terça-feira, 14 de outubro de 2025

Os Pilares do Horror Cósmico: Das Forças Incompreensíveis

SEGUNDO PILAR

Das Forças Incompreensíveis

"Venha, então, tome a minha mão. 
Deixe-me mostrar-lhe o que se esconde nos espaços vazios 
onde pesadelos não ousam pisar."

 N. K. Jemisin, a cidade que nos tornamos


*     *     *

Se a insignificância humana estabelece o lugar do homem no cosmos — pequeno, frágil e desprovido de sentido — o segundo pilar do Horror Cósmico define o que ocupa o restante do universo: entidades, leis e consciências que transcendem completamente a razão humana.

Essas forças não são necessariamente malignas. O erro comum é tratá-las como "vilões" ou "monstros" no sentido tradicional. No Horror Cósmico, o Horror nasce justamente do fato de que elas não se importam conosco, ou pior, operam segundo uma lógica que nos é totalmente alheia. Nesse contexto, eles não são mais malignos do que um furacão, um terremoto ou tsunami. Se estas forças da natureza não são passíveis de tendência, porque os Deuses Cósmicos, que são ainda mais poderosos, deveriam ter alguma viés ético ou moral? Bem e Mal, conceitos humanos, se mostram inaplicáveis naquilo que simplesmente não é humano.

A mente humana busca constantemente estabelecer padrões, explicações e coerência. Há uma necessidade inata de compreender o mundo em que vivemos: racionalizar, dissecar, domar as forças e dobrá-las sob nossa vontade. Mas o universo lovecraftiano (e o horror cósmico em geral) nega essa possibilidade uma vez que o cosmos não é racional — é abissal.

As forças cósmicas não são apenas poderosas; elas são inconcebíveis. A concepção humana é incapaz de abranger a grandeza do Mythos e sua vastidão. Tentar entendê-las é uma forma de autodestruição.

Assim, o verdadeiro terror não está no contato físico com o desconhecido, mas na percepção de sua magnitude e incompreensibilidade. O horror cósmico, portanto, é epistemológico — ele nasce do limite do conhecimento e na impossibilidade de cruzar essa fronteira.

Os "Deuses Exteriores" e os "Grandes Antigos" que compõem o “Mythos” são imponderáveis. Embora possam ser encarados como Deuses, eles não são divindades no sentido teológico humano. Eles não representam o espirito superior da Deidade, um degrau acima da mortalidade e da natureza. O que eles são, quando muito, é a negação da ordem e da compreensão. O "ser" é a suprema anátema.

Lovecraft, por exemplo, descreve Cthulhu não como uma figura concreta, mas como uma presença que “escapa à geometria e à lógica do mundo”. Mais do que um monstro ciclópico com corpanzil e cabeça octópode, Cthulhu é uma sombra que se manifesta através de emanações psíquicas, em sonhos e portentos, em crenças e fanatismo. Outros autores modernos — como Thomas Ligotti — preferem nem nomear as forças cósmicas, deixando-as como presenças silenciosas, perceptíveis apenas por sintomas: sonhos perturbadores, distorções na realidade, desintegração da consciência.

Quando um personagem entra em contato com essas forças, ele nunca as compreende por inteiro. E jamais as compreenderá satisfatoriamente. O horror cósmico rejeita o "conhecimento". O que o ser humano capta é um mero vislumbre fragmentado, e é justamente esse fragmento que destrói. Um simples sonho, um som vindo do subsolo, um padrão estranho nas estrelas — tudo pode ser o reflexo de algo que excede infinitamente a compreensão.

É uma sensação de que o real forma apenas uma camada fina, um lençol tranparente lançado sobre um caos insondável logo abaixo.

O contato espúrio com as forças do Mythos desvela uma verdade terrível: não há propósito, nem moralidade universal, nem destino. E isso, para a consciência humana, é um golpe insuportável. A mente busca significado; o universo responde com silêncio O resultado é o colapso: a loucura. Não a loucura como doença, mas como efeito. O único modo de sobreviver ao choque do absurdo é abraçar a Insanidade de corpo e alma.

Aplicando as Forças Incompreensíveis em sua mesa de RPG:

De todos, esse talvez seja, o pilar mais sensorial e atmosférico.

Vamos destrinchar como aplicar esse pilar na prática de uma mesa de RPG, em cinco frentes: narrativa, atmosfera, percepção e mecânica, além de analisar algumas sugestões pertinentes.

Nas histórias e contos lovecraftianos vemos uma grande preocupação em tentar descrever o horror, ainda que o horror seja indescritível. O resultado são comparações falhas e verborrágicas na qual se tenta dar uma identidade racional a algo irracional. A simples incapacidade de descrever em termos lógicos é metade do horror. 

Na narrativa o Guardião jamais deve descrever os horrores de uma forma coerente. O núcleo da experiência de lidar com o Horror Cósmico é não conseguir captar sua grandeza. Para emular isso em sua mesa de jogo tente:

  • fazer descrições vagas, quase abstratas (“ângulos impossíveis”, “som que não pertence a este mundo”, “cor que não existe”)

  • ausência de explicações racionais; "a forma surge e pulsa, apagando e ressurgindo em nossa realidade", "seu tamanho varia, enorme e menor, depois maior novamente"

  • ênfase em atmosfera e sugestão, não em exposição; "você não sabe se viu ou não, o horror some do nada", "um cheiro pior que mil covas abertas varre o lugar e então desaparece"

  • uso da linguagem como tentativa e fracasso de comunicar o indizível. "Não é possível descrever, é medonho, simplesmente medonho", "você tenta se agarrar a palavras, mas não consegue descrever, ao invés disso você se cala".

Descreva sem explicar

Evite explicações racionais daquilo que está sendo visto. Em vez disso, descreva sensações contraditórias:

“A coisa não parecia se mover, e ainda assim, de algum modo, estava cada vez mais perto."

"Em um piscar de olhos ela se materializava em outro ponto"

“Você o vê, mas seu olhar escorrega, como se o cérebro não conseguisse decidir onde ele começa e onde termina.”

Use percepções fragmentadas sobre o mesmo objeto

Faça com que cada personagem perceba algo diferente naquilo que estão presenciando. O cérebro humano não é capaz de processar a grandeza do Mythos e nesse ínterim a experiência soa contraditória para cada indivíduo.

Enquanto um sente um calor sufocante, outro ouve cânticos preenchendo sua mente, outro vê luzes fosforescentes; nenhum deles experimenta o mesmo fenômeno por inteiro. Quando eles tentam comparar percepções, tudo se contradiz, e o evento torna-se impossível de reconstruir logicamente. 

É como o enigma do elefante, no qual homens são vendados e levados a tocar partes de um elefante - um deles toca a orelha diz que é uma folha de árvore, outro que toca a perna diz que é o tronco de uma árvore, aquele que encosta na tromba diz que é uma mangueira e assim por diante... o Mythos, incompreensível na forma, terrível nas partes e horrendo no todo, é igualmente impossível de ser compreendido em sua integralidade.

O mesmo evento pode ter múltiplas interpretações — nenhuma certa. O importante é o efeito psicológico do contato com algo que não pode ser descrito.

Como usar as entidades cósmicas sem mostrá-las

As Forças Incompreensíveis não precisam aparecer fisicamente. Muitas vezes a sensação de estar diante de um Horror Cósmico é mais potente do que simplesmente encarar ele de frente. 

A presença desses seres pode ser sugerida por efeitos indiretos, como:

  • sons guturais vindos de um ponto que não existe no espaço tridimensional;

  • sonhos compartilhados entre pessoas que nunca se viram;

  • objetos que desafiam as leis da física (um espelho que reflete ângulos impossíveis, uma sombra que se move contra a luz);

  • mudanças súbitas na paisagem: uma rua que termina onde não deveria, um horizonte que se curva de maneira errada.

O ponto é criar a sensação de que a realidade foi tocada por algo que não deveria estar ali. Se Shub-Niggurath se manifesta  natureza sai de controle, há crescimento em todo canto: a vegetação se espalha feroz e domina a paisagem, os animais se comportam de maneira absurda. Se for Azathoth que se manifesta, lagos se tornam estéreis, plantas murcham, animais saltam em precipícios e assim por diante.

Quando um ritual invoca uma entidade, ela não necessariamente se manifesta de forma concreta ou visível. Tenha em mente que esses seres não obstante serem gigantescos, podem ser imperceptíveis para nossos sentidos. Ainda assim, percebemos a estranheza sem sermos capazes de dizer o que é estranho e não-natural naquela paisagem contaminada.  

Como as regras podem ajudar (usos mecânicos)

Em Chamado de Cthulhu, há várias maneiras de traduzir o "incompreensível" em mecânicas:

  • Não use a perda de sanidade apenas como “perder pontos”, ela simboliza o contato com o impossível e a experiência que advém disso.

  • Ao falhar em um teste de sanidade, descreva a perda de percepção lógica, não apenas o medo

    “Você entende o som, não importa que seja alienígena, por um instante ele parece fazer sentido — e isso o destrói. A percepção da grandeza fragmenta seu espírito”.

Raciocínios errados

Permita que os jogadores tirem conclusões equivocadas que pareçam coerentes, até que algo mostre que estavam completamente enganados. O Mythos, por serem totalmente alheios ao homem, nos obrigam a tentar compreender aquilo que não faz sentido. 

"Na cabeça de uma criatura, não existem olhos, mas ele ainda assim vê, não há ouvidos, mas ele ainda assim ouve, não há nariz, mas ele é capaz de farejar", "O monstro possui uma infinidade de patas e tentáculos que deveriam servir para agarrar e andar, mas ele ao invés disso, flutua no ar e move coisas com  o poder da mente", "A criatura parece estar molhada, úmida e gotejante, como se tivesse emergido do mar, mas sua pele ao contato parece seca e áspera como uma lixa". 

Isso reforça a noção de que a mente humana tenta impor sentido diante do que não faz sentido.

Distorções físicas

O mundo se comporta de uma maneira diferente quando o Mythos se manifesta. Ele se dobra, inverte, perverte e rearranja a noção do correto para se adequar ao impossível. 
  • Permita lapsos de tempo ou espaço: “você piscou e o sol já está nascendo, mas ninguém lembra de ter dormido", "Você acorda a cerca de três quilômetros da clareira, perdido e sem entender como chegou lá, "suas roupas estão cobertas de fuligem e cheirando a produto químico, mas não estão amarrotadas ou sujas". 

  • A forma de um lugar parece se alterar. Uma gruta se transforma em uma caverna que parece não ter fim, uma escadaria ascende por degraus intermináveis, um lago de repente se mostra profundamente interminável, uma porta é muito mais alta do que a alguns instantes, o deserto está florescendo com plantas estranhas e amareladas. 

  • Um personagem enfrenta mudanças repentinas: "Seus olhos! Seus olhos estão vermelhos! E brilhando na escuridão!" Um ou mais personagens parecem estranhos, como se eles próprios estivessem mudando em face da estranheza que os cerca. "O suor de seu corpo tem cheiro de enxofre", "Seus braços estão pesados, seus dedos parecem se juntar e você não consegue agarrar nada", "Sua respiração falha, você tem lapsos respiratórios e quase sufoca, como se tivesse esquecido como é respirar".

Comunicação e compreensão

As Forças Incompreensíveis não se comunicam ou se o fazem, não será da mesma maneira que nós humanos.

É muito raro que uma criatura do Mythos fale. Como os seres humanos não falam com uma formiga, um cupim ou uma minhoca no solo de seu quintal, os seres do Mythos não dispensam um segundo sequer tentando se fazer entender por seres menores. Muitas vezes esses colossos cósmicos nem sequer compreendem que os seres diante deles são conscientes ou vivos. Na maioria das vezes, a ação deles será simplesmente ignorar. 

Além disso, a linguagem é uma barreira intransponível. Não suponha jamais que um ser do Mythos compreenda um idioma humano mais do que nós podemos compreender o yithiano ou Mi-Go. 

Ademais, as criaturas não compartilham de nossa forma de comunicação. Os homens se expressam através da fala, uma coleção de sons vocais que dão significado a intenções. Uma criatura do mythos, no entanto pode se comunicar por intermédio de uma trompa soprada que produz um som de flauta, outra pode produzir bolhas purulentas em sua pele que estouram e cada estampido alto ou baixo tem um significado diferente. Já outra possui uma estrutura no que seria a cabeça, que muda de cor reproduzindo toda uma miríade de conversa. 

Os seres do Mythos são simplesmente diferentes demais em relação a humanidade e a comunicação se mostra inviável.

A comunicação é uma invasão dos sentidos

Nas raras situações em que uma comunicação é estabelecida, isso ocorre por meios que quebram a linguagem humana: símbolos, visões, padrões sonoros, fórmulas matemáticas sem sentido. Uma divindade que possui capacidades psíquicas pode implantar imagens na mente de uma pessoa causando uma onda terrível de asco a medida que sonda a mente e vasculha suas memórias. Outro ser pode tentar se comunicar mentalmente, literalmente gritando na mente de um pobre infeliz, causando ruptura de vasos sanguíneos no cérebro humano.

Uma criatura que se comunica por dispersão de feromônios pode causar uma reação adversa num indivíduo. Talvez os feromônios causem uma severa reação alérgica ou ocasionem uma reação inesperada. Uma simples tentativa de estabelecer comunicação pode resultar em uma violência inexplicável, uma espécie de violação.

Lembre-se de que o horror nasce do fracasso da interpretação:

“Você sente que a criatura quer algo. Mas não existem palavras humanas para representar o que ela deseja.”

 Construindo o Incompreensível no ritmo do jogo

Não existe exatamente uma receita de como as Forças Incompreensíveis se manifestam, mas esta é uma boa explanação de como conceituar a exposição a ela.
  1. Primeiro sinal: algo estranho, mas ainda explicável: sons esquisitos, coincidências acontecem, sentidos se misturam, a mente tenta ordenar e conceituar, ainda que o sentido das coisas se perca.

  2. Segundo sinal: fenômenos contraditórios: testemunhas descrevem eventos opostos, a percepção falha, os sentidos são amortecidos ou se tornam hiperaguçados.

  3. Terceiro sinal: ocorre uma quebra da lógica: objetos impossíveis se manifestam, distorções do espaço e do tempo surgem, ele se dilata ou retrai discretamente, o espaço se molda em uma nova ordem

  4. Contaminação: os personagens tem seus sentidos amplamente alterados por visões, sonhos, lapsos de tempo, horrores e maravilhas que lhes são reveladas, nada faz sentido. É o momento em que a mente se fragmenta em um esturpor.

  5. Contato: o momento em que o incompreensível toca o mundo — e o mundo se rompe por inteiro. O impossível acontece e se torna regra.

Essa progressão mantém a tensão crescente e reforça o terror de que a realidade está se desmanchando diante dos personagens.

domingo, 5 de outubro de 2025

Os Pilares do Horror Cósmico - A Insignificância Humana


No primeiro artigo falamos de forma muito rápida à respeito do Horror Cósmico e seus conceitos básicos.

Nesse e nos próximos artigos vamos falar dos cinco Pilares que sustentam o Horror Cósmico e que juntos concedem legitimidade a ele como um gênero único do Terror. Mais do que isso, vamos tentar enquadrar cada pilar dentro de uma proposta de uso prático para mesas de RPG com sugestões de como esses pilares podem ser invocados nos seus cenários.

O PRIMEIRO PILAR 

DA INSIGNIFICÂNCIA HUMANA

“Somos para os deuses como moscas para meninos travessos,
Quando desejam, arrancam nossas asas e nos matam por esporte.”
Shakespeare, Rei Lear

*     *     *

O princípio da Insignificância Humana é a base que define todo o horror cósmico. É ele que pontua todo o gênero colocando a humanidade num plano inferior diante do Universo como um todo. 

Ele decorre da constatação que a humanidade — com sua história, religiões, artes e ambições — todos seus avanços, seu progresso, sua moral e seus triunfos, alcançados com grande esforço e dificuldade, não passam de um fenômeno efêmero em escala cósmica. É como um desenho feito na areia, apagado em segundos por uma onda.

No universo lovecraftiano (e nas obras que o seguiram), não há centralidade humana. A Terra não é o centro do cosmos; tampouco é a vida humana o ápice da criação. Somos uma coincidência biológica, um instante microscópico dentro de um tempo incomensurável.

Quando Lovecraft escreve que “a mais misericordiosa das coisas neste mundo é a incapacidade da mente humana de correlacionar todo o seu conteúdo”, ele está descrevendo exatamente isso: a proteção da ignorância diante da vastidão incompreensível. É a incapacidade de perceber nosso diminutivo papel na escala cósmica que nos impede de enlouquecer.

A insignificância humana, portanto, não é apenas um tema — é o horror essencial: perceber que nada do que acreditamos sobre o mundo ou sobre nós mesmos tem qualquer relevância.

Filosoficamente, esse pilar é um golpe direto contra o antropocentrismo, isto é, a visão de que o ser humano é a medida de todas as coisas. Desde o Renascimento, a cultura ocidental exaltou a razão e a capacidade humana de compreender e dominar o mundo. O horror cósmico inverte esse eixo: a razão é frágil, a compreensão é limitada e o cosmos é indiferente à mente humana.

Muitas pessoas se perguntam porque as histórias de Chamado de Cthulhu se passam nos anos 1920. 

Boa parte das pessoas suspeitam de que é em virtude das histórias terem sido escritas nesse período, mas a explicação tem uma razão de ser muito mais interessante. O início do século XX, marca o momento em que a humanidade realmente acredita ser o centro da criação e que seus avanços abririam as portas para um futuro glorioso no qual ela assumiria seu lugar de direito. Pense bem, em poucas décadas o homem havia conquistado praticamente todo o globo, havia mapeado as extensões de mares e terras, alcançado o céu e as profundezas, conquistado a ciência e a chave para seu futuro. Esse era o momento em que a humanidade congratulava a si mesma, sem modéstia, pelas suas realizações.

Então surge o Horror Cósmico e diz para essa pequena raça (pouco melhor do que primatas selvagens) que ela não importa, que ela é desprezível e que nada do que ela fez é importante no contexto cósmico.

A constatação disso encontra ecos no niilismo de Nietzsche, que revela o colapso das certezas metafísicas e o vazio de sentido. No pessimismo de Schopenhauer, que vê o mundo como produto de uma vontade cega e irracional. Ou no existencialismo de Camus, que confronta o absurdo de viver em um universo sem propósito.

Mas Lovecraft vai além das correntes filosóficas e dá um soco no estômago dos teóricos transformando esse desamparo em realidade. No Horror Cósmico não é apenas que o universo seja indiferente — ele é ativo na sua indiferença, um oceano de forças e geometrias que seguem seus próprios ciclos eternos, alheios ao ser humano.

O punch line dessa piada cósmica é que o universo não nos ignora por maldade — nos ignora porque nem sabe que existimos.

Em uma narrativa de Horror Cósmico a insignificância humana pode ser abordada de várias maneiras. Seja para revelar o abismo, no qual a história leva o personagem da ilusão de controle à consciência de sua pequenez ou no colapso das certezas no qual as regras e leis naturais são colocadas em cheque.

Em determinada história os personagens descobrem que uma raça alienígena muito mais antiga, muito mais inteligente e poderosa criou os humanos em laboratórios por acidente. A descoberta de que o homem é resultado de um mero acaso, de uma combinação genética falha atende a esse pilar do Horror Cósmico. Da mesma maneira, quando um personagem se vê frente a frente com uma estrutura não euclidiana que se sustenta em bases de impossibilidade contrariando a natureza ele se vê imerso no horror cósmico. Portanto, uma história que revela verdades absolutas que contrariam todo o senso de normalidade são o suprassumo do Horror Cósmico.

Aplicando a Insignificância Humana em sua mesa de RPG:

Esse primeiro pilar é um princípio norteador de toda e qualquer aventura de Chamado de Cthulhu.

Em uma história envolvendo o Mythos a humanidade é confrontada com revelações absurdas, verdades difíceis de aceitar e com um saber que destrói nossa convicção. A descoberta é a ruína de nossa sanidade.

Para emular a Insignificância Humana, o Guardião pode recorrer a alguns truques enquanto estiver narrando uma aventura:

- A Arte de Encarar o Vazio

As pessoas que tem um lampejo da grandeza e vastidão do Universo não raramente se sentem afetadas em uma escala pessoal. Elas passam a compreender que não são nada além de poeira que está prestes a se dissipar. É impossível afastar a depressão e melancolia latente que advém dessa constatação. Muitas das pessoas tocadas pelo saber do Mythos se sentem incapazes, impotentes ou então, cobiçam o esquecimento. Esse sentimento pode ficar bem claro ao interrogar o único sobrevivente de uma incursão alienígena ou o membro de um culto que participou de seu primeiro ritual. O olhar de quem encarou o vazio é inigualável e aterrorizante.

- Silêncio e Vazio

Por vezes, a experiência individual é tão traumática que o indivíduo se fecha em seu próprio mundo e se vê incapaz de falar e descrever qualquer coisa. Essas pessoas são consumidas pelo vazio da revelação quanto a insignificância humana. Quando muito elas murmuram o quão pequenas são e o quão enormes são os poderes cósmicos. Talvez elas não falem nunca mais.

- O Colapso dos Sonhos

Os personagens aos poucos perdem sua conexão com aquilo que era importante e que dava significado a sua vida. Qual o sentido de trabalhar, de almejar alguma coisa, de constituir família ou de deixar um legado, se nada disso tem verdadeira importância no grande esquema das coisas? Ter um vislumbre da grandeza cósmica e de sua incrível vastidão pulveriza todo e qualquer sonho pelo qual, até antes da revelação, valia a pena lutar.

 - As Leis naturais se mostram falhas. 

O universo não é coerente e nem racional. Tudo aquilo que julgamos como certo e imutável é passível de interpretações e de questionamentos. Num universo tão vasto e caótico, as certezas humanas - frágeis e falhas, podem ser questionadas à todo momento. Ao encontrar os Mythos as coisas perdem o sentido e mesmo as certezas mais profundas desabam como um castelo de cartas.

- Ambiente alienígena

Utilize escalas inumanas — uma torre estreita que ascende até quase tocar o céu, uma floresta que parece eterna, uma ruína cujo tamanho desafia o olhar e cujas escadas possuem degraus que não foram talhados para pés humanos. Os Mythos não são humanos, então porque as suas construções ou territórios seriam adaptados a forma humana? Descreva formas geométricas impossíveis, construções inacessíveis, janelas altas demais, rampas inclinadas, paredes sólidas que parecem prestes a cair. Construções que só podem ser acessadas por seres capazes de voar. O horror de constatar que um lugar não foi construído para seres humanos explorarem é aviltante. Os personagens devem sentir-se minúsculos, como se a própria narrativa os engolisse.

- Formigas no Quintal

Uma maneira de representar como a humanidade é pequena diante do Mythos é simplesmente fazer uma entidade ignorar sumariamente os investigadores. Ele não irá atacar, não irá se mover, não irá interagir com seres menores. Quando estamos andando no quintal, sabemos que ali no chão há formigas mas não nos importamos se vamos ou não pisar nelas. Os deuses do Mythos se comportam da mesma maneira. Digamos que Yog-Sothoth seja invocado, porque ele deveria se importar com os humanos gritando aos seus pés? Se Shub-Niggurath for convocada por alguns segundos, ela deveria perceber a presença de humanos tentando atrair sua atenção? 

Nós não nos importamos com seres menores que morrem esmagados sob nossos pés. Na maioria das vezes, sequer percebemos que elas estavam lá. Com os Deuses e Grande Antigos ocorre algo similar. Ao serem trazidos a nossa realidade eles não vão reagir e não vão se importar mais do que nos importamos com pequenos insetos. E se esmagar uma, duas, uma centena ou milhares de seres inferiores, isso será mero acaso.

- Nenhuma Vitória é definitiva

Mostre que o mundo segue seu curso com ou sem os personagens. Mesmo depois de grandes esforços, o mal cósmico continua lá — talvez adormecido, talvez simplesmente ignorando-os. O horror cósmico raramente concede vitórias completas — apenas adiamentos, lapsos ou ilusões de controle. Demonstre isso com desfechos agridoces. Após deter um culto em Innsmouth, os investigadores descobrem que outras células idênticas atuam em diversos cantos do mundo. Um NPC que os investigadores salvaram enlouquece dias depois e se suicida, murmurando que "as vozes voltaram". A sensação deve ser de que todos os seus esforços mesmo que aparentemente tenham logrado êxito, são transitórios e podem ser revertidos em uma próxima oportunidade. Ao terminar uma aventura o Guardião pode inserir uma vinheta de um horror ainda ativo, de uma criatura escapando ou de um indivíduo contaminado chegando a uma cidade carregando uma praga mortal. 

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Mergulhando no Imponderável - Horror Cósmico 101


Horror Cósmico é um tema riquíssimo.

Ele é o tema central nas histórias do meu RPG favorito. Pode-se entender Chamado de Cthulhu como um banquete requintado no qual o Horror Cósmico é trazido para mesa: preparado, fatiado, servido e consumido sem moderação pelos convidados do Guardião.

Mas muitas pessoas interessadas em jogar ou mesmo narrar Chamado de Cthulhu, às vezes não tem uma noção muito clara do que é o Horror Cósmico, quais os seus princípios, seus fundamentos e as suas bases. E sim, você até pode jogar Chamado sem conhecer à fundo o Horror Cósmico, mas assim que você o conhecer e saber transmitir suas muitas nuances para os jogadores, suas histórias irão alcançar um novo patamar.

Eu não quero me colocar como um "especialista no assunto", mas já jogo e brinco de contar histórias envolvendo os Mythos de Cthulhu faz um tempinho, e portanto acredito ter uma ou outra ideia sobre como usar o Horror Cósmico em RPG. É claro, estas são ideias e conselhos, mas usar ou não, fica inteiramente a seu encargo. Se você prefere algo mais leve, algo mais "player friendly" fique à vontade para ignorar e investir naquilo que você e seu grupo se sentem mais à vontade.

Mas se você quer mergulhar de cabeça no Horror Cósmico, aqui tenho algumas sugestões, muitas delas bastante perversas, incômodas e que vão fazer os personagens (e quem sabe seus jogadores) encarar o que há de mais terrível e assustador no universo dos RPG. E se eles gostarem, vão voltar sempre...

Bem, antes de entrar na parte das sugestões, acho que é bom a gente definir em linhas gerais o que é esse tal de Horror Cósmico para começo de conversa. Ele não nasceu exatamente com a obra de H. P. Lovecraft, como a maioria das pessoas acredita, mas se Lovecraft não foi o primeiro a usar o horror cósmico, foi ele quem melhor o traduziu para a literatura. Lovecraft tomou emprestado noções vindas de Dunsany, de Bierce, Blackwood e de Machen, todos autores do século XIX que ele admirava.

Lovecraft sempre deixou claro que nada o deixava mais aterrorizado do que o imponderável desconhecido. E é justamente essa sensação que ele destilou cuidadosamente em seus contos.

O ponto central do horror cósmico lovecraftiano é a ideia de que o universo é incrivelmente vasto, absolutamente indiferente e completamente ininteligível para os seres humanos. Essa vertente do terror se baseia no desconhecido, no oculto e no imponderável. É aquilo que repousa além da fronteira que causa o verdadeiro pavor. Diferente de outros horrores, não se trata apenas de monstros assustadores, espíritos ou seres sobrenaturais, mas de algo mais profundo: a sensação de insignificância diante de forças incompreensíveis.

O Horror Cósmico é uma vertente do terror literário e filosófico que coloca o ser humano diante de forças que ele não é capaz de compreender. Seu coração não é apenas o medo de monstros, mas o pavor existencial frente a vastidão de um universo brutal em sua indiferença.

Enquanto outras formas de horror giram em torno do mal (um vampiro que seduz, um fantasma vingativo, um assassino cruel), o horror cósmico elimina até essa lógica moral. O universo, nesse paradigma, não é maligno nem benigno — o Universo apenas é. Ele independe totalmente da existência humana para persistir. Enquanto o terror clássico se baseia na percepção do indivíduo diante do horror, na essência do Horror Cósmico o ser humano é um observador impotente que sequer é capaz de descrever o que está diante dos seus olhos incrédulos. Sua participação ou sua passividade são inconsequentes no grande plano cósmico, ele estar ali ou não é algo desprezível.

Isso, por si só, é o maior dos horrores: a revelação de que a vida, a razão e a moralidade humanas, tudo aquilo que nos faz (em teoria) especiais e únicos não têm significado intrínseco. No Horror Cósmico, a raça humana é um acidente biológico: não há um Deus que nos criou, um mundo que nos pertence ou uma esperança de coerência no caos que sustenta as bases do universo.

O horror cósmico é também um contundente comentário existencial.

Ele reflete um niilismo profundo: a ideia de que o universo não tem sentido ou propósito definido. Lovecraft e seus sucessores exploraram esse vazio, antecipando temas que depois seriam delineadores do existencialismo filosófico.

Enquanto a maior parte da literatura de horror fala do antagonismo entre polos distantes: bem contra mal, o horror cósmico nos diz: "não existe bem, não existe mal, não existe centro — existe apenas o vazio imenso do cosmos.

Não se trata apenas de uma estética de deuses, criaturas e horrores indescritíveis com muitos tentáculos e olhos. O horror cósmico em sua essência surge de uma maneira de encarar a dureza do mundo. O verdadeiro terror não está num "inimigo", mas na percepção de uma realidade hostil aos sentidos, e que a mente humana se mostra incapaz de encarar na sua plenitude. Nesse contexto, apenas tentar compreendê-lo pode ser fatal.

O saber indescritível é uma espécie de radiação para a mente: uma energia que perverte a percepção, causa estupor e por fim obriga quem dela se alimenta a abandonar a racionalidade em benefício da completa insanidade.
O horror cósmico ressoa nesse ponto nevrálgico: quanto mais se "desperta" para a verdade, mais terrível ela se torna. A derradeira revelação não leva à liberdade (como em Camus ou Sartre), mas conduz à loucura e ao desespero. Filósofos mencionam um "salto de fé" como resposta ao questionamento do desconhecido — Lovecraft, materialista, nega essa saída de forma veemente.
O salto leva apenas ao abismo e a uma queda eterna.

Diferente das religiões tradicionais, em que o universo é ordenado por deuses que se importam, que criaram tudo e que vigiam sua obra, aqui o cosmos é uma máquina cega com engrenagens que não se encaixam perfeitamente. A cada giro dessa máquina colossal explodem faíscas e o ranger de um mecanismo prestes a se desmontar.
 
As entidades lovecraftianas (Azathoth, o deus idiota cego; Cthulhu, sonhando nas profundezas, Yog-Sothoth, o tempo e espaço, Shub-Niggurath a força do ciclo) são indiferentes e não poderiam se importar menos com nossa existência. Sua percepção para conosco é a mesma que temos de germes inócuos em uma bacia de poeira. Isso encontra eco nas ideias contemporâneas de cosmologia: somos apenas poeira cósmica em um universo que seguirá com ou sem a nossa presença, rodopiando no infinito perpétuo.

Ainda conosco?

Ainda interessado em se aprofundar nessas noções vertiginosas e descer rumo às latitudes dantescas? Então fique conosco, essa é a primeira parte de algo maior. Em seguida falaremos dos princípios que norteiam o horror cósmico e de como usá-lo em nossas mesas de Chamado de Cthulhu.

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Gênio Imortal - A Misteriosa Morte de Edgar Allan Poe


Sempre existiu uma ligação bem próxima, ao menos no que diz respeito a cultura popular, entre criatividade e estranheza. Recentemente alguns círculos médicos parecem concordar com esse vínculo incomum, de fato, existe. Genialidade caminha de mãos dadas com excentricidade

Associar estranheza a genialidade é algo que ocorre com impressionante frequência. Os mais brilhantes pintores, compositores, musicistas, escultores, poetas, dramaturgos e personalidades em tantos outros campos da arte, não raramente são pessoas complexas, cuja existência é marcada por notáveis desdobramentos e reviravoltas que os colocam em uma categoria de pessoas diferenciadas. 

Na literatura isso é especialmente verdadeiro.

Existem incontáveis figuras na literatura que se encaixam na persona do gênio incompreendido... alguns mais que outros. 


Certos nomes vêm facil à mente: Ernest Hemmingway certamente, William Shakespeare definitivamente era peculiar, assim como Charles Dickens, Leon Tolstoy, George Orwell, Sir Arthur Conan Doyle, H.P. Lovecraft, e muitos, muitos outros. Há no entanto um que se destaca mesmo entre os seus pares: Edgar Allan Poe.

Além de ser um escritor brilhante, Poe foi em vida muitas coisas: um beberrão, um excêntrico e na concepção de muitas pessoas que o conheceram, um indivíduo enigmático.

A morte de Poe trouxe alguns questionamentos e mistérios que contribuíram para realçar sua já bem estabelecida reputação. 

Um dos mais populares mistérios a respeito de Poe, envolve o trágico episodio do Mignonette. Este era o nome de uma embarcação britânica que afundou no Cabo da Boa Esperança perto da África do Sul em 5 de julho de 1884. Quatro de seus tripulantes acabaram em um bote salva-vidas e resistiram por  semanas com pouca comida e água fresca. Quando a situacao se tornou desesperadora, os três marinheiros mais velhos decidiram matar e se alimentar do mais jovem e inexperiente entre eles. Um jovem marujo chamado Richard Parker, foi estragulado, esquartejado e devorado pelos seus companheiros. Uma historia terrível com certeza, uma que resultou em uma lei náutica que isentava homens submetidos a esse tipo de suplício de punição por cometerem o supremo tabu da civilização: o canibalismo.

Mas qual a ligação disso com Poe, você deve estar se perguntando.


O caso descrito é um evento real, mas também é o roteiro de uma obra escrita por Poe 50 anos antes. 

Na novela publicada no ano de 1834 com o título "A Narrativa de Arthur Gordon Pym de Nantucket", Poe conta uma historia ate entao ficcional sobre o marujo Arthur Gordon Pym. As aventuras se desenvolvem em tres diferentes navios onde ocorre um naufrágio, um motim e um ato de canibalismo.

Até aí, nada de mais, afinal coincidencias acontecem. No entanto a coisa é mais estranha do que mera coincidencia. Os detalhes descritos na novela de Poe parecem um roteiro perfeito dos acontecimentos reais meio séculos mais tarde. 

A forma como o navio afunda, os detalhes da jornada, a forma como os homens decidem cometer o canibalismo... tudo é idêntico. Estranho? Bem, não é apenas isso!

O personagem que é morto e devorado é um pobre e inexperiente marinheiro cujo nome é... Richard Parker! Exatamente o mesmo nome do marinheiro que sofreu o mesmo fim. 


Alguns sugerem que as coincidencias nao param por ai... que o nome do navio naufragado, Grampus, em algumas versões era Minouette, um nome muitíssimo parecido com Mignonette. Tanto na ficção quanto na realidade os dois navios eram baleeiros, ambos em uma viagem que partiu de Boston com destino a Hong Kong.

As similaridades são surpreendentes. Outra curiosidade é que quando perguntado por um amigo de onde veio a inspiração para sua história, Poe teria dito: " É o tipo de coisa que homens do mar poderiam enfrentar. De fato, é algo que não me surpreenderia se viesse a acontecer".

Mas este não é o unico mistério envolvendo Poe.

Edgar Allan Poe morreu de causas desconhecidas em 7 de outubro de 1849 trancafiafo em uma instituição médica de segurança. Ele foi colocado lá depois de ser achado em um banco de parque no centro de Baltimore, Maryland. Testemunhas disseram que o autor parecia agir como um lunático a pelo menos quatro dias. Ele foi tratado pelo Dr. Joseph E. Snodgrass, qie descreveu seu estado como desmazelado e delirante. Uma vez em custódia de médicos, Poe ganhou e perdeu consciência mas nunca reczluperou suficientemente a lucidez parar relatar o que estava sentindo.
Ele morreu por volta das 5 da manhã.

Durante sua breve convalescença, Poe gritou e implorou para que os médicos nao permitissem que alguém chamado Reynolds viesse vê-lo. Ele também fez referencias incoerentes sobre uma esposa que viveria em Richmond, apesar de que sua verdadeira esposa, Virginia, tivesse morrido alguns anos antes. Poe teria gritado loucuras e dito que "Reynolds viria aquela noite, para levá-lo ou matá-lo".


Uma das últimas coisas que ele teria dito e que foi registrada por uma enfermeira foi:

"Se Reynolds me alcançar, avise minha esposa em Richmond. Não deixem que me leve... coloquem uma arma na minha cabeca e estourem meus miolos".

É de conhecimento público que Poe foi em vida um alcólatra, ainda que muitos acreditem que a fama era exagerada principalmente pela campanha de um desafeto chamado Rufus Wilmot Griswolt. Muitos acreditam que os momentos finais de Poe foram reflexo de uma bebedeira e que seu estado geral era causado pelo álcool. Mas nem todos biógrafos concordam com isso!

Há teorias surpreendentes sobre esses acontecimentos finais. Embora muitos acreditassem que ele havia bebido excessivamente, outros apontavam para algo mais sinistro: uma tentativa de suicídio ou ate de homicidio por envenenamento.

Poe teria acumulado um número considerável de inimigos que o detestava, isso seme mencionar desafetos e credores que juraram ir a forra com ele. 

Mas poderia haver algo mais... em 3 de outubro, quando Poe foi encontrado ocorreu uma eleição em Baltimore. Alguns acreditam que Poe pode ter sido agredido por expressar críticas a algum candidato. Naquele dia, uma grande confusão irrompeu durante um discurso que resultou em um quebra quebra que se espalhou pela área em que elee foi achado horas mais tarde. Alguns afirmaram que Poe teria sido golpeado por uma garrafa e surrado, o que causou seu estado de confusão mental.


Contudo os médicos que o atenderam não relataram ferimentos em seu corpo que pudessem comprovar essa teoria. 

Outra questão central que poderia explicar os acontecimentos é quem seria o Reynolds que ele parecia temer tanto. E é entao que a história fica ainda mais estranha misturando ficção e realidade de maneira trágica. 

Para alguns amigos e biógrafos, Poe contou estar trabalhando em uma novela ambiciosa que infelizmente ele jamais foi capaz de concluir. Essa novela envolveria personagens diabólicos e uma trama macabra com um personagem detestável chamado... Reynolds. 

Poe teria contado a seu editor e empresario que estava animado com o rumo de sua historia e que esperava concluí-la em breve. Ele revelou que um dos personagens da trama o assustava e assombrava, um vilão chamado Reynolds. 

Teria Poe, num estado debilitado (induzido por álcool, veneno ou ferimento contundente), delirado sobre o personagem de sua trama inédita? Teria ele alucinado em seus momentos finais, sendo levado a acreditar que se encontrava em perigo, ameaçado por um personagem que existia apenas em sua mente criativa?

O misterio de Reynolds, seja ele quem for continua sendo um enigma investigado por biógrafos e estudiosos de Poe. A grande verdade é que ninguem sabe o que aconteceu nos dias finais do genial autor. Poe, um escritor que conseguiu tocar as partes mais escuras da literatura deixou um grande legado com sua obra. Seus contos, novelas e poesia permanecem como uma exploração única da crueldade e depravação humana. 

Seria de se esperar que a morte dele fosse outra coisa além de incomum?

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Perdidos na Selva - Encontros com Tribos Desconhecidas: O Povo Pálido e os lendários Mayoruna

Continuando nosso artigo sobre tribos perdidas na Amazônia.

Além das tribos misteriosas de supostos não-humanos nas profundezas das selvas brasileiras, uma outra lenda persiste desde os tempos dos missionários espanhóis do século XVI. Os religiosos que chegaram à região amazônica relataram encontrar tribos de nativos altos, de pele e cabelos claros, olhos azuis e aparência decididamente caucasiana, que viviam nas áreas mais remotas e inacessíveis da selva. 

Um dos primeiros relatos de encontros com essas pessoas misteriosas foi feito pelo missionário dominicano espanhol Gaspar de Carvajal, que escreveu em 1542 sobre ter encontrado um grupo de mulheres tribais muito altas, muito brancas, de aparência europeia, que usavam seus longos cabelos loiros trançados e enrolados na cabeça. O relato foi incluído em seu livro "Relato da Recente Descoberta do Famoso Grande Rio".

Outro famoso relato sobre tribos amazônicas brancas é consideravelmente mais recente e vem do explorador americano Alexander Hamilton Rice, que viajou pela Amazônia em uma expedição entre 1924 e 1925. Rice realizou a maior parte de sua exploração usando hidroaviões que sobrevoavam a selva e pousavam em rios e lagoas. Ao retornar de uma dessas expedições, ele contou a história de um de seus companheiros exploradores, o Tenente Hinton, que avistou uma tribo de índios brancos enquanto sobrevoava as nascentes do Rio Parima.

Intrigado, Rice organizou uma viagem de canoa rio acima para tentar descobrir a origem dos misteriosos nativos brancos. Por fim, localizaram uma cabana que se acreditava pertencer aos índios brancos e ouviram uma série de gritos agudos que assustaram alguns dos membros da expedição e deixaram o grupo restante nervoso a ponto de pegar em armas. Foi então que dois nativos brancos saíram da floresta, aparentemente em paz.

Os supostos índios brancos da Amazônia

Esses nativos foram descritos como tendo pigmentos pintados no rosto que obscureciam suas feições, mas eram considerados "inegavelmente brancos". Os dois pareciam frágeis e desnutridos, não usavam roupas e carregavam arcos com flechas com pontas envenenadas. Falavam em uma língua única, desconhecida de qualquer outra tribo, o que dificultava a comunicação. Quando os membros da expedição ofereceram contas e lenços como presentes, os dois membros da tribo teriam gritado para a selva, o que fez com que mais nativos de pele clara saíssem de seus esconderijos.

A esses estranhos nativos foi oferecida comida, mas esta foi recusada. Aparentemente eles preferiam se alimentar apenas da comida que haviam trazido e que era carregada em bolsas feitas de folha de bananeira. Durante o encontro, a estranha tribo não demonstrou nenhum interesse ou admiração particular pelas roupas, equipamentos, armas ou hidroavião dos ocidentais. A expedição fez esforços para tentar se comunicar com a tribo, mas a barreira da língua dificultou a comunicação e, depois de um tempo, os índios brancos desapareceram na floresta, movendo-se "entre as árvores como onças, sem fazer barulho ou farfalhar as folhas".

A década de 1920 foi, de fato, um período de muitos encontros estranhos e os misteriosos nativos de pele branca, aparecem com frequência nos relatos de aventureiros que estiveram vagando pela região amazônica. O já mencionado Coronel Percy Fawcett estava convencido de que essas pessoas eram habitantes de uma cidade mística perdida nas profundezas da selva, um lugar que ele chamava simplesmente de "Z". Ele estava tão certo de que essa cidade e seu povo existiam, que a sua busca chegou às raias da obsessão. Fawcett acabaria penetrando cada vez mais longe na selva. Sua derradeira expedição em busca da cidade de Z ocorreu em 1925 e resultou em seu desaparecimento da face da Terra. Nenhum vestígio dele ou de seus companheiros jamais foi encontrado.

Relatos e encontros com nativos brancos na Selva Amazônica continuaram sendo relatados esporadicamente na década de 1940. Em 1945 o jornalista britânico Harold T. Wilkins assumiu a responsabilidade de compilar uma variedade de relatos que remontam ao século XVI em seu livro "Mistérios da Antiga América do Sul". A obra, bastante sensacionalista mencionava tribos de homens e mulheres brancas que habitavam as regiões mais ermas da floresta, sobrevivendo como uma tribo fechada que não se misturava com os demais indígenas. Ele os chamava de Tapicha Moroti, que no idioma tribal tupi significa Povo Pálido.

Esse povo pálido teria como característica marcante justamente a pele de cor clara, praticamente caucasiana, altura superior com média de 1,70, além de olhos e cabelos de compleição clara. Essa tribo, segundo Wilkins seria de descendentes de colonos vindos de terras distantes, possivelmente do norte da África milênios atrás, um grupo de exploradores que teria se perdido nessa região inóspita, adotando o estilo de vida dos nativos. Outra teoria controversa era de que esses nativos seriam os descendentes de alguma civilização desaparecida, tragada pelas águas que se espalharam pelo mundo em uma diáspora que se seguiu a um apocalipse. As lendas da Lemúria, de Mu e da legendárias Atlântida permeavam essas teorias que por sua vez se amparavam nas ideias teosóficas de Helena Blavatsky.


Mesmo nos tempos modernos, houve relatos de encontros com essas tribos enigmáticas. Em 1977, uma expedição conjunta britânica/brasileira relatou ter sido cercada por uma tribo de nativos loiros, incomumente altos, com olhos azuis e pigmentação notavelmente branca, alguns dos quais tinham barba espessa. Todos estavam nus e falavam um dialeto que nenhum especialista jamais ouvira antes. Essas pessoas eram chamadas de Acurinis e foram novamente encontradas por outra expedição na mesma região em 1979. Neste caso, os misteriosos homens da tribo foram vistos apenas brevemente antes de desaparecerem no mato.

Abundam teorias sobre o que poderia estar por trás desses encontros surpreendentes. Uma das teorias é que esses nativos poderiam ser descendentes de náufragos, vikings, exploradores perdidos ou mesmo missionários ocidentais que voluntariamente deixaram a civilização para trás para viver entre os nativos, que os absorveram. De fato, há a crença de que o próprio Percy Fawcett tivesse se convertido em um nativo e que seus descendentes e dos membros de sua expedição, poderiam explicar a existência de nativos de pele clara. 

Nos últimos anos, uma tribo chamada Aché, conhecida por ter pele, cabelos e olhos claros e barbas espessas foi encontrada por uma expedição. Embora tenha sido demonstrado que eles não tinham evidências genéticas de terem se misturado com europeus, sua aparência única sugeria que eles seriam a fonte de pelo menos alguns dos relatos. É improvável que algum dia saibamos com certeza as origens precisas desse mistério.

Um relato bastante peculiar que vem das terras selvagens da Amazônia é o de um explorador intrépido que chegou aqui em busca de mistérios e logo encontraria mais do que esperava, embarcando em uma jornada que incluiria tribos perdidas e isoladas e estranhos poderes da mente. Loren McIntyre foi um explorador, fotojornalista e escritor para publicações conceituadas como National Geographic, Time, Life, Smithsonian, entre outras. 

Ele foi, em muitos aspectos, uma espécie de Indiana Jones da vida real, dedicando grande parte de sua vida a explorar obstinadamente os confins impenetráveis ​​da floresta amazônica. De fato, foi ele o primeiro a descobrir a nascente do Rio Amazonas, quando realizou uma expedição com esse objetivo em 1971. McIntyre faria história ao descobrir que o maior, mais longo e mais caudaloso rio do mundo nascia com um escoamento de neve em uma montanha nos Andes peruanos chamada Mismi. O explorador traçou o curso do rio de sua nascente até onde ele desaguava, através de uma jornada sinuosa por algumas das regiões selvagens mais remotas da Terra. No entanto, embora a expedição tenha se concentrado na origem do Amazonas, certamente esta não foi a sua única descoberta. Durante outra expedição ele teria um encontro inesperado, que ele guardaria para si por anos.

Os Matsés, seriam parentes dos Mayoruna

Em 1969, McIntyre embarcou em uma excursão às profundezas inexploradas da selva amazônica brasileira. Seu alvo era uma tribo pouco conhecida, os Mayoruna, parentes dos Matsés, tão esquivos que nunca haviam sido contatados com sucesso por estrangeiros. Quase nada se sabia sobre essa tribo enigmática vislumbrada apenas fugazmente por algumas testemunhas oculares. Eram como fantasmas, e McIntyre tinha pouco em que se basear quando adentrou o perigoso Vale do Javari, na fronteira entre o Brasil e o Peru. Mal sabia ele que seriam os Mayorunas que o encontrariam.

À medida que o explorador avançava pela selva desconhecida ele acabou percebendo que estava irremediavelmente perdido. Sua jornada se transformou em uma peregrinação à esmo pela perigosa região selvagem que ele imprudentemente havia invadido sozinho. Ele começou a se conformar com o fato de que poderia acabar se tornando mais um explorador perdido, como seu ídolo de infância, Percy Fawcett. Para tornar a jornada ainda mais sinistra, McIntyre se deparou com uma clareira repleta de corpos do que pareciam ser lenhadores, meio devorados por formigas e com flechas saindo de seus cadáveres inchados.

Essa descoberta sinistra fez com que o explorador observasse atentamente as árvores enquanto vagava sem rumo, meio que esperando que a morte o alcançasse a qualquer momento. Parecia certo que ele nunca veria a civilização novamente. Foi nesse momento desesperador que algumas figuras saíram da floresta à sua frente. Era, altos, tinham espinhos cravados no rosto, colares feitos de ossos humanos e lanças compridas. Olhavam para ele com uma mistura de desconfiança e surpresa, mas não demonstraram agressividade. Eram sem dúvida os Mayoruna, e aquele era o mais perto que qualquer forasteiro já chegara deles. Pelo menos qualquer um que ainda estivesse vivo.

O explorador ofereceu alguns presentes que havia trazido para o caso de realmente fazer contato. De sua bolsa, tirou tecidos e espelhos, que colocou diante dos homens da tribo, que os observavam com expressões inescrutáveis ​​em seus rostos perfurados. Eles se aproximaram para aceitar os presentes e então pareceram acenar para que ele os seguisse pela floresta. O cansado McIntyre cambaleou atrás de seus guias, mal conseguindo acompanhar sua ágil navegação pela selva, e assim começaria o próximo capítulo de sua estranha aventura.


O grupo chegou ao que parecia ser um acampamento improvisado habitado por outros membros da tribo, que demonstravam curiosidade com aquele estranho. Retiraram suas botas e as queimaram até virar cinzas, seu relógio, que acharam fascinante, também acabou destruído. De fato, a maioria de seus pertences seria roubado ou destruído, inclusive sua câmera. Embora não tenha havido agressão direta contra ele, havia alguns lembretes sombrios de que ele estava em grande perigo. McIntyre alegou que a tribo usava adereços feitos de ossos humanos, tinham cordas de tendões e que bebia água em cabaças de crânios. Eles também estavam muito bem armados e nunca se afastavam de seus arcos e lanças. Um membro da tribo, sem dúvida um guerreiro, com o rosto pintado de vermelho, a quem ele apelidou de "Bochecha Vermelha", começou a ameaçá-lo e a encará-lo com uma expressão furiosa.

McIntyre ficou com essa tribo perdida por dois meses e, durante esse tempo, fez muitas observações. Percebeu que eles estavam em constante movimento, mudando-se para um novo acampamento a cada semana, às vezes repentinamente e sem aviso. Tinham um estilo de vida nômade, típico de caçadores-coletores. Também pareciam não ter noção de posses individuais, compartilhando livremente tudo uns com os outros e pegando ou usando o que quisessem sem repercussões. Ainda mais estranho, ele notou que essas pessoas frequentemente se moviam de forma bastante bizarra em sincronia, sabendo o que os outros fariam sem precisar falar uns com os outros. Por algum tempo, ele ponderou sobre essa anomalia, mas logo descobriria que a explicação era muito mais estranha do que qualquer coisa que ele tivesse imaginado.

Um dia, ele foi abordado por aquele que supôs ser o chefe da tribo, um homem mais velho, musculoso e grisalho, tratado com respeito pelos demais. Quando o chefe se aproximou e falou com McIntyre, o explorador descobriu que, estranhamente, conseguia entender o que ele tinha a dizer. Isso o deixou perplexo, mas logo ele percebeu que o chefe não movia a boca ao falar, e que estava falando diretamente em sua mente, usando o que ele supôs ser uma espécie de telepatia! Mais tarde ele chamaria essa forma de comunicação não verbal de "transmissão" ou "a outra língua".

O ancião explicou que a tribo existia como uma espécie de consciência coletiva e que seus pensamentos estavam todos interligados, embora apenas os anciãos da tribo fossem capazes de concentrar esse poder telepático. McIntyre aprendeu que não havia um "eu" real na tribo, para eles, o conceito de indivíduo fazia pouco sentido. O chefe também explicou que eles estavam sob constante ameaça de inimigos e que essa era a razão pela qual a tribo se mudava com frequência. Os nativos procuravam sua terra natal onde tencionavam viver, mas eles não sabiam onde ela ficava. Chamavam esse lugar de "O Início" e diziam que era uma terra mística onde os antepassados dos Mayoruna nasceram e para onde seus espíritos migravam.

O fluxo do tempo, passado, presente e futuro, ao mesmo tempo.

O chefe convidou McIntyre para acompanhá-los em sua jornada rumo ao “Início” e, nas semanas seguintes, ele os seguiu  e se envolveu nos seus estranhos ritos. O explorador partilhou de misturas psicoativas extraídas de ervas e raízes que distorciam suas percepções. Ele alegou ter visões de cenas de seu passado e futuro, vistas com inacreditável realidade. Era como se aquelas drogas tivessem aberto sua percepção para um fluxo de tempo que poderia ser visitado. Era como viajar no espaço e no tempo sem sair do lugar, uma experiência que deixou o explorador estarrecido.

Ele também descobriu que, se se concentrasse, poderia captar uma espécie de névoa estática que continha os pensamentos interligados de todos os membros da tribo. Era como pressentir emoções e pensamentos alheios. No entanto, apesar de tudo aquilo, ele sabia que em algum momento teria que deixar para trás aquela selva para retornar à civilização. O único problema era que o explorador não tinha ideia de onde estava e se os seus novos companheiros o deixariam partir. Ele não tinha ilusões de que era um prisioneiro e que eles poderiam matá-lo se tentasse fugir. 

Contudo, o destino se encarregou de dar uma ajuda. Uma enchente varreu a região após chuvas torrenciais, e McIntyre aproveitou a chance para escapar agarrado a uma balsa, despejada no rio. Ele foi encontrado dias depois por madeireiros que o levaram de volta a um vilarejo de onde conseguiu contato com a civilização que já o havia dado como morto. Haviam se passado três meses desde seu desaparecimento.  

Ao retornar McIntyre manteve o que lhe aconteceu em segredo e é bem provável que sua história fantástica jamais fosse partilhada se não fosse por um cineasta romeno chamado Petru Popescu. Em 1987, Popescu conheceu McIntyre por acaso durante uma viagem de barco pelo Rio Amazonas. Os dois homens se deram bem e, por algum motivo McIntyre confidenciou a ele o que havia acontecido na selva. Foi tudo bastante surpreendente, e quando Popescu perguntou por que ele nunca havia contado a ninguém sobre isso, McIntyre disse que não achava que alguém acreditaria na história. Sua reputação como um respeitado explorador poderia ser arranhada por uma narrativa tão surreal que incluía telepatia e viagens no tempo.

Popescu conseguiu convencer McIntyre a deixá-lo escrever um livro sobre suas aventuras e, em 1991 ele lançou "O Encontro", obra que narrava os acontecimentos ocorridos décadas antes e cobria o período do explorador na companhia dos misteriosos Mayoruna. A obra dividiu opiniões e atraiu a atenção de místicos que apontaram as experiências como uma demonstração da sabedoria da floresta. 

Uma das últimas fotografias de Loren McIntyre

Quanto à tribo não se soube mais nada! 

Ela desapareceu nas profundezas da Selva e o próprio McIntyre disse que por um pressentimento sentia que eles não estavam mais acessíveis - se morreram, desapareceram ou chegaram ao "Início", ele não soube precisar. Na sua concepção, era como se eles tivessem sumido. Na sua opinião ninguém os encontraria e expedições de busca jamais teriam êxito. Os Mayoruna nunca foram formalmente achados, embora relatos a respeito de sua existência tenham sido colecionados por exploradores que entrevistaram nativos da região. 

Loren McIntyre faleceu em 2003 sem emitir mais opiniões sobre os acontecimentos na década de 1970 ou a tribo com a qual ele andou. Ele afirmava saber exatamente quando e em que circunstâncias morreria, graças às drogas que tomou nos rituais que abriram sua mente para essa visão. Surpreendentemente ele disse a amigos que sua morte estava próxima, cerca de 2 meses antes dela ocorrer de fato. 

É difícil conceituar a estranha narrativa de McIntyre, mas a despeito de sua confirmação, inegavelmente trata-se de algo fantástico. O livro de Popescu, baseado nas entrevistas que ele conduziu, funciona como uma janela para conhecer essa tribo desconhecida, seus costumes e rituais, mas a verdade sobre a sua existência de fato, isso, provavelmente, jamais saberemos.