Dando continuidade a macabra história de Peter Kurten, o assassino em série que atormentou a cidade alemã de Dusseldorf em 1929 e que ganhou o merecido apelido de "Vampiro". Seu reinado de terror deixou um rastro de mais de 30 vítimas em apenas um ano.
Peter Kurten vagava pelas ruas escuras de Dusseldorf em busca de vítimas. Aos 46 anos, ele havia aperfeiçoado os seus métodos de abordagem e sabia como ganhar a confiança das suas vítimas até chegar o momento de atacá-las. Kurten já era um assassino experiente, tendo matado repetidas pessoas para obter com a dor e sofrimento delas satisfação pessoal. Esse monstro adorava infligir dor e sentia um prazer demente ao ver sangue escorrendo e a vida se apagando. Contudo, foi no último ano de sua carreira assassina que ele se tornou ainda mais visceral e medonho.
Em fevereiro de 1929, ele praticou um dos seus crimes mais hediondos. Kurten conhecia bem a cidade e sabia onde encontrar suas vítimas. Certo dia, parado em frente a uma igreja, ele viu uma garotinha de 8 anos chamada Rosa Olliger descendo a rua e ficou encantado pela inocência dela. O monstro a abordou e amigavelmente se ofereceu para levá-la até sua casa pois estava perto de escurecer. Quando os dois entraram em um beco, o assassino a esganou com as próprias mãos. Excitado pelo assassinato, ele retirou em seguida uma tesoura do casaco e desferiu seguidos golpes no rosto e no peito da criança, assistindo o sangue vertendo em profusão. Em um frenesi medonho, Kurten se abaixou e lambeu os ferimentos experimentando um êxtase transcendental. A partir de então, consumir sangue humano se tornaria parte de sua loucura e uma necessidade premente para que ele atingisse o orgasmo. Sem sangue ele não se sentia completo e não conseguia alcançar o prazer sexual.
O maníaco compreendia que seu comportamento degenerado acabaria chamando a atenção da policia, por isso começou a destruir os corpos de suas vítimas. O corpo de Rosa Olliger foi o primeiro que ele decidiu incendiar, usando para isso óleo. O cadáver carbonizado da menina foi descoberto no dia seguinte, chocando a população de Dusseldorf que clamava por providências das autoridades.
Peter ouvia os comentários das pessoas nas ruas e lia nos jornais os detalhes sobre o horror que havia produzido. Seu coração batia mais rápido e ele se divertia diante da indignação das pessoas. Apenas quatro dias depois do assassinato da menina, Peter cedeu a tentação de buscar uma nova vítima. Mais tarde ele diria que as "vozes malignas da cidade", o forçaram a matar novamente. Ele escolheu um homem que saia alcoolizado de uma cervejaria, um operário chamado Rudolf Scheer. Kurten o derrubou no chão, desferindo golpes com a tesoura, vibrando de prazer a cada estocada. Quando o sujeito parou de se mexer, ele se debruçou sobre seu pescoço e sorveu o sangue que corria em abundância. Coberto de sangue, ele deixou a cena do crime em êxtase.
Interagir com populares e até com a polícia se tornou uma diversão para Kurten. Ele adorava perguntar a policiais se tinham pistas sobre o responsável por aqueles atos medonhos e se juntava às pessoas que exigiam a captura do monstro. Certa vez, ele acompanhou uma multidão até uma delegacia de polícia para protestar. Quando um homem com problemas mentais foi apontado como suspeito dos crimes, o verdadeiro responsável pelos assassinatos estava em meio a um bando que gritava para as autoridades lhes entregar o monstro.
Com a prisão injusta de um suspeito, Peter restringiu seus ataques por alguns meses. Mas não demorou até ele sentir a compulsão de matar uma vez mais. Ele fez duas tentativas frustradas de estrangular mulheres, mas estas conseguiram escapar. Outra jovem, Maria Rahn não teve a mesma sorte! Peter conseguiu convencê-la a ir com ele até um parque vazio e lá a atacou selvagemente. A mulher foi estrangulada e quando perdeu os sentidos, acabou golpeada com a tesoura. Após beber o sangue da vítima, o monstro escondeu o corpo sob um tapete de folhas. Peter retornou repetidas vezes ao local do crime e decidiu enterrá-la em uma cova rasa para que ela não fosse encontrada.
Na semana seguinte ele deu vazão a sua sanha assassina, atacando mais quatro pessoas, aproveitando qualquer oportunidade. Seus ataques eram rápidos e ele se livrava dos corpos atirando-os em rios ou deixando em vielas escuras. Legistas que examinaram os corpos perceberam marcas deixadas nos cadáveres evidenciavam que o assassino às havia mordido ou chupado a pele, sobretudo na região do pescoço. Assim que essa informação chegou à imprensa, os jornais começaram a chamar o assassino de Vampiro de Dusseldorf.
Para piorar a situação, a cidade hospedaria uma Grande Feira nas semanas seguintes, o que atraiu muitos visitantes das regiões rurais no entorno de Dusseldorf. Era a ocasião perfeita para o predador atacar impunemente, misturando-se à multidão de forasteiros. As vítimas escolhidas foram duas meninas que ele atraiu até um beco e matou a facadas, deixando os corpos mutilados lado a lado. Ainda em êxtase, ele voltou ao parque da feira e atraiu uma terceira vítima, uma mulher chamada Gertrude, que visitava Dusseldorf pela primeira vez. Peter a atacou no mesmo parque, primeiro tentou estuprá-la, mas quando ela resistiu, se conformou em apenas matá-la com uma facada no peito. O golpe foi tão forte que a lâmina chegou a se quebrar em seu corpo. Embora quisesse beber o sangue dela, o assassino precisou se retirar apressadamente pois os gritos da mulher haviam atraído um grupo que também estava no parque. O Vampiro acreditava que Gertrude havia morrido, com certeza não iria sobreviver aquele ataque feroz, mas estava errado. Ela sobreviveu e deu a polícia uma descrição minuciosa do seu agressor.
O maníaco esperou alguns meses até fazer um novo ataque, escolhendo uma criança de cinco anos que ele conseguiria facilmente dominar. Quando as autoridades demoraram a encontrar o corpo abandonado em um depósito, Kurten decidiu enviar uma carta anônima para um jornal da cidade explicando onde poderiam encontrar os restos, junto com detalhes de como havia matado a criança e bebido seu sangue. Ele também revelou o local em que havia enterrado Maria Rahn na floresta. O contato com os jornais o deixou animado e renovou sua excitação. A publicação de seus feitos estampando os jornais fizeram com que ele se sentisse invencível.
A verdade é que Peter Kurten sentia que jamais seria apanhado e que as autoridades não seriam capazes de superar sua astúcia. Mais que isso, ele acreditava que as vozes que ouvia o protegiam - o deixavam invisível e com uma força sobre-humana. Ele reconheceu que a certa altura se considerava tão superior aos seus perseguidores que poderia matar indiscriminadamente. Aos poucos, o maníaco foi se tornando descuidado e pretencioso. Entre fevereiro e maio de 1930, Kürten mutilou dez vítimas com vários ataques usando martelo. Todas as vítimas destes ataques sobreviveram e muitas conseguiram fornecer à polícia uma descrição do homem que as atacou.
Em maio de 1930, um homem desconhecido abordou Maria Budlick na estação de trens de Düsseldorf. Ele conversou com Maria e descobriu que ela havia viajado de Colônia para Düsseldorf em busca de hospedagem e emprego. Kürten se ofereceu para levar Maria para um albergue local. A moça aceitou o convite, mas começou a discutir com ele quando ele começou a conduzi-la em direção a um parque pouco povoado. Um homem percebeu a confusão e se aproximou da dupla, perguntando a Maria se o homem com quem ela estava discutindo a estava incomodando. Quando Maria assentiu que sim, o sujeito foi embora.
O salvador de Maria então a convidou para comer e beber em seu próprio apartamento. Maria adivinhou que o homem tinha segundas intenções e informou-lhe que não tinha interesse em fazer sexo com ele. O homem concordou e disse a Maria que, em vez disso, a levaria a um hotel. Em vez de ir para um hotel, o homem a atraiu para Grafenburg Woods. Lá, ele tentou estrangulá-la e agredi-la sexualmente. Maria gritou e o homem a soltou. O homem que salvou e depois atacou Maria não era outro senão Peter Kürten.
Maria não foi à polícia, em vez disso, ela escreveu sobre o ocorrido a um amigo. Porém, a carta não foi endereçada corretamente e foi aberta por um funcionário dos correios em 19 de maio de 1930. O funcionário, após ler o conteúdo da carta, enviou-a à polícia de Düsseldorf. A carta chegou às mãos do inspetor-chefe Ernst Gennat, da Polícia de Berlim. O Inspetor Gennat acreditava que o agressor de Maria poderia ser o Vampiro de Düsseldorf.
Quando entrevistou a moça ela revelou que o seu agressor a tinha finalmente libertado quando ela começou a gritar porque lhe tinha jurado que não se lembrava da morada do apartamento dele. No entanto, ela se lembrava perfeitamente e deu o endereço à polícia. Maria confirmou o endereço e a proprietária contou à polícia que o inquilino que morava no apartamento era um tal Peter Kürten e sua esposa Auguste.
Quando ficou sabendo que a polícia o procurava, Kürten desconfiou que acabaria preso. Decidiu então confessar a Auguste que era, de fato, o Vampiro de Düsseldorf. Ele pediu à esposa que o entregasse, querendo que ela recebesse a recompensa que estava sendo oferecida por sua captura. No dia seguinte, Auguste contatou a polícia e fez uma denúncia bombástica. Auguste contou que, embora ela estivesse ciente de suas passagens anteriores na prisão, desconhecia completamente sua culpa como Vampiro. Ela informou-lhes que seu marido havia confessado tudo a ela e queria que ela o entregasse. Peter Kürten, o Vampiro de Düsseldorf, foi preso por policiais armados enviados para sua captura.
Peter Kürten admitiu prontamente sua culpa, com pouco ou nenhum remorso. Ele também confessou o assassinato não resolvido de Christine Klein e a tentativa de assassinato de Gertrude Franken em 1913. No total, Kürten admitiu 68 crimes – 9 assassinatos e 31 tentativas de homicídio.
Juntamente com esta confissão, Kürten também confessou à polícia e aos psiquiatras que era a visão, o cheiro e o sabor do sangue das suas vítimas que ele procurava. Ele os informou – descaradamente – que a visão de sangue era muitas vezes mais do que suficiente para levá-lo ao orgasmo. Ele ainda admitiu ter bebido o sangue de muitas de suas vítimas e gostado de fazê-lo.
Enquanto aguardava julgamento, ele foi entrevistado extensivamente pelo Dr. Karl Berg, um renomado psiquiatra que pretendia usar o caso como base para suas teorias sobre patologia mental. Durante as entrevistas, Kürten expressou que o principal motivo dos seus crimes foi a procura de prazer sexual. Ele também explicou que começou a fantasiar sobre essas coisas enquanto estava na prisão, especialmente enquanto estava em confinamento solitário.
Kürten contou ao Dr. Berg que sua escolha de arma era irrelevante - ele simplesmente escolheu o que estava em mãos e matava sem preparo. Quando questionado sobre as vítimas sobreviventes, Kürten admitiu que não estava muito preocupado em assassiná-las. Ele os deixaria ir enquanto alcançava a satisfação sexual antes que o ataque pudesse levá-lo a matar sua vítima. Deixando de lado sua busca de prazer sexual, ele também disse ao Dr. Berg e à polícia que desejava causar o caos para “contra-atacar” uma sociedade que ele sentia o oprimir injustamente. Ele sentiu que seus repetidos encarceramentos eram injustos e buscou sua própria forma de vingança distorcida.
À medida que seu julgamento se aproximava, o Dr. Berg, assim como outros psicólogos, decidiram que Peter Kürten era legalmente são e competente para ser julgado, pois tinha sido plenamente capaz de avaliar a criminalidade de suas ações.
Em 13 de abril de 1931, começou o julgamento de Peter Kürten, o Vampiro de Düsseldorf. Ele foi acusado de 9 acusações de homicídio e 7 acusações de tentativa de homicídio. Kürten inicialmente se declarou inocente por motivo de insanidade – apesar do que ele havia confessado à polícia e aos psicólogos sua culpa.
Vários dias após o início do julgamento, depois de confessar, Kürten informou ao seu advogado de defesa que desejava mudar a sua confissão para culpado. Ele expressou ainda que não sentia remorso por suas ações, nem acreditava possuir consciência. Ele afirmou que muitas vezes pensava em seus crimes com carinho. Ao contestar o depoimento do perito de que Kürten era competente para ser julgado, o seu advogado de defesa argumentou que a “grande variedade de perversões” demonstrada pelo seu cliente apontava claramente para uma mente instável. Os especialistas discordaram respeitosamente. Berg afirmou ainda que, embora alguns aspectos das extensas entrevistas de Kürten pudessem ser falsos, tais aspectos poderiam ser atribuídos à própria personalidade narcisista do criminoso.
Em 22 de abril de 1931, após 10 dias de julgamento e depoimentos, o júri retirou-se para considerar o veredicto. Menos de duas horas depois, consideraram Peter Kürten culpado de todas acusações. Ele foi sentenciado à morte. Peter Kürten não recorreu da condenação, embora tenha pedido perdão ao Ministro da Justiça, visto que o Ministro era conhecido como opositor da pena capital. Em 1º de julho de 1931, a petição foi negada. Naquela noite, ele recebeu sua última refeição com salsicha, batatas fritas e uma garrafa de vinho branco. Ele pediu uma segunda porção, que o pessoal da prisão concedeu.
No dia 2 de julho de 1931, às 6h, Peter Kürten foi conduzido ao terreno da prisão de Klingelputz, em Colônia. Suas últimas palavras foram relatadas como: “Diga-me, depois que minha cabeça for decepada, ainda poderei ouvir, pelo menos por um momento, o som do meu próprio sangue jorrando do meu pescoço? Esse seria o prazer de acabar com todos os prazeres.” Ele foi então executado na guilhotina.
Após sua execução, a cabeça de Peter Kürten foi cortada no meio e mumificada. O cérebro foi removido para análise forense, que não mostrou anormalidades.
As extensas entrevistas do Dr. Karl Berg com Kürten foram compiladas como o primeiro estudo psicológico de um serial killer sexual. Eles também formaram a base de seu livro, "O Sádico", imortalizando para sempre o horrível legado do Vampiro de Düsseldorf.
Um ser digno de pena.
ResponderExcluirUm ser digno de uma guilhotina.
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