terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Lugares Estranhos - Belchite, a Cidade Fantasma devastada na Guerra Civil espanhola

A seguir temos um dos sítios mais sinistros da Espanha, um lugar assustador cuja história chocante remonta ao conflito que dividiu o país na década de 1930. 

A localidade assombrada chamada Belchite, se localiza na região de Zaragoza em uma área isolada do país. Ela é bastante conhecida por sua história de violência e brutalidade, tendo sido palco de uma das mais sangrentas batalhas travadas durante a Guerra Civil espanhola. 

Tudo começou em 1937, quando o Exército Nacionalista, que controlava a cidade foi vítima de uma implacável ofensiva por parte dos Republicanos. Em maior número e mais bem equipados, estes marchavam para Zaragoza e a cidade de Belchite se tornou um dos últimos focos de resistência em seu avanço. Quando chegaram aos muros da cidade o comandante exigiu sua rendição imediata. Uma guarnição que controlava a cidade se negou a depor armas e se entrincheirou. A resistência foi brava, mas na mesma proporção que os defensores demonstraram grande coragem, também exigiram que a população ficasse ao lado deles. Nenhum civil tinha permissão de entrar ou sair, nem mesmo mulheres e crianças. 

Logo a situação ficou insustentável!

Com a chegada de artilharia pesada e aviões a coisa piorou drasticamente. Projéteis eram disparados dia e noite para dentro de Belchite demolindo casas e fazendo muitas vítimas civis. Aviões faziam mergulhos rasantes sobre a cidade e despejavam uma chuva de bombas incendiárias. O bombardeio maciço durou nada menos do que 14 dias, deixando um saldo de 5 mil mortos, sendo que destes pelo menos 4 mil eram não combatentes. Um levante popular que tencionava se render foi duramente repelido e muitas pessoas foram executadas por pelotões de fuzilamento.

No fim, as defesas acabaram sendo rompidas e os atacantes entraram na cidade matando indiscriminadamente quem achavam pela frente, acreditando que a população era favorável aos Nacionalistas.

A cidade de Belchite foi reduzida a ruínas fumegantes com cadáveres insepultos em todo canto, um inferno devastado por artilharia pesada. Não é de se surpreender que ele tenha sido abandonado pelos sobreviventes que vivenciaram esse terror. De fato, o lugar foi evacuado e não foi permitido que as pessoas levassem nada, nem que enterrassem seus entes queridos ou carregassem os feridos. Muitos destes foram simplesmente fuzilados, os corpos atirados em fogueiras ou jogados em covas rasas. O massacre de Belchite se tornou um dos capítulos mais medonhos da Guerra Civil Espanhola, um conflito marcado por atrocidades chocantes praticadas por ambos os lados.

Posteriormente, alguns sobreviventes ou parentes receberam permissão de retornar às ruínas de Belchite para procurar os restos de algum ente querido, mas a tarefa foi no mínimo complicada. O governo decidiu simplesmente reunir todos os ossos espalhados pelo terreno, cavar uma vala e sepultar as ossadas juntas.


É surpreendente, mas ainda hoje, os prédios danificados pela guerra continuam de pé no mesmo local. A cidade é uma lembrança triste de um período em que a Espanha se viu dividida ideologicamente. Algumas edificações resistiram, pois foram erguidas com pedras e material resistente, mas não restava muito além de paredes arruinadas, pilhas de pedras, chaminés e tijolos desconjuntados. Ainda assim, é possível discernir os contornos da velha igreja, da praça e da prefeitura, além de muitas casas detonadas pelos projéteis.

A essa altura, você deve estar se perguntando porque esse lugar não foi simplesmente demolido e transformado em algo menos horrível. A resposta é simples: História. Belchite é um dos últimos marcos do período e embora muitos espanhóis queiram esquecer dessa guerra fratricida, existe o comprometimento com a história. Colocar abaixo Belchite seria acabar com uma lembrança que embora amarga era necessária para reconstruir o país.

Muito bem, a explicação é convincente, mas não causa nenhuma surpresa informar que a cidade é considerada incrivelmente assombrada. Todas as coisas horríveis que aconteceram aqui deixaram uma mácula no solo, no ar e nas ruínas como um todo, uma mácula que muitos afirmam se manifestar constantemente.

Um fenômeno comum relatado por visitantes diz respeito aos sons fantasmagóricos de batalha que continuam ecoando quase um século depois de silenciados. São ruídos de bombas, tiros, explosões abafadas e até de aviões. Também há o som de canções, gritos e gemidos de pessoas que teriam morrido no sítio. Esses sons são tão claros que as pessoas que os ouviram afirmam ser algo surreal, que causa arrepios e deixa uma sensação desconcertante.


Também são frequentemente avistados soldados espectrais em uniformes da década de 1930, bem como vários civis e figuras sombrias menos definidas. Há personagens conhecidos, como um soldado com uniforme rasgado e coberto de sangue que corre gritando "vamonos hombres!" para aliados invisíveis. Também há uma mulher espectral carregando uma criança em seus braços e pedindo socorro a todos que encontra, sem se dar conta de quem são seus interlocutores. Finalmente, existe um fantasma recorrentemente visto nos escombros que xinga, amaldiçoa e até investe contra as pessoas. Este é chamado "el Capitan", porque em teoria veste um uniforme de oficial e tem em suas mãos uma pistola Mauser. O capitan chegou a ser reconhecido como Esteban Aristo, um dos defensores da cidade que conduziu a defesa e que supostamente continua a fazê-lo pela eternidade apesar de estar morto.

Ocasionalmente são relatados fenômenos ainda mais sinistros no interior das ruínas. Muitas pessoas mencionam serem empurradas, esbofeteadas ou golpeadas por mãos invisíveis. Este contato espectral é geralmente descrito como algo desagradável e frio. Há aqueles que mencionam um fedor de carne queimada, de fumaça e de pólvora que pode ser sentido sempre que o vento sopra pelas ruas desertas.

Não são poucos os relatos de pessoas afirmando terem sido tomadas por um pavor incontrolável forte o bastante para fazer os visitantes fugirem aos gritos. Algumas pessoas contaram sentir como se seus corpos estivessem sendo puxados ou empurrados, ou ainda perdendo o controle de seus membros por algum tempo. Os fantasmas também tendem a falar através de pessoas sensitivas, que gritam, choram e se desesperam. Há casos de pessoas que embora desconhecessem o idioma local, misteriosamente gritavam em espanhol ou em dialetos que jamais haviam ouvido.


Um incidente como este foi relatado pelo jornalista e pesquisador Carlos Bogdanich, que visitou Belchite em 1986 junto com uma equipe de filmagem do programa de televisão Cuarta Dimensión. Ele afirmou que enquanto estavam lá, uma força desconhecida o dominou e falou através dele pedindo socorro e implorando para que membros de "sua família" fossem encontrados.
 
Ele diria sobre isso:

"Eu nunca pensei que algo assim pudesse acontecer. Foi algo inesperado! Eu perdi a consciência e não me recordava de nada, mas quando vi a filmagem na qual eu falava com uma voz que não era minha, fiquei muito assustado. Esse lugar causa uma sensação inenarrável de perda e assombro. Você sente o peso da tragédia e não tem como evitar a sensação esmagadora e deprimente que reina aqui. Belchite é um dos lugares mais tristes que eu já visitei... suponho que ninguém é capaz de ficar insensível a sua aura".

Várias equipes de televisão visitaram Belchite ao longo dos anos. 

Uma destas obteve várias leituras de EVP (Electronic Voice Phenomena), que foram apresentados ao vivo em um programa de televisão. Os sons eram muito claros e perfeitamente compreensíveis, incluindo gritos, tiros e explosões. A Plaza de la Cruz, a vala comum que serviu para sepultar os ossos e as duas igrejas da cidade são consideradas particularmente assombradas, com a atividade mais intensa relatada a partir desses pontos. 


Esses elementos fantasmagóricos tornaram Belchite um destino popular para pesquisadores paranormais e parapsicólogos do mundo inteiro. Ele era tão famoso por seus fantasmas quanto por seu cenário pitoresco e sua história sombria. Em 1998, a Secretaria de Resgate Histórico da Espanha passou a negar visitas ao local, alegando que visitantes estavam causando danos ao local. Também foi dito que algumas pessoas estavam se aproveitando da história local para obter lucro e fama. Hoje as ruínas são protegidas e a permissão para visitá-las passa por uma análise criteriosa.

O ambiente misterioso de Belchite atraiu o cineasta mexicano Guillermo del Toro que conseguiu autorização do governo espanhol para filmar algumas cenas de seu filme "O Labirinto do Fauno" (Pan´s Labyrinth) nas ruínas da cidade. Del Toro descreveu a experiência como assustadora e contou em entrevista que, embora não tenha visto ou ouvido nada sobrenatural, sentiu uma forte presença no ar - como se algo estivesse ali com a equipe de filmagem.

Com uma história dessas, difícil não sentir tal coisa...

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

True Detective - Terra Noturna Episódio 2 - Cadáveres Congelados, Espirais e um cientista suspeito.


Muitas perguntas permanecem sem respostas no segundo episódio de True Detective: Terra Noturna, contudo, temos alguns novos indícios e pistas.

Depois de apresentar o gancho inicial, com o desaparecimento de um grupo de cientistas da sua Estação de Pesquisas em pleno Alasca, o primeiro episódio da quarta temporada deixou os espectadores com aquele gostinho de quero mais, desejando saber o que diabos está acontecendo. Embora o segundo episódio faça algo similar, levantando questões, ele ajuda a empurrar a trama em direções intrigantes que nos permitem traçar algumas teorias.

Comparado com o episódio anterior, este trecho se mostra bem menos sobrenatural e com os pés fincados no chão. É possível que Terra Noturna adote essa postura daqui em diante, sendo mais um drama criminal de procedimento do que uma trama sobrenatural. Nada errado com isso, a primeira temporada seguiu essa mesma premissa mantendo o estranho e inusitado de forma discreta.

Isso, no entanto, não significa que o background metafísico será abandonado na narrativa. Há referências surpreendentes que ligam ainda mais Terra Noturna a primeira temporada e essa relação (tão desejada) pelo público parece estar gerando enorme repercussão, já que muita gente que tinha abandonado a série voltou a ela com interesse renovado. 

Nos instantes finais, o episódio é concluído com uma revelação chocante em torno do mistério central do assassinato que muda tudo o que Navarro e Danvers sabiam sobre os pesquisadores de Tsalal. Raymond Clark, um dos cientistas surge como um personagem importante na trama, talvez o único capaz de explicar a tragédia ou possivelmente o responsável por ela...

Vejamos o que temos nesse segundo episódio.

1 - Os pesquisadores têm córneas queimadas, tímpanos rompidos e estão sem roupa


As condições dos pesquisadores mortos revela muito sobre o que pode ter acontecido com eles.

Enquanto Danvers e Peter investigam os corpos congelados dos pesquisadores, eles notam vários padrões: nenhum deles está vestido e seus olhos e tímpanos estão seriamente sanificados. Momentos depois, Navarro encontra as roupas bem dobradas alinhadas ao lado dos calçados como se eles tivessem sido colocados ali por alguém que assistiu tudo. Esses pequenos detalhes em torno dos pesquisadores sugere que tirar suas roupas e empilhá-las perto da cena do crime fazia parte de um intrincado ritual. 

Tudo leva a crer que há uma pessoa que conduziu o incidente e que potencialmente pode ser o responsável pala tragédia - um assassino.

O assassino poderia ter submergido suas vítimas debaixo d'água, o que explicaria como o gelo queimou suas córneas. Há no entanto, indícios de que alguns dos ferimentos foram auto infligidos, como Peter observa ao analisar um dos cientistas que parece ter "arrancado os próprios olhos".

Já os ferimentos nos tímpanos podem ter sido causados pelo assassino que os mergulhou muito fundo nas águas do Alasca, mas o fato de seus corpos terem sido encontrados na superfície sugere que o assassino queria que eles fossem encontrados pelas autoridades. Uma súbita mudança de temperatura ou de profundidade poderia causar esse tipo de dano, mas ainda é cedo para assumir qualquer coisa.


Há ainda a possibilidade de que os cientistas tenham experimentado um estado de delírio coletivo causado por hipotermia extrema. Condições adversas de frio podem ocasionar hipóxia e falta de oxigenação no cérebro, que por sua vez pode acarretar alucinações bastante vívidas por parte de quem está perto de congelar. De fato, muitas pessoas que tiveram uma experiência de quase morte em lugares de temperatura negativa extrema relataram estranhas visões. Entre os esquimós essa condição é chamada de "visão do frio". Nela, a pessoa experimenta visões extremamente reais que se apresentam como delírios vívidos. Em certos casos essas visões incluem criaturas, monstros e acontecimentos bizarros.

O que poderia ter convencido esses homens a deixarem a segurança da base e se aventurarem TODOS ao mesmo tempo num ambiente absurdamente hostil? No Alasca, a temperatura facilmente atinge os 30  graus negativos, ninguém sem trajes sobrevive a esse rigor. Os homens supostamente tinham treinamento e conheciam o ambiente em que viviam. sair nessas condições, sem roupas e sem calçados seria suicídio, a não ser que eles não conseguissem perceber onde estavam e o risco que corriam.     

2 - Temos um sobrevivente


O pesquisador sobrevivente pode ser uma peça-chave no assassinato.

Ao tentar livrar um dos corpos do gelo, um policial quebra acidentalmente o braço de uma das vítimas. O membro se parte como um pedaço de vidro e para surpresa de todos, o sujeito começa a gritar de dor, revelando que ainda está vivo. 

Embora ainda não se saiba se ele sobreviverá, Danvers conversa com uma enfermeira que revela que o pé do pesquisador está sendo amputado e ele está em coma induzido. O fato de o pesquisador ainda estar vivo sugere que, embora ele e o outro estivessem desaparecidos há dias, eles foram congelados apenas algumas horas antes de a APF encontrar seus corpos. Ninguém seria capaz de suportar dois dias vivo naquelas condições.

Frio extremo pode por vezes ter um efeito protetor, contudo, nenhum ser humano é capaz de suportar temperaturas congelantes durante dias. Isso levanta a hipótese de que as vítimas foram congeladas não muito antes deles serem descobertos. O fato das roupas não terem sido enterradas sob uma camada de neve fortalece ainda mais essa suspeita, tornando difícil não se perguntar onde eles estavam e o que estavam fazendo antes de serem congelados até a morte.

3 - Travis é o pai de Rust


Conforme suspeitávamos, a quarta temporada de True Detective confirma uma conexão importante com a primeira temporada.

Em uma breve cena, Rose se abre para Navarro sobre suas visões e tenta explicar como ela ainda enxerga Travis. À bem da verdade, muitas pessoas em Ennis aceitam que são capazes de ver o espírito de pessoas que já morreram o que inclui o entregador que fez a descoberta dos cadáveres que sugere ter visto algo dentro da base, quando não deveria haver ninguém mais..

Apenas à título de curiosidade, existe um estudo que comprova que o Alasca é o estado americano em que mais pessoas acreditam abertamente na existência de espíritos e fantasmas. Cerca de 85% da população residente acredita que existem maneiras de estabelecer contato com os mortos e quase 65% das pessoas entrevistadas afirma ter tido alguma experiência dessa natureza ao menos uma vez na vida. Cientistas acreditam que as condições de noite contínua, que perduram por longas semanas durante o inverno podem ensejar em visões, alucinações e delírios. A mente não inteiramente descansada é capaz de pregar peças nas pessoas e criar condições para que elas experimentem tais visões. 

Mas vamos falar um pouco mais sobre Travis.   

Rose chama o sujeito de Travis Cohle, confirmando assim que ele é o pai de Rust. A primeira temporada de True Detective menciona que Rust tinha um pai chamado Travis que morava no Alasca, que o ensinou a caçar e que morreu de leucemia. Ficamos sabendo que ele resolveu vagar pelo gelo ao invés de sofrer com os efeitos da leucemia no que poderia ser considerado um suicídio consciente. 

Considerando como Rust podia ver coisas além do plano da consciência normal, faz sentido que seu pai também possa dobrar as fronteiras entre o mundo material e o espiritual para entrar em contato com Rose. Não sabemos exatamente quem é Rose e se ela tem algum grau de ligação com o detetive Cohle, mas é razoável assumir que ela o conhece já que tinha um romance duradouro com seu pai.

Seria Travis uma espécie de mensageiro do além, incumbido de alertar as pessoas de Ennis de que algo está errado? Rose menciona que os mortos procuram os vivos seguindo certos objetivos entre os quais, avisar de algo que eles precisam saber. Poderia ser o alerta de que "ELA" acordou? Ou que o Rei Amarelo está agindo em Ennis? O fato de Travis ter mostrado onde estavam os cadáveres congelados demonstra que existe um interesse de desafiar seja lá quem (ou o que) causou as mortes. 

Suponho que veremos Travis Cohle novamente e que sua participação nessa trama ainda não está concluída.

4 - O que sabemos sobre os cientistas em TSALAL?


Provavelmente há mais na missão dos cientistas do que eles deixavam transparecer.

Danvers visita um Professor de Geologia na escola local de Ennis para saber mais sobre o que os pesquisadores queriam alcançar em TSALAL. Embora Peter já tivesse dito a ela que o grupo estava tentando descobrir a origem da vida, sua interação com o professor de geologia revela que eles tinham planos muito ambiciosos. Tentavam sequenciar o DNA de um microrganismo extinto que pudesse prevenir a decadência celular. O professor explica que uma descoberta como essa poderia não apenas mudar tudo o que a humanidade sabe sobre medicina e saúde, mas também poderia abrir as portas para a cura de doenças autoimunes crônicas e até mesmo do câncer. 

No entanto, ele também acrescenta cautelosamente que eles perseguiam um objetivo difícil de ser alcançado. Para chegar a essas conclusões eles precisariam de muito tempo, de equipamento especial, condições favoráveis e muitos outros fatores. E mesmo assim, a busca poderia não resultar em sucesso pois o que eles procuram é uma quebra de paradigma que poderia ser elusivo.

É interessante imaginar esse tipo de busca e correlacionar com quem poderia patrocinar tal demanda. Não se trata de um objetivo simples ou uma mera exploração de cunho científico, é algo muito mais abrangente e sério.

Além disso, o professor classifica os cientistas em TSALAL como "loucos". Indivíduos que não se misturavam, que enfrentavam longos períodos de reclusão e que tinham sua própria rotina. Como veremos mais adiante "loucos" também é como outras pessoas que tiveram contato com os homens em TSALAL os viam.

5 – Espirais na testa das vítimas


As espirais estão de volta, tão importantes nessa temporada quanto na primeira, quando elas representavam as maquinações do Rei Amarelo e seus servos devotos. As espirais são o equivalente ao Símbolo de Hastur, o brasão usado pelo Culto do Rei Amarelo para marcar aquilo que lhes pertence ou que tem uma ligação com a divindade. Na primeira temporada o símbolo está gravado na carne de vítimas sacrificadas, em objetos importantes e nos templos consagrados ao Rei Amarelo.

Depois de descobrir que os cientistas mortos têm símbolos de espirais em suas testas, Danvers se pergunta se teriam sido eles mesmos que os desenharam ou se foi o assassino. Se eles próprios desenharam, devem tê-lo feito antes de deixar as instalações de Tsalal, porque não poderiam fazer com os efeitos da hipotermia. Se por outro lado, o assassino os desenhou, parece provável que ele tenha conexões com o Culto do Rei Amarelo. Na primeira temporada de True Detective, desenhar espirais nas vítimas antes de matá-las fazia parte do ritual meticuloso do assassino.

Em outra cena bastante interessante, Rose pergunta a Navarro se ela percebeu as espirais na testa das vitimas e Navarro afirma que já viu as espirais antes no caso de Anne K. Quando perguntada a respeito de seu significado Rose afirma que aquele símbolo é muito antigo, mais antigo que Ennis e que o próprio gelo do Alasca. 

Essa descrição de gelar o sangue nas veias talvez seja o mais próximo que a serie chegou do conceito clássico dos Grandes Antigos, que são forças ancestrais, muito mais velhas do que a humanidade. Dizer que o símbolo cabalístico é antigo além da humanidade é uma forma de determinar sua importância para os seguidores fieis. Trata-se de uma notável relação com o Mythos e as origens clássicas do Rei Amarelo.

6 - TSALAL está conectada à Família Tuttle

Possivelmente a maior revelação desse segundo episódio e uma de grande peso para estabelecer a conexão entre a primeira e a quarta temporadas envolve quem patrocina o TSALAL. 

Anteriormente já havia sido mencionado que a instalação científica financiada era patrocinada por uma ONG. Contudo agora ficamos sabendo que os registos fiscais dessa ONG que financia o Tsalal, levam a uma empresa de fachada chamada NC Global Strategies, que por sua vez é propriedade da Tuttle United

Na primeira temporada de True Detective, a Família Tuttle revelou-se a principal força por trás do Culto ao Rei Amarelo. Entre os seus membros estavam um influente líder religioso e o governador da Louisiana. Gente poderosa na política, pessoas influentes e ricas, os Tuttle estavam metidos com rituais elaborados de natureza pagã. Algo que remontada a velhas tradições de sacrifício e adoração a entidades da natureza, que em True Detective se relacionam ao Rei Amarelo. A gravação de um dos doentios rituais do Culto foi suficiente para fazer o estômago de detetives calejados revirar, então, a coisa é realmente hardcore

O aparecimento dos símbolos de espiral em True Detective: Terra Noturna e a menção da infame Família Tuttle parece sugerir que o culto do Rei Amarelo vai muito além dos pântanos da Louisiana, ele também tem raízes espalhadas pelo Alasca.

Não vamos esquecer que o Professor Bryce descreveu os cientistas de Tsalal como "malucos", quando Danvers pediu que ele explicasse exatamente o que os falecidos estavam fazendo lá. "São reclusos, ninguém entra, ninguém sai. Equipes desse tipo tem rotação, a deles não". Não seria esse o comportamento de pessoas fanáticas? Algo que se esperaria de típicos devotos de um Culto?

Por outro lado, é possível também que eles sequer soubessem para quem trabalhavam, que fossem meras engrenagens em uma máquina muito maior. Os cientistas poderiam apenas estar desempenhando seu trabalho e acabaram vitimados pelas circunstâncias. Alternativamente um ou mais deles poderiam ter conhecimento dos esquemas da Família e de suas práticas místicas, mas dificilmente todos. 

Além de ser importante, a pesquisa científica conduzida em TSALAL poderia ser extremamente lucrativa para uma megacorporação como a Tuttle United. Veremos como essa informação será usada ao longo da trama.

7 - Os traumas pessoais de Danvers e Navarro


As detetives dessa temporada parecem ter traumas profundos que retornam constantemente para assombrá-las. Tanto Danvers quanto Navarro experimentam flashback que revelam detalhes trágicos sobre seu passado.

No primeiro episódio tivemos apenas um vislumbre disso, mas no segundo os indícios se tornaram confirmação.

Anteriormente descobrimos que Navarro teve uma participação traumática nas forças armadas. Ela teve um flashback de uma colega militar com o rosto despedaçado. Também sabemos que sua irmã tem algum tipo de problema mental. Rose alertou Navarro para não confundir doença mental com algo sobrenatural. Fica óbvio que a mãe de Navarro sofria com condições mentais semelhantes e que estes parecem ter sido transmitidos para a irmã - uma espécie de legado de sangue. Eu apostaria em esquizofrenia, que algumas tribos consideravam como uma sensibilidade, quase um canal, para o mundo espiritual. Navarro também tem alguns questionamentos religiosos, ambos os flashbacks são causados por indagações envolvendo sua fé - quando Ryan (irmão de Anne K) pergunta se ela acredita em Deus e quando ela acha um crucifixo no carro de patrulha. Ao que parece religião é um gatilho para lembranças amargas para a detetive. 

Já Danvers experimenta flashbacks ligados a morte de seu filho, Holden, provavelmente em um acidente de carro. Ela costumava ouvir "Twist and Shout" enquanto brincava com a criança, o que explica ela não ser fã dos Beatles e sua reação diante da música que era tocada no TSALAL. Danvers, que é xingada e hostilizada por todos em Ennis parece já ter sido uma pessoa bem mais tranquila e suave, mas a vida tratou de endurecê-la. Assim como Cohle sua vida foi marcada pela morte de um filho.

O ursinho polar de pelúcia (visto repetidas vezes) ainda é uma incógnita em True Detective. O que ele representa e qual sua ligação com o Urso que Navarro viu no episódio anterior está aberto a interpretações. Em comum o fato de que os ursos tem apenas um olho, o que está longe de ser mera coincidência. 

8 - Quem é Ted Corsaro?


O episódio 2 apresenta um novo e aparentemente importante personagem na trama, o Chefe da Polícia Regional Ted Corsaro (Christopher Eccleston). 

Após um confronto inicial, Corsaro pede a Danvers que deixe autoridades superiores em Anchorage assumirem o caso dada a sua importância. Danvers bate o pé e cita estatutos procedimentais para manter o comando da investigação, o que lhe dá alguns dias, ao menos até o "picolé de cadáveres" derreter e poder ser transportado em segurança.

Mais tarde, Danvers faz uma visita a casa de Corsaro e os dois acabam dormindo juntos. A interação revela que os dois tiveram um caso secreto por quase duas décadas. Foi Corsaro quem destacou Danvers para trabalhar em Ennis, uma promoção que mais parece o banimento para um fim de mundo gelado. 

Qual a posição de Ted Corsaro diante do caso? 

Há ecos de que Corsaro pode desempenhar um papel semelhante ao do xerife Steve Geraci da primeira temporada de True Detective. Ted está seguindo uma cadeia de comando que pode ligá-lo aos Tuttles, que estão tentando encobrir suas conexões sinistras com os crimes em Ennis, assim como tentaram encobrir seu envolvimento na Louisiana. Uma constante em True Detective é que quanto mais perto do topo estão os policiais, maiores são as suas ramificações com esquemas de corrupção e manipulação. Eu gostaria de ver esse ciclo sendo quebrado, mas ainda não dá para confiar em Corsaro e dizer se ele vai desempenhar o papel de aliado ou inimigo.

9 – O que há de errado com a água em Ennis?

Qavvik (Joel D. Montgrand) diz que a briga em seu bar ocorreu porque os moradores da cidade estão nervosos por conta da "água estragada". "Os pobres coitados estão desmaiando perto da mina”, afirma, referindo-se a uma vizinhança chamada de aldeias onde a água da torneira ficou preta na semana passada. 

Ryan, irmão de Annie K, também tocou no assunto no primeiro episódio quando Navarro foi visitá-lo. Ele mencionou a qualidade da água e que um primo estava morrendo de câncer. Rose (Fiona Shaw) contou que Travis preferiu morrer no frio ao invés de sofrer com a leucemia. Em seguida, um mineiro do bar menciona como seu primo morreu de câncer nos ossos. 

O que diabos está acontecendo em Ennis?

Parece claro que a mina está poluindo e envenenando o suprimento de água da cidade. Os habitantes estão adoecendo e sofrendo efeitos nocivos. Mas de quem é a culpa direta? Sabemos que a mina pertence a uma família local, mas será que há ramificações em outra direção? Eu diria que a Tuttle United é uma possibilidade. Talvez TSALAL esteja lá para verificar esse tipo de dano ambiental disfarçando suas atividades como uma estação de ciência.

Anne K sem dúvida sabia dos danos ao meio ambiente e esquimós. Ela protestava contra a mina, apesar dela ser a empregadora da maior parte da população local. A língua encontrada em TSALAL realmente pertencia a Anne K, como atestou um exame de DNA feito em Anchorage. Anne foi morta por ser uma pedra no sapato de poderosos, seu assassinato horrivelmente encenado pode ter sido um crime ritualizado para o Rei Amarelo.     

Essa porra de cidade”, diz um dos habitantes de Ennis se queixando. Realmente, "essa porra de cidade" tem segredos demais.

10 - O misterioso Sr. Raymond Clark 


O que sabemos sobre Raymond Clark (interpretado por Owen McDonnell)? 

Sabemos que ele é um cientista de origem irlandesa trabalhando Base de Pesquisa TSALAL em Ennis, Alasca. Sabemos, graças à sua biografia online mostrada na semana passada, que ele estuda paleomicrobiologia com foco em "compreender a base molecular da colonização e infecção por Staphylococcus aureus". Sabemos ainda que ele era a única pessoa com quarto próprio no centro de pesquisa e sabemos que ele usava a parca da falecida Annie K em uma fotografia tirada naquela base. Ele a usava quando teve o que parecia ser uma convulsão e quando disse as palavras "Ela está acordada", o que deu início a tragédia na estação.

Agora, depois do episódio 2, sabemos que ele estava em um relacionamento amoroso com Annie K. 

Clark comprou um trailer para manter os encontros dos dois em segredo já que ele fazia parte de um grupo que vivia em reclusão na estação. Talvez se relacionar com os habitantes fosse proibido por força de contrato profissional.  

Clark tinha uma tatuagem em espiral no peito. Ela parece ter sido copiada do mesmo desenho nas costas de Annie K, o que significa que o relacionamento dos dois era bastante sério (pelo menos para ele). Sabemos que Clark fez a tatuagem apenas quatro dias depois da morte dela e que chorou muito quando viu a tatuagem completa.

Através de testemunhas sabemos que Clark era o mais estranho dos cientistas vivendo na estação. Além de andar pela estação nu em pelo, ele não falava coisa com coisa. Clark também escrevia palavras sem sentido e coisas bizarras nos papéis oficiais de sua pesquisa. As anotações parecem um monte de rabiscos bizarros cobrindo fotos e documentos. As testemunhas afirmam que Clark estava constantemente murmurando e os colegas simplesmente o ignoravam. "Como os outros aguentavam isso?" pergunta Peter a Danvers e ela é incapaz de responder. Para todos efeitos, Clark era um esquisitão!


O comportamento de Clark evidencia que ele estava perdido, tomado por culpa ou remorso pela morte de Anne K. Jamais ter contado a ninguém o que ele sentia após a morte brutal da amante pode ter deixado alguma grave sequela psicológica. Mas Anne morreu a seis anos... se ele está desse jeito a tanto tempo, é esquisito não ter sido mandado embora ou afastado de suas funções. 

No final do episódio, descobrimos que Raymond Clark  não está no "picolé de cadáveres" contendo os demais cientistas da TSALAL. Ele portanto se encontra desaparecido. Isso é o bastante para colocar Clark na posição de principal suspeito.

Mas isso significa que ele é realmente o culpado pela tragédia?

Eu acho cedo para dizer qualquer coisa. Em True Detective não é raro que suspeitos se mostrem inocentes, ao menos dos crimes principais. Foi assim na primeira e terceira temporadas, com Reggie Ledoux e com o Índio catador de lixo. Embora Reggie fosse culpado de muitas atrocidades ele não era o responsável pela morte de Dora Lange. Já o índio, ele era inocente mesmo, o que não impediu de um tiroteio acontecer e inocentes morrerem. 

Não acho que Clark seja culpado da morte de Anne K, embora ele possa pensar isso. Ele deve saber quem a matou e isso o consumiu pouco a pouco. Já as mortes em TSALAL, quem pode saber até onde chega sua insanidade? 

11 - O Trailer de Clark


A van de Clark revela várias conexões de True Detective com o Culto do Rei Amarelo.

Navarro deduz que Clark e Annie viviam um relacionamento secreto e usavam a van para garantir que ninguém soubesse de seus encontros amorosos. Quando ela e Danvers visitam a van, encontram uma série de coisas estranhas e bizarras em seu interior. Ossos de animais, imagens, fotos, rabiscos esquisitos e coisa muito pior. 

Uma espiral gigante foi desenhada no teto da van, logo acima da cama que Clark usava para seus encontros com Anne K. Creepy!!!! 

Há também uma boneca de palha em tamanho natural e de um bebê sobre a cama desarrumada. Algumas bonecas de palha pendem no teto e o aspecto de tudo isso é muito, muito sinistro. Ok, Clark enlouqueceu de vez, mas será que a Van já era decorada dessa maneira antes de Anne K ser assassinada ou tudo isso é posterior? 


O que esse lugar representa para a psique de Clark? Seria ele um covil onde o cientista extravasava suas frustrações? O antigo ninho de amor transformado em um antro de comiseração e amargura? Sabemos que Clark tinha um quarto só dele na estação, supostamente porque ele tinha pesadelos recorrentes que incomodavam os seus colegas. A decoração caótica da van parece exteriorizar a dor de uma mente fraturada, ela é um reflexo da loucura que devora Raymond Clark.

Veremos do que ele é capaz, pois prevejo uma caçada humana em Ennis em busca do cientista desaparecido. Vamos ver o que irá acontecer em seguida.

Nossos recaps continuam, fiquem conosco. 


segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Lugares Estranhos - Trasmoz: O Povoado mais Herético da Espanha

Continuando nosso passeio pelos recantos mais bizarros da Espanha.

Escondida na sinuosa cadeia montanhosa de Moncayo, na Província de Zaragoza, encontramos o povoado de Trasmoz. O lugar é muito antigo e tem uma longa história, com suas origens datando do século XII. Seu passado colorido e turbulento remonta à conquista de Jaime I, Rei de Aragão, bem como uma notável quantidade de levantes, revoltas e massacres. Esse lugar viu de tudo e se a sua história tivesse de ser escrita talvez fosse melhor usar sangue ao invés de tinta.

Ao longo dos anos a população de Trasmoz sofreu flutuações, mas ela chegou a ter mais de 10 mil habitantes em seu ápice. Hoje, ela não é mais do que um vilarejo aparentemente sem importância com cerca de 200 almas residindo.

A razão para esse decréscimo populacional provavelmente está ligada à história sinistra que afasta candidatos a morar em um lugar comumente associado a praticas de bruxaria, magia negra e rituais pagãos.

Trasmoz é o epicentro de rumores de feitiçaria desde a sua fundação. De fato, mesmo antes do assentamento começar a se formar a área já era considerada como lar de cabalas de bruxas que habitavam as cavernas e grutas que pontilham os arredores. As lendas falam de grandes Aquelares, verdadeiros concílios de feiticeiras que viajavam de longe para participar de rituais profanos. Dizem as lendas que essas reuniões atraiam bruxas de toda Espanha que no período em que estavam juntas incidiam em todo tipo de comportamento lascivo e diabólico. Uma de suas práticas era atrair homens para ter com eles conjunção carnal que seria abençoada pelo próprio Diabo gerando bebês malignos. Outra atividade muito temida dizia respeito a Invocação de espíritos que eram então presos em formas animais, os chamados familiares


Esses sabás de feitiçaria eram tão grandes e contavam com tantas participantes que dizem as lendas as montanhas se iluminavam com as fogueiras acesas pelas bruxas e ressoam com sua cantinela agourenta noites à fio.

Em algum momento do século XIII, um nobre decidiu dar um fim na algazarra e ordenou a construção de um Castelo para proteger a região. O lugar abrigaria um contingente de soldados cuja função era coibir o Aquelare. Supõe-se que deu certo, as vruxas teriam desistido dos seus encontros. Contudo, há dúvidas sobre a própria construção da fortaleza. Para começar, o formato dela já atrai certo grau de suspeita, visto que ele é um hexágono perfeito - o número cabalístico da feitiçaria. Além disso, há uma lenda de que ninguém sabe como o castelo foi construído, o rumor é que ele surgiu da noite para o dia, façanha de um feiticeiro chamado Mutamín que detestava as bruxas que viviam nas montanhas. O povoado começou a se desenvolver pouco depois, colado nos muros do castelo que fornecia proteção aos camponeses.

A fama de assombrado acompanha o Castelo de Tremoz desde sua construção, com relatos de fantasmas habitando seus salões, Torres e o pátio. Não são poucos os que relatam ruídos estranhos e sons anômalos de pancadas surdas e correntes, além de sussurros que parecem vir da masmorra que um dia existiu em suas fundações. 

Segundo historiadores, muitos dos rumores sobre assombrações teriam sido criados pelos próprios habitantes do lugar. Houve um tempo em que o castelo abrigava um covil de criminosos que cunhavam moedas falsificadas com prata e cobre extraídos das montanhas. Para evitar que alguém viesse bisbilhotar, os falsificadores inventaram histórias sobre a presença do sobrenatural rondando a construção. O plano funcionou e as pessoas que viviam no vilarejo evitavam o castelo acreditando que ele era um antro fantasmagórico. 

Infelizmente, os rumores parecem ter funcionado bem demais e pelo século XV o reposisionado cerca de um quilômetro e meio para longe do Castelo pois ninguém queria viver próximo a ele. A coisa chegou ao ponto em que os monges da cidade vizinha de Veruela decidiram excomungar Trasmoz e todos aqueles que lá viviam.

A fricção entre o povoado e a Abadia de Veruela continuou por muitos anos, levando a um episodio bizarro. Historicamente Trasmoz controlava um rio o que lhe permitia cobrar taxas daqueles que desejavam apanhar água ou pescar. Os monges não aceitavam isso e objetavam afirmando que uma cidade banida pela Igreja não deveria ter direitos sobre o rio assegurados. Apesar das cortes espanholas reconhecerem o direito de Trasmoz, a Igreja Católica achava aquilo uma afronta. Em um sério encontro distúrbio três monges foram até o rio e começaram a excomungar os cidadãos de Trasmoz. É claro, estes não gostaram nada daquilo e a coisa evoluiu rapidamente para violência. Dois dos religiosos acabaram sendo afogados nas águas.

O fato foi levado até o Papa Júlio II que decidiu punir Trasmoz lançando sobre o lugar uma maldição cristã raramente usada, o infame Salmo 108 um dos únicos trechos da Bíblia que menciona uma maldição divina.

Foi após essa terrível maldição ser lançada que o declínio mais acentuado de Trasmoz teve início. 


As lendas mencionam longos períodos de fome e seca onde colheitas inteiras foram perdidas. Também houve uma sucessão de epidemias devastadoras, culminando com a peste negra que contagiou boa parte dos habitantes. Finalmente em 1520, um incêndio colossal destruiu o Castelo de Trasmoz causando morte e destruição. Os sobreviventes relataram não apenas um fogo de grandes proporções, mas também criaturas de chamas vivas (para alguns demônios) que causaram a conflagração. Após esse incidente traumático, a população começou a diminuir, com muitas pessoas acreditando que o vilarejo não era mais um lugar seguro para se viver.

Com o tempo, Trasmoz foi sendo abandonada até que hoje em dia não resta nada além de ruínas decrépitas, ruas de calçamento rachado e terrenos vazios onde cresce o mato. Para todos efeitos, é uma cidade fantasma, ainda que alguns poucos indivíduos insistam em viver ali apesar da história sinistra e da aura assustadora que recai sobre o local.

Curiosamente, a maldição papal pesando sobre Trasmoz jamais foi removida, e portanto o lugar continua sendo o único assentamento totalmente excomungado da Espanha. Em termos teológicos, Trasmoz está além da proteção divina, é um lugar em que a Igreja não entra (até hoje não há um templo ou pároco) e teoricamente onde Deus não habita. Essa fama, fez da cidade uma espécie de paraíso para bruxas e feiticeiros. Já no século XIX havia a crença de que os únicos que viviam no lugar eram indivíduos que não ligavam para o fato de terem sido alijados da proteção divina e que, portando, viviam além da proteção de Deus. 

Curiosamente em tempos mais recentes, Trasmoz passou a abraçar sua herança profana, declarando-se "O Povoado mais Herético da Espanha" e recebendo a visita de bruxas modernas. Incidentalmente, o lugar recebe anualmente um dos maiores encontros de wiccans da Europa, além de outros festivais de paganismo e feitiçaria como o já tradicional Feria de Brujeria. Essa reputação trouxe muitos turistas para esse pequeno vilarejo, com uma história obscura fazendo a sua fama como a cidade mais herege da Espanha.

Mas esse não é o fim de nossa viagem... ainda há mais.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

True Detective: Terra Noturna - Pistas, Indícios e Sinais do Primeiro Episódio (Parte 2)

Salve Detetives, 

Tiveram tempo de digerir as pistas e indícios da postagem anterior? Estão prontos para mais uma leva de pequenos detalhes que podem ter passado batidos e que podem ser importantes para a solução do caso? 

Então, vamos lá...

Aqui vamos dar continuidade a nossa postagem sobre o Primeiro Episódio da quarta temporada de True Detective: Terra Noturna, começando com...

8 - Quem (ou o que) é "Ela"?


Na Base de Pesquisa Tsalal em pleno Alasca, um cientista sofre um repentino surto e tudo o que consegue articular para seu assustado colega que assiste a cena é: "Ela está de volta!

Então as luzes se apagaram e algo horrível acontece.

Pouco antes, uma manada de Caribous pressente algo estranho e decidem correr todos na mesma direção lançando-se no vazio de uma ravina para a morte certa. 

Mais tarde, a Chefe Danvers está dormindo quando a voz de uma criança chama: “Mamãe, ela está acordada”. E então, logo na cena seguinte, quando Navarro se depara com um urso polar caolho, uma voz sibila no rádio: "Ela está acordada".

O que diabos está acontecendo em Ennis, Alasca?

Que estranha presença é essa, cujo despertar parece reverberar e mandar ondas de medo através da cidade e da região inteira? É algo que tanto animais quanto pessoas são capazes de captar, alguns com maior sensibilidade. 

O Alasca é uma terra conhecida pelo grande misticismo e pelas tradições xamânicas dos povos nativos. O folclore local compreende uma vasta gama de seres espirituais, geralmente associados com animais guias que existem no limiar entre o plano material e espiritual. Em geral esses espíritos se aproximam de tribos que prestam a eles devoção totêmica. Esta pode vir na forma de louvores, de adoração ou mesmo de sacrifício. No misticismo inuit quando uma tribo se associa a um espírito, ela passa a ter predicados associados a ao animal em questão - nesse contexto o corvo pode representar sabedoria, uma rena, resiliência e uma raposa, astúcia. 

Mas não são apenas espíritos guias que compõem as crenças nativas. Há uma vasta gama de seres sobrenaturais - de espíritos malignos, monstros canibais e seres mortos-vivos que fazem parte do folclore do Alasca. Seria a tal "Ela" a representação de uma dessas entidades? 

Se eu tivesse de apostar em alguma entidade, a minha favorita seria SEDNA


Esta figura é uma Deusa maior na religião Inuit que tem controle sobre o submundo e o mar. Diferentes comunidades oferecem versões para o mito, mas na maioria a história é a mesma.

Sedna era uma linda donzela que um dia irritou o pai ao recusar uma proposta de casamento. Furioso, ele a levou para o mar aberto em seu caiaque com o intuito de jogá-la no mar. Sedna agarrou-se ao caiaque, forçando o pai a cortar seus dedos com um facão. Ela afundou no oceano, mas não morreu. Os Deuses se comoveram e a transformaram em uma deusa permitindo que suas pernas se transformassem em uma cauda e escamas crescessem em seu corpo. Ela passou então a viver nas profundezas e se tornou a senhora dos mares. Ela habita as profundezas, sendo uma entidade justa com aqueles que são bons e furiosa para com os que a desagradam.

Diz a lenda que cada um dos seus dedos decepados se transformou em um diferente animal marinhos, que servem à sua vontade e que ela controla. Aliás, se vocês perceberem no desenho feito pelo menino, os dedos da personagem vista estão ausentes e deles pingam sangue. "Uma lenda local" diz a mãe, quando seu namorado pergunta do que se trata aquilo. 

É cedo para dizer se Sedna será parte da história, mas parece bastante razoável assumir que "Ela" deve desempenhar um papel importante na trama.

Outra possibilidade muito comentada é que Annie K, a ativista assassinada, talvez tenha sido trazida de volta dos mortos como um espírito vingativo. Nesse caso, ela estaria em busca de uma compensação contra aqueles que a mataram, mas também contra aqueles que de alguma forma pervertem a natureza pelo qual ela decidiu lutar. Nesse contexto, os cientistas na Estação TSALAL seriam um alvo em potencial - talvez por eles serem um elemento dissonante na natureza polar, talvez por um ou mais deles, estarem envolvidos na morte de Annie. Talvez, as duas coisas.
No entanto, eu não acredito nessa mudança radical para True Detective. Não creioq ue a série irá se tornar abertamente sobrenatural, já que esse elemento sempre foi tratado de forma muito discreta, quase como um background da história que tem os pés cravados no realismo de uma investigação procedimental. O que acredito é que alguém, em busca de vingança, pode usar uma lenda local para justificar suas ações, fazendo-se passar por um ser mítico, a tal "Ela".

Uma outra possibilidade é que muitas das bizarrices ocorrendo em Ennis sejam resultado de algo que foi liberado no meio-ambiente. Sabemos que a água na cidade está comprometida, que uma ativista foi assassinada e que uma mina de carvão parece causar uma série de problemas na comunidade. Poderiam os estranhos acontecimentos ser causados por algum tipo de contaminação? Um vazamento de gás, uma contaminação da água ou quem sabe algo pior que foi liberado pela equipe da estação em suas pesquisas? Isso poderia explicar porque o primeiro episódio foi marcado por tantos acontecimentos violentos - a saber agressões, assassinatos, colisões de automóveis, desaparecimentos etc...

Eu imagino que a explicação para tudo possa estar relacionada a uma questão ambiental levada às últimas consequências, mas novamente, é cedo para saber. Talvez alguém afetado por essas condições externas tenha decidido assumir o papel de uma lenda local para buscar vingança. Em Ennis parecem haver vários candidatos a tal coisa.  

9 - Quem matou Annie K?
 

Seis anos atrás, Annie Masu Kowtok (também conhecida como Annie K) foi encontrada morta nos arredores de Ennis. Ela foi esfaqueada 32 vezes por uma arma do crime não identificada que deixou feridas em forma de estrela em seu corpo. Sua língua foi cortada, mas não encontrada. Depois que ela foi abandonada, ela foi chutada até que suas costelas e dentes se partissem. O assassinato foi brutal em todos os sentidos.

A Detetive Navarro foi a primeira a chegar na cena do crime e esse incidente marcou sua carreira dali em diante. Trabalhando sob o comando do então chefe de polícia Hank Prior (John Hawkes), ela ficou obcecada com o caso, mas não conseguiu fechá-lo. Para piorar, ela acabou perdendo seu posto como detetive e sendo rebaixada a patrulha.

Não sabemos ainda porque esse caso se tornou uma obsessão para Navarro, mas é possível que sua dedicação a resolver esse crime vá além do fato dela ser descendente de nativos. Poderia haver algum envolvimento de sua irmã que em uma breve aparição sugeriu haver algum problema psiquiátrico, talvez esquizofrenia ou abuso de drogas. Há muitas possibilidades, mas tudo leva a crer que Navarro começou a se aproximar de pessoas poderosas e que suas perguntas incomodaram os poderosos de Ennis.  

Annie vinha protestado contra as minas Silver Sky e o seu possível impacto ambiental no delicado ecossistema do Alasca, mas como as minas proporcionam emprego ao povo de Ennis (inclusive seu irmão), o ativismo estava longe de ser bem-vindo. Talvez Annie tenha descoberto algo muito sério que justificou seu assassinato. Talvez ela tenha testemunhado algo? Talvez ela não estivesse investigando sozinha? Há muitas variáveis nesse caso e ainda poucas informações. 

Danvers sugere que há suspeitos demais para que um dia esse crime seja decifrado. "Este nunca será resolvido", explica ela. "Ennis matou Annie. Este maldito lugar. Nenhum assassino jamais será encontrado."

Diante dessa constatação transbordando impotência da Chefe de Polícia, alguém poderia ter decidido fazer justiça com as próprias mãos. Mas a pergunta persiste, "Quem"?

Outra coisa... essa foto abaixo:


Antes que perguntem, SIM! 

A tatuagem ou marca nas costas de Annie K, e cujo contorno pode ser visto na borda da fotografia de um dos ferimentos em seu corpo, sem dúvida é a espiral que tanto conhecemos; o Símbolo do Rei Amarelo. Parece claro que existe uma conexão entre os crimes na Louisiana e os estranhos acontecimentos em Ennis, Alasca. Talvez não sejam os mesmos assassinos, mas com certeza, eles seguem um Modus operandi similar em que se sobressaem violência e características ritualísticas muito bem definidas. Quais outros pontos de contato existem? Veremos...

O que sabemos é que os crimes brutais parecem seguir um padrão de brutalidade extrema contra mulheres. Dora Lange, morta sob uma árvore na Louisiana e Annie K, encontrada surrada em Ennis parecem cumprir o mesmo papel de vítimas dos poderosos, daqueles que se sentem acima da lei ou que comandam. Elas são como sacrifícios para que o poder jamais mude de mãos. E como o Tempo é um Círculo Plano, estes sacrifícios estão fadado a se repetir para sempre em diferentes lugares. 

9 - A Língua Humana
 

No centro de pesquisa TSALAL uma língua humana arrancada é encontrada no chão.

O sinal de que algo bizarro aconteceu naquele lugar e que aquilo é apenas o início de uma sucessão de acontecimentos macabros. Danvers observa que a língua pertence a uma mulher nativa, com base nas cicatrizes que resultariam de uma prática tradicional de preparação de redes. A linha das redes deixa pequenas marcas na língua das mulheres que usam a boca para cortar o liame.

Ao ouvir sobre a língua recuperada, Navarro presume que seja de Annie K, já que seu assassino (ou assassinos) cortaram sua língua. Um recado bastante claro, para que "aqueles que falam demais" fiquem em silêncio. Contudo,  Annie foi assassinada há seis anos, enquanto a língua parece estar em perfeitas condições, não tendo se deteriorado mais do que dois dias. Como isso é possível?

Então, será a língua de outra malfadada mulher Iñupiaq? Teria a língua original sido guardada e preservada pelo assassino, visto que ela jamais foi encontrada?


Outro detalhe que liga um dos cientistas da estação TSALAL ao crime é que o casaco de Annie K parece ter sido recuperado e usado por um dos membros da equipe. Danvers percebe que o rasgo do casaco foi remendado com um patch costurado bem em cima de onde havia um rasgo. Aliás, é isso que leva Danvers a acreditar, ainda que, com relutância, em uma possível conexão. Contudo, o casaco em questão desapareceu.

Me parece um tanto idiota que um assassino guarde o casaco de sua vítima por seis anos e o use de forma corriqueira no dia a dia. Assassinos tendem a reclamar troféus, mas não creio que alguém seria estúpido a esse ponto. Mesmo que se considerasse tão acima da lei. O casaco me parece um magufin investigativo, algo que serviu para trazer Danvers para o caso e nada mais. Mas é claro, isso só saberemos quando o casaco for encontrado, já que por hora ele se encontra desaparecido.

10 - A Vingança na forma de um Urso Polar


Em determinado momento da trama, a Policial Navarro se depara com um enorme Urso Polar andando no meio de Ennis. O animal se volta para ela, a olha por um instante e depois se afasta deixando a aturdida policial sem entender se aquilo é real ou um tipo de alucinação.

Para falar a verdade, nem eu sei ao certo se ela realmente viu isso, ou se imaginou a cena.

O urso polar em questão tem um detalhe marcante, ele não possui um dos olhos, este está vazado, deixando em seu lugar uma ferida em "forma de estrela", como aquelas muitas lacerações no corpo sem vida de Annie K.

A maior questão relacionada ao Urso Polar é que ele poderia ser o animal guia de Annie K, e que sua aparição em Ennis representasse o retorno do espírito da ativista em busca de vingança. Eu acho que é um tanto "in the face" esse pensamento, não acredito que True Detective irá enveredar pelo campo do sobrenatural de uma maneira tão direta, já que até hoje ele meramente insinuou tal coisa na primeira temporada. Talvez o urso polar realmente não exista e Navarro teve meramente uma alucinação... 

Por outro lado, um Urso Polar seria um animal perfeito para personificar um "Espírito Vingativo".  

Senão vejamos... ele é um animal poderoso, quase uma força da natureza personificada; implacável e feroz como poucas outras. O Urso Polar é um símbolo do Alasca tão grande quanto o Caribou, mas ele seria a melhor opção para extrair vingança contra aqueles que a vilipendiaram. A simbologia do Urso Polar também é clara, ele é um animal majestoso que um dia dominou as estepes do Alasca, mas que em face da presença humana daninha, tem sido arrastado para a beira da extinção - há cada vez menos ursos no norte polar. 

Não é exatamente uma novidade ver um espírito da vingança assumir essa forma. Aqueles que assistiram a série ou leram o livro "Terror", devem se recordar do Urso Tupilaq, uma fera vingativa invocada por xamãs inuits para vingar sua tribo contra a presença predatória dos brancos. Não acho que True Detective vai nesse mesmo sentido, mas não seria impossível ponderar sobre essa possibilidade.  

12 - Por que Hank Prior mantém os arquivos do caso? 
 

Há algum tempo, a delegacia de polícia de Ennis foi inundada, então Hank levou algumas caixas de evidências para casa por segurança. 

Em seu escritório lotado, o filho de Hank, encontra os arquivos do caso guardados em uma caixa. O rapaz rouba os arquivos à pedido de Danvers e entrega a ela o material sem que o pai venha a saber. Por que Danvers parece desconfiar que Hank entregaria os arquivos de bom grado? Nesse caso, ele estaria cometendo um crime obstruindo o caso de Annie K? O que ele tem a ganhar negando justiça?

Sabemos que depois de Navarro ter perdido seu status como detetive, quem assumiu o caso foi ninguém menos que Hank. Diante da constatação de Danvers de que ninguém moveria um dedo para resolver o assassinato, podemos assumir que Hank é um tira sujo. Talvez ele tenha ganho algum benefício com as pessoas poderosas da cidade, mas com certeza ele deixou o trabalho pela metade.

Pela maneira que Danvers trata Hank, fica bem claro que ela sabe que ele é um policial sujo que está mais preocupado em receber agrados de outras pessoas (isso fica claro quando Danvers menciona as "chupadas" que Hank recebia da mulher que bateu o carro).


Acho um pouco estranho que o filho de Hank tenha ajudado Danvers, claramente prejudicando o pai, mas uma explicação para isso é que o rapaz não quer agir da mesma maneira. O fato dele namorar uma mulher nativa pode indicar algo nesse sentido: ele sabe que o pai age de forma errada, por isso não quer ser como ele.

De uma maneira ou de outra, acho que Hank Prior é uma vítima em potencial de seja lá quem está por aí matando pessoas que participaram do caso de Annie K. Não vou me surpreender se ele aparecer morto nos próximos episódios. 

12 - A Espiral está de volta 


Na primeira temporada de True Detective, as espirais eram um símbolo assustador e recorrente ligado ao Rei Amarelo e a onda de assassinatos místicos cometidos pelo seu seguidor. 

A espiral estava na cena do crime de Dora Lange na árvore, estava nos cadernos das mulheres atraídas para a Igreja do Rei, ela estava nas paredes do velho templo abandonado, estava no padrão de vôo dos pássaros nas alucinações de Rusty Cohle e na grama cortada pelo assassino. Mais importante, a espiral estava no Templo em Carcosa, na testa das caveiras de velhas vítimas.

Não creio que a espiral vista na imagem acima seja mera coincidência. A presença desse símbolo é a certeza de que há forças observando e influindo nos acontecimentos, forças que regem o universo além da casualidade. Quando Danvers dispõe no chão de sua casa as fotografias retiradas da Estação de Pesquisas e as relaciona com as fotos de Annie K a conexão é imediata. Os dois casos estão de alguma forma conectados e a espiral é o aceno decisivo.

Não há casualidade na roda do destino de True Detective, o tempo é um círculo plano que faz as coisas acontecerem de forma pré-determinada uma e outra vez. 

13 - Quem é Travis?
 

Eu deixei o melhor para o final.

Essa temporada de True Detective parece seguir um caminho que claramente envolve o sobrenatural de uma maneira bem mais direta. Um dos elementos mais marcantes que comprova isso nesse primeiro episódio vem na forma de uma presença fantasmagórica.

Em determinado momento, Rose Aguineau (Fiona Shaw) está limpando sua caça quando, em um rádio próximo, uma voz masculina grita: "Tem alguém aí?" Ela se vira e vê um homem magro ao ponto de quase ser esquelético parado bem perto. Barbado e descalço, ele veste apenas uma camisa de flanela e ceroulas. Ela o chama de Travis e pergunta: "O que você quer?" Silencioso, mas concentrado, ele caminha pela paisagem gelada, lançando uma sombra escura na neve alva, sem no entanto deixar pegadas.

Vestida para o clima com uma parca completa, chapéu, luvas e botas, e armada com uma lanterna, Rose o segue pela paisagem gelada. Eventualmente, Travis para e faz uma dança ao mesmo tempo assustadora e estranha. Ele então solta um grito silencioso e parece rasgar as próprias roupas em uma demonstração de terror. Então aponta para a paisagem vazia indicando o caminho que Rose deve seguir, e onde ela encontra os restos mortais dos cientistas de TSALAL.


Quando Navarro chega ao local, ela fica surpresa quando a senhora explica que Travis a trouxe até ali. “Travis está morto, Rose”, diz a policial, ao que Rose responde calmamente: “Eu sei”.

Ok, estava bem claro que Travis é um fantasma e que ele se comunica com Rose. Mas quem era Travis e qual o seu papel na história?

Vamos às respostas mais simples.

Para começar, Travis não é outro senão o pai de Rusty Cohle, o policial interpretado por Matthew McConaughey, na primeira temporada. Para quem não se recorda desse detalhe, Rusty comenta ao menos em duas ocasiões que seu pai vivia no Alasca e que ele passou parte de sua adolescência na companhia dele. Travis era um tipo estranho, alguém que abominava o mundo moderno e que encontrou no Alasca, na fronteira selvagem, o refúgio definitivo. Ele ensinou Rusty a caçar com arco e flecha e a rastrear, também foi ele quem parece ter forjado na alma do filho aquela "encantadora" personalidade pessimista.

Se vocês não acreditam, basta dar uma olhada na biografia do personagem Rusty Cohle, onde consta que o pai dele se chamava Travis Cohle.


Essa na minha opinião é a última ponta solta na relação entre a quarta temporada e a primeira. A relação que faltava para estabelecer a ponte entre as duas investigações e a presença do Rei Amarelo na trama. Me parece que Travis terá um papel central na trama, como uma presença disposta a ajudar a resolver os crimes e mostrar a face dos culpados.

No último episódio da primeira temporada de True Detective, quando Rusty fala emocionado de sua experiência de quase morte ele cita que seu pai e sua filha estavam do outro lado para recebê-lo. E que lá ele sentiu calor e aceitação. Travis parece ser alguém disposto a fazer o que é correto, no caso, trazer a justiça a Ennis.  

Não creio que teremos uma aparição surpresa de Rusty Cohle na trama, mas imagino que em algum momento seu nome irá surgir, sobretudo se o Rei Amarelo começar a se manifestar na história. Me recordo de que na terceira temporada o caso da Louisiana é brevemente citado num dos últimos episódios (como um horrível Red Herring, na minha opinião). Mas agora, a coisa parece ter um sentido e uma razão de ser.

Travis como o pai de Rusty pode estar aqui para ajudar num caso similar ao que o filho resolveu. Talvez seu fantasma esteja aqui para confrontar a presença daqueles que cultuam o Rei Amarelo, assim como fez o seu filho. Novamente, isso me leva de volta ao Círculo plano. Será que é o destino dos Cohle de alguma forma interferir quando a presença do Rei Amarelo incide sobre a psique humana e força as pessoas a atos medonhos? 

Eu quero acreditar que a série vai seguir por esse caminho... quero mesmo!

*     *     *

Então detetives, esse é o resumo da semana.

A empolgação é grande, a expectativa enorme. Em termos gerais, True Detective - Terra Noturna foi muito além do que eu imaginava. Vamos torcer para que mantenha esse nível do início ao fim.