segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Arthur Machen - O Mestre da Fantasia Obscura


"Dos Criadores vivos do pavor cósmico elevado ao seu 
mais alto expoente artístico, dificilmente poderá citar-se 
algum que se iguale ao versátil Arthur Machen".

H.P. Lovecraft 
- O Horror Sobrenatural na Literatura

Arthur Machen nasceu em Caerleon on Usk, no condado de Gwent, no Sul do País de Gales no ano de 1863. Nascido na fé anglicana ele foi batizado como Arthur Llewellyn Jones. Seu pai, John Edward Jones (Machen era o nome de solteira de sua mãe), foi um pastor anglicano, vigário da pequena igreja de Llandewi, perto de Caerleon, e o menino foi criado na reitoria de lá. Uma criança solitária, ele aprendeu primeiro a amar as encostas suaves do Riacho Soar, depois as fortalezas mais impressionantes nas Montanhas Negras que ficavam ao norte, e a leste a antiga floresta de Wentwood no remoto Vale do Severn. Embora ele apenas retornasse para Gwent no fim da vida, seu trabalho evocava continuamente as paisagens sombrias conhecidas em sua infância, um prelúdio para maravilhas e terrores inenarráveis.

A criança Machen também ficou encantada com as descobertas dos arqueólogos que escavaram sua terra natal. Na década de 1870 desenterraram estranhas esculturas pagãs e pedras com inscrições que datam da ocupação romana da região. O menino ficava maravilhado com cada uma dessas descobertas que pareciam brotar do solo escuro de Gales. O avô de Machen havia encontrado inscrições e esculturas romanas no cemitério de Caerleon, e a imaginação do menino foi capturada desde cedo pela sensação de que o solo em que pisava era assombrado por forças de um passado distante e ao mesmo tempo tão próximo. Mais que isso, havia uma estranheza tangível e pagã em cada artefato - uma sensação que lhe inspirou a escrever alguns dos seus melhores contos de ficção. O Deus romano-britânico Nodens, cujo templo foi escavado nas proximidades do Parque Lydney em sua infância, aparece em algumas de suas histórias de terror mais memoráveis.

Aos onze anos, o jovem Machen foi enviado para a Escola de Hereford Cathedral, onde recebeu esmerada educação nos clássicos. Ele era um aluno hábil, mas permaneceu indiferente, interessado mais nos caminhos do estranho e misterioso do que nas ciências. A literatura e a arte seriam o recurso para sua carreira vindoura. Depois de alguns falsos começos e após sua primeira publicação, os pais o persuadiram a seguir carreira no jornalismo. Em busca de afirmação profissional, ele foi morar no coração do Império Britânico.

Machen passou o início da década de 1880, em Londres, vivendo em solitariamente na vastidão da maior cidade do mundo. Tinha medo das aglomerações, receio dos ambientes cheios e lembrava com carinho do isolamento rural de Gales. Vivia em pobreza austera, residindo nos subúrbios remotos e sórdidos da metrópole. Em vez de fazer um esforço determinado para conquistar sua profissão, passava a maior parte do dia lendo e explorando à pé as vastas áreas da cidade, geralmente à noite. As paisagens urbanas passaram a fasciná-lo tanto quanto a Gwent de sua infância: ele se tornou colecionador de histórias e mitos, de fábulas e segredos de Londres. Viajava pelas ruas tortuosas e distritos afastados, observando com olhos experimentados, em busca do que havia de estranho, incomum e imperceptível na sociedade que o adotou.

Em 1884, produziu seu primeiro livro, The Anatomy of Tobacco, e encontrou uma editora de Covent Garden que aconselhou a ele mudar o nome para Machen. Na segunda metade da década de 1880, ele começou a emergir de seu isolamento. Realizou traduções de obras escritas em francês clássico e também trabalhou nos seu primeiros escritos no reino da ficção, a maioria das peças influenciadas pelo estilo romântico e gótico. Em 1887, seus pais morreram e, no mesmo ano, aos 24 anos, ele se casou com Amy Hogg, uma mulher independente, parte da cena literária londrina.


No final da década de 1890, sua escrita deu uma nova guinada: tornou-se agudamente contemporânea em idioma e interesse. Uma série de suas peças foram publicada em jornais e revistas; muitas das quais constituindo a base de sua ficção fantástica, ambientada no mundo que conhecemos, mas movendo-se para reinos de fantasia perturbadora. Suas obras cruzavam além dos limites impostos pelo mundo real; lidando com temática gótica, não muito longe do terror.

Em 1891, Machen havia mostrado que podia escrever ficção à maneira de contemporâneos de sucesso, como Arthur Conan Doyle e Robert Louis Stevenson; agora ele buscava uma conquista maior. Tendo recebido elogios, retirou-se para uma cabana afastada onde expandiu uma de suas primeiras peças, dando vida a seu primeiro conto de horror pagão: "O Grande Deus Pã". O conto foi aceito pelo editor John Lane, com ressalvas - "Não sei quem irã querer ler isso", teria dito, e publicado como uma série. Através dos excessos ousados ​​de sua obra, Machen tornou-se um dos "autores perigosos" do fim do século. Um daqueles autores cujas obras desafiavam a sociedade e erguiam diante dela um espelho onde a hipocrisia e injustiça podia ser vista em detalhes. Machen conheceu Oscar Wilde que o elogiou eloquentemente pela coragem e teor da prosa. Apoiado no escandaloso sucesso de "O Grande Deus Pan", Machen enveredou de vez pelos caminhos do terror e do fantástico. Não demorou até ele alcançar amplo reconhecimento do público, expoente de uma nova estética, igualmente decadente e fascinante.

O julgamento e a condenação de Wilde em 1895 (acusado de depravação), causaram uma virada contra o estilo em que Machen estava inserido. O ano também viu acusações histéricas contra a influência maligna de artistas também considerados degenerados. Machen e muitos outros jovens escritores sofreram perseguições e graves acusações. Ele não publicou nada por quase uma década.

Felizmente , Machen teve sucesso suficiente para se sustentar através desse período, e ainda continuar produzindo romances como "A Colina dos Sonhos", peças de poemas que acabaram sendo coletadas em "Ornamentos de Jade", as novelas sobre o espantoso "O Povo Branco" e "Um Fragmento de Vida", todas escritas nessa época.

Em 1898, voltou ao jornalismo e se tornou subeditor da Seção de Literatura do Times. Machen tinha bons motivos para trabalhar exaustivamente na segunda metade da década: sua fortuna estava minguando rapidamente e sua esposa, Amy, morria lentamente de câncer. Ela faleceu em 1899, e o marido devastado entrou em colapso nervoso. Machen vagava pelas ruas de Londres em devaneio, tal qual um personagem de sua própria ficção. O apoio de amigos foi essencial para que ele mantivesse a sanidade. Um destes colegas, o também autor, A.E.Waite, o convidou a se juntar à Ordem Hermética da Golden Dawn, uma confraria de estudos do oculto, famosos por praticarem magia ritual. Com nomes como W.B. Yeats e Aleister Crowley entre seus membros, a Golden Dawn parecia um reduto adequado para o autor que escrevia sobre aqeles temas. Contudo, Machen nunca se envolveu intimamente nas atividades do grupo ou em suas disputas internas. Ao invés disso, para enfrentar a crise existencial desenvolveu seu próprio cristianismo baseado nas crenças celta.


Em 1901 deu um passo improvável na sua carreira ingressando numa companhia itinerante de teatro. A companhia teatral ofereceu companheirismo e esperança ao homem enlutado e desgraçado, e ele aderiu com entusiasmo. Sua vida voltou aos trilhos e ele se casou novamente, permitindo assim retomar a alma do Contador de Histórias. Em sua nova fase ele se converteu numa espécie de campeão do misticismo e espiritualidade e adversário dedicado do materialismo. Lentamente, o clima moral que havia afetado tão desastrosamente o tipo de escrita de Machen, começou a se suavizar e, em 1906, muitos de seus melhores contos, e alguns novos, puderam ser finalmente lançados. Nessa fase, seu romance emblemático "A Colina dos Sonhos", talvez seu melhor trabalho, foi publicado.

Na casa dos quarenta anos de idade, Machen começou a buscar uma forma de existência mais estável, trabalhando em uma base experimental para jornais londrinos cobrindo religião, filosofia e nas artes. Cobriu escavações arqueológicas e expedições científicas importantes, até que a Grande Guerra estourou na Europa e lançou o continente num caos jamais visto antes. O grande confronto entre os exércitos britânico e alemão em Mons, em agosto de 1914, o inspirou a escrever um dos seus contos mais famosos, publicado no The Evening News. A história com o título "Os Arqueiros", descrevia arqueiros fantasmas dos dias da célebre Batalha de Agincourt, disparando suas flechas contra os alemães e evitando a derrota britânica. Ele afirmou que sua única fonte era sua própria imaginação; ainda assim, descobriu que havia um número significativo de pessoas que acreditavam que a história era baseada em fatos - que os "Anjos" realmente apareceram e lutaram pelos britânicos.

Com o sucesso estrondoso, Machen voltou à ficção, alcançando grande fama e reputação positiva. As  histórias da década de 1890 foram descobertas por uma geração de jovens autores que, após o fim da guerra, abraçaram sua estética refinada e pessimista. Ele cruzou o Atlântico e visitou os Estados Unidos, entrando em contato com novos entusiastas de seus escritos, mas não chegou a fazer fortuna.

Durante a maior parte da década de 1920, Machen e sua esposa viveram na elegante St John's Wood em uma casa comprada em época mais confortável. Eles eram famosos por suas festas, onde as "celebridades" atuais ficavam lado a lado com os "notórios" de ontem. Quando tinham dinheiro, gastavam, e provavelmente foi sorte terem reunido um círculo de amigos fiéis ao seu redor, dispostos a ajudá-los em sua velhice. O autor não escreveu muito nas décadas seguintes e se aposentou em relativa obscuridade voltando para o País de Gales onde morreu em 1947. 

Com sua morte, o interesse pela sua bibliografia se renovou e novas gerações descobriram o gênio do autor galês que tratou como ninguém as lendas de sua terra, traduzidas no idioma do terror.

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A boa notícia é que a Editora Clocktower, que conta em seu repertório com excelente material devotado a alguns dos maiores Mestres do Horror, está com uma Campanha de Financiamento Coletivo dedicada a Arthur Machen.

Anteriormente a Editora publicou alguns dos mais importantes trabalhos do Galês na Antologia "Arthur Machen - O Mestre do Oculto", mas agora a proposta é outra, mergulhar na Dark Fantasy e trazer as obras mais soturnas do autor. O gênero muito popular se caracteriza por histórias medievais (mas, nem sempre) que tem como pano de fundo o horror e uma sensação de decadência e luta pela sobrevivência em meio a perigos de todos os tipos. Certamente um fato incontestável é a dificuldade de delimitar as fronteiras que separam a fantasia do horror e as que as une. Então para isso, a edição vai contar com a inestimável participação de S.T. Joshi que ajudou a preparar a notável seleção de contos de fantasia sombria.

O livro contém os seguintes contos reunidos, muitos deles pela primeira vez em português:

- Um Fragmento de Vida
- O Retorno Triunfal
- O Ômega Exaltado
- A Estrada para Dover
- Os Arqueiros
- N

Trata-se de um material incrível, essencial para os fãs do Horror, mas também do gótico, do soturno e do perturbador. Uma oportunidade única de conhecer obras que até então, só estavam disponíveis na versão original em inglês. 

Não é de hoje que a Editora Clocktower, que granjeou um lugar de destaque entre os fãs do gênero, estabeleceu seu nome entre as mais confiáveis editoras dedicadas ao Horror e Fantasia. O trabalho dela tem sido irretocável, conquistando a confiança de um público cativo (e exigente) que está sempre ansioso por novidades. 

Extremamente recomendado em todos os aspectos!

Para obter mais detalhes desse fantástico Financiamento Coletivo (que já atingiu a META BASE!!!!) basta acessar o link abaixo:


2 comentários:

  1. MUITO BOM !...
    Continuem assim... FIRMES !...

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  2. acho que nunca li nada dele. se li não me recordo. mas parece ser um dos bons.

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