sábado, 21 de agosto de 2021

O Mago Mor da Escócia - A Fantástica Vida de Michael Scot


A história é povoada por indivíduos estranhos e enigmáticos que conseguiram se tornar maiores do que a própria vida que levaram. Ao redor deles construíram-se lendas que perduram há séculos. Muitas vezes somos incapazes de desvendar as facetas de tais personagens e conhecer à fundo suas realizações. Uma dessas pessoas é um místico, supostamente um poderoso mago que viveu na Escócia e em torno do qual muitas histórias foram contadas. Ao falar sobre a lendária figura de Michael Scot, é bastante difícil separar o Fato e Fantasia. 

O que se sabe é que ele provavelmente nasceu no distante ano de 1175 em algum canto da Escócia, possivelmente em um lugar chamado Fife, também chamado de Borders. É sabido que ele foi um erudito e intelectual, estudante de teologia, filosofia, matemática e medicina nas universidades de Oxford, Paris e Toledo. Além disso, falava várias línguas diferentes, incluindo latim, grego, árabe e hebraico. Na verdade, ele se tornou conhecido primeiro como um tradutor qualificado de textos, a tal ponto que foi recrutado por Frederico II, Imperador do Sacro Império Romano com o propósito de traduzir vários manuscritos, incluindo os textos de Aristóteles sobre ciências naturais, do árabe para o latim. 

Este foi um importante passo para o conhecimento ocidental, porque muitas das obras de Aristóteles haviam sido perdidas para o mundo de língua latina, preservado apenas por meio de versões árabes dos textos. Além de todos esses estudos e habilidades, Scott também tinha verdadeiro fascínio por tópicos ocultos, incluindo astrologia, alquimia, adivinhação, feitiçaria e fisionomia, que é a prática de avaliar o caráter ou personalidade de uma pessoa pela sua aparência externa, em particular o rosto. Era bem provável que tudo isso, somado ao seu conhecimento das práticas do Oriente Médio, consideradas muito exóticas na época, bem como seu hábito excêntrico de vestir-se com roupas coloridas vindas da Arábia, tenham contribuído para estabelecer a sua reputação como Mago.


Scot foi um vidente bastante famoso e tais eram suas habilidades que Frederico II acabou fazendo dele membro estimado da sua corte no posto de Astrólogo oficial. Durante seu tempo na corte, Scot fez muitas previsões surpreendentes que se tornaram realidade, incluindo o resultado de batalhas e várias calamidades e catástrofes. Frederico II o considerava essencial e o consultava antes de se lançar em alguma campanha militar. Acredita-se que o Imperador tenha desistido de ataques ou reconsiderado decisões militares com base nos conselhos de seu vidente. 

Os poderes astrológicos de Scot tornaram-se tão famosos que ele começou a ser creditado com uma série de outras habilidades mágicas. Por exemplo, dizia-se que ele era capaz de induzir visões nas pessoas, bem como ler mentes, obrigar os outros a fazer o que ele queria e se valer de feitiços para conseguir vantagens em jogos de azar. Por sinal, ele ganhara uma fortuna em jogos de cartas e apostas contra nobres da corte. Suas habilidades com a alquimia também eram bem conhecidas, pois foi dito que Scot podia transformar chumbo em ouro ou fiar corda com simples areia. Suas transmutações, no entanto, não pareciam durar muito tempo e por conta disso, aqueles que negociavam com ele evitavam receber pagamento em ouro. 

Um dos seus poderes mais temidos era a suposta habilidade de invocar demônios e espíritos e obrigá-los a cumprir suas ordens. Em mais de uma ocasião ele ameaçou enviar demônios no encalço de rivais e inimigos, fazendo com que disputas fossem encerradas graças ao seu poder de convencimento e intimidação. Há uma famosa história de um bandido de estrada que desistiu de assaltá-lo depois que percebeu que a vítima era o famoso mago que invocava demônios das profundezas.


Scot não fazia qualquer esforço para negar os rumores a respeito de suas supostas habilidades sobrenaturais. Pelo contrário, ele parecia alardear suas capacidades ao ponto da autopromoção. Graças a isso, os boatos a respeito dele se multiplicavam e foram se tornando cada vez mais fantásticos. Alguns mencionavam que Scot havia encontrado um cajado mágico que podia separar rios, transformar pessoas em pedra e, em uma ocasião, até mesmo dividir as Colinas de Eildon em três picos. Ele teria usado esse cajado prodigioso para derrotar uma cabala de bruxas que aterrorizava a região da Cumbria, no noroeste da Inglaterra. Batendo com o artefato no chão, ele transformou as feiticeiras em pedra acabando com a ameaça que elas representavam.

Outra lenda a seu respeito menciona um corcel mágico que era capaz de levá-lo da Escócia até a França em uma única noite. O animal, um enorme cavalo negro tinha olhos escarlate e respirava nuvens de enxofre pelas narinas. Uma determinada palavra mágica proferida pelo mago fazia brotar nos flancos do animal enormes asas de morcego que o propeliam pelos céus em um voo vertiginoso. Muitas testemunhas afirmavam tê-lo visto montando esse cavalo aterrorizante correndo velozmente pelas planícies ou voando pelos céus. Alguns afirmavam que a criatura havia sido ganha em uma aposta vencida pelo mago contra o próprio Diabo. E que o Diabo, que ele chamava jocosamente de "Velho Nick", havia jurado reaver o seu bichinho de estimação.

A fama de Michael Scot cruzava fronteiras e era tal que ele foi mencionado na obra prima de Dante Alighieri, A Divina Comédia, como um escocês banido para o Oitavo Círculo do Inferno, um lugar reservado para feiticeiros, astrólogos e falsos profetas. Que ele tenha sido retratado como um pecador provavelmente não é tão surpreendente, considerando sua reputação de feiticeiro. 


Muitos de seus compatriotas tinham medo de falar com ele e quando eram obrigados a fazê-lo preferiam olhar para o chão por temer encarar seus olhos "capazes de hipnotizar". Scot chegou a ser chamado de aliado do Diabo e ameaçado de ser denunciado e executado por realizar feitiços de morte e sedição. Não ajudava o fato de seu patrono Frederico II ter sido excomungado duas vezes e ser rotulado de Anticristo. Ainda assim, é curioso que Michael Scot tenha recebido propostas para se tornar Arcebispo de Cashel na Irlanda e em Canterbury, respectivamente pelos papas Honório III e Gregório IX. Ele não teria aceito após interpretar o próprio horóscopo e concluir que se o fizesse acabaria executado por heresia.

Durante sua carreira, Scot escreveu inúmeros manuscritos e tratados acadêmicos, cobrindo uma vasta gama de assuntos como esoterismo, astrologia, anatomia humana, fisiologia, além de reprodução e zoologia. No campo do Ocultismo, entretanto ele se sobressaiu como um dos primeiros magos a ter seu pensamento e doutrina publicados. Ele foi, sem dúvida, uma pessoa imensamente importante para a história e um personagem profundamente interessante. É curioso que a maioria de seus feitos se confundam com as lendas contadas sobre ele. 

Não se sabe exatamente como ou quando ele morreu, embora haja uma lenda muito interessante a respeito disso. Dizem que seu poder de profecia era tão notável que ele previu como aconteceria sua própria morte. Após uma visão, ele proclamou que morreria por conta de uma pedra que cairia, e tinha tanta certeza disso que usava uma proteção para a cabeça onde quer que fosse. Essa era apenas uma de suas muitas excentricidades, e só ficaria claro o quão certo ele estava em 1235, quando ele removeu seu capacete para assistir à missa e acabou atingido por uma pedaço de reboco que caiu do teto da igreja, acertando-o em cheio.


Scot foi enterrado na Abadia de Melrose, local importante que recebeu vários indivíduos ilustres da história da Escócia. Junto dele, supostamente foram colocados seus livros de magia, artefatos e ferramentas mágicas. Ele instruiu um de seus discípulos a lançar um feitiço poderoso sobre a sepultura que recebeu seus ossos, para que aquele que perturbasse seu descanso sofresse uma morte aterrorizante. Por séculos, seu túmulo ficou intacto, até que em 1850 ele foi escavado para que os ossos fossem depositados em outro lugar. Diz a lenda que o caixão em que ele teria sido colocado estava vazio, o que alimentou ainda mais as lendas sobre ele.

Michael Scot, permanece sendo uma curiosa personalidade histórica, habitando um lugar tênue entre a realidade e fantasia, sua lenda ofuscando qualquer verdade que seu conto possa conter, e podemos nunca saber com certeza toda a verdade por trás do misterioso Mago Mor da Escócia.

2 comentários:

  1. Daria pra ser parte da Liga Extraordinária xD

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  2. Excelente artigo! Mas cá entre nós, esse cavalo descrito é igual o cavalo do Vingador, da Caverna do Dragão.

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