sexta-feira, 31 de julho de 2015

Accursed e 13a Era - Dois Financiamentos Coletivos e dois ótimos jogos


Accursed e 13th Age.

Dois importantes RPG estão prestes a desembarcar no Brasil. Dois títulos consagrados que estão cada vez mais próximos de chegar ao mercado nacional.

Curioso para saber mais a respeito dessas ambientações que atualmente se encontram em processo de Financiamento Coletivo, busquei algumas informações aqui e ali. O que descobri, me deu a certeza de que esses são títulos em que vale a pena investir. Não apenas por serem novos recursos para o Mercado brasileiro de RPG, mas porque a proposta dos jogos em si, é extremamente interessante.

Vou ser sincero, e dizer que até algumas semanas atrás eu estava em dúvida a respeito de participar ou não desses financiamentos.

Pesavam dois fatores: 

1 - É um fato que depois de algum tempo, o maior problema do jogador de RPG não é arranjar grana para comprar os livros (problema fundamental quando a gente é moleque), mas sim, arranjar tempo para ler, escrever e jogar. Na atual conjuntura um jogo tem que ser muito bom para consumir aquele valioso tempo livre no final de semana entre o almoço de família e uma saída com a esposa/namorada/filhos.

2 - O fato de ser um Financiamento Coletivo. Não me entendam mal, eu acho uma modalidade totalmente válida para vender um produto. É uma forma de oferecer ao público uma chance de participar diretamente do processo de produção. Dá ao consumidor a chance de adquirir aquilo que ele deseja dentro de suas pretenções e do seu orçamento. O problema com FC é que por vezes, eles atrasam, acabam dando problema ou demoram muito mais do que o prometido. Nem me refiro aos FC aqui no Brasil, esse é um problema que às vezes ocorre aqui, mas também é frequente lá fora. Eu fiquei frustrado com alguns financiamentos e prometi a mim mesmo que dificilmente entraria num de novo.

Diante dessas questões eu comecei a imaginar que Accursed e 13a. Era não seriam pra mim. Mas eis que comecei a pesquisar um pouco mais a respeito deles e surpresa, financiamento, aqui vou eu.

O que mudou minha concepção? O que aconteceu para quebrar minha promessa "quase" solene?

Para demolir meus preconceitos a respeito dos jogos, nada melhor do que um pouco de informação a respeito dos dois.

Primeiro Accursed lançado a ser lançado pela Retropunk:


A questão fundamental pra mim era porque eu iria querer comprar Accursed? Afinal, eu já tenho outros tantos jogos pegando poeira na prateleira, aguardando numa longa fila por uma oportunidade de ver a mesa de jogo. Não é de hoje que eu percebi que muitos dos jogos que compro acabam fadados apenas a ocupar um espaço na estante. Algumas ambientações até me agradam, alguns sistemas até são interessantes, mas no geral, há sempre outra coisa mais atraente.

O primeiro ponto positivo de Accursed foi o sistema. Eu adoro Savage Worlds. É um sistema fácil, rápido e ágil que não demanda muita preparação por parte dos jogadores e do mestre. Além disso, ele está satisfatoriamente difundido e tem uma boa base de jogadores, de modo que não é essencial ter que ensiná-lo nos eventos ou para seu grupo habitual. Já ter o livro básico do Savage Worlds também ajuda um bocado, não é de hoje que estou querendo voltar a jogar/narrar algo que use o sistema e sabendo que o jogo tem tudo para se popularizar, não vai ser difícil arranjar um grupo.

Outro fator interessante é que Accursed possui uma trama um bocado diferente, fugindo do convencional.

O que realmente me ganhou foi o twist original da ambientação, algo parecido com "O que aconteceria se Hellboy se aventurasse em Ravenloft"? (Eu sei, parece esquisito, mas acho que é a melhor definição do jogo).

Em Accursed, os jogadores interpretam monstros e outros seres abomináveis, usados como tropas de choque em uma terrível guerra travada entre os Reinos de Morden e um Cabal de Bruxas. A estória começa no momento em que as forças malignas triunfam!

Nesse mundo decadente, as forças da justiça e do bem, não conseguiram fazer frente às hordas de criaturas profanas (oito linhagens de seres que incluem vampiros, mortos vivos, golens entre outros monstros) que compunham a Elite das tropas do Cabal. Uma vez tendo vencido, as feiticeiras dividiram os reinos entre si e passaram a governar com mão de ferro. Mas a aliança entre elas não duraria para sempre; disputas, ciúmes e inveja se acumularam e fizeram com que os exércitos de seres amaldiçoados lutassem uns contra os outros. Para aumentar as fileiras das tropas, muitas pessoas normais foram transformadas em monstros sobrenaturais através de maldições blasfemas. 

Contudo, por vezes, alguns seres malditos portadores da Witchmark (a Marca da Bruxa), conseguem superar o controle das entidades que os criaram. Assombrados pelo que foram forçados a fazer, eles escapam do jugo das Bruxas e ganham o mundo. Incapazes de reconstruir suas vidas, em suas moradas ou entre seus entes queridos, esses Malditos vagam sem rumo: escondidos, desprezados, temidos... tentando redimir seus muitos pecados. 

Alguns deles conseguem se juntar a Ordem dos Penitentes, uma organização cujo propósito é livrar o mundo da presença maligna das Bruxas. Outros oferecem suas habilidades únicas, tornando-se guerreiros, alquimistas ou espiões para quem pagar a maior soma. Outros ainda, acabam se deixando tomar pelas trevas, abraçando a corrupção e a loucura.     

Em Morden, a luz se apagou, as trevas estão se espalhando - e nesse mundo deformado, apenas os monstros podem enfrentar o horror de igual para igual. Com sorte eles conseguirão encontrar a paz que tanto desejam e salvar suas almas, mas o mais provável é que morram tentando. 

Accursed é um dark fantasy que combina aventuras perigosas e monstros desafortunados em busca de redenção. Não falta espaço para questionamentos profundos (e uma boa dose de horror pessoal). Sem dúvida, é um terreno fértil para ótimas aventuras e oportunidade para excelentes interpretações.

E quanto a 13a. Era?

Minhas dúvidas a respeito de 13a. Era encontravam eco nos questionamentos sobre Accursed. Talvez aqui, meus preconceitos fossem ainda mais profundos e estivessem ainda mais enraizados.


Confesso que eu conhecia bem pouco sobre a proposta do 13a. Era, além do fato dele ter sido criado como uma opção ao D&D Quarta Edição. Para muitos, ele seria tudo aquilo que a contestada quarta edição não conseguiu ser: um jogo que trazia rapidez, diversão e narrativa fluida, colocando esses elementos acima de conceitos exaustivos sobre mecânica e tática.

Para construir esse RPG, a Pelgrane Press (responsável pelo lançamento de 13a Era, nos EUA) juntou dois nomes de peso, veteranos considerados como lendas vivas na comunidade do RPG internacional. Estou falando de Rob Heinsoo e Jonathan Tweet (que vai estar no Brasil na RPGFest esse ano), responsáveis por alguns dos jogos mais populares das últimas décadas. 

O objetivo deles com 13a Era, era conciliar elementos do D&D clássico (o RPG mais jogado do mundo) com uma pegada dos sistemas independentes como Fate e Dungeon World. O resultado seria um jogo clássico com um espírito revigorado na tradição dos indies.

Eu coloco muita fé no taco dos Senhores Tweet e Heinsoo, sobretudo porque os dois são veteranos de longa data, jogadores/mestres old school, reunidos com o propósito de escrever um sistema de RPG composto por "aquilo que eles sempre desejaram jogar". Quando você concede tamanha liberdade a dois mestres, geralmente o resultado é algo empolgante.

A característica principal de 13a. Era é colocar os holofotes sobre os personagens e não sobre a ambientação. E isso faz uma enorme diferença já que normalmente os jogadores estão inseridos em uma ambientação estática na qual os jogadores desempenham seu papel num pano de fundo pré-definido. 13a. Era quebra essa noção, oferecendo aos jogadores a possibilidade de alterar a ambientação por completo, de uma maneira verdadeiramente épica. Para isso, os personagens são construídos de uma forma singular, possuíndo algo único, que lhes permite fazer coisas incríveis.

As estórias são criadas em cima do histórico dos personagens e daquilo que os torna especiais. Talvez um deles seja o último representante vivo de sua raça, outro pode ser o detentor de um artefato ancestral, enquanto um terceiro é o herdeiro legítimo do trono. Seja lá o que for, o personagem é único em face desse detalhe. Além disso, cada aventura se desenvolve ao redor do grupo e da relação deles com seres poderosos (os Ícones). É uma ideia muito interessante colocar os jogadores desde o início ao lado das forças transformadoras da ambientação.

Para quem busca uma campanha épica (no sentido estrito da palavra), 13a. Era é imprescindível. Esqueça as simples explorações de masmorras e as aventuras centradas em explorar e conseguir tesouros, os personagens de 13a. Era estão fadados a coisas muito mais importantes. Liderar exércitos, construir dinastias, servir diretamente aos Deuses, vencer vilões e salvar Reinos. Em jogos normais os personagens encontram heróis lendários e interagem com eles, aqui os jogadores tem o potencial para se converter, eles mesmos, nessas lendas.

Outro elemento que me interessou em 13a. Era diz respeito a mecânica, tratada como uma verdadeira jóia de simplicidade e rapidez. Eu dei uma pesquisada e entendi perfeitamente as diretrizes do jogo que me deixaram empolgado. Em uma primeira análise ele parece muito com o D20 clássico, mas há elementos variantes que o tornam algo mais vibrante. O resultado é um D20 turbinado. Uma ótima opção para quem tem trocentos livros de D20 e quer dar novo uso a eles. Além disso, o jogo é "rápido e rasteiro", ele não fica travado em função de regras de rodapé e condições específicas que precisam ser checadas. E mais importante: esqueça os combates com mapa tático, não há necessidade de miniaturas, posicionamento ou grid.

Com tudo isso, 13a. Era possui elementos suficientes para me convencer a embarcar sem medo. Além das ideias narrativas, o jogo acena com várias regras que podem ser incorporadas a outros RPG, uma mesclagem que me atrai muito.  
  
Tudo muito bem, tudo muito bom... mas restava a questão final: O fato de ser um Financiamento Coletivo (FC).

Mas nada como um pouco de informação. Felizmente, as coisas mudaram de uns tempos para cá no reino dos FC. Mudaram para melhor!

Não é de hoje que as editoras estão buscando reparar alguns problemas experimentados no início da febre dos FC, quando eles pareciam a solução para tudo. Erros foram cometidos, financiadores se afastaram, mas com certeza muitas lições foram aprendidas. Houve, sem dúvida, um amadurecimento extremamente benéfico por parte das editoras nacionais, algo que resultou numa crescente onda de profissionalismo. Editoras como a New Order (de Ygdrasil, Numenera, Legend of Five Rings e agora a responsável pelo 13a Era) e a Retropunk (que lançou Rastro de Cthulhu, Savage Worlds, Fiasco e agora Accursed) tem buscado ouvir as demandas do consumidor. 

Elas estão oferecendo ao público compensações em caso de atrasos, garantia nos prazos e soluções práticas ao invés de meras desculpas. Isso tudo, somado a uma política de transparência, serviu ao meu ver, para revitalizar esse tipo de venda. Financiamento é algo baseado na confiança e isso deve ser preservado. Eu arrisco dizer que hoje o Financiamento está mais forte do que há alguns anos. E isso se deve ao trabalho maduro de novas e ousadas editoras que compraram a briga de trazer novidades para o mercado nacional.

Com tudo isso, você deve estar se perguntando: "Ok, mas para de ficar em cima do muro! Qual dos dois Financiamentos Coletivos é melhor"?



Caras, eu vou ser muito sincero, e ficar devendo uma resposta, porque ela depende exclusivamente de vocês.

Os dois jogos são excelentes e valem a pena serem conhecidos, lidos e jogados. Cada qual oferece ótimas opções para seu grupo e arrisco dizer que ambos serão bem utilizados (a despeito de seu tempo e disposição para criar estórias).

Portanto, se você puder encarar os dois Financiamentos, faça isso sem medo.

Entretanto, se por N motivos (tempo, gosto pessoal, grana...), você só pode optar por um, escolha aquele que melhor se encaixa nas suas pretenções como jogador/narrador. Eu sei, é algo meio óbvio dizer isso, mas as vezes, a gente se deixa levar pelo gosto alheio. Dê preferência aquele que você mais provavelmente vai jogar ou mestrar. Como saber disso? Pergunte aos seus jogadores e veja o que eles acham. Boas campanhas surgem em decorrência da relação entre um Mestre pilhado e um grupo entusiasmado. Se você conciliar as duas coisas, você estará no caminho certo para construir algo divertido, duradouro e memorável. Ao invés de surpreendê-los com um livro já comprado, pergunte o que eles desejam para uma campanha vindoura.

Mas não deixe passar o prazo... os dois Financiamentos já estão em curso e se encerram em breve.

Abaixo coloquei o link para a página oficial das duas campanhas, dê uma lida em cada um:

Financiamento do ACCURSED no Kickante

Financiamento do 13a Era no Catarse

terça-feira, 28 de julho de 2015

True Detective - Recap do episódio seis: "Church in Ruins"


"True Detective" estava sinalizando desde o início com esse episódio: o momento em que os investigadores conseguem invadir a festa exclusiva em que homens ricos e poderosos se reúnem para uma orgia.

É uma visão de completa decadência e perversão, realçada pelas imagens fora de foco representando os sentidos confusos da ex-Detetive Bezzerides que havia sido drogada. O resultado é uma descida sem escalas a um antro infernal que lembra a festa assombrada de "O Iluminado" (The Shinning) e, é claro, o sinistro baile de máscaras de "De Olhos bem Fechados" (Eyes wide Shut). Uma perfeita combinação, quase uma homenagem ao aniversário de Stanley Kubrick (que completaria 87 anos essa semana).
      
Mas antes de abordar o ponto alto do episódio, vejamos o que aconteceu antes.

O episódio anterior terminou com o ex-Detetive Velcoro visitando a casa de Frank Semyon com a intenção de colocar as cartas na mesa. Seu objetivo era confrontar o patrão com a descoberta de que ele matou o homem errado graças a sua dica falsa. O sujeito que Ray matou, não era, afinal de contas o responsável por estuprar a sua mulher Gena e deflagrar os 11 anos de inferno pelo qual ele passou. A situação é imprevisível, todos sabemos que quando Velcoro está furioso tudo pode acontecer. Frank com certeza sabe disso, portanto mantém uma arma engatilhada de baixo da mesa. Ray faz o mesmo. O momento da verdade é doloroso e a dúvida de quem vai bancar o Han Solo na cantina de Mos Eisley persiste até o último segundo da sequência.


O gangster tem que falar devagar e de maneira mansa para não cometer nenhum deslize fatal. Qualquer palavra fora do lugar pode pintar a cozinha de vermelho. Ele explica que recebeu a informação de que um viciado em meth era o responsável pelo estupro e que apenas repassou o nome como uma maneira de fazer justiça. Ray suspeita que Frank o usou para eliminar algum desafeto e cobra explicações. Mais do que ser enganado, Velcoro acusa Frank ade ter sido o responsável por acabar com sua vida, tornando-o um policial corrupto, o que o levou ao abuso de bebida e drogas que culminaram com sua separação. Agora que ele sabe que o verdadeiro estuprador está preso, a única certeza que ele tinha - de que a "justiça" havia sido feita, evaporou.   

Mas enfim, Frank e Ray não terminam a cena atirando um no outro. De fato eles conseguem chegar a um entendimento no qual Velcoro poderá se ver livre de Frank desde que o ajude a resolver as pendengas do caso Caspere. Frank em contrapartida promete que vai averiguar quem lhe deu a informação errada e passar para Ray. Com as armas devidamente guardadas, os dois acabam trocando pistas sobre Irina, a prostituta que penhorou os objetos valiosos de Caspere e que conduziu a Ledo Amarilla e ao sangrento tiroteio do episódio quatro. Frank menciona finalmente o Hard Drive com as filmagens comprometedoras que foi roubado na noite do assassinato de Caspere o que leva Ray a relacionar o fato às festas de poderosos ocorrendo em Guerneville. Ray também conta que Blake (o capanga de Frank) está agenciando as prostitutas que abastecem a festinha. Tudo parece se encaixar e a trama consegue andar mais alguns preciosos centímetros.

Ray e Frank conseguem terminar a conversa sem recorrer à violência, mas nem tudo acaba bem para Velcoro. A primeira visita de Chad, seu filho, acompanhado de uma assistente social termina em desastre. Quer dizer, ninguém merece passar uma tarde sentado num sofá na companhia de um estranho e de um pirralho ruivo e rechonchudo querendo assistir reprises de Friends. A experiência vai tão mal que logo depois de deixar o garoto na casa da mãe, ele volta para casa e dá início a um quebra-quebra movido a muitas drogas e muita bebida. Adeus 60 dias de sobriedade, olá esquecimento: "This is the end, my only friend the end", poderia estar tocando no fundo.


Ao terminar sua celebração ao excesso (no melhor estilo Apocalypse Now), Ray parece decidido a abandonar a briga pela custódia de Chad. Ele liga para a mulher e diz que vai desistir da guarda, contanto que Gena não leve adiante o plano de revelar o resultado do exame de paternidade ao garoto. A princípio ela parece satisfeita e Ray desliga o telefone.    

Mas no dia seguinte Velcoro já está de volta ao ataque. Isso logo após uma noite em que ele caiu de cabeça em carreiras e mais carreiras de cocaína e bebeu um balde de whisky. Ray faz uma "visita cordial" ao estuprador na cadeia. O diálogo entre eles é no mínimo assustador. Desde o primeiro episódio, quando Velcoro dá uma surra no pai de um moleque que praticava bully, não vimos tanta intimidação:

"Eu vou arrancar cada centímetro de sua pele com um ralador e vou começar com o seu p...". 

É o tipo da coisa que um cara não quer ouvir, ainda mais quando dito por alguém que claramente não está fazendo uma ameaça vazia. A coisa está mais para uma promessa. Como resultado o sr. estuprador começa a ponderar preocupado sobre seu futuro imediato. Boa Ray, é por isso que gostamos de você!

Enquanto isso, Frank segue em seu próprio trabalho como detetive em busca do HD de Caspian e da chance de recuperar ao menos uma parte de seu dinheiro. O presidente do Grupo Catalyst prometeu a ele uma porcentagem do corredor ferroviário caso ele encontre o computador e o gangstar sabe que essa pode ser sua melhor oportunidade de diminuir o prejuízo. Antes, no entanto, ele faz uma visita a viúva de Stan - "o misterioso Sr. Stan", assassinado só Deus sabe porque. Ele descobre que Blake tentou consolar a viúva e descobrir se Stan havia falado alguma coisa a ela. Ao que tudo indica, Stan viu ou ouviu algum detalhe sigiloso que fez com que ele fosse apagado antes de poder contar ao chefe. Eu imagino que Blake foi quem dedurou Stan e fez com que ele fosse morto, mas até aqui não há como saber exatamente o que ele descobriu.


Frank dá um jeito de descobrir detalhes sobre as amizades de Irina e com a ajuda de um capanga e de uma pistola de pregos convence um informante a falar um pouco mais sobre a mulher. Irina sumiu depois de ter tentado repassar os objetos de Caspere. Frank e seus homens conduzem uma busca numa das casas usadas pelos mexicanos da Santa Muerte e lá são surpreendidos por um bando que apareceu anteriormente querendo negociar a venda de drogas na boite. Isso permite que Frank faça a melhor piada da noite: "Isso bate todas: participar de um Impasse Mexicano com mexicanos de verdade". Ao menos o impasse é resolvido sem derramamento de sangue - Frank está ficando bom nisso!

Ele consegue um acordo com os mexicanos, permitir que eles operem em sua boite em troca de uma conversa com Irina. Os bandidos aceitam o trato e providenciam um telefonema de Irina no qual ela menciona que um policial teria encomendado a venda dos objetos para a casa de penhores. Isso corrobora de uma vez por todas a armação que fizeram para cima de Ledo Amarilla, com o intuito dele levar a culpa pela morte de Caspere. Frank consegue combinar com Irina um encontro cara a cara, mas ao chegar lá encontra a mulher morta com a garganta cortada. Os gangsters mexicanos aparecem das sombras, e enquanto "Cisco Kid" limpa a lâmina de sua faca o outro negocia os termos do acordo. O trato ainda está de pé, mas Irina foi morta por ter aberto o bico sobre sua negociação com a polícia. 

E então, vamos para a sequência climática da noite. 

Ani se prepara para seguir para a festa em Guerneville. Ela consegue acesso ao lugar graças a sua irmã Athena que tem alguns contatos no submundo da prostituição de luxo. Ani faz um treinamento básico com sua faca, que serve para nos lembrar que ela é expert em manejar lâminas com precisão mortal, uma perícia que ainda não havíamos visto em ação. Athena recomenda que a irmã vista um vestido adequado e pareça uma moça que custe US$ 2.000. Um ônibus vai vir buscá-la num lugar marcado e levará ela e as outras meninas para a casa.

Como não poderia deixar de ser, Blake age como o agenciador da coisa toda. Ani não pode levar nada para dentro da casa, portanto nada de celular, bolsa e muito menos faca ou arma. Uma vez lá dentro ela estará por conta própria, e nas palavras de Athena, "é fazer sexo ou correr". Ao menos ela está com um transmissor entregue por Woodruff. Nós acompanhamos a viagem do "Whore on Wheels" pelas estradas da Califórnia sentido norte, rumo a mansão em Guerneville. Atrás dele, Paul e Ray seguem mantendo uma distância confortável.


Ao descer do ônibus, Ani se vê perfilada lado a lado com um bando de garotas do Leste Europeu. Cada uma recebe uma dose de spray contendo heroína pura (algo chamado "Molly"), "para ficar no clima". A coisa fica cada vez mais feia quando ela entra na casa e se depara com um bando de velhos sinistros babando em cima das meninas. Ani começa a sentir os efeitos da droga, mas consegue transitar pelos aposentos da festa, evitando os olhares do Prefeito Chessani, Osip e da cúpula da Polícia de Vinci que obviamente estão na festa. 

Se uma bacia de viagra não fosse indicativo suficiente do que está para acontecer, Ani tem a chance de presenciar em primeira mão o desenrolar da festinha particular. Uma orgia digna de pesadelo, que não fica devendo nada a festa de "De Olhos bem Fechados". Ani consegue evitar ser puxada pelos velhos ricaços lambões, mas finalmente acaba atraíndo a atenção de um deles que a chama para um dos aposentos reservados. Ela consegue se livrar dele e corre para o banheiro onde vomita. Lá, por sorte dá de cara com Vera, a moça desaparecida desde o primeiro episódio que ela prometeu encontrar. Assim como Ani, Vera não consegue pensar direito, a dose de heroína a deixa confusa e dócil.

Do lado de fora da casa, Ray e Paul se livram de alguns capangas que fazem a segurança da mansão. Eles conseguem espiar por uma janela e vêem Osip e McCandless (o dono da Catalyst) tratando de negócios e guardando alguns documentos numa gaveta antes de descer para participar da festa. Assim que eles vão embora, Paul arromba a porta e rouba os papéis com assinaturas comprometedoras. Que papéis são esses, ainda vamos descobrir, mas parecem ser provas contundentes das maracutaias do grupo inteiro. Ponto para os heróis!   

Ani tenta carregar Vera para fora, mas no caminho se depara com o ricaço que cansado de esperar por ela foi a sua procura. Com a visão borrada pelas drogas, cercada por corpos estranhos transando por todos os lados, Ani reage como pode. Ela havia surrupiado uma faca na mesa de jantar e usa a lâmina para abrir caminho. O ricaço cheio de tesão é o primeiro a beijar a lona e quando um russo grandalhão a agarra, Ani finalmente mostra sua habilidade com facas ferindo o sujeito mortalmente. O sujeito sangra e vai perdendo as forças. As duas conseguem escapar se deparando com Paul na porta dos fundos.  

O grupo foge em disparada, perseguido por capangas russos armados. As luzes da casa se acendem. Alerta Geral! Ferrou! O jeito é correr como se não houvesse amanhã, puxando Vera à reboque. Ainda bem que Velcoro está esperando com o carro do lado de fora e os resgata antes que os russos possam abrir fogo.


No carro, Paul dá uma folheada nos documentos e sugere que colocar as mãos naquilo valeu a pena. Enquanto isso Ani tenta organizar seus pensamentos, "Acho que eu matei alguém", ela diz enquanto o carro acelera noite adentro.

Faltam dois episódios para o fim da temporada. Ao menos veremos o que Vera sabe e o que dizem esses documentos roubados, tudo indica que o próximo episódio será muito importante.

 PISTAS, INDÍCIOS E SUSPEITAS NO EPISÓDIO:

1 - VIAGEM INFERNAL

Durante a sua jornada através da orgia, Ani parece ter alguns flashbacks na qual ela vê a si mesma como uma menininha, provavelmente na comunidade do pai anos atrás. Em todas as cenas, ela é perseguida por um hippie barbado e sinistro que finalmente consegue levá-la para uma van. 

Com isso, fica bem óbvio de onde vem o trauma e terror que Ani sente diante de qualquer intimidade. O cara é bizarro, com um sorriso malvado e (na boa!) uma tremenda aparência de lobisomem. Me lembrou até o Bob de Twin Peaks, a entidade responsável pela morte de Laura Palmer naquela série.
Quem era esse sujeito? Que fim ele levou? Será que Ani tinha recordação dele ou apenas as visões e a droga ajudaram a desenterrar essa memória traumática? Seja como for, são perguntas interessantes a serem respondidas pelo pai dela que ao que tudo indica tem culpa no cartório.

2 - DIAMANTES AZUIS

Paul segue o rastro dos tais diamantes azuis que foram roubados da casa de Ben Caspere.

Ele descobre que os tais diamantes azuis foram roubados de uma joalheria de Los Angeles por volta de 1992, na época dos distúrbios de Rodney King que deixaram a cidade à beira da Guerra Civil. Parece que o roubo foi organizado pela Polícia de Vinci, aqueles caras corruptos até a raiz do cabelo. Agora, como os diamantes terminaram com Caspere não se sabe.

3 - AS CRIANÇAS

Enquanto Paul entrevista o policial aposentado que investigou o roubo dos diamantes azuis, este conta que duas crianças ficaram trancadas em um armário durante o assalto. Os pais dessas crianças, um menino e uma menina, foram mortos na frente deles, mas posteriormente teriam sido adotados.

Vamos fazer as contas, se as crianças tinham 3 e 5 anos na época do assalto, elas teriam agora 26 e 28 anos respectivamente. Será que as duas crianças são os filhos do Prefeito Austin Chessani? Pensando a respeito, parece uma possibilidade que o Prefeito as tenha adotado. Mas sabe lá como isso se encaixa na estória... agora, a série não ia perder vários minutos falando das duas crianças se isso não tiver alguma explicação posterior. 

4 - RALADOR

Quem mais está ansioso para ver Velcoro cumprindo a sua promessa de passar o estuprador de sua esposa em um ralador?

5 - O QUE HOUVE COM O DR. PITLOV

Por falar em ralador, no episódio passado Velcoro dá uma bela surra no Dr. Pitlov, o psicanalista bizarro que me lembra o falecido Ken humano. O infeliz apanha até a cara cheia de plástica desmoronar e ele cuspir dentes. Velcoro consegue algumas informações com ele, mas em momento algum ele disse que iria liberá-lo depois...

E de fato, o que aconteceu com o Dr. Pitlov? Velcoro matou ele? Se sim, o que ele fez com o cadáver?

6 - STAN, SEMPRE STAN

E não esquecemos do "Misterioso Sr. Stan". Por que um capanga zé-mané como Stan teria sido apagado? O que ele viu? O que ele sabia? O que poderia decretar a sua morte no episódio 3?

7 - OCULTO OU NÃO?

O que nos leva  auma questão central na trama: existe afinal de contas algum indício sobrenatural nessa temporada?

Temos alguns indícios bizarros que apontam para um ingrediente de ocultismo: as máscaras de animal (inclusive a máscara do corvo do assassino), o sexo meio ritualístico na mansão, o assassinato esquisito de Ben Caspere (claramente ritualístico), o Instituto do pai de Ani, aquela cadeira onde uma mulher foi torturada, o envolvimento da Santa Muerte e aquela conversa entre Osip e McCandless de que negócios na Lua Cheia eram mais adequados (que diabo foi aquilo?).

Mesmo que não haja nada de ocultismo nessa estória, muita coisa ainda aponta nessa direção. E embora eu tenha ficado decepcionado em não ter visto uma menção a Bohemian Grove, ainda não perdi as esperanças. O que a tal Vera sabe? O que ela viu? No que ela tomou parte?

domingo, 26 de julho de 2015

A Esfera que caiu do Espaço - Objeto desconhecido poderia conter material biológico


Extraído da Revista Galileu escrito por André Jorge de Oliveira

A ideia de uma civilização extraterrestre avançada enviar ao nosso planeta uma cápsula contendo material biológico parece pura ficção científica, certo? Pois saiba que o cenário é levado a sério por pesquisadores das universidades de Birmingham e de Sheffield, na Inglaterra, depois de uma descoberta recente e completamente extraordinária.

Ao enviar balões a uma altitude de 27 quilômetros para coletar partículas na estratosfera, o grupo de astrobiólogos acabou capturando uma minúscula esfera metálica. Para a surpresa de todos, o interior estava repleto de um líquido biológico viscoso, que possivelmente continha material genético e jorrava para fora através de um orifício. Ao que tudo indica, nunca algo parecido foi encontrado na Terra.

Os cientistas têm certeza de que a estrutura veio do espaço pois provocou um impacto considerável ao se chocar com o balão, algo que não teria ocorrido se não fosse a alta velocidade de reentrada atmosférica.

É uma bola de diâmetro comparável ao de um cabelo humano, que tem vida filamentosa na parte externa e um material biológico espesso escorrendo de seu centro”, resumiu o líder do estudo Milton Wainwright, do Centro de Astrobiologia da Universidade de Birmingham, ao jornal britânico Express.

A equipe ficou ainda mais perplexa quando análises de raios X revelaram a composição da esfera: titânio, com traços de vanádio. Diversas hipóteses foram levantadas a respeito da origem do estranho objeto, sendo que a mais provável para os pesquisadores sugere que ele tenha chegado até a Terra por meio de um cometa. O que já é uma enorme descoberta.

Outras possibilidades, no entanto, vão mais além. “Uma teoria é de que a esfera tenha sido enviada por alguma civilização desconhecida para continuar semeando o planeta com vida”, especula Wainwright. "E esta vida, inclusive, poderia representar graves riscos à espécie humana, como a propagação de doenças mortais".


A ideia de que a vida na Terra tenha surgido a partir de cometas ou de outras formas semelhantes é chamada de panspermia, e apesar de ainda encontrar resistência no meio científico, foi amplamente defendida por cientistas como Francis Crick, um dos descobridores da estrutura do DNA, e também pelo astrônomo Carl Sagan.

Pesquisas recentes apontam cada vez mais para a existência de um intercâmbio de matéria entre a atmosfera terrestre e o cosmos, e também para o fato de que material genético e também certos tipos de organismos, como bactérias e vírus, são capazes de sobreviver às adversidades do espaço.

UPDATE: Gostaríamos de acrescentar a esta história algumas considerações que são de suma importância mas que ficaram de fora do texto que você acaba de ler. Um bom ponto de partida seria a frase tornada popular pelo astrônomo Carl Sagan: "Alegações extraordinárias requerem evidências extraordinárias".

Apesar de a hipótese da panspermia dirigida ser plausível e apoiada por pesquisadores de peso, ela certamente é uma alegação extraordinária, que exige, portanto, evidências que sejam da mesma natureza. E o artigo assinado por Wainwright e seus colegas vem acompanhado de algumas controvérsias e inconsistências que não podem, de forma alguma, ser desconsideradas. Vamos, então, a uma análise mais cética da descoberta.

A primeira e maior das controvérsias é o periódico no qual foi publicada. O "Journal of Cosmology" é conhecido pelo caráter duvidoso dos estudos veiculados. Pouco se sabe sobre seu processo de revisão por pares, fundamental para a manutenção do rigor científico, e as pesquisas sobre astrobiologia que publica normalmente são enviesadas para corroborar a tese da panspermia.

Há dois anos, Wainwright co-assinou um artigo no veículo onde alegava ter coletado bactérias alienígenas na estratosfera terrestre, descoberta que não chegou a ser comprovada por falta de provas concretas. O pesquisador indiano Chandra Wickramasinghe, também da Universidade de Buckingham e um dos autores da pesquisa sobre a esfera de titânio, é editor do Jounal of Cosmology - ele tenta há décadas comprovar que a Terra é bombardeada por microorganismos vindos, sobretudo, de cometas.


O próprio Wainwright destacou ao Daily Mail a natureza improvável da hipótese: "A menos que possamos descobrir detalhes sobre a civilização que supostamente enviou a esfera, esta provavelmente é uma teoria que não se pode provar", disse. O estudo também é pouco científico ao afirmar que a esfera só pode ter vindo do espaço sem antes ter conduzido experimentos para chegar a esta conclusão.

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Para aqueles que conhecem a obra de Lovecraft, é impossível dissociar essa notícia de um de seus contos mais emblemáticos. Aquele que segundo muitos críticos é um dos mais importantes da carreira do autor por misturar de forma magistral horror e ficção.

A Cor que Caiu do Céu (The Colour out of Space) foi escrita por H.P. Lovecraft em março de 1927. 

Na estória, um narrador não identificado revela a verdade por tráz de um lugar assombrado chamado de "Blasted Heath" localizado no interior da Nova Inglaterra, mais especificamente nos arredores da cidade de Arkham, Massachusetts.

A narrativa conta que há muitos anos um meteorito caiu em uma fazenda, provocando grande alvoroço no meio científico. A rocha que se precipitou das profundezas do espaço carrega em seu interior uma forma de vida alienígena que escapa e acaba se entranhando no solo. Gradualmente ela começa a atuar diretamente sobre o ecossistema. Num primeiro momento, as mudanças que ela opera parecem benignas e a vegetação cresce de maneira acelerada com uma aparência frondosa, mas logo fica claro que a natureza foi afetada de uma forma temerária. Os animais se comportam de forma arredia, os frutos produzidos possuem um gosto intragável e mesmo as plantas parecem se comportar de uma maneira incomum (movendo-se mesmo na ausência de vento - essa é uma ideia que sempre pareceu incrivelmente perturbadora na minha opinião). Logo os animais começam a enlouquecer, filhotes nascem com deformidades grotescas e o horror se torna paupável.


Os habitantes do local percebem que há algo bastante errado. Uma doença insidiosa consome as forças dos moradores da fazenda onde o meteorito caiu e a medida que a criatura drena a vida de tudo e de todos na região, as vítimas não tem força sequer para tentar escapar desse lugar amaldiçoado. No fim, o narrador revela que a coisa alienígena consegue abandonar nosso planeta após se alimentar o suficiente para passar por uma mutação e nessa nova forma, parte rumo ao espaço deixando um rastro de morte e destruição.

Não é possível afirmar se Lovecraft concordava ou não a teoria da Panspermia, mas sem dúvida ele deveria estar ciente de sua existência, uma vez que esta estava muito em voga em meados do século XIX e ainda era largamente discutida no início do século XX. Sabemos que Lovecraft era um ávido leitor de revistas científicas e que sonhava em seguir carreira como astrônomo. Portanto, é razoável supor que ele tenha tido contato com o trabalho de cientistas como Herman Von Halmholtz e Svante Arrhenius proponentes da Panspermia. Segundo a teoria desses conceituados pesquisadores, a vida poderia ser dispersa pelo cosmos por intermédio de microorganismos viajando pelo espaço em uma espécie de animação suspensa no interior de corpos celestes errantes. Ao entrar em contato com um planeta com condições propícias, esses microorganismos despertariam e conseguiriam se adaptar a ecossistemas diferentes, desenvolvendo-se e atuando de forma transformadora. Possivelmente até originando vida em planetas até então estéreis. 

Transferência de matéria não viva de origem interplanetária é um fenômeno comprovado por cientistas que já determinaram que fragmentos provenientes de Marte chegaram a Terra na forma de meteoritos. Em 2012, o matemático Edward Belbruno e a astrônoma Amava Moro-Martín propuseram uma teoria de que a transferência de rochas entre planetas jovens poderia gerar uma espécie de intercâmbio de formas de vida. Mesmo o conceituado físico Stephen Hawkin declarou em um simpósito em 2009 acreditar que a vida poderia ser transferida de um planeta para outro, não importando o fator distância, por intermédio de meteoros e cometas. 

Mas resta a dúvida do que seriam essas formas de vida extraterrestres.
 

Em sua tentativa de criar uma forma de vida verdadeiramente alienígena, diferente de tudo que poderia existir na Terra, Lovecraft concebeu que o passageiro do meteorito que atingiu o interior de Arkham seria... uma cor. Não um ser capaz de ser compreendido como orgânico, sólido ou até mesmo material, mas uma forma de vida inteiramente estranha que desafia todos os conceitos existentes. Para nossa percepção ela seria apenas uma cor flutuante, diferente de tudo existente na Terra. 

Para criar essa entidade enigmática, Lovecraft buscou inspiração em fontes da ficção e não-ficção.

Em uma correspondência para um colega, ele afirmou categoricamente endossar a teoria de que formas de vida alienígenas, se um dia encontradas por humanos deveriam ser absolutamente estranhas e incrivelmente diversas dos conceitos e padrões conhecidos. Essa estranheza, segundo Lovecraft (de fato, em concordância com muitos cientistas e teóricos da hipótese de vida alienígena) constitui um dos maiores questionamentos de como nós, como raça, conseguiremos interagir com outras formas de vida absolutamente distintas. Como poderemos (se é que conseguiremos) compreender formas de vida que fogem ao espectro que nos habituamos a chamar de normais. Esse sem dúvida, será um dos desafios fundamentais de nossa relação com aqueles que podem ser nossos vizinhos cósmicos.

domingo, 19 de julho de 2015

O Ídolo de Shigir - A Ancestral estátua de 10 mil anos de idade


Muito se fala a respeito de arte e do que cada obra representa. o que o artista quis dizer com a sua obra, o que ele desejava representar, que reações ou emoções ele pretendia produzir. 

Mas qual seria o significado oculto por trás de uma estátua com mais de 10 mil anos de idade?

O Idolo de Shigir é considerada uma das peças mais importantes e misteriosas de arte pré-histórica encontrada na Europa. A ancestral estátua de madeira, que atualmente se encontra no acervo de um museu na Rússia, foi datada por testes de rádio carbono como tendo 10.000 anos de idade, fazendo dela pelo menos 5.000 anos anterior ao Monumento de Stonehenge e duas vezes mais antiga do que as Pirâmides do Egito. O Idolo não é apenas a mais antiga estátua de madeira do mundo, mas é também a mais alta obra primitiva de que se tem notícia, atingindo, quando completa, quase dois andares de altura. 

Coberta com estranhas marcas e com símbolos geométricos em toda sua superfície, alguns pesquisadores supõem que ela contém informações codificadas sobre a criação do mundo, deixadas por homens do período mesolítico.

A estátua foi descoberta em janeiro de 1890 na região de Sverdlovsk, nos limites ocidentais da Sibéria, na Rússia. Ela foi preservada, graças a uma espécie de cápsula formada naturalmente a aproximadamente quatro metros de profundidade no solo rochoso. Protegida por camadas de lama com ínfima concentração de bactérias, ela ficou preservada no interior de uma mina de ouro. O idolo sobreviveu à deterioração graças ao efeito da lama e da temperatura constante; fria e seca no interior de seu invólucro.     

Quando ela foi encontrada por mineradores, o ídolo estava separado em várias partes. Seus descobridores não sabiam exatamente o que haviam descoberto e supunham que se tratava de um fardo com pedaços de esquis ou de um trenó primitivo. O material estava guardado dentro de uma espécie de saco rústico de couro coberto de lama. Por pouco, os mineradores não destruíram as peças e usaram seus pedaços como lenha. O que os conteve foi a descoberta da "cabeça" que fez com que os homens se perguntassem o que realmente seria aquela coisa misteriosa enterrada nas profundezas da mina com enorme cuidado e devoção.


Um professor chamado Dmitry Lobanov foi chamado para avaliar a descoberta que ficou em um canto, guardada num galpão, por cerca de meio ano. Os homens não gostavam daquela coisa e só o seu temor primitivo evitou que a estátua fosse destruída. O professor tirou algumas fotos mas não dedicou muita atenção à estátua, considerando que ela apenas um exemplo da arte de povos nômades. A peça foi embalada e levada para a cidade de Ecaterimburgo onde permaneceu aguardando por alguém que lhe desse a devida importância.

Na virada do século XIX várias peças curiosas começaram a ser encontradas na mesma mina e estas atraíram a atenção de arqueólogos. A estátua foi então estudada com mais cuidado e Lobanov encaixou as peças fazendo com que a estátua chegasse a altura de 2,80 metros. Ela foi finalmente apresentada como uma obra de arte importante, muito embora ninguém soubesse sua verdadeira idade. Em 1914, o arqueólogo siberiano Vladmir Tolmachek realizou um novo estudo nas peças e descobriu outras partes que não haviam sido usadas no modelo de Lobanov; uma vez incorporadas ao conjunto, a estátua passou a medir impressionantes 5,30 metros de altura.

Durante os anos de caos e agitação política com a Revolução Bolchevique, o Museu de Ecaterimburgo foi saqueado e a estátua danificada. A porção montada por Tolmachek foi removida. Supostamente Tomachek não era bem quisto pelos revolucionários que desqualificaram suas credenciais e seu trabalho. As peças posteriormente acabaram destruídas, mas ao menos, os desenhos e fotografias que o estudioso havia feito, sobreviveram.   

A estátua permaneceu no Museu de Ecaterimburgo, ou Sverdlovsk como a cidade passoua  se chamar em homenagem a um dos heróis revolucionários. Em 1948, Tolmachek que morreu em um gulag siberiano foi reabilitado e seu trabalho reconhecido.

Hoje, o ídolo de Shigir está em exposição em uma ala especial dedicada apenas a ela.

A estátua foi entalhada em madeira de lariço e para moldá-la o artista utilizou uma colher e talhadeiras de pedra. Seu corpo é achatado e retangular com uma série de lihas horizontais no nível do tórax, que parecem represnetar as costelas. De acordo com pesquisadores, existem sete faces representadas na estátua. Em ambos os lados, na frente e no verso, existem faces dispostas ao longo da obra, com uma sétima face conectando os dois lados, completanto sua composição. Acredita-se que a estátua represente a imagem de seu criador, com um nariz afinalado e uma estrutura óssea bem particular na face. A impressão vista do alto é de uma face tridimensional, com uma boca levemente aberta, lembrando objetos de arte tipicamente astecas. Parte da face foi quebrada e se perdeu.

A superfície de madeira do Idolo de Shigir é decorada com símbolos Mesolíticos e adornada com temas geométricos como divisas, intercessões, linhas paralelas, espirais e outros símbolos abstratos, nenhum dos quais passível de uma identificação até o momento. De acordo com os pesquisadores esses símbolos não seriam meramente decorativos, mas teriam um significadopara seu(s) criador(es). Alguns acreditamq ue os símbolos gravados no peito da estátua carregam uma espécie de código gravado que poderia represnetar uma das primeiras tentativas de comunicar conhecimento através de um objeto. Se essa presençãoé verdadeira, seria este, possivelmente, o primeiro código escrito no planeta, com mais de 9.500 anos de idade.


Teóricos e estudiosos há anos se dedicam a tentar compreender os padrões e linhas talhadas na madeira de uma forma meticulosa. Um trabalho dessa natureza sem dúvida demoraria meses e mesmo um artesão com ferramentas de qualidade (o que não era o caso) teria de demonstrar enorme habiliadde para talhar alguns dos símbolos mais discretos. O que realmente chama a atenção na obra é o caráter minucioso das insígnias, como se cada uma tivesse uma razão, um objetivo, uma regra. Pesquisadores supõem que a obra teha demorado anos para ser concluída, o que é notável, visto que os homens primitivos não costumavam fixar residência devotando-se a uma vida nômade. Em virtude do tamanho do ídolo dificilmente ele poderia ser carregado d eum lugar para o outro.

Uma das possibiliaddes é que o Ídolo fosse a representação de um Deus, de um Herói ou de um indivíduo ilustre cuja memória se desejava preservar. Em se tratando de uma entidade, a figura poderia ser portanto um dos primeiros deuses, venerado em uma época da qual o misticismo nos é inteiramente desconhecido. O mais curioso é se tratar de uma represnetação de conceito humano. Há conjecturas de que a figura poderia ser usada como uma espécie de totem religioso, mas não há como ter ceretza de tal suspeita.
 
O maior mistério do Ídolo, entretanto, reside no mistério das informações que alguns sugerem ele carrega. Os trechos de símbolos dispostos em padrões verticais parecem ter sido entalhados por diferentes indivíduos ao longo de um certo tempo. Alguns acreditam que o ídolo tenha passado pelas mãos de diferentes artistas e que cada qual deixou sua marca nele. Os pesquisadores mais ousados sugerem inclusive a existência de uma escrita primitiva, o que a tornaria a mais antiga da história humana. Um dos pesquisadores da Academia Russa de Ciências e do Instituto de Arqueologia, Professor Mikhail Zhilin, responsável pela estátua a considera uma obra única que encerra dentro de si um segredo ancestral:

 "Estamos diante de uma obra de arte inigualável. Ela carrega uma carga emocional gigantesca. Em termos de arte pré-histórica não existe nada tão elegante e trabalhado no mundo. Os ornamentos que recobrem a superfície são únicos. Aqueles homens pré-históricos estavam passando adiante o seu conhecimento".

Outros postulam que o Ídolo de Shigir poderia ser uma espécie de mapa primordial, que as linhas retas, paralelas e setas indicam uma lugar ou um destino final para algum tipo de jornada empreendida na aurora dos tempos. De acordo com essa teoria polêmica, certos símbolos poderiam representar montanhas, lagos, o curso de rios, ravinas e outros pontos importantes. Mas se esse é o caso, o que haveria no final desse mapa? O que esses homens desejavam identificar com tamanho cuidado?

Outra teoria é que os símbolos serviriam como uma espécie de mapa celestial, com os símbolos retratando o posicionamento de estrelas e de astros visíveis no firmamento pré-histórico. Nesse contexto, seria ainda necessário traçar os símbolos afim de compreender o que se desejava demarcar - uma conjunção? Um alinhamento?  

O ídolo passou por testes de radio-carbono na década de 1950 e sua idade foi determinada em aproximadamente 10.000 anos por técnicos da Academia de Ciências da (então) União Soviética em Moscou. Até então, acreditava-se que a estátua tinha no máximo 2.000 anos. A notável descoberta tornou o ídolo a peça mais valiosa do museu da noite para o dia.

Em 2014 o governo russo permitiu pela primeira vez na história, que pesquisadores estrangeiros, no caso alemães, tivessem acesso ao ídolo. Até então a obra jamais havia sido estudada por outros especialistas além de russos. Essa curiosidade alimentou teorias conspiratórias de que os russos desejavam guardar para si qualquer descoberta contida na estátua que pudesse representar um segredo ancestral.

Não resta dúvidas de que a estátua antropológica de Shigir é uma das obras mais notáveis, um testamento a criatividade e genialidade do homem antigo.

Atualmente, o magnífico ídolo está guardado em um sarcófago de vidro temperado preenchido com gás inerte no Museu de História de Ecaterimburgo.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

True Detective Recap episódio 4: "Down will Come"


Balas voando para todo lado, rajadas de metralhadora, explosões, mortes...

O quarto episódio de True Detective "Down will Come" (A Queda Virá) foi até o momento o mais movimentado, com uma longa sequência de ação. Ao fim do tiroteio dava até para sentir o cheiro de pólvora no ar. Cadáveres estavam espalhados pelas ruas de Vinci, um andar inteiro de um prédio explodiu e ainda ardia em chamas, feridos agonizavam tentando se proteger, havia sangue para todo lado. Os três detetives tentavam entender o que havia acontecido, incrédulos olhavam uns para os outros imaginando a sorte que haviam tido, sobrevivendo ao massacre.

Mãos trêmulas, olhos arregalados, terror estampado na face. Em True Detective uma troca de tiros mesmo que envolva os protagonistas não é a mesma coisa do que um tiroteio num filme de ação qualquer. Aqui as balas não param, os feridos sangram, cospem e praguejam e os envolvidos querem apenas sobreviver. Não há brigas coreografadas, não há heróis trocando sopapos ou empregando artes marciais. Só a realidade de tiros e as consequências após tirar uma ou várias vidas.

No final desse episódio vemos a imagem congelar e ao longe o som das viaturas se aproximando. Qual será a repercussão desse massacre? O que acontecerá com os detetives depois de se envolverem em uma matança desse tamanho? Que rumo irá tomar a investigação da morte de Ben Caspere?

Mas antes de mergulhar nessas questões, que tal examinar os acontecimentos que nos levaram a esse final dramático?

O episódio pode ser dividido em antes e depois do tiroteio. Os primeiros 45 minutos foram repletos de diálogos pesados e de uma investigação que parece se tornar cada vez mais complicada. Os detetives enfim Estão fazendo as perguntas para as pessoas certas e ficou óbvio que a investigação está incomodando indivíduos poderosos que podem muito bem estar por trás da morte de Caspere.


Ani é a primeira a enfrentar as dificuldades impostas pela investigação que começa a transbordar afetando a sua vida pessoal. A visita a casa do Prefeito Chessani não ficaria impune. Não se mexe com uma família que está no poder há mais de 100 anos impunemente. No primeiro episódio Ani fez graça com a Família número um de Vinci, dizendo que o prefeito governa 90 pessoas. Bem, ela vai ter tempo para se arrepender de sua brincadeira. Logo ficou claro que o Prefeito não vai deixar barato essa "invasão de privacidade". Sua esposa, seus filhos e ele mesmo podem ou não estar envolvidos na morte de Caspere, mas de uma forma ou de outra ele não vai tolerar que um detetive entre na sua casa e comece a fazer perguntas.

A maneira como ele decide atacar Ani chega a ser nojenta. Ele vai direto na jugular! 

A detetive é acusada de "conduta imprópria" uma vez que se envolveu sexualmente com um policial subalterno. Trata-se do mesmo sujeitinho que vimos no primeiro episódio ganhando um bilhete azul da detetive depois de se recusar a fazer alguma coisa entre quatro paredes. É claro, vimos o sujeito no episódio três tentando reparar os danos e levando outro chega prá lá. Parecia óbvio que aquilo ia acabar virando um problema mais cedo ou mais tarde. Infelizmente para Ani, parece que foi mais cedo.

Mas não é só isso: seu comandante, o encarregado de lhe dar as más notícias explica que pesa ainda sobre ela mais algumas acusações, entre as quais um envolvimento recente com seu parceiro. Outra transgressão complicada no entender do Departamento de Polícia. O mais engraçado, é relacionar esse acontecimento com o conselho de uma das chefes do departamento para que ela tentasse o mesmo com Velcoro para obter informações que pudessem ser usadas mais tarde. Na ocasião, Ani se negou, agora ela é acusada de má conduta, sendo que tudo ocorreu fora do ambiente de trabalho.

A devassa de Chessani foi ainda mais fundo... um verdadeiro exame de cavidades que não deixa nada intocado. O pessoal da corregedoria consegue levantar inclusive que Ani acumula dívidas de jogo e que anda abusando da bebida. O que mais falta para cavar um buraco fundo o bastante do qual ela não vai conseguir sair?

Ani acaba sendo afastada temporariamente e não pode sequer entrar na delegacia até a investigação ser concluída pelo Assuntos Internos. Vingança à jato.

Enquanto isso, as coisas não estão bem para o patrulheiro Paul Woodrugh.


No capítulo anterior tivemos um vislumbre de alguns segredos que o sujeito tenta desesperadamente varrer para de baixo do tapete: seus problemas com a mãe, uma ação questionável no Iraque e um provável envolvimento homesexual com um companheiro de armas. Paul parecia à ponto de explodir quando empurrou o colega e saiu meio que sem rumo. Mas surpresa! No episódio Paul acorda em um lugar estranho e descobre que não dormiu sozinho. O que, para um sujeito que está tentando negar sua sexualidade, deve ser desesperador. 

Mas o pior dia da vida de Paul está apenas começando.

Ele sai aos trancos e barrancos pela rua, incapaz de lembrar o que aconteceu e como diabos foi parar naquela casa. Furioso ele se abaixa e grita consigo mesmo ao perceber que sua moto foi roubada. O sujeito parece realmente se odiar naquele momento, sua face transfigurada pela confusão de sentimentos e emoções conflituosas. Sem muitas perspectivas ele apanha um taxi e volta para o hotel, apenas para dar de cara com um bando de repórteres esperando por ele como se fossem urubus. Os jornalistas o seguem fazendo perguntas sobre um suposto massacre no Iraque (Falujah? Tikrit?) e a respeito de seu envolvimento com a atriz que o acusou de má conduta. De onde saíram esses jornalistas? Como encontraram o local onde ele estava ficando? Não me parece coincidência, ainda mais se considerarmos que Paul acompanhou Ani na visita a casa de Chessani. O sujeito sai correndo e não responde as perguntas.

Para quem acha que a via crucis terminou, pense de novo: lá pela metade final do episódio Paul decide se encontrar com a ex-namorada, a mesma com quem ele havia terminado em meio a uma discussão. Ela marca um encontro num café e revela que está grávida e que quer ter a criança! Uau! Será que dá para piorar? Infelizmente sim! O patrulheiro fica tão alarmado que antes de poder pensar em qualquer outra coisa acaba propondo se casar e assumir a criança. Sem dúvida, na mente tumultuada do detetive, a saída honrada para manter as aparências e conter seu desejo de sair do armário é arranjar uma esposa e constituir família. É claro, esse plano tem tudo para dar errado, mas Woodrugh não parece estar pensando direito.

Enquanto isso, Velcoro experimenta o que relativamente é seu episódio mais tranquilo.


Depois de ter abusado de sua cota de deslizes e de ter sido pdado como morto no final do segundo episódio, Velcoro parece interessado realmente em reparar sua vida. De fato, a busca pela redenção vai passar pela resolução do Caso Caspere num legítimo doa a quem doer. O detetive parece estar tentando reconstruir sua vida, catando os pedaços ainda fumegantes de seu casamento despedaçado e de sua complicada relação com o filho. Nesse sentido, Velcoro faz uma visita ao garoto e oferece a ele o distintivo que pertenceu ao seu pai. "Um presente que um dia" quando o menino for mais velho "ele vai saber apreciar".

Velcoro parece estar em busca da redenção não apenas de seus pecados, mas dos pecados de sua família. Entregar o distintivo para o garoto é meio que dizer, se eu falhar, cabe a você, meu filho consertar as minhas besteiras. Ele não deixa claro, mas trabalho policial parece estar nas veias dos Velcoro. Isso e fazer bobagens! Quem sabe o garoto, se for realmente filho do detetive possa se tornar um detetive e compensar duas gerações de corrupção. Difícil, já que nem sabemos se o garoto é realmente filho de Velcoro.

De qualquer maneira Ray segue tentando. Nesse episódio vemos ele oferecendo consolo para Ani depois dela sofrer seu afastamento e a Woodrugh depois deste ser perseguido pelos jornalistas. Ainda que o consolo no caso de Woodrugh seja ofertar os "remédios" guardados no porta luvas de seu carro: Drogas e bebida para amortecer as lembranças e tornar mais fácil se olhar no espelho. Paul escolhe a bebida.

Velcoro também tem um de seus habituais encontros com seu verdadeiro parceiro, Frank Semyon. É curioso que a cada encontro um tem menos a dizer para o outro. No início a relação dos dois parecia ser de companheirismo, ainda que estivessem de lados opostos da lei, ficava claro que os dois dividiam uma parceria. Frank pagava Velcoro e o tira corrupto aceitava sem pestanejar, isso permitia aos dois conversar quase como amigos. A medida que Velcoro segue pensando em sua redenção (após o sonho/dejavu/alucinação), eles já não tem muito sobre o que falar. Frank até oferece um trabalho na organização, mas Velcoro recusa.


Reparem que Frank chega a tocar no assunto de seu capanga morto no episódio anterior, o misterioso Sr. Stan. Mas quando Velcoro pergunta o que diabos aconteceu com Stan, Frank não parece confiar o bastante nele para dizer o que aconteceu. O elo entre os dois parece estar se esfacelando e na atual conjuntura Frank não tem mais forças para firmá-lo do que Velcoro tem para negá-lo. Incapazes de uma conversa só resta a eles ouvir a mais triste das cantoras de bar lamentar mais um pouco.

E por falar em Frank Symeon ele continua seguindo o rastro de sua fortuna roubada, muito embora nesse episódio o "homem de negócios" continua cedendo espaço ao "gangster". É irônico que ele esteja fazendo o caminho inverso de Velcoro. Enquanto o tira está tentando se livrar da corrupção que suja a sua carreira como uma mancha de café, Frank está cada dia mais próximo do "velho Frank" (o velho Frank Selvagem, como disse o gangser russo Osip Agronov, que o conheceu naqueles tempos).

Acompanhamos Frank coletando dinheiro aqui e ali, raspando o fundo do poço para equilibrar as suas contas, coagindo donos de bar e proprietários de apartamentos. No último episódio ele havia conseguido seu bar de volta, arrancando o boteco junto com os dentes de ouro de seu desafeto Danny Santos, nesse ele afunda ainda mais na lama ao oferecer a dois traficantes o lugar como ponto de venda de drogas por uma porcentagem.

"Parabéns, somos de novo donos de nighclub" ele comenta amargamente com a mulher. É como dizer "estamos de volta à estaca zero" ou "tentei sair dessa, mas não consegui e aqui estamos de novo!". Para piorar ainda mais o seu humor, Frank e sua esposa, Jordan ainda estão em busca do seu herdeiro. Ela já pensa em adoção, mas Frank deixa claro que não vai "herdar os problemas de terceiros". Talvez ele já esteja contemplando até a possibiliadde de arquivar os planos de ter um filho, já que o único legado que ele poderá oferecer é uma carreira de criminoso.

Em uma cena curiosa, os olhos de ratos (representados pelas manchas molhadas na mesa de um bar - e antes no teto de seu quarto) voltam a encarar Frank. Ele não está consgeuindo escapar e os seus sonhos de tornar seus negócios legítimos, limpar seu nome e transmitir um legado estão cada vez mais distantes.

De volta a investigação da morte de Caspere, o caso parece ter andado, ainda que os detetives não tenham percebido. Isso me lembra o que o detetive Martin Hart (Woody Harrelson) disse na temporada anterior sobre a maldição dos detetives: "A pista decisiva está bem diante de seu nariz, mas você não consgeue perceber".


Enquanto conversa com a filha do Prefeito Chessani, Ani acaba sabendo de algumas festas e da trágica morte da mãe da menina, a primeira Senhora Chessani. Aparentemente ela morreu depois de ter sido diagnosticada pelo Dr. Pitlor. Quem lembra do psiquiatra que apareceu no segundo episódio levanta a mão! Estava na cara que esse sujeito seria citado novamente. 

Indo atrás de informações a respeito do bom doutor, Ani e Velcoro fazem uma visita ao Instituto Panticapaeum para ter uma conersa com o pai de Ani, Elliot Bezzerides aquele guru hippie que estava ausente desde o primeiro episódio. Em um momento de sinceridade, Elliott fala a respeito de sua amizade com Pitlor e (adivinha só!) com o Prefeito Chessani. Ao que tudo indica os três estão ligados de alguma maneira, chegando a ter fotos do trio em um retiro nos anos 80. Elliot cita um quarto homem, o pai de Chessani (que deve ter 90 anos! O que me lembra sempre o centenário negócio de aterro sanitário da família). 

O que isso significa? Olha, eu acho muito ruim do roteiro não aproveitar todo esse envolvimento. O grande mistério parece juntar num mesmo balaio de gato pessoas influentes da Califórnia e não seria de se estranhar se ali dentro estiverem Chessani (pai, filho e neto), Pitlov e Elliott, representantes importantes no mundo político, médico e espiritual.

Aliás, cada vez que eu penso a respeito de uma sociedade reunindo pilares da sociedade californiana, o nome Bohemian Grove parece piscar em neon. Será que True Detective vai enveredar pelo caminho de uma das mais misteriosas sociedades secretas dos Estados Unidos? Fico imaginando como será a interpretação deles para os estranhos rituais que dizem, ainda acontecem na sede campestre no norte do Estado.

Bohemian Grove em ritual em Guerneville.
Ah sim... três detalhes que apontam para o Bohemian Grove:

1) A menção da região de Guerneville duas vezes no segundo episódio. Guerneville é o distrito onde fica a mais importante sede do Bohemian Grove, onde os membros mais influentes se reúnem até hoje.

2) A menção a festas com prostitutas regadas a sexo, drogas e rituais estranhos. Por sinal, já circula o boato de que um episódio da temporada vai focar justamente numa dessas festas com orgias ritualísticas semelhantes a apresentada no filme "De Olhos bem Fechados" (Eyes Wide Shut - 1998).

3) As fotos de Chessani ao lado de George W. Bush, que segundo rumores é um membro ativo do Bohemian Grove.

Não acho que a série vai citar diretamente o Bohemian Grove, acredito que vai rolar um "nome fantasia", assim como o roteiro fala de Black Mountain ao invés da notória Black River. Talvez nema HBO queira mexer nesse vespeiro e prefira não dar nome aos bois.

Mas estou fugindo do tema... voltando ao episódio, que tal analisar como o episódio terminou em massacre?

A linha de investigação que conduziu ao tiroteio começou sem muitas pretenções. Woodrugh e o detetive Dixon descobrem uma pista: alguns objetos desaparecidos da casa de Caspere parecem ter surgido nas mãos de uma mulher que passou a muamba roubada em uma loja de penhores. Verificando com quem a mulher costuma andar, os detetives chegam ao nome de um bandido mexicano chamado Ledo Amarilla. Calma! Não precisa se desesperar, essa foi a primeira vez que o nome de Amarilla foi citado em True Detective. No banco de dados da polícia consta que Amarilla tem uma folha corrida longa de crimes sérios que inclui, mas não se limita a homicídio e tráfico de drogas. O cara parece estar ligado também ao Cartel mexicano de La Santa Muerte (ALERTA VERMELHO! - Quem lembra da estátua de Santa Muerte na casa de Caspere?)


Ledo poderia de alguma forma estar envolvido na morte de Caspere, e seguindo essa pista, os detetives (Velcoro, Ani e Woodrugh) se preparam para fazer uma visita ao bandido. Para não correr nenhum risco, Ani, que organiza a diligência, convoca um bom número de policiais, todos armados e vestindo colete à prova de balas. A ação é bem planejada e parte da delegacia de Polícia de Vinci, onde os comandantes e o próprio Prefeito Chessani desejam boa sorte ao grupo antes deste sair.

Ninguém desconfia, mas eles estão caminhando para uma emboscada.

No meio do caminho um bandido aparece em uma janela, armado com um fuzil e despeja uma rajada de balas. É só o começo do massacre. Policiais são alvejados e o grupo se protege onde pode. Tiros para todo o lado e um andar inteiro explode - seria um laboratório de crystal-meth. Mais tiros e o Detetive Teague "Dix" Dixon leva um balaço na cabeça e beija a lona. A batalha campal se torna cada vez mais sangrenta a medida que o tiroteio se espalha pelas ruas de Vinci e acaba envolvendo um bando de civis que estavam protestando na frente de uma fábrica e um ônibus.

Cada um dos detetives tem a sua oportunidade de atirar nos caras maus, os comparsas de Amarilla estão fortemente armados, com um poder de fogo muito superior aos policiais. Pior do que isso, nenhum deles está preocupado em alvejar um inocente o que faz a contagem de corpos aumentar. Pelas minhas contas tivemos o seguinte saldo do massacre: cinco policiais, quatro bandidos e doze civis alvejados/mortos. Fiasco completo!

Ledo Amarilla é o último a ser morto, depois de tomar um refém e atirar neste, gritando o nome da Santa Muerte. Os detetives se entreolham e começam a medir o tamanho da encrenca em que se meteram. Uma ação policial em plena luz do dia, planejada por eles, acabou em um massacre no qual policiais e civis foram mortos. É o tipo da coisa que afunda carreiras e destrói reputações.

A detetive Bezzerides deve ser a mais afetada, afinal foi ela quem chefiou a ação. Velcoro e Woodrugh também não devem escapar sem uma reprimenda. 

Mas o que de fato aconteceu?


Parece claro assumir que os bandidos foram avisados que a polícia estava à caminho e que Ledo Amarilla vai servir de bode expiatório para a morte de Ben Caspere. Nada como jogar a culpa nas costas de um bandido mexicano, ligado ao Cartel e que, para colocar uma cereja no bolo, foi o causador de um massacre sem precedentes. Melhor ainda se ele fizer parte da Santa Muete, um grupo de bandidos que costumam empregar métodos brutais em suas execuções (como remover olhos e arrancar genitais com tiros de escopeta).

Incriminar um bandido de quinta num crime muito mais complexo, parece o tipo da coisa que um membros influentes da sociedade faria para se ver livre dos holofotes. Dá até para sorrir ao lembrar do Prefeito Chessani desejando aos policiais "boa sorte". Além de jogar a culpa nas costas de um bandido perfeitamente descartável, o plano também coloca os Detetives em maus lençóis. Ani e Woodrugh devem comer o pão que o diabo amassou agora, e mesmo Velcoro, dificilmente vai sair dessa incólume. O próximo episódio "Other Lives" (Outras Vidas) deve se concentrar no controle de danos e na crucificaçãodos envolvidos no massacre.

Os caras malvados, os verdadeiros responsáveis pela morte de Caspere (ou ao menos quem sabe demais), acabam de fazer uma jogada de mestre.

PISTAS E INDÍCIOS DO EPISÓDIO:

1) FRANK E O ABACATEIRO

É engraçado catar metáforas escondidas nas entrelinhas de True Detective. Em uma cena logo no início do episódio, vemos Frank e Jordan conversando com um agricultor que culpa a terra de má qualidade por uma safra ruim da plantação de abacates. A cena parece não tem nenhuma serventia, mas ela é bem clara.

A árvore de abacates que deveria ser frondosa representa a carreira de Frank como dono de terras que deveriam florescer e gerar frutos. Mas seus sonhos de legitimar os negócios e de se ver livre de seu passado criminoso esbarram em um terreno cheio de impureza e corrupção, assim como a terra em que a árvore foi plantada. Frank passa o episódio inteiro negociando com traficantes e extorquindo donos de condomínios baratos em busca de dinheiro fácil. É, a coisa não está fácil pra ele.

2) BLACK MOUNTAIN E MASSACRES

Já estava claro que o patrulheiro Woodrugh participou de alguma coisa barra pesada quando estava servindo no Iraque. Nesse episódio ouvimos um repórter perguntar a respeito de um massacre em Tikrit (uma importante cidade no Iraque, vital para a produção de óleo). 

A Black Mountain é o equivalente da Black Water, uma companhia que presta segurança às firmas de extração de petróleo operando no Iraque. Esses caras são MUITO barra pesada, verdadeiros mercenários com contratos estabelecidos com as principais companhias petrolíferas do mundo. Há boatos de que a Black Water esteve envolvida com massacre de civis e a destruição de vilas que escondiam guerrilheiros rebeldes. É bem provável que True Detective esteja se aproveitando desses acontecimentos. Se isso for verdade, Paul pode estar envolvido em um desses massacres e estar sob investigação. Como o massacre no final desse episódio vai repercutir na sua carreira, veremos no proximo capítulo, mas garanto que não será nada bom para sua carreira.

3) IRVING PITLOV

A principal revelação nesse episódio foi o envovimento do Psquiatra Pitlov com a primeira esposa do Prefeito Chessani. Está claro que o esquema envolve gente poderosa, mas a confirmação de que Pitlov está de alguma forma conectado ao passado do Prefeito, ao diagnóstico de sua primeira esposa como esquizofrênica e a morte desta são detalhes suculentos de uma conspiração.


E mais que isso, a ligação do pai de Ani, o guru do Instituto Panticapaeum com os dois é mais uma sugestão de que os responsáveis pela morte de Caspere são muito influentes e poderosos, bem de acordo com o que aconteceu na primeira temporada, quando o Rei Amarelo era venerado por gente importante na Louisiana disposta a vestir máscaras de animais e estuprar crianças.

4) A AURA VERDE E NEGRA DE VELCORO

Ok, pode não ser nada, mas foi um trecho muito estranho...

Quando visitam o Instituto, o pai de Ani diz que a aura de Velcoro parece preencher a sala inteira. Nas suas palavras o detetive "parece ter tido várias outras vidas". A cor de sua aura é verde e negra, o que segundo Ani não tem muita importância.

Dei uma pesquisada no significado de auras dessa cor:

SIGNIFICADO DE UMA AURA NEGRA: É o tipo de aura que drena ou puxa energia para si e ao fazê-lo a transforma. Ela captura a luz e a consome. Em geral acompanha alguém que não perdoa as próprias falhas e quem leva uma vida no limite correndo riscos e sofrendo ameaças. Também representa segredos e existências mal resolvidas, com tragédias e sofrimento. 
SIGNIFICADO DE UMA AURA VERDE:  É uma cor da natureza. Uma cor de saúde e de crescimento interior. Em geral representa alguém que está se desenvolvendo de modo espiritual e/ou buscando o equilíbrio.

Parece combinar com Velcoro e com a tentativa dele em mudar.

5) ATHENA E AS FESTAS
Ani faz uma visita a sua irmã Athena que fala um pouco a respeito de seu trabalho no fascinante mundo do "entretenimento adulto".

Athena faz questão de dizer que nunca tomou parte nas "festas com garotas" frequentadas por pessoas importantes. Isso sem dúvida é um aceno a algo que vai acabar aparecendo nessa temporada. Caspere com certeza está envolvido com prostitutas de luxo, bem como o Prefeito e possivelmente Pitlov e o próprio Elliott Bezzerides. Não duvido que os Detetives terão de pedir ajuda a Athena para entrar em uma dessas festas privadas nos próximos episódios. Isso parece ser extremamente importante, mas ninguém deu atenção a esse fato.


Se eu tivesse de apostar em algo, diria que Athena sabe de coisas que ainda não contou sobre essas festas. Se isso for verdade, ela ainda será muito importante na investigação.  

6) TERRAS CONTAMINADAS

Ficamos sabendo o que era aquele lugar sinalizado com bandeirinhas vermelhas no início do primeiro episódio. Foi a primeira cena da segunda temporada e eu me referi a ela no Recap sem saber exatamente o que significava. Lá eu já levantava a hipótese de que a placa alertasse para "Contaminação de Solo", e é exatamente isso que ela diz.

Ao que tudo indica, o lugar parece ser uma das áreas através das quais passa a Ferrovia que Caspere havia aprovado, uma região que segundo o funcionário da PEA (Escritório Americano de Meio-Ambiente) foi densamente poluída pelos despejos de Lixo aprovados pela Prefeitura de Vinci. Lembrando que os Prefeitos de Vinci segundo consta são sempre membros da Família Chessani que manda e desmanda na área "há mais de um século".

7) RAY VELCORO SUMINDO NA VEGETAÇÃO

Eu adorei essa: quando Velcoro vai fazer uma visita escondido ao filho e levar o presente, ele dá um jeito de sumir na folhagem assim que sua ex-mulher o chama. O menino se vira por um instante e quando olha de novo, Ray desapareceu. O que lembra essa cena dos Simpsons: 


8) SIMILARIDADE ENTRE OS EPISÓDIOS DAS TEMPORADAS

Isso pode ser apenas uma curiosidade, mas é legal lembrar que o Capítulo 4 da Primeira Temporada de True Detective guarda algumas similaridades com esse episódio da Segunda Temporada.

Anteriormente Cohle havia negociado com uma gangue de motoqueiros, os Iron Crusaders, na época que usava o apelido de Crash e estava infiltrado. Cohle acompanha seus antigos parceiros em uma investida a uma casa controlada por uma gangue rival que acaba em um tremendo massacre.

Mas a similaridade não é só essa:

Em True Detective, Cohle e Hart conseguem descobrir o esconderijo d eum bando de caipiras metidos com o Rei Amarelo e que haviam sequestrado crianças mantidas em cativeiro nos arrebaldes do pântano. Os dois dão cabo dos caipiras, resgatam as crianças e saem como heróis. É claro, aquilo não passava de uma parede de fumaça, na ocasião, a culpa pelos crimes era jogada nas costas de uns caipiras enlouquecidos metidos com drogas pesadas. Algo bem parecido com a tentativa de colocar na conta de Ledo Amarilla a culpa pela morte de Ben Caspere. Diferente da primeira temporada, entretanto, os detetives nessa segunda temporada dificilmente vão emergir do massacre como heróis.

9) LA SANTA MUERTE

Ledo Amarilla é identificado como um bandido ligado aos cartéis mexicanos que rendem homenagem a Santa Muerte.

Esses bandidos são barra pesada, estão entre os mais temidos criminosos ao sul da fronteira, conhecidos por torturar e deixar cadáveres mutilados como lembrança de suas atrocidades e cartão de visitas para informantes. A morte de Caspere poderia ter ligação com esses caras? Vamos lembrar que na casa dele havia pelo menos duas estátuas de Santa Muerte.

E o nome "Amarilla"... "AMARELO" em espanhol, não sai da minha cabeça.

Só coincidência? Provavelmente.