois de meses de tratamento, o médico não conseguia suportar a dor. Ele mandou construir um elaborado mausoléu de mármore em honra de Elena e pediu autorização para transferir o corpo dela para esse lugar. Disse que queria visitá-la e a família acabou atendendo ao pedido.

Contudo, os planos do Dr. Tanzler eram bem diferentes. Ele não pretendia homenagear Elena, e sim trazê-la de volta dos mortos usando para isso os meios de reanimação que estivessem ao seu alcance. Secretamente ele roubou o cadáver de sua amada da tumba e o levou para casa. Lá ele fez o possível para preservá-la usando produtos químicos e líquidos de embalsamar que manteriam ao menos a sua aparência intacta, afastando a deterioração.

O médico empregou todos os seus recursos para construir um laboratório moderno em uma área isolada e se mudou para lá. O propósito era reverter os efeitos da morte física. Usando componentes químicos, eletricidade e outros métodos estranhos ele acreditava ser capaz de encontrar uma maneira de restituir a fagulha de vida que havia sido extinta no corpo de Elena.

Suas experiências, entretanto não progrediam como esperado e o sucesso lhe escapava.


Apesar disso, Tanzler estava contente em viver ao lado do cadáver. Ele a arrumava, vestia e penteava diariamente como se ela estivesse viva. Também conversava com ela, lia o jornal e contava como havia sido o seu dia. A vida de faz de conta do médico prosseguiu dessa forma por sete anos. Ele chegou ao ponto de raspar os cabelos de Elena e fazer uma peruca. Pintava suas unhas, aplicava maquiagem e a tratava como sua esposa.

É claro, ele também compartilhava sua cama com o cadáver todas as noites. Não se sabe quando ele se tornou um necrófilo e teve sexo com sua noiva cadavérica, mas é certo que o fez. Um tubo de plástico foi inserido na cavidade vaginal do cadáver.

Tanzler mais tarde contou que um dos seus planos era construir um emissor de ondas que coletaria radiação espacial na estratosfera a fim de "restaurar a vida e encerrar o estado de sonolência de sua esposa".

Ele nunca teve a chance de colocar esse experimento em ação. Depois de sete anos, vivendo com a múmia preservada, os vizinhos começaram a suspeitar que havia alguma coisa errada. Alguns ouviam ele falando sozinho com uma pessoa que nunca era vista. Tanzler comprava roupas femininas e mandava lavá-las frequentemente. Havia um cheiro insuportável de formol que o acompanhava e que empesteava o ar ao redor da casa.


Certo dia, quando ele estava fora, um incêndio acidental atingiu sua casa. Os vizinhos chamaram os bombeiros e estes arrombaram a porta acreditando que alguém podia estar desacordado com a fumaça. Não encontraram ninguém... ao menos ninguém vivo. O cadáver de uma mulher muito bem preservado estava sentado em uma poltrona com o rádio ligado, segurando um livro de poesia no colo como se a vida tivesse escapado recentemente.

Tanzler foi preso assim que retornou. Sua preocupação, segundo testemunhas, era saber como estava a sua esposa e se ela havia se ferido. Ele se acalmou apenas quando as autoridades garantiram que Elena havia sido retirada em segurança da casa em chamas.

O corpo mumificado da jovem foi recebido em uma casa funerária onde mais de seis mil pessoas a visitaram antes que ela fosse levada de volta ao Cemitério de Key West. Ela foi colocada em uma sepultura não identificada para evitar que fosse perturbada novamente.

Tanzler enfrentou uma acusação de roubo de túmulo, mas uma vez que o crime havia atingido a prescrição ele acabou sendo liberado. Ainda assim, recebeu tratamento psiquiátrico por quase dois anos em uma instituição mental. 


Surpreendentemente a comunidade de Key West não o desprezou, muitas pessoas, na época, especialmente mulheres, o consideravam um romântico excêntrico. Ele chegou a requisitar que o estado lhe devolvesse o corpo da "esposa", mas o pedido foi negado repetidas vezes. Tanzler chegou a ser preso vagando pelo cemitério tentando identificar onde Elena estaria enterrada.

No fim de sua vida, ele se mudou para a Califórnia onde supostamente construiu um modelo de seu grande amor, com quem dividiu seus últimos anos.

Por muito tempo rumores persistiram a respeito de Tanzler ter conseguido de alguma maneira trocar o seu modelo e recuperar o corpo de Elena de sua sepultura secreta. Ele teria deixado instruções para ser enterrado ao lado de sua companheira, mas o pedido não foi atendido.

terça-feira, 20 de março de 2018

Por que Aniquilação é um filme absolutamente lovecraftiano?


Atenção: O artigo a seguir contém grandes SPOILERS a respeito do filme Aniquilação. Se você não quer saber detalhes a respeito da trama recomendo não ler adiante. E se você não viu o filme, vá ver agora! Sério! Vale a pena!

Eu assisti Aniquilação semana passada no dia em que ele entrou na grade de programação do Netflix e desde que vi o filme ele não saiu da minha cabeça. A razão para não conseguir tirar ele da minha mente tem a ver com os temas centrais de isolamento e mudanças e com o assustador final. Assustador não em função de sustos fáceis de filmes de terror ou monstros babões, ou mesmo a estranheza do interior do "Brilho", mas pelas implicações da trama central.

No filme, uma forma de vida alienígena começa a transformar o ecossistema do planeta gerando algo bizarramente diferente. Assim como a protagonista Lena (Natalie Portman) nós, os espectadores, somos incapazes de sondar um universo tão alienígena para nossa razão. Não temos nem ideia do que se esconde em nosso próprio planeta, que representa um grão de areia no universo, que dirá fora dele.

Com essa abordagem, o diretor Alex Garland conseguiu criar um filme legitimamente lovecraftiano, bebendo da fonte de algumas das melhores histórias do autor. Aniquilação não é uma adaptação de algum conto ou novela, mas mesmo assim, é difícil pensar em um filme tão inserido nos conceitos criados por H.P. Lovecraft em sua obra. Imagino que o Cavalheiro de Providence aprovaria esse esforço e a interpretação.

Até então, os melhores filmes baseados na literatura de Lovecraft, adaptados para o cinema, haviam sido produzidos por John Carpenter. "O Enigma do Outro Mundo" (The Thing - 1982) é uma gloriosa história de horror que remete a Montanhas da Loucura, enquanto "A Beira da Loucura" (In the Mouth of Madness - 1993) explora a noção de loucura, caos e de cultos devotados a Horrores Ancestrais. Embora o filme de Garland seja baseado nas novelas de Jeff VanderMeer, já ouvi falar de quem leu esses livros, que a versão guarda poucas semelhanças com o material original. Eu infelizmente não li os livros de VanderMeer, mas ao assistir o filme, a única coisa que veio na minha cabeça era um conto curto de H.P. Lovecraft escrito em 1927 chamado "A Cor que caiu do Espaço".


Nesse conto clássico, considerado como um dos melhores de Lovecraft, um narrador sem nome relata os acontecimentos tétricos ocorridos na "Blasted Heath" um lugar selvagem e afastado na porção oeste de Arkham, Massachusetts. O narrador descreve um evento cósmico menor, a queda de um meteorito vindo do espaço exterior que se choca com o solo. A estranha pedra logo contamina todo o local e lentamente macula a própria natureza: a vegetação cresce viçosa porém estranha, os frutos são enormes mas tem um gosto repugnante, os animais enlouquecem, sofrem mutações e assumem formas grotescas. Quanto aos humanos, eles também são afetados pela loucura que os conduz a ruína.

 A estranha rocha espacial carrega em seu interior uma forma de vida diferente de tudo que existe em nosso planeta. Não é um ser vivo, ao menos como podemos entender a vida em nossa pequena esfera; trata-se tão somente de uma cor desconhecida e indescritível para nossos sentidos. Ela não possui nenhuma qualidade física, mas seu brilho uma vez irradiado produz uma influência maligna e daninha. A terrível cor busca refúgio no interior de um poço na propriedade de um fazendeiro chamado Nahum Gardner e então o horror se espalha de modo alucinante.

É fácil perceber as similaridades entre o conto de Lovecraft e o filme de garland; o Brilho é uma espécie de véu púrpura iridescente e de cor indefinida. Uma vez em seu interior, todas as formas de vida se veem afetadas passando por uma mudança não apenas física, mas mental. A cientista Josie Radek (Tessa Thompson) explica que o Brilho é como um prisma que não filtra apenas a luz passando através dele, mas também as células vivas. As linhas fronteiriças entre plantas e animais, morte e vida, que são bem definidas em nosso planeta, começam a ser alteradas, a medida que o Brilho, assim como a Cor, incidem sobre a área onde eles se instalam. O resultado são profundas alterações da própria matéria constitutiva dos seres vivos.


Além disso, existe o fator isolamento. Um elemento que Lovecraft explorava como ninguém em seus contos e que pontuava suas histórias. O isolamento vai além de estar sozinho, é a sensação esmagadora de que o mundo que nos cerca é abrasivo, assustador e incompreensível. Pior ainda, é a noção de que tudo conspira para que você morra e não existe nada disposto a ajudá-lo. Não há bem maior zelando por nós, inexiste uma força benevolente ou a própria divina providência.

Nem é preciso dizer que Aniquilação aposta pesado nesse mesmo elemento. Quando as mulheres da expedição deixam a relativa segurança de sua base e se embrenham no Brilho, elas não sabem o que irão encontrar mas já esperam pelo pior. No discurso fatalista de uma das personagens, ao afirmar que nenhuma delas tem muito à perder encarando a missão, temos o supra sumo do isolamento.

Mas estas são semelhanças óbvias, o maior significado surge quando examinamos o final das duas histórias.

Diferente de muitos autores, nós sabemos muito bem o que Lovecraft pretendia com seus contos. Ele deixou claro quais eram os seus objetivos através de sua farta correspondência estabelecida com outros escritores e nas páginas de seu ensaio "O Horror Sobrenatural na Literatura". Lovecraft dizia aos seus companheiros autores de ficção e horror que eles não precisavam ser claros e explicar tudo que acontecia nos seus contos. Para ele, o mais assustador era deixar as respostas encobertas e as explicações em aberto. Na sua concepção, a coisa mais aterrorizante em um encontro com o horror era não ter certeza de nada a respeito dele. O que vimos? O que percebemos? Quais conclusões podemos tirar da experiência? Quanto mais confusas as respostas para essas questões quintessenciais, melhor!

Tanto isso é verdade na obra de Lovecraft que ele descreve textualmente o que pretendia construir com seus contos: "A mais antiga e forte emoção da humanidade é o medo, e o mais antigo e forte tipo de medo é o medo do desconhecido".


Lovecraft criava em sua obra a noção de que o Universo é inconcebivelmente vasto e desconhecido. O homem, em sua arrogância acredita ser o senhor da criação e o detentor por direito dos segredos mais íntimos do Universo... a obra de Lovecraft desfaz essa ilusão e coloca a humanidade em seu devido lugar. O homem nada sabe dos segredos do cosmos e nada suspeita de sua grandeza. Ele é mera poeira cósmica que se dissipa em um piscar de olhos, enquanto estrelas dançam e planetas giram no vazio pela eternidade. A sensação que ele quer passar em suas histórias é de impotência, ignorância e de infinitesimal inferioridade. Esse soco no estômago é a essência da literatura concebida por Lovecraft.

Bem vindo ao Horror Cósmico!

O grande Horror da mitologia de Lovecraft não são os monstros medonhos ou as criaturas tentaculares com bocarras repletas de dentes afiados. Tudo isso é meramente incidental. Quando você fala a respeito de Horror Cósmico, você se vê confrontado com verdades que o cérebro humano não é capaz de aceitar. A frágil razão dos homens se despedaça por completo quando os segredos do Universo começam a ser descortinados diante de seus olhos. Essa é a razão pela qual os personagens na obra de Lovecraft tendem a enlouquecer e terminar seus dias regurgitando incoerências em um asilo para insanos.

Muitas histórias escritas por Lovecraft e seu círculo de seguidores envolvem revelações devastadoras e impossíveis de ser processada. Os personagens acabam descobrindo que tudo o que presumiam entender a respeito do universo e de si mesmos, é uma mentira. Existem entidades verdadeiramente poderosas cuja influência nossa espécie não é sequer capaz de imaginar. As leis da física, a linguagem absoluta da matemática, as noções da geometria, os conceitos do próprio universo não se aplicam e quando as verdades universais são esfaceladas nada resta além da loucura, o esquecimento, a obliteração... e é claro, a Aniquilação!


Essa é a razão pela qual as personagens no filme enlouquecem lá pela metade da história. Logo que elas adentram o Brilho, a loucura começa a se manifestar fazendo com que elas percam a noção do tempo e a memória do que ocorreu. Seus suprimentos foram consumidos, elas não teriam abandonado os alimentos, portanto é razoável assumir que elas passaram algum tempo no interior do Brilho apesar de não lembrar do que aconteceu. O que houve? Teria sido a razão tentando reprimir coisas que elas viram ou experimentaram, ou seria apenas um efeito causado pelo deslocamento da vida através do "prisma alienígena" capaz de filtrar a vida? Não se sabe...

Em determinado momento o grupo encontra uma gravação feita por uma expedição anterior e descobrem aterrorizadas não apenas o que aconteceu com eles, mas o que está prestes a acontecer com elas mesmas. A personagem de Anya (Gina Rodriguez) não consegue lidar com essa verdade e inventa explicações mirabolantes para o que ela viu. E quando essas falham em oferecer algum conforto, ela passa a acreditar que a sua própria equipe planeja algo contra ela.

Temos então a Paranóia!

Outro elemento muito presente na obra lovecraftiana se apresenta. Gina tenta criar explicações e racionalizar aquilo que a mente humana não foi projetada para aceitar. Como resultado ela é a primeira a enlouquecer e se voltar contra suas colegas. O roteiro de Aniquilação trabalha muito bem essa noção que poderia soar forçada em outras obras. O escorregão da razão para a insanidade é gradual, mas progride de uma forma que aceitamos a loucura que se apossa dos personagens. Quem não ficaria louco vendo tudo aquilo?


Em um dos seus contos mais importantes, "O Chamado de Cthulhu" de 1926, Lovecraft expõe outro de seus conceitos mais incômodos, o de que a Ignorância diante dos mistérios do universo é a única coisa que nos protege, enquanto espécie, da Loucura e do Caos que existe lá fora.

Ele escreveu no parágrafo inicial desse conto seminal:

“A coisa mais misericordiosa do mundo, creio eu, é a incapacidade da mente humana em correlacionar todo o seu conteúdo. Vivemos numa plácida ilha de ignorância em meio a negros mares de infinito, e não está escrito pela Providência que devemos viajar longe. As ciências, cada uma progredindo em sua própria direção, têm até agora nos causado pouco dano; mas um dia a junção do conhecimento dissociado abrirá visões tão terríveis da realidade e de nossa apavorante situação nela, que provavelmente ficaremos loucos por causa dessa revelação ou fugiremos dessa luz mortal rumo à paz e à segurança de uma nova Idade das Trevas.”

O final de Aniquilação resume muito bem essa mentalidade.

No ato final, Lena consegue chegar até o marco zero do Brilho, o Farol onde o meteoro que despencou do espaço se enterrou. Nesse ponto, assim como muitos personagens lovecraftianos, ela experimenta a revelação que destrói sua razão, no caso a de que seu marido morreu com a detonação de uma granada de fósforo branco, enquanto que o homem que apareceu em sua casa, aquele que está morrendo em um hospital de campo, é outra coisa. Algo que sequer é humano.


Indo mais fundo no interior do Farol, metaforicamente mergulhando no saber proibido, ela encontra uma série de túneis e a Dra. Ventress (Jennifer Jason Leigh) comungando com a coisa alienígena, talvez aprendendo alguns dos seus segredos - lembrem-se, ela disse que "precisava entender o que era o Brilho". De repente uma série de raios de luz explodem a consumindo e seu corpo se dissipa como se jamais tivesse existido. Lena fica sem ação, olhando para o vazio sem entender o que aconteceu ou o que destruiu Ventress. Nós estamos no mesmo barco, a cena não tem explicação, ela é simplesmente uma causa e efeito muito além de nossa compreensão. Trata-se de algo alienígena, algo que nós não fomos projetados para entender.

Talvez Ventress tenha, através de seu contato íntimo com a força alienígena, recebido a informação que tanto procurava, algo que se mostra letal e a consome por inteiro: física e mentalmente. Eu gosto de usar a comparação de que o conhecimento dos Mythos é como radiação, deteriora tudo o que toca, transforma tudo sobre o qual incide.

A seguir na mesma sequência, uma gota do sangue de Lena é sugada pelo vazio e usada como matriz para a construção de um humanoide, uma criatura alienígena, que aos poucos vai mudando até replicar as características de Lena à perfeição.

O mestre Lovecraft escreveu:

"Nem a morte, nem a fatalidade, nem a ansiedade, podem causar o insuportável desespero que resulta de perder a própria identidade".

Entretanto, diferente dessa linha de pensamento, cuja xenofobia inerente obriga os personagens a jamais aceitar uma realidade diversa da humana, em Aniquilação temos um final dúbio. É bem verdade que Lena mata a sua cópia e no processo extingue o Brilho, mas no fim, ela acaba abraçando a mudança. Ao retornar para a Base ela não denuncia a verdade a respeito da criatura que duplicou seu marido, e decide manter essa informação apenas entre eles. 

Outra interpretação, mais niilista pode ser que o contato de Lena com a coisa alienígena foi suficiente para operar nela a mudança que a transformou em algo que não é mais um ser humano. O brilho nos olhos dela quando enfim a personagem reencontra seu "marido" aponta nesse sentido. E se assim for, o desfecho se torna ainda mais lovecraftiano já que outro elemento presente na obra diz respeito a inevitável extinção da humanidade. 

No dogma lovecraftiano, não importa o quanto se lute, o quanto se deseje, no fim a humanidade será extinta em um piscar de olhos por algo que ela sequer será capaz de perceber como uma ameaça a sua existência. Que formiga, afinal de contas, percebe a passagem de um tufão ou de um vendaval que destrói seu formigueiro? Seja a explosão de uma estrela, a formação de um buraco negro, o despertar de um Deus Ancestral que representa um conceito cósmico (Caos, Destruição, tempo...) um dia a humanidade será varrida da existência. E o Universo não verterá lágrimas pela nossa passagem.

Se Lena foi realmente alterada pelo Brilho ou se ela resolveu aceitar a força transformadora que recriou seu marido não faz diferença. A influência do Brilho logo se fará sentir novamente.


Entretanto, ao contrário de muitas adaptações e das visões distorcidas de John Carpenter, Garland oferece outro diferencial. Ainda que absurda e aterrorizante, as forças alienígenas tem uma aura de beleza. O Brilho destrói, mas também recria o mundo sob a sua perspectiva, seja através de jacarés albinos com dentes de tubarão, ursos que caçam usando a voz de suas vítimas ou ainda plantas cristalinas de uma beleza inigualável. O mundo é reconfigurado de acordo com sua interpretação. Se em Lovecraft o resultado seria bizarro, medonho e grotesco, em Aniquilação ele pode ser tudo isso, mas ainda assim guardar um pouco do belo.

Há ainda mais a encontrar, mas acho que por enquanto está de bom tamanho...

Talvez por todos estes fatores Aniquilação tenha estabelecido um novo nível de excelência para produções Lovecraftianas. Um que será difícil alcançar, mas que eu adoraria ver outros cineastas tentando.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Cinema Tentacular: Aniquilação - Resenha da Produção da Netflix


Quando o diretor Alex Garland anunciou qual seria o seu próximo filme, muitos fãs imediatamente se animaram. O primeiro trabalho de Garland foi o aclamado Ex-Machina uma espécie de fábula moderna a respeito de aceitação e as implicações morais da tecnologia nas relações humanas. Muito elogiado e tendo recebido um Oscar pelos efeitos visuais, Ex-Machina foi um belo cartão de visitas. 

Em seu primeiro filme para um grande estúdio, Garland escolheu uma adaptação do best seller Annihilation (Aniquilação) de Jeff VanderMee. Bancado por um orçamento consideravelmente maior, na casa dos US$ 55 milhões, ele estaria entrando no território das super-produções de Hollywood.

Embora Annihilation tivesse como obra literária uma base de fãs bastante sólida, por muitos anos a adaptação para o cinema foi considerada difícil, muitos julgavam que seria virtualmente impossível fazer a tradução para uliterária de cinema. Garland acabou aceitando o desafio e escreveu o roteiro por conta própria, afirmando ser um grande fã do romance. Concluídas as filmagens, o estúdio responsável pelo filme, a Paramount, começou a expressar preocupação com os resultados de seus testes de audiência: muitas pessoas consideraram o filme "intelectual" e "complicado" demais. A produção terminou quase dois anos atrás e temendo um fracasso de bilheteria, o estúdio tomou uma decisão no mínimo curiosa. Annihilation foi vendido internacionalmente para o Canal Netflix, enquanto chegou aos cinemas apenas nos Estados Unidos e Canadá.


Essa foi uma estratégia similar a usada para Cloverfield Paradox que chegou ao canal de streaming no mês passado dividindo opiniões. Ao contrário de Cloverfield a insistência de Garland em se manter fiel a sua visão, impediu o estúdio de remontar o filme e fazer alterações que julgava necessárias. 

Com tudo isso, qual o resultado de Aniquilação?

Em primeiro lugar, é preciso fazer uma distinção entre Aniquilação e os blockbusters de ficção e fantasia lançados por Hollywood. Aniquilação é um filme bem mais lento e contemplativo, que se propõe a ser uma espécie de reflexão, no mesmo estilo de filmes como "A Chegada", "Interestelar" e o próprio Ex-Machina. Não se trata, portanto, de um filme de ficção científica primando pela ação e empolgação, à despeito do que o trailer vende. Talvez a maneira que o filme foi apresentado, como uma espécie de suspense de ficção com toques de horror, tenha criado uma falsa expectativa que incomodou as primeiras audiências teste.

Aniquilação acena com uma proposta diferente dos blockbusters de ficção. Ele consegue ser assustador em alguns momentos, mas jamais tem o intuito de ser chocante ou criar sustos gratuitos. Seus efeitos são excelentes, mas eles estão longe de ser um espetáculo pirotécnico e gratuito de CGI. Tudo é muito contido e específico, quase minimalista. A maneira como o diretor escolheu de contar a história, recorrendo a flashbacks e um ritmo contido, beirando o introspectivo, pode ser interpretado por muitos como cansativo.


Na trama, temos Natalie Portman como a protagonista chamada Lena, uma professora e cientista da renomada Universidade John Hopkins especializada no "ciclo genético programado da vida das células" um tópico que será central no decorrer do filme. Lena possui um background militar e é casada com o Sargento Kane (Oscar Isaac) que trabalha em operações secretas para o exército. No início do filme ficamos sabendo que Lena está de luto pela morte do marido, sem saber informações a respeito de como ele teria morrido já que estava servindo numa operação secreta. De repente, do nada, Kane surge na casa, confuso e incapaz de explicar onde esteve. Suas condições de saúde se deterioram rapidamente, ele é levado às pressas para um hospital, mas no meio do caminho a ambulância deles é cercada por militares e os dois detidos.

Lena acorda em uma instalação secreta chamada Área X onde recebe da psicóloga Dra. Ventress (Jennifer Jason Leigh) informações a respeito do que está acontecendo.

Ela fica sabendo que um meteoro caiu em uma área costeira dos Estados Unidos provocando mudanças radicais no ecossistema e criando uma área de contenção que passou a ser chamada de "O Brilho" (Shimmer). Para manter os civis no escuro, o governo fabricou uma história envolvendo um acidente químico para acobertar o incidente e evacuar a população local. A área do Brilho no entanto se expandiu e continua se expandindo absorvendo tudo em seu caminho, logo será impossível acobertar sua existência. Para piorar, todas as tentativas de explorar o interior resultaram na perda do contato com as equipes que não conseguiram enviar nenhum fiapo de informação para fora. Kane foi o primeiro a deixar o perímetro do Brilho, mas ele não é capaz de dizer nada de útil.


Uma vez que Lena possui credenciais perfeitas para a tarefa, ela é convidada a participar de uma nova expedição. Liderada pela Dra. Ventress, a equipe formada exclusivamente por mulheres tem como objetivo obter alguma informação mínima sobre o que está acontecendo atrás daquela parede luminescente e opaca.

Equipadas com uniformes militares, enormes mochilas e fuzis de assalto, o esquadrão feminino composto por impressionantes personagens (cada uma com suas próprias especializações) se embrenha no mistério de corpo e alma. A maioria delas acredita se tratar de uma missão suicida e tem razões particulares para aceitar a incumbência.

Natalie Portman tem um papel forte e cheio de presença, sua motivação de decifrar o segredo do Brilho e encontrar uma cura para o marido cria um elo emocional que não precisa recorrer em momento algum ao sentimentalismo. As demais personagens que formam a equipe também tem sua chance de aparecer, não são meras coadjuvantes que não tem nada a acrescentar à história. Jennifer Jason Leigh se destaca como a misteriosa líder da missão, mas as demais atrizes também fazem um belo trabalho: Anya (Gina Rodriguez) é a responsável pelas armas e medicina de campo, Josie (Tessa Thompson) é uma cientista com formação em física, enquanto Cassie (Tuva Nuvotny) é a antropóloga. Cada uma terá seu próprio papel caso a equipe encontre formas de vida alienígena ou situações que precisem ser compreendidas pela visão de especialistas. "A equipe é formada apenas por mulheres?" pergunta Lena quando conhece as outras e Josie responde que ela é formada por cientista". 


É muito bom assistir um filme em que os personagens lidam com as questões de maneira inteligente, reagindo de forma inteligente mesmo diante de circunstâncias surreais. O time é formado por pessoas que estão ali para resolver problemas de uma maneira prática e direta, o que é um alívio quando vemos filmes semelhantes em que as equipes são formadas por idiotas que parecem não ter ideia do que estão fazendo (eu ouvi Prometheus ou Alien Salvation?)

A expedição ao interior da Área do Brilho se mostra desde o início uma jornada através de um território incerto. Em um cenário ao mesmo tempo enigmático e cheio de belezas, com luzes opalescentes e estruturas combinando bizarrice e lirismo, a equipe tem a chance de fazer descobertas e encontrar indícios perturbadores de que a natureza no interior do Brilho está sendo profundamente alterada pelo elemento alienígena. Uma das coisas que passou pela minha cabeça é que a riqueza de detalhes poderia render mais umas 10 horas de exploração e imagens incríveis, se tal coisa fosse viável.

É impossível não lembrar, logo na primeira cena do filme, de "O Enigma do Outro Mundo" quando um elemento alienígena vindo das profundezas do espaço atravessa a tela se chocando contra um farol. Também não há como ignorar os elementos de horror cósmico lovecraftianos que permeiam toda exploração do Brilho. As alterações bizarras na vida animal e vegetal estão em sintonia perfeita com as descrições de Lovecraft em "A Cor que caiu do Céu" e o roteiro parece se apropriar de alguns conceitos para gerar cenas de perfeito horror visceral. A forma como animais, plantas e finalmente espécimes humanos são modificados pelo Brilho são reminiscentes da ação da Cor no conto de Lovecraft. A contaminação se desenvolve como uma doença, um tipo de câncer que age sobre todos organismos vivos, causando neles uma mutação implacável.


No momento em que a equipe encontra a primeira criatura (um jacaré albino com uma mandíbula poderosa dotada de fileiras de dentes afiados como os de tubarões), fica claro que a intenção do brilho é redesenhar a natureza do planeta com sua própria interpretação. Mas isso não é nada perto das mudanças que o brilho opera em seres humanos, como fica claro, quando a equipe encontra pistas do que aconteceu com a expedição de Kane. Além disso, o brilho parece agir sobre o estado mental das pessoas, ocasionando discussões e desconfiança que desembocam em um perigoso clima de paranoia, sobretudo porque todas as mulheres estão fortemente armadas. Mais um ponto em que Aniquilação faz um aceno para a obra lovecraftiana, já que a sanidade das personagens se encontra sob constante ataque do ambiente insalubre no Brilho.

A medida que a viagem segue, os horrores e maravilhas vão se apresentando e há espaço para doses generosas de suspense e certo grau de gore. Uma cena particularmente angustiante me lembrou o já mencionado Enigma do Outro Mundo quando as protagonistas se vêem imobilizadas diante de uma abominação. 

A audiência é convidada a explorar os mistérios e ir descobrindo aos poucos, junto com os personagens, o que está acontecendo. Mas não espere ter todas as respostas no final do filme!


Mantendo a tradição de produções de ficção científica recentes, o final é ambíguo e provocativo, deixando dúvidas e várias lacunas para que a própria audiência tente preencher com sua própria interpretação. Talvez isso tenha criado a ideia de que Aniquilação é um filme demasiado "intelectual" e "difícil de entender", fatores que acabariam afastando parte do público que sairia frustrado da experiência cinematográfica. Entretanto, quando se trata de Ficção Científica, é preciso lembrar que um dos elementos mais importantes do gênero, e algo inerente a ele, é justamente provocar o público e fazer com que ele pense, reflita e tire suas próprias conclusões.

Aniquilação é um filme curioso e vale a pena ser assistido, provavelmente não é para todos os gostos e sei que vai ter muita gente contestando essa resenha, contudo, vai agradar a quem procura algo fora do convencional e que vai muito além de visual e choque. 

Trailer:

quinta-feira, 15 de março de 2018

Pesadelos da Natureza - Triffids como inimigos em vários sistemas


Aqui está uma adaptação dos Triffids para vários sistemas diferentes onde seres vegetais saídos de pesadelos possam ser úteis.

TRIFFIDS PARA D&D


Plantas de esferas distantes

Essas estranhas plantas dotadas de consciência habitam regiões tropicais com clima quente e úmido onde estabelecem colônias numerosas extremamente agressivas. São conhecidos por estabelecer vastos territórios em selvas, pântanos e manguezais, sendo que as perigosas Terras de Chult possuem as maiores concentrações. Não se sabe ao certo a origem dos Triffids, contudo, sábios e pesquisadores dos Reinos acreditam que esta possa estar ligada a queda de estranhas pedras que se precipitam do vazio do espaço ou que viajam através dos planos trazendo em seu interior as sementes  para a criação dessas abominações. Suspeita-se que a forma vegetal seja adotada em face da assimilação de uma espécie dominante no planeta, e que a forma original dos Triffids seja originalmente diferente. Há boatos que alguns Triffids desenvolveram capacidades psiônicas que lhes permite controlar formas de vida vegetais entre as quais Shambling Mounds e Entes que fazem a defesa de seu território. 


Terríveis Devoradores de Carne

Triffids são bastante conhecidos (e temidos) pela sua voracidade. Eles são verdadeiros predadores que deixam seus territórios quando as fontes de alimento diminuem. Triffids são incansáveis, viajam grandes distâncias com o intuito de inspecionar territórios adjacentes e verificar a disponibilidade de caça. Por se confundir facilmente com a vegetação comum eles conseguem se manter disfarçados se aproximando furtivamente para espionar. Uma vez encontrando uma região rica em alimento (formas de vida), os vegetais avançam de maneira implacável atacando com centenas de indivíduos. Presas podem ser capturadas e escoltadas como prisioneiros de volta ao seu território onde são mantidas como reserva de alimento. 

Anátema da Natureza


Embora tenham a aparência de plantas, os Triffids são considerados por druidas, rangers e por sacerdotes de divindades naturais como verdadeiras blasfêmias. Entre vários povos primitivos existem profecias ditando que uma invasão em larga escala dos Triffids causará a destruição das raças animais. Alega-se que eles não pertencem ao mundo natural e constituem uma quebra no delicado equilíbrio ecológico. Muitas ordens druídicas consideram os Triffids uma ameaça tão grande que se dedicam a exterminá-los onde quer que esses seres apareçam.  Os Githyankis estão entre as únicas formas de vida com a qual os Triffids estabeleceram relações amigáveis, alguns estudiosos acreditam que isso se deva ao fato de que eles compartilham uma origem planar comum. 

Medium Plant, Lawful Evil

CA: 14 (Armadura Natural)
PV: 18 (4d8)
Velocidade: 15 pés

FORça              12 (+1)
DEXtreza         16  (+3)
CONstituição   11 (+0)
INTeligencia      7 (-1)
SABedoria        12 (+1)
CHArisma        10 (+0)

Condições de Imunidade: Cegueira, Surdez, Medo, Exaustão

Habilidades: Furtividade +4
Vulnerabilidade: Frio
Sentidos: Percepção Passiva (+1)
Línguas: ---
Desafio: 1/2

Aparência Falsa: Enquanto permanece imóvel, Triffid é indistinguível de plantas comuns. Eles costumam se valer disso para atacar surpreendendo os adversários.

AÇÕES:

Ataque com galho: Ataque corpo a corpo +2, alcance: 5 pés, um alvo; Dano: 4 (1d6 +1), dano de contusão.

Ferrão Venenoso (Recarga 5-6): Ataque corpo a Corpo +4, Dano 3 (1d4 +1), alcance: 20 pés, dano perfurante e o alvo atingido deve fazer um teste de Constituição ND 11 ou ser envenenado. Se o rolamento falhar por 5 ou mais, o alvo também fica cego. O alvo pode repetir o rolamento em seus turnos, terminando o efeito em um sucesso.

Triffids a critério do DM podem desenvolver poderes psiônicos latentes.

TRIFFIDS PARA CYPHER SYSTEM           2 (6)



Triffids são oponentes perfeitos para o Sistema Cypher. 

Em Numenera eles se encaixam como as típicas criaturas bizarras e estranhas que fazem parte do cenário e que todos nós adoramos. Eles podem ser resultado de alguma experiência com Numenera ou quem sabe chegaram no interior de uma espaçonave alienígena como uma espécie de praga espacial. Posso imaginar os Triffids se reproduzindo aos milhares e se tornando uma enorme ameaça para o Reino Consolidado de Navarene que é coberto por densas florestas. Talvez algum nobre ofereça a um valoroso grupo de aventureiros uma verdadeira fortuna se eles conseguirem detonar uma bomba desfolhante (um Cypher poderoso) no local de onde os Triffids estão vindo. 

Triffids podem ser inimigos mortais dos Golthiar, uma espécie de plantas humanóides conscientes do Nono Mundo. Talvez exista entre os Golthiar uma profecia sobre a vinda (ou retorno) dos Triffids e de uma Era de Caos e Destruição. Caberá aos heróis por um fim a essa ameaça se aliando aos Golthiar e fazendo de tudo para deter a proliferação dos carniceiros.  

Já para Strange, os Triffids podem ser monstros de uma Recursão inspirada pela novela de John Wyndham, "O Dia dos Triffids" (The Day of the Triffids). Como tal, o mundo está à beira da catástrofe com a cegueira de milhões de pessoas e o ataque de uma raça alienígena de plantas carnívoras.

Motivação: Fome de Carne
Ambiente: Selvas, Florestas e Pântanos
Saúde: 6
Dano Infligido: 2 pontos
Movimento: Curto
Modificação: Percepção como nível 4, ataque com ferrão como nível 4

Combate: Atacam com um golpe usando galhos, mas seu ataque principal é com o ferrão que causa 1 ponto de dano. Oponentes feridos pelo ferrão devem fazer Defesa de Potência ou é envenenado. Indivíduos sob o efeito da toxina reduz sua reserva de Potência para zero imediatamente. 

Interação: É impossível estabelecer comunicação com Triffids.

Uso: O povo de uma aldeia na beira de uma floresta percebe que pessoas entrando na mata estão desaparecendo misteriosamente. Cadáveres feitos em pedaços e ossadas são encontradas, mas nenhum sinal de quem ou o que causou essas mortes.  

Intromissão do MJ: O ferrão disparado atinge o alvo em um olho deixando-o temporariamente cego.

TRIFFIDS PARA SAVAGE WORLDS

Triffids podem ser oponentes marcantes em muitos cenários de Savage Worlds.

Para cenários de fantasia medieval eles podem ser utilizados nos mesmos moldes de Dungeons and Dragons, como monstros perigosos no coração de Florestas ou Selvas inóspitas nos recônditos da civilização. Em Accursed esses horrores podem ser uma arma biológica criada pelas bruxas e liberada na natureza para destruir tropas inteiras e espalhar o medo nos campos de batalha. Imagina o moral dos soldados ao se deparar com plantas carniceiras. 

Em Weird War II, os Triffids podem ser uma forma de vida desenvolvida pelos cientistas japoneses com o intuito de obter uma vantagem na Guerra do Pacífico. Soltar centenas deles em ilhas pouco habitadas pode ser um plano desesperado para conter o avanço dos aliados. Da mesma maneira dá para imaginar o estrago que Triffids poderiam causar se liberados pelos nazistas em florestas durante a ofensiva pós-dia D. Alternativamente esses pesadelos vegetais poderiam ter caído no interior de um meteoro em qualquer canto do mundo matando indiscriminadamente tanto os soldados aliados quanto os do Eixo. Uma vez que essas criaturas se adaptam, encontrá-las em lugares quentes seria muito mais provável.

Em ambientações de Horror, os Triffids podem ser oponentes tenebrosos. Para uma variação do tema "Apocalipse Zumbi", hordas de plantas carnívoras poderiam ser bem interessantes como elemento diferenciador para os que já estão cansados dos mortos vivos canibais. Sem falar que os hábitos detestáveis desses monstros em se alimentar de cadáveres putrefatos passa uma ideia perfeita para uma mesa de horror gore.

Para cenários de Supers, esse pesadelo vegetal pode ter escapado de uma ruína no meio de uma floresta, descoberta por arqueólogos que libertam esse horror. Quem já viu o filme "As Ruínas"? Outra opção é fazer com que eles venham de um outro planeta e sejam aquela ameaça inesperada que apenas super heróis poderão conter. Também é possível que eles sejam os aliados de um super-vilão que usa a natureza como sua arma,os Triffids seriam uma perversão do próprio mundo natural.

Em um jogo de Ficção Científica, os Triffids podem se prestar tanto ao papel de "Monstros que Vieram do Espaço" quanto "Criaturas Nativas de um Planeta sendo explorado". São monstros detestáveis, cruéis que existem exclusivamente para matar e comer. Nesse cotexto são criaturas que emulam bem o papel de xenomorfos como os do filme Aliens, o Resgate. Coloque uma centena deles contra meia dúzia de marines espaciais e você tem um cenário de horror e ação. Se quer piorar, coloque milhares deles contra uma equipe que "naufragou"  em um planeta não mapeado.

Finalmente, não há nada que não possa ser adaptado para o Oeste Macabro de Deadlands. Os Triffids podem ser uma forma de vida adormecida, podem ter caído na forma de um meteoro desgarrado em Nevada, podem ter saído de um Templo Asteca no México ou quem sabe ser um pesadelo vegetal venerado por uma tribo que atendeu ao chamado do profano. Quer fazer algo diferente? Coloque um deles numa cidade, tendo sido levado por um astrônomo que recolheu o meteoro no deserto e pensava em exibi-lo num museu.  

ESTATÍSTICAS

Atributos: Agilidade d10, Astúcia d4, Espírito: d6, Força d6, Vigor d8

Perícias: Atirar d10, Furtividade d10, Intimidar d8, Lutar d6, Perceber d8

Aparar: 6, Movimentação: 4; Resistência: 5

Golpe: For +d4

Ferrão Venenoso (-4): For +d4 Efeito de Veneno do Tipo Letal (pg 126) 

TRIFFIDS PARA ABEA

No coração das florestas não mapeadas existem muitas coisas estranhas e perigosas. Os nativos que habitam as terras centrais comentam a respeito de horrores vegetais que caçam, matam e se alimentam da carne dos homens como se fossem feras e não plantas. Muitas das tribos costeiras duvidam dessas histórias, pois jamais viram tais seres e acreditam serem eles simples lendas criadas para assustar os crédulos. Contudo, aqueles que vivem na parte mais densa das florestas conhecem bem as histórias e aprenderam a temer essas plantas malignas. A medida que a marcha através do continente levou os colonizadores cada vez mais para o interior das Terras por eles reclamadas, coisas realmente perigosas começaram a surgir e desafiar seu conceito de posse. Pois se aquela terra era capaz de produzir horrores tão diabólicos, como simples homens poderiam ousar reclamá-la para si?

Ninguém sabe a origem desses monstros, mas não faltam lendas indígenas a respeito do perigo que eles representam. Algumas tribos acreditam que o fim do mundo está ligado a essas criaturas que chegariam em uma estrela que se precipitaria do céu. 

Os Triffids em ABEA podem ser um inimigo dissimulado, temido e evitado. A noção de criaturas vegetais conscientes em um lugar coberto de densa vegetação concede a esses seres uma vantagem notável. Também há de se considerar que em regiões propícias, como é o caso do Brasil tropical, os Triffids encontrariam seu ambiente perfeito, crescendo e se desenvolvendo além do tamanho e capacidades consideradas normais.

O Triffid é uma criatura vegetal consciente, dotada de capacidade de locomoção e inteligência rudimentar. Eles atingem quase dois metros de altura, possuem um corpo bojudo e um longo pescoço terminando em uma espécie de flor ornamental. Dela decorre um cordame vegetal que é lançado à distância e usado para atacar. Esse cordame possui um espinho que transfere um potente veneno. Estas plantas se confundem com a vegetação e se escondem nas florestas e selvas fechadas para atacar de surpresa. Triffids se alimentam de carne, após matar suas vítimas eles se enraízam no chão e esperam a vítima apodrecer, para então devorar a carcaça.

Cada vez que seu ataque Disparar atinge o alvo, deve ser aplicado à vítima um teste de Envenenar.

TRIFFID

Tamanho: I
Movimento: 1
Habitat:Florestas densas, selvas fechadas e pântanos
Número: 1 a 6
Habilidades: Rastreamento 2,
Ataques Físicos: Disparar 3 (dano 1) ou Arranhar 1 (dano 2)
Resistência: 10
Defesa Passiva: 2
Defesa Ativa: 0