O Fim - Como deve terminar True Detective - Mais ideias e teorias para o fim de temporada

Outro domingo, outro espetacular episódio de True Detective.

Chegamos ao sétimo episódio, o penúltimo, portanto estamos na reta final para o season finale, que deve oferecer solução para o mistério do Rei Amarelo.

Ao invés de fazer uma recapitulação do episódio 7, que por sinal foi muito bom, que tal fazer algo diferente?

Falemos a respeito de algumas ideias, peças do quebra cabeça que ainda faltam ser encaixadas, indícios, pistas e de teorias malucas. Portanto, saibam que daqui em diante teremos vários SPOILERS e que se você quiser seguir em frente, deve fazê-lo por sua conta e risco. 

Combinado? Então vamos em frente...

"After You've Gone" ("Depois que você se foi" - episódio 7) respondeu algumas questões que nos atormentavam desde o início. Ele chegou perto de responder algumas outras. Mas é claro, também introduziu vários outros mistérios que presumivelmente serão solucionados semana que vem, quando a primeira temporada chega ao fim.

A maior e mais importante questão, é claro, é, quem cometeu os crimes? Como True Detective irá terminar? Com isso em mente, achei que seria mais interessante escrever um artigo a respeito do que sabemos nesse momento - incluindo o que descobrimos domingo passado - e procurar pistas em entrevistas concedidas pelo criador da série, Nic Pizzolatto. Lendo nas entrelinhas, talvez possamos traçar um caminho sobre o que está por vir.   

No final, eu escrevi a minha própria teoria para o que está acontecendo. Eu provavelmente estarei errado, mas que diabos... Parte da graça de assistir True Detective é justamente procurar pistas, analisar as cenas em câmera lenta, dar pausa em algum momento revelador, ouvir com cuidado as frases e (obviamente) formular teorias. 

O FINAL NÃO SERÁ SOBRENATURAL

Até o momento, muitas das discussões a respeito de True Detective versam  sobre os elementos "sobrenaturais" do roteiro. Boa parte da trama utiliza elementos do conto clássico de horror, escrito por Robert Chambers em 1895, The King in Yellow (O Rei Amarelo). A palavra "Carcosa", que Chambers tomou emprestada de Ambrose Bierce, e que mais tarde foi usada por H.P. Lovecraft, apareceu em vários momentos chave. O símbolo em espiral nas costas de Dora Lange, uma homenagem ao doentio Símbolo Amarelo, permeia toda a narrativa. Uma revoada de pássaros formando a mesma espiral subiu aos céus em um dos primeiros episódios. Isso sem falar nas sugestões de Cohle a acontecimentos não lineares, em forma de círculo que voltam a acontecer muitas e muita vezes... 

O que não falta nessa série são insinuações a um mundo secreto e sobrenatural, mas será que veremos algo nesse sentido no final da série? Será que os roteiristas guardaram alguma revelação sobrenatural para o último episódio?

Provavelmente não! O próprio autor descartou um desfecho metafísico.

Em uma entrevista dada ao Entertainment Weekly, Nic Pizzolatto afirmou categoricamente que o "Rei Amarelo" não é um horror cósmico ou uma entidade saída do inferno. Ou seja, esqueça o conceito de que o Rei Amarelo da série será um Deus ancestral e inumano invocado para a Terra dos confins do espaço-tempo.

"Você pode jogar com o termo "Satanismo" e descobrir vários elementos surpreendentes e estranhos. Interpretações diversas. Ao invés de termos cultuadores de Satã, os cultistas em True Detective escolheram venerar algo chamado Rei Amarelo. É uma mudança, algo diferente, misterioso, desconhecido... algo surpreendente que tem sua própria mitologia e seus próprios conceitos."

Para os que veneram o Rei Amarelo e "viram seu poder" (através do uso de drogas psicotrópicas) a entidade parece de fato existir. Mas sua existência factual, não é o foco da trama.

Seria realmente estranho que justo no último episódio, o roteiro estritamente "pés no chão" de True Detective fosse alterado, e elementos sobrenaturais surgissem para explicar o mistério. Um dos fatores mais interessantes da série, é a maneira como ela aborda o sobrenatural, com algumas sugestões que embora estranhas, podem ter uma explicação razoável: As visões de Rust não passariam de alucinações provocadas pelas drogas que ele consumiu enquanto estava trabalhando infiltrado. Os rituais profanos envolvendo o Rei Amarelo, nada mais são do que uma forma de controle exercida por pessoas influentes sobre outras. O "monstro com rosto de Spaghetti" é apenas um homem usando uma máscara grotesca. E assim por diante.

Ao invés de anular o interesse, esses elementos tornam a série ainda mais interessante, misturando conceitos reais com outros surreais, para que o espectador duvide do que está vendo.

Além disso, as próprias chamadas da série sempre deixaram claro que ela é focada nas ações de homens maus, capazes de fazer coisas terríveis em nome de suas crenças: "O Homem é o Animal mais cruel" e "Toque as trevas, e as trevas o tocarão de volta".

Tudo leva a crer que no último episódio teremos um grupo de cultuadores fanáticos de algo chamado Rei Amarelo, uma espécie de crença religiosa que se apropria de noções presentes no voodoo e santeria, além de incorporar um misticismo próprio do sul, influenciado pela teatralidade do Festival de Mardi Gras, com suas máscaras de animais e desfiles representativos. Lembrando que o próprio Mardi Gras, apresentado pelos franceses que colonizaram a Louisiana tem origem em rituais pagãos celtas que sacrificavam animais e seres humanos para perpetrar a fertilidade e prosperidade. 

Em uma cena do episódio sete, Rusty entrevista Tobey Boulery, um travesti que atende pelo apelido de Johnny Joan, que no passado frequentou a Escola Light of the Way. Ele conta que "homens vestindo máscara de animais vinham quando ele e outros alunos dormiam, tiravam fotos e faziam coisa pior".

Esses "homens importantes" parecem ser membros de uma sociedade (ou seria uma Irmandade?) que experimenta drogas capazes de ampliar a percepção; eles chafurdam em orgias doentias com mulheres e crianças drogadas e praticam rituais de sacrifício como forma definitiva de êxtase. Eles fazem o que bem entendem, porque sabem que ficarão impunes e que estão acima das pessoas normais. É a expressão máxima de Poder; estar acima das noções limitadoras do bem e do mau.

No episódio cinco vimos Rusty entrar na escola Light of the Way e se deparar com três imagens de anjos pintadas nas paredes. Um deles com a boca, outro com os ouvidos e o terceiro com os olhos destacados com uma marca vermelha. Uma referência clara a expressão "Talk no evil, hear no evil, see no evil" (Não falar nenhum mau, não ouvir nenhum mau e não ver nenhum mau", aludindo ao fato de que o que acontecia na escola - durante os rituais blasfemos, pertencia apenas a quem está lá dentro e ninguém mais.  

Os anjos nas paredes da Escola

Por sinal, ainda a respeito dos anjos na Igreja, seria possível fazer uma associação desse desenho feito por Audrey em 1995 e esses anjos?

O FINAL PODE NÃO SER SURPREENDENTE

Se você está esperando um twist no último episódio, prepare-se para ficar desapontado, de acordo com Pizzolatto:  

"Tenho achado interessante ler o que as pessoas escrevem e suas teorias sobre o que está acontecendo, como as coisas estão conectadas e de que maneira a série deve terminar, mas também fico surpreso em ler como as pessoas vão longe em suas hipóteses" disse ele em uma entrevista.

"Eu fico imaginando porque os espectadores acham que estamos tentando enganá-los. Isso acontece porque nós espectadores (e eu me incluo nesse grupo) fomos abusivamente manipulados nos últimos vinte anos. Eu não posso pensar em nada mais insultante e desrespeitoso para com a audiência do que ao fim de oito semanas, no final de oito horas, afirmar que tudo que eles viram não passa de uma mentira - e que aquilo que você assistiu com tanto interesse de fato não aconteceu da maneira como mostramos. Tenham em mente que o programa não está tentando ser mais esperto que vocês". 

Não se trata portanto de "O Sexto Sentido" (o filme de M. Night Shamalayan com o "menino que via pessoas mortas").

True Detective não seguirá esse caminho. Segundo Pizzolatto, a série não procura em momento algum enganar os espectadores, ao invés disso, ela recorre a truques para ocultar as verdades. Você não é capaz de ver todas as peças que formam o quebra-cabeça, mas assim que tiver acesso a todas elas, será capaz de entender como as coisas estão conectadas e perceber que elas não são tão complexas quanto alguns imaginam.

Em resumo: o final de temporada não irá tomar uma direção estranha que desvirtue o que foi mostrado até agora. Ele irá fluir naturalmente, tendo como base o que sabemos até o momento e complementando com o que não sabemos...  

COHLE E HART NÃO SÃO OS ASSASSINOS DA SÉRIE

Especulações a respeito do envolvimento de Cohle e/ou Hart nos assassinatos pós-1995 se tornaram lugar comum na internet. Alguns espectadores seguiram as suposições dos detetives Papania e Gilbrough e se acreditam que Cohle pode ter se deixado contaminar pelo horror do caso, tornando-se ele próprio o responsável por outras mortes. Outros vem apontando para Hart - com seu cabelo loiro amarelado, com seu temperamento violento, por ele ter explodido os miolos de Reggie Ledoux para "cobrir possíveis pistas". 

Alguns mencionam até o nome da série "True Detective" (no singular) como uma pista de que apenas um dos protagonistas realmente é um detetive empenhado em apanhar o criminoso, enquanto o outro é o responsável por tudo. 

Mas no final das contas, tudo indica que não seja esse o caso.

Para começar, revelar que um dos detetives era o assassino o tempo todo, a essa altura seria incrivelmente previsível e anti-climático. Precisamente o tipo de expediente que Pizzolatto afirmou categoricamente que não iria recorrer. Para que Cohle ou Hart fossem os assassinos, eles teriam de ter fingido ao longo de toda a série terem investigado a morte de Dora Lange e o rastro do culto. Pizzolatto deixou claro que não irá "abusar" do espectador dessa maneira.   

Segundo, quando entrevistado Pizzolatto, negou - veementemente - que Cohle e Hart sejam anti-heróis. "Eu imaginei os dois personagens como heróis, no sentido de que eles são homens que não se deixam corromper," contou ele. "Eles são detetives que tem um trabalho a fazer e que encaram esse trabalho como uma questão de honra. Eles são essencialmente honestos. Há alguns momentos em que eles poderiam simplesmente fechar os olhos ou se afastar de toda sujeira, mas eles não o fazem. Isso não quer dizer que eles sejam indivíduos éticos ou moralmente limpos, mas eles são heróis a sua maneira. Se uma pessoa normal acha que diante de situações semelhantes conseguiria se comportar com a coragem de Cohle e Hart, ótimo, você na minha concepção, é um herói também."  

O que nos leva ao Episódio 7. Cohle e Hart finalmente se encontram após os exaustivos interrogatórios dos detetives. Cohle convida Hart para tomar uma cerveja. Hart concorda. No bar, Cohle revela o que ele vem fazendo desde que retornou a Louisiana em 2010 - investigando assassinatos e pessoas desaparecidas, que parecem ter sumido nos pântanos desde a morte de Dora Lange em 1995. Ele quer a ajuda de Hart. "Nós deixamos algo incompleto," Cohle argumenta. "Nós temos de consertar isso."

"Se você estivesse se afogando, eu jogaria em você um peso,” Hart responde. "Porque você acha que eu ajudaria você?"

"Porque você tem uma dívida,” Cohle devolve. "Porque da forma que as coisas aconteceram em ‘95" - quando os dois se envolveram na captura de Ledoux e Marty estourou a cabeça do suspeito - "isto está nas suas costas, amigo".

Hart nem tenta devolver esse argumento, ele sabe que Cohle está certo. Ele concorda em visitar o depósito trancado de Cohle e examinar as evidências que seu ex-parceiro reuniu ao longo de alguns anos de pesquisa quase obsessiva. Nas paredes do depósito vemos as palavras - King in Yellow, Carcosa e Cicatrizes escritas na parede onde estão fixadas as evidências, mapas e pistas coletadas. Esse é o trabalho que consumiu a vida de Rust, aquilo que se converteu na sua razão de ser. Apenas concluindo esse caso ele poderá descansar, até lá, nada o fará parar. Obsessivo, compulsivo, focado... seja lá o que for, essa é a postura e o comportamento de um herói disposto a ir até as últimas consequências. Fazer dele, ou de Marty os "vilões surpresa da série", realmente seria uma tremenda bola fora. 

Rusty apresenta fotografias comprometedoras extraídas de uma das casas pertencentes ao Reverendo Tuttle. As fotografias, aparentemente polaroides, mostram crianças em posições comprometedoras ou sendo abusadas por adultos. Outra não são tão chocantes, mas ainda assim, no contexto da investigação são igualmente perturbadoras: mostram crianças preparadas para participar de rituais do Rei Amarelo.

As estranhas fotografias em poder do Reverendo Tuttle

A peça central no entanto é um vídeo com os momentos finais de Marie Fontenot (que foi morta antes de Dora Lange). Marty assiste o vídeo, enquanto Rust prefere ficar de costas incapaz de encarar aquele horror virulento e degradante que ele "assistiu do início ao fim". Na filmagem a menina é morta, e possivelmente estuprada por um grupo de homens usando máscaras de animais. Toda a teatralidade grotesca remete a um tipo de ritual animista, repleto de violência e significado quase religioso. A tortura, a degradação, o sofrimento e a expiração fazem parte do ritual que Marty é incapaz de ver até o final.

Se existiam dúvidas em sua mente, se havia ponderações que limitassem suas ações, elas se apagam quando ele assiste o vídeo. A reação de Marty, os gritos de ódio, as batidas com o punho na mesa e o olhar assombrado, não podem ter sido um fingimento. Fica claro que ele está comprometido em levar a justiça adiante, custe o que custar. 

Por sinal, inda remetendo ao caderno de desenhos pornográfico de Audrey, será que essa associação é possível?

ENTÃO QUEM É O ASSASSINO

De fato, todos os sinais, levam a um grupo de culpados, cinco provavelmente. "Eu não sei ainda o tamanho disso," Cohle diz a Hart no depósito. "Mas essas pessoas estão envolvidas em várias coisas. Peças. Árvores Genealógicas". 

Sempre cinco envolvidos

Muito se comenta na internet a respeito da teoria dos Cinco Cavaleiros (Five Hoseman). A hipótese de que o Culto central do Rei Amarelo seria formado por cinco homens, sendo alguns deles pilares da sociedade da Louisiana, homens acima de qualquer suspeita, com recursos financeiros e um amplo escopo social. Os indícios que levam a essa teoria são os seguintes:

- Há cinco homens montados em cavalos, com máscaras negras e pontudas no estilo cajun Mardi Gras na fotografia com a jovem Dora Lange, na casa de sua mãe.  

- São cinco os bonecos masculinos ao redor da boneca nua, que Audrey e Maisie brincavam.

- São cinco os bonecos feitos de latas de cerveja por Cohle na sala de interrogatório.

O símbolo da cerveja "Lone Star" - e na cabeça de cada bonequinho, as estrelas negras sobre as quais Ledoux sussurra pouco antes de ser baleado, o pentagrama nas costas do maníaco - todos eles tem cinco pontas. Seria uma alusão direta aos cinco homens que controlam tudo?  

Mesmo antes do episódio 7 ir ao ar, os fãs de True Detective já apostavam suas fichas em um cabal secreto de homens nas sombras responsáveis pela morte de Dora Lange. Afinal de contas, como o ex-marido de Dora, Charlie Lange havia dito no episódio 4, Reggie Ledoux contou a ele que - "existe um lugar no extremo sul, onde todos esses homens ricos se reúnem para venerar o demônio. Ele disse que eles sacrificam crianças e mulheres. Ele falou alguma coisa sobre Carcosa e o Rei Amarelo. Ele disse que lá existem velhas pedras na floresta, onde as pessoas vão para venerar. Ele disse que lá acontecem muitas mortes". 

Os cinco envolvidos no Culto do rei Amarelo e sua vítima

No Episódio 7, essa noção de "homens ricos" é expandida e descobrimos que essas pessoas, fazem parte de uma mesma família. Uma família antiga e influente, que tem um Reverendo, um Governador e um Senador entre os seus membros.

A FAMÍLIA TUTTLE ESTÁ NO CENTRO DO CULTO

Essa talvez seja a maior revelação de “After You've Gone.” No curso de sua investigação solitária, Cohle descobre um número cada vez maior de desaparecimentos e assassinatos ocorridos nas escolas cristãs fundeadas pelo Reverendo Billy Lee Tuttle - o irmão do antigo governador e atual senador Eddie Tuttle que em 1995 foi o responsável pela criação de uma Força Tarefa para investigar o caso. Na realidade esse grupo estaria lá para encobrir os crimes e fazer com que nenhum dos envolvidos centrais fosse conectado a morte de Dora Lange. 

Cohle convencido da participação dos Tuttle invade as casas da família em vários lugares. Em uma delas - Baton Rouge, bem no deep south, ele acha as fotografias de crianças usando vendas, coroadas com os chifres e preparadas para os rituais do Rei Amarelo. É lá que ele encontra o "snuff movie". Tuttle teria morrido pouco depois, em um acidente em que ele trocou a medicação. Rusty no entanto supõe que o reverendo tenha sofrido uma queima de arquivo. Alguém mais poderoso teria decretado que devido seu descuido, o reverendo devia morrer para não afetar os outros.

E isso faz muito sentido! Se Tuttle era apenas um dos cavaleiros, os outros não se deixariam arrastar por um escândalo em que ele pudesse ser incriminado. 

Mas Billy Lee não estava sozinho. A dupla de detetives, novamente reunidos em 2012 busca pistas a respeito do Reverendo, o que os leva a uma empregada negra que trabalhou para Sam Tuttle, o pai do ex-governador e que conheceu os meninos. Ela revela que "o Sr. Sam" era um sujeito com hábitos sexuais um tanto estranhos, que “tinha filhos de todos os tipos", fruto de vários casos. Ela diz que ele tinha interesse em desvirginar moças e depois não queria mais nada com elas. 

A grande revelação vemq uando Cohle mostra a ela um de seus desenhos dos "apanhadores de demônios" que ele encontrou ao longo de toda investigação. A imagens parecem disparar memórias distantes. "Você conhece Carcosa?" ela pergunta entrando numa espécie de transe. "Ele come o tempo? Rejubile-se, a morte não é o fim! Rejubile-se, Carcosa"!

A implicação? Parece claro que a mulher tenha participado de um dos rituais conduzidos pela família Tuttle nos velhos tempos, possivelmente presidido pelo próprio "Sr. Sam". Ou seja, algo que vem de muito tempo - lembrem-se de Cohle mencionando "árvores genealógicas".

A mulher poderia ter sido levada até um dos círculos, nas antigas pedras na floresta, onde possivelmente foi estuprada pelos homens de máscara durante um ritual. A visão dos desenhos fez com que ela lembrasse desse horror. Eu não acho que ela fosse uma cultista - como alguns sugeriram,  mas alguém condicionado a honrar e respeitar a autoridade de seus patrões, reforçada por uma aura de misticismo religioso na forma do Rei Amarelo de quem eles são sacerdotes. Poder e influência, é sobre isso o Culto do Rei Amarelo, uma forma de compelir as pessoas e fazer o que bem entender, quando bem entender, da forma que bem entender...

Ok, os Tuttle estão envolvidos, mas quem mais faz parte dessa conspiração?

O HOMEM DO CORTADOR DE GRAMA

Desde o início da série, fala-se a respeito de um homem com cicatrizes cobrindo parte de sua face e queixo, mas até aqui não sabemos ainda a identidade desse homem. No episódio 7, a presença dele é citada em vários momentos. Tobey Boulere lembra de "três homens mais jovens" envolvidos diretamente nos abusos cometidos na escola cristã - "um deles com cicatrizes feias no rosto, no lado direito da face, como se ele tivesse se queimado". O primo de Ledoux - um mecânico - descreve que quando criança ele Reggie, o irmão deste e um homem com cicatrizes saíram para caçar na floresta. O homem com "cicatrizes de baixo do nariz e bochechas" ficou o encarando "de uma maneira estranha a noite toda". 

No depósito, Rust se concentra em juntar essas pistas. Reggie Ledoux e seu irmão (ambos mortos na cabana dos horrores em 1995) eram dois dos rapazes mais jovens. O terceiro, o homem com as cicatrizes é a identidade verdadeira do “spaghetti monster" com orelhas verdes, que teria perseguido uma menina através do bosque em 1995 (e cujo desenho foi rabiscado por um artista da polícia).

Quando Hart e Cohle entrevistam a empregada que trabalhou para os Tuttle, ela também lembra de um rapaz com o rosto cheio de marcas e queimaduras. Ele era um dos vários filhos do "Sr. Sam” concebidos fora de seu casamento: "Eu achoq ue o pai dele fez aquilo com ele," conta a mulher, “Ele era da família Childress". Não muito depois, Hart e Cohle descobrem que o xerife do distrito de Vermillion que encobriu a investigação da menina Fontenot se chamava Childress. 

O que Hart e Cohle ainda não descobriram ainda é que em 1995, eles encontraram esse homem misterioso; ele é o sujeito gordo, aparentemente simplório que estava cortando grama do lado de fora da Escola "Way of the Light" no Episodio 3. Ele tinha uma barba na época, que escondia as marcas em seu rosto. Mas no final do episódio 7, nós o encontramos novamente; ele é o sujeito dando a direção para os detetives Papania e Gilbrough enquanto apara a grama de um cemitério próximo do pântano. Dessa vez, ele está sem barba e podemos ver as marcas em seu rosto. Sem falar que ele tem uma semelhança grande como  spaghetti monster.

"Minha família está aqui há muito tempo" ele diz para si mesmo enquanto o carro dos policiais se afasta.

Será que essa revelação faz com que o final da série perca parte de seu impacto? Sincenramente acho que não, pois me parece que o "Homem das cicatrizes" é apenas um peão. Talvez um cultista menor em meio ao Culto do Rei Amarelo. Com certeza veremos pessoas mais importantes, envolvidas com o Culto até  final da série. 

A CONEXÃO COM AUDREY HART E MAGGIE

Nós temos vários indícios de que algo estranho aconteceu com Audrey, a filha do detetive Marty Hart. 

Nós sabemos que Audrey arranjou as bonecas de uma forma estranha que espelha a fotografia dos Cinco Cavaleiros visto na casa da mãe de Dora Lange - cinco homens cercando uma mulher em posição vulnerável (no caso de Audrey, uma boneca Barbie despida). Nós sabemos também que a menina desenhou em um caderno cenas estranhas de natureza sexual (algumas delas retratadas nesse artigo). Nós sabemos ainda que a menina ao chegar a adolescência se tornou uma delinquente e que esteve envolvida entre outras coisas em sexo com dois rapazes mais velhos.

O comportamento de Audrey parece ter relação com algum tipo de abuso que ela sofreu quando criança. Crianças expostas a esse tipo de coisa, por vezes se comportam de maneira auto-destrutiva, transformando o sexo em algo rasteiro, feio, grotesco.

Nós não sabemos se essa teoria é verdadeira, mas Pizzolatto parece sugerir algo nesse sentido: 

Quando criança, Audrey rouba a tiara (coroa) de sua irmã mais nova e a joga no galho deu ma árvore. Estaria ela simbolicamente tomando a coroa em suas mãos e pendurando ela na árvore (lembram-se onde Dora Lange foi encontrada?) aceitando seu papel nos rituais.

Não se sabe onde a menina estudou, mas parece improvável que ela tenha cursado uma das escolas da Wellspring Foundation pertencentes ao Reverendo Tuttle, já que elas ficam no interior e a família reside na cidade. Além disso, a escola da fundação se destina a crianças mais pobres e os Hart não estariam nesse caso.

Como então ela poderia ter tido envolvimento com o Culto do Rei Amarelo e os Cinco Cavaleiros? Eu tenho a minha teoria a respeito e não vou ficar surpreso se no fim da série ficar provado que Audrey foi submetida a rituais por alguém de sua própria família e levada até o centro do Culto onde testemunhou orgias e coisas mais medonhas.

Minha teoria é que outra pessoa de sua família, no caso, sua mãe Maggie, pode ter passado exatamente pelas mesmas experiências quando criança. Experiências estas que moldaram a sua personalidade e fizeram dela parte involuntária do complô. Muita gente aponta o sogro de Marty como um dos Cinco Cavaleiros, e acho que isso pode realmente ser verdade. 

Se Maggie foi abusada quando criança, o trauma pode ter deixado cicatrizes grandes o bastante para que ela, décadas mais tarde, fechasse os olhos para um abuso similar sofrido pela filha. E essa teoria faz todo sentido conforme a hipótese do universo circular explicada por Rust no episódio 5. 

Se esse for o caso, seu pai, um dos Cavaleiros envolvidos nos rituais é um dos manipuladores mais perigosos da série. Ele conseguiria convencer Maggie a fechar os olhos diante do abuso de sua própria filha. "Você não entende pelo que nós mulheres passamos" disse ela uma vez, em outra comentou "meninas tem que aprender mais cedo, o mundo é assim". Junte a isso, o descaso como ela trata de algumas questões envolvendo a sexualidade da filha e temos um quadro que aponta para medo e subserviência.

 Em mais de um momento da série, vimos Maggie tentando saber como ia a investigação conduzida pelos detetives. De fato, foi Maggie a responsável pelo término da pareceria entre Rust e Marty, quando ela deliberadamente usou o primeiro para acabar com seu casamento e provocar o atrito que resultou em troca de sopapos na frente da delegacia. Até que ponto Maggie está envolvida na coisa? Eu suponho que ela seja uma peça importante e que veremos no último episódio que ela está envolvida com o Culto, como vítima ou comparsa, é a questão.

Outra coisa: no episódio 7 vemos Marty visitar a ex-mulher e perguntar a respeito das filhas. Sobre Audrey ela diz: "Ela está bem, às vezes acha que pode ficar sem tomar os remédios, mas está bem, com um novo namorado", comenta ela, acrescentando que Audrey se tornou uma pintora e que está expondo seus quadros em galerias. Vemos um porta retratos sobre a mesa e nele, a artista, ao lado de uma das suas obras:

E na pintura, uma forma humana (uma mulher?) coberta por um manto amarelo e olhos na forma de estrela negra. Mais um aceno para o envolvimento de Audrey como parte dos rituais ou seria a pessoa na foto a própria Maggie, aludindo ao seu envolvimento na trama?

Outra foto interessante é essa daqui, que ganha um contexto quando Maggie menciona as drogas que a filha teria de tomar. Será que Audrey passou por alguma avaliação psiquiátrica devido ao seu comportamento entre 2002 e 2012? E será que ela esteve alguma vez no Centro Psiquiátrico visitado por Rusty no episódio anterior:

Repare no desenho na parede e no quadro do quarto dos Hart se não são muito parecidos. Quem teria pintado isso? Audrey ainda era muito jovem, mas poderia ter sido Maggie? E se foi, Maggie teria estado no Centro Psiquiátrico assim como aquelas meninas?

E QUAL A MINHA TEORIA?

OK, isso pode ser totalmente sem propósito, mas eis aqui a minha teoria para o fim de True Detective.

No episódio 8, "Form and Void" descobriremos quem são os Cinco Cavaleiros, Eu aposto na seguinte escalação: Billy Lee Tuttle, Eddie Tuttle, possivelmente o xerife Ted Childress, Sam Tuttle (o patriarca da família) e mais um quinto homem, possivelmente o pai de Maggie, sogro de Marty que descobriremos ter algum vínculo com os Tuttle. Todos esses homens importantes, influentes e ricos estariam envolvidos em rituais de orgia, raptos, assassinatos ritualísticos e coisa pior. 

Reggie Ledoux e seu irmão, junto com o sujeito do Cortador de Grama eram os "três homens mais jovens" responsáveis por capturar e drogar as vítimas do culto e conseguir drogas para os rituais. O homem das cicatrizes vem cuidando disso sozinho desde a morte dos Ledoux, que podem muito bem ser filhos bastardos do "Sr. Sam". Os dois não eram exatamente membros vitais para o culto, por isso serviram como bode expiatório para que nenhum dos membros mais importantes fosse envolvido no caso Dora Lange.

A grande surpresa deve ser o envolvimento de Maggie Hart. Se ela foi levada ao culto pelo pai, um dos membros sênior, ela deve ter passado por rituais que a deixaram traumatizada. Por fidelidade ao pai, por medo ou por algum outro motivo, ela acabou aceitando que sua filha mais velha Audrey, passasse pelas mesmas coisas que ela passou quando criança. É um fardo do qual ela se sente incapaz de escapar, completando o círculo que se perpetua eternamente que Rust mencionou. Cheia de dúvida, medo e submissão, Maggie acaba aceitando que a filha participe dos rituais o que causa uma mudança significativa em sua personalidade. Talvez Audrey deteste tanto o pai, por saber que o "herói" Marty Hart foi capaz de salvar crianças das mãos de Ledoux, mas não foi capaz de ver o que acontecia bem de baixo de seu próprio teto. "A maldição dos detetives" disse Marty certa vez, "é não ver o que acontece bem de baixo de seu nariz". Se isso tiver uma ponta de verdade, não acho que o fnal será agradável para Maggie, não se Marty descobrir o que vinha acontecendo e no que ela estava metida.

Carcosa na minha opinião é o lugar onde ocorrem os rituais do Culto do Rei Amarelo. Pode ser o lugar "nas profundezas do sul, com pedras antigas na floresta" onde "crianças e mulheres são assassinadas", presumivelmente em rituais voltados a uma divindade satânica, o Rei Amarelo (que não será visto em momento algum). Eu imagino que tais rituais sejam conduzidos pelos Tuttle, desde muito antes da morte de Dora Lange, algo que passa de pai para filho em uma "família muito antiga" que mantém suas tradições arraigadas.

Mas resta uma questão que envolve a primeira morte descoberta, a de Dora Lange... se o Culto age de forma tão discreta, matando apenas em Carcosa, como podem ter sido descuidados a ponto de deixar uma de suas vítimas de maneira tão evidente para a polícia encontrar, logo no primeiro episódio? Lembrem-se a pessoa que armou aquela cena de crime se esforçou para que a polícia visse o que ela fez. A mulher não foi morta naquele lugar, ela foi transportada e para alertar a todo alguém colocou fogo na mata.

Quem poderia ter sido o responsável por criar aquela cena de crime? Quem poderia ter preparado tudo nos mínimos detalhes para que a polícia desse início a investigação? Quem teria conhecimento, capacidade e disposição para construir aquela cena nos mínimos detalhes? A cena serviu para alertar a polícia da existência desses horríveis crimes, sem ela, ninguém teria sabido de nada e os crimes ficariam na escuridão.

Eu penso duas possibilidades: 

a) o homem do cortador de grama querendo emular os rituais realizados anos antes pelos Cinco Cavaleiros. Ele teria começado a presidir, ele próprio, os rituais e deixar rastros descuidados,

b) Alguém que já soubesse dos crimes e que desejava expor todos os acontecimentos e chamar a atenção. Alguém que tivesse o interesse de espalhar ao vento que "mulheres e crianças" estavam sendo mortas e que precisasse fazê-lo de forma dramática para mexer as coisas e forçar a polícia a se mover. Quem sabe, esse alguém possa ter sido o próprio detetive Rust Cohle que "já armou outras cenas de crime em sua carreira". Ele não seria o responsável pela morte de Lange, mas por preparar a cena do crime onde a vítima seria colocada em evidência e não pudesse ser desconsiderada apesar dos esforços do Culto em ocultar tudo. Para isso, Rusty teria de estar ciente das mortes, ter encontrado o corpo de Dora e o movido para a árvore. 

Mas se isso for verdade, porque ele o faria? Isso me leva a ponderar sobre como a filha de Rust realmente morreu (oficialmente foi um atropelamento), e se essa versão é verdadeira? Talvez a filha de Rust tenha sido uma vítima e a investigação dele começou muito antes.

Eu sei, parece meio forçado, mas quem pode saber ao certo? O fato que persiste é que os crimes de Dora Lange em 1995, sugere ter sido cometidos de maneira distinta que foge ao modus operandi dos cultistas sempre tão cuidadosos e receosos de se manter afastados. Eu não ficaria surpreso se Rust fosse o responsável por isso.

Bom, vamos esperar para saber o que vai acontecer e como o Círculo irá se fechar em True Detective. Seja qual for a verdade, o mistério termina nesse domingo meia-noite... desde já, a série deixa saudades.