Os Lloigor são inimigos naturais do homem desde tempos imemoriais. Quando viviam na superfície eles submeteram humanos pouco evoluídos a um regime de escravidão e sofrimento.
Hoje, os Lloigor podem estar adormecidos ou pouco ativos, mas não resta dúvida de que mesmo os que aparentam impassividade se mantém atentos. Essas criaturas imortais observam o mundo desde a aurora dos tempos e se recordam amargamente da época em que foram grandes. Não há nada que um Lloigor deseje mais do que comandar e subjugar.
Em sua forma original, eles são seres imateriais compostos de um tipo desconhecido de energia psíquica. Eles não tem uma forma básica, sendo praticamente invisíveis, mas sua presença pode ser detectada como uma discreta ondulação no ar, semelhante a uma miragem criada pelo calor. Além disso, a proximidade de um Lloigor tem um efeito curioso em seres vivos que ocupam uma área próxima. As pessoas - sobretudo indivíduos mais sensíveis, sentem como se houvesse uma presença que não é natural nas imediações. Essa sensação é normalmente descrita como uma série de arrepios, com a impressão de se estar sendo observado ou como um medo inexplicável.
Alguns textos antigos mencionam os Lloigor e revelam detalhes a respeito de sua origem. O Necronomicon fala deles como os "Conquistadores das Estrelas" e se refere a eles como "Terríveis monstros que escravizaram a humanidade". O Unausprachlichen Kulten revela a existência de colônias com cultistas humanos devotados a servi-los como verdadeiras divindades profanas. Von Junz, o autor desse tratado, conta ter encontrado um desses ascetérios numa viagem ao atual Líbano. O texto no entanto alude para outras colônias espalhadas pelo mundo inteiro, sobretudo em enclaves distantes ou isolados onde o poder centralizado pelo Lloigor é completo. O "Monstres and their Kynde", os chama de "Os Reis Lagartos" e determina que estes horrores vieram das estrelas eras atr´pas acompanhando os Grandes Antigos que ficaram presos em nosso planeta.
Contudo é o obscuro Manuscrito de Sussex que reúne as informações mais valiosas sobre os Lloigor (também chamados de Lloigore ou Liugore).
Segundo o documento guardado pelo Museu de Wharby, em Yorkshire os Lloigor são oriundos de uma esfera distante, localizada na Galáxia de Andromeda. Eles teriam empreendido um grande êxodo há milhões de anos, lançado suas consciências através do cosmos em busca de um lugar onde pudessem se estabelecer. Os motivos que os impeliram nessa jornada não são conhecidos e supõe-se, são tema considerado tabu entre eles. Chegando a Terra, eles se fixaram na lendária Ilha de Mu, no Pacífico Sul. Em um primeiro momento, os Lloigor submeteram e escravizaram a raça humana, tornando-os escravos de suas vontades e caprichos. Uma raça essencialmente maligna, os Lloigor forçavam seus escravos às mais árduas tarefas e exigiam completa lealdade. Qualquer transgressão era punida com tortura e mutilação. Os Lloigor também usavam como punição uma medonha forma de desfiguração que amedrontava seus servos de tal forma que as rebeliões tornavam-se raras.
O domínio dos Lloigor vigorou por muitos séculos, um tempo no qual os habitantes de Mu sofreram sob o jugo de seus cruéis opressores. Com o passar dos séculos, o controle dos conquistadores começou a reduzir a medida que a população humana crescia. Sentindo que era questão de tempo até sua autoridade ser desafiada, os Lloigor começaram a se retirar para os subterrâneos. Muitos abandonaram Mu, adotando refúgios em terras distantes onde poderiam oprimir populações mais suscetíveis. Os Lloigor que permaneceram em Mu eventualmente também desapareceram. Muito se discute o que causou o declínio de poder dessas criaturas, alguns teóricos conjecturam que o aprendizado de magia pelos humanos de Mu ou a aliança destes com alguma divindade (Tsathogua mais provavelmente) tenha causado um enorme temor entre os Lloigor.
É preciso compreender que a mente dos Lloigor é preenchida por um incomensurável pessimismo. Suas mentes não são divididas em id, ego e super-ego, como a dos humanos. Eles são incapazes de contemplar um futuro ou planejar qualquer coisa a longo prazo. Eles não tem qualquer criatividade e por isso tendem a ter uma existência estagnada e improdutiva. Como consequência direta, raramente colocam seus planos em ação, a não ser que sejam compelidos a fazê-lo por alguma entidade que decidiram servir. As criaturas tendem a buscar aliados ou patronos poderosos, sendo Ghatanathoa e Itaqua suas escolhas mais frequentes.
Como dito, algumas dessas criaturas se estabeleceram em lugares distantes do planeta, preferindo cavernas, recessos profundos e túneis no interior de montanhas. Muitos deles, acompanhando os Grandes Antigos escolheram hibernar nesses esconderijos, mantendo-se atentos aos acontecimentos a sua volta, valendo-se para isso de agentes humanos ou de sondagem mental. Com o tempo, a maioria dos Lloigor se cansaram de sua vigília e se renderam a uma apatia perpétua na qual passaram a hibernar nas profundezas. De tempos em tempos, entretanto, um deles desperta de seu torpor e experimenta um interesse repentino pelo mundo que o cerca.
Os Lloigor são muito suscetíveis a mudanças drásticas no inconsciente coletivo humano. Certos estados de ânimo tendem a atrair sua atenção, sobretudo aqueles que envolvem grande agitação, perturbação e medo. Segundo Abdul Al-Hazred, o notório árabe louco que escreveu o Necronomicon, "os Lloigore são atraídos pelo medo e pelo desespero do homem. Eles se alimentam do espirito combalido da humanidade, as lágrimas do homem para eles, são doces como mel".
Verdade ou não, há uma relação direta entre o despertar dessas criaturas e períodos conturbados da história humana. Revoluções, guerras e massacres parecem ter um efeito revitalizador na psique dos Lloigor, mesmo daqueles inativos há milênios. A Revolução Francesa (1789), o Levante dos Boxers (1910), a Revolução Russa (1917), a Queda de Nankin (1936), os Massacres no Camboja (1975) e a Revolução Iraniana (1979) são alguns exemplos recentes de momentos chave da história humana que contribuíram para o despertar de Lloigors há muito adormecidos. Durante a Grande Guerra, vários Lloigor que dormiam na França despertaram atraídos pela tragédia da Guerra das Trincheiras, estes mesmos talvez tenham sido acordados antes durante as Guerras Napoleônicas e com certeza posteriormente, quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial (período áureo para o despertar dessas criaturas).
Os Lloigor parecem compreender que quando a população humana se encontra acossada pelas suas próprias atrocidades, surge o momento mais adequado para atacar. Eles não se alimentam do horror e do medo como suspeitam alguns estudiosos dos Mitos de Cthulhu, mas essas sensações concedem a eles um indicativo de que a humanidade está fragilizada e portanto propensa às suas investidas.
Também diferente do que alguns suspeitam, os Lloigor não planejam se tornar mestres da humanidade, como foram um dia. Eles parecem perfeitamente confortáveis simplesmente em dominar cidades e extrair de seus habitantes energia vital. Seu sustento é obtido com emanações psíquicas captadas enquanto os humanos dormem profundamente (o sono REM). Uma deles é capaz de sugar a energia de centenas de pessoas simultaneamente, simplesmente se concentrando nessa tarefa. Aqueles drenados pelo Lloigor acordam sentindo-se incomodados: esgotados física e mentalmente mesmo após uma noite inteira de sono. A drenagem contínua pode desencadear a longo prazo efeitos mais nocivos, que assumem a forma de epidemias de acomodação, depressão e por fim suicídios.
Quando plenamente ativos, os Lloigor sentem-se mais à vontade para interagir diretamente com os humanos. Nessas circunstâncias, algumas pessoas sentem a influência mental das criaturas e adotam um comportamento cada vez mais agressivo, beirando em alguns casos a sociopatia. Crime e violência se tornam corriqueiros em áreas assoladas pela criatura. Algumas vezes, o Lloigor se encarrega de buscar os membros mais degenerados de uma população para servi-lo como lacaio. Ainda que muitos desses indivíduos acreditem que em troca da servidão, irão receber grandes poderes de seus mestres, eles não significam nada para o Lloigor, que normalmente os sacrifica ao primeiro sinal de problemas. É comum que os monstros demonstrem a sua insatisfação mutilando seus serviçais, arrancando braços, pernas ou olhos. Em seguida, essas partes são substituídas por tentáculos flácidos ou apêndices repulsivos de aparência completamente alienígena. Dentre os escravos da vontade do Lloigor não é raro encontrar homens e mulheres com membros extirpados e transfigurados em medonhas paródias do original. A intimidação exercida pelas criaturas é uma maneira eficaz de manter os servos na linha.
Os Lloigor sobrevivem nos dias atuais, mas eles não possuem um décimo da capacidade e alcance que um dia dispuseram. Dentre os poderes que ainda podem invocar, encontram-se certas capacidades utilizadas para coagir seus inimigos. Todos seus poderes, no entanto carecem de energia vital e o Lloigor precisa repor esse depositário antes que este seja exaurido. Se tal coisa ocorre, a criatura pode ser forçada de volta a hibernação, despertando apenas séculos mais tarde. Usando uma pequena parcela de energia roubada, um Lloigor é capaz de pequenas intromissões: desmagnetizar bússolas, afetar equipamento fotográfico ou eletrônico e exercer força psicocinética sobre pessoas ou objetos. Dessa forma, conseguem afastar curiosos e lidar com a curiosidade de estranhos.
Mas esses pequenos atos, por vezes confundidos com manifestações sobrenaturais, não são as únicas armas a disposição desses monstros. Usando uma quantidade maior de energia, eles podem desencadear efeitos impressionantes. Eles podem por exemplo fazer navios ou aeronaves desaparecer (causando o efeito de "perda de tempo", geralmente relacionado ao fenômeno OVNI), podem gerar um surto repentino de paranoia numa população inteira ou semear uma tempestade de vento de uma hora para outra. A arma mais devastadora dos Lloigor, no entanto, é uma implosão que eles podem engendrar mediante enorme quantidade de energia. Esse efeito é tão avassalador que tudo aquilo atingido pelo choque é feito em pedaços pelo vórtex de energia. Seres vivos são estraçalhados, árvores são arrancadas do chão, rios desviados de curso e montanhas podem desmoronar se energia suficiente for utilizada. Quando dois ou mais Lloigor se juntam para arregimentar uma grande quantidade de energia os efeitos podem ser catastróficos. Não se sabe ao certo como essas implosões ocorrem (há indícios de que seja uma fissão nuclear), mas no rastro delas, tudo o que resta são escombros, poças de água estagnada e um odor distinto de ozônio. Alguns suspeitam que a explosão de Llandalffen e a detonação próximo de Al-Kazimiyah, no Iraque tenham sido causadas pelos Lloigor. No passado, outras explosões inexplicáveis podem ter sido deflagradas por tais seres.
Em certas circunstâncias, os Lloigor podem adotar uma forma material, construindo corpos físicos utilizando suas reservas de energia. A forma escolhida é constituída de energia psíquica crua, gerando uma espécie de ectoplasma que a criatura pode moldar conforme a sua vontade. Embora em teoria eles pudessem assumir a aparência que desejassem, os lloigor acabam sempre optando pelo mesmo simulacro - o de imensos répteis que remetem aos dragões das lendas. Supõe-se que essa forma seja, na concepção dos Lloigor, a mais adequada para gerar terror na humanidade. Uma forma que remete ao medo primordial da humanidade diante de répteis vorazes. Isso pode explicar porque o mito das grandes feras reptilianas está presente em tantas culturas, ainda que não haja qualquer traço de tais criaturas para ser encontrado. Levando essa hipótese adiante, o lloigor pode ser também a base para as lendas de monstros habitando lagos e mares. É uma explicação razoável para o avistamento de tais criaturas ao longo da história, sem que jamais tais criaturas tenham sido capturadas ou detectadas nem com moderna tecnologia.
No que diz respeito a sua aparência, os monstros são realmente intimidadores. Um lloigor parece um enorme lagarto com escamas cinza-esverdeadas distribuídas ao longo do corpo. Eles podem ter algo entre seis e catorze metros de comprimento da cauda ao focinho. Placas ósseas podem surgir em suas costas, projetando-se como espinhos afiados como ocorre nas iguanas. Os Lloigor são frios e desagradáveis em todos os sentidos. Sua carne é rígida em alguns pontos e repulsivamente esponjosa em outros, sendo difícil feri-lo usando armas comuns. Os membros são atrofiados ou bizarramente longos, raramente simétricos. Ele se move arrastando o enorme corpanzil como um réptil de verdade faria, mas há algo de estranho em todo seu deslocamento. Por vezes eles possuem uma cauda informe que se parece mais com um grande tentáculo, e que o auxilia no arrastar pelo chão. Tentáculos aliás brotam em toda extensão ventral, agitando-se como apêndices com vontade própria.
A cabeça é mau formada, parecendo disforme no todo e grande demais em relação ao corpo. Os olhos amarelados e pequenos ocupam posições assimétricas, as fossas nasais são desiguais e a boca larga é longitudinal. A boca aliás é preenchida por protuberâncias pontiagudas que embora se assemelhem a dentes, estão mais para ossos afiados capazes de destroçar o corpo de um homem adulto. Eles não tendem a engolir suas vítimas, ao invés disso tentam causar ferimentos usando os dentes ou as garras nas patas, verdadeiros esporões que cortam como lâminas. Um observador que não enlouqueça ao ver esse horror, poderia sugerir que um lloigor é a mistura de um iguana e um Dragão de Komodo, mas com deformidades claras e impossíveis de serem encontradas em um animal comum. Ao redor da criatura permeia um fedor de sangue e corrupção, reminiscente dos grandes predadores que ocasiona uma sensação tangível de intimidação. Alguns acreditam que os lloigor utilizaram como base para construir essa forma bestial os grandes sáurios que eles teriam encontrado no planeta quando chegaram milhões de anos atrás.
Embora seja menos frequente, alguns lloigor escolheram assumir uma aparência claramente batráquia, parecendo imensos sapos-boi, com óbvias deformidades. Tentáculos são comuns nesses horrores que são encontrados em lagos e rios. O que leva um lloigor a optar por uma determinada forma em detrimento de outra não pode ser determinado.
Os principais centros de atividade conhecidos dessas criatuars incluem o Iraque, País de Gales, Líbano, Ceilão, China, Haiti, Chile, Rússia e a Costa Oeste dos Estados Unidos. É possível, entretanto que espécimes hibernem em muitos outros lugares do globo. A população de tais criaturas aparentemente teve uma expressiva redução em seu número, mas isso não significa que eles estejam extintos.
Nota: August Derleth e Mark Schorer criaram originalmente uma entidade chamada Lloigor como uma das obscenidades gêmeas apresnetadas na estória curta intitulada "The Lair of the Star Spawn" (1932). Lloigor e seu irmão Zhar eram típicas monstruosidades lovecraftianas dotadas de tentáculos. Para todos os efeitos eles eram Grandes Antigos. Derleth se referiu aos Lloigor em vários outros contos, em especial "The Sandwin Compact".
Colin Wilson tomou emprestado o nome para uma de suas estórias mais conhecidas "The Return of the Lloigor" (1969), mas a criatura é bastante diferente. Os lloigors de Wilson são uma raça de criaturas formadas por energia psíquica, capazes de se manifestar como grandes répteis, os dragões das lendas. Estes são os Lloigor apresentados nesse artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário