sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Necrosis revisitada - A mais terrivel doença do Mythos de Cthulhu



"Bom Deus, não!" gritou o médico ao se deparar com aquela coisa amorfa e rastejante. Era uma sensação insuportável e aquela blasfêmia precisava ser destruída. O médico ergueu o lampião acima de sua cabeça e a criatura se encolheu. Isso o deteve. Havia um brilho de inteligência e consciência nos olhos daquele ser abjeto. Algo... humano? Capaz de sentir medo, confusão e frustração. Algo que transbordava desespero. Ele compreendeu então que aquilo um dia fora uma pessoa. Alguém que apesar de reduzido àquela excrescência abominável ainda era capaz de entender, pensar e principalmente sofrer".

Nas sombras espreitam pessoas que ousaram se aventurar pelas mais negras formas de feitiçaria e as mais horrendas ciências ocultas. Buscam estes aventureiros dos caminhos escuros o poder e a imortalidade. Felizmente, a maioria desses esforços falham, resultando na própria obliteração que essas pessoas buscavam evitar. Poucos, entretanto, enveredam por um caminho de tamanha corrupção, que vai além do mais pérfido destino, e passam a existir em um estado de gradual apodrecimento.

Estudiosos do oculto rotularam tal condição Necrosis.

François Honoré-Balfour, o notório Conde D'Erlette em seu blasfemo tratado "Cultes des Goules" fala a respeito dessa horrível doença, chamando-a de "O Mal definitivo". Balfour devota um capítulo inteiro falando sobre o trágico destino de um nobre francês às vésperas da Revolução que se embrenhou pelos tortuosos caminhos da magia e contraiu a morbida condição arcana.


O mal é citado em outros tomos de conhecimento profano. O Revelações de Glaaki contém em seu primeiro volume uma grave advertência aos feiticeiros que comungam das bençãos de criaturas e entidades do Mythos. 

"Aqueles que vivem na presença de tais criaturas destituídas de humanidade, que se envolvem em sua adoração e devoção febril, que conspurcam o próprio corpo com rituais envolvendo tais seres, seja deles se alimentando ou com eles estabelecendo conjunção carnal, arriscam contrair a mais tenebrosa das doenças conhecidas pelo homem".

O próprio árabe louco, Abdul Al-Hazred menciona a tal condição arcana que ele chama alegoricamente de "Corrupção em Vida". Alguns biógrafos do funesto autor do Kitab Al-Azif chegaram a conjecturar que ele poderia sofrer desse mal degenerativo, ainda que a doença não tenha atingido os estágios mais avançados.

O notório iemita afirma que o vínculo com certas criaturas do Mythos pode ocasionar a contaminação com essa temida moléstia. Ele aponta em especial os Shoggoths e as Crias disformes de Abboth como vetores vivos, seres capazes da transmissão. Contudo muitos outros seres e entidades nefandas podem ser causadores da Necrosis. 

Dada a sua extrema raridade, não existe um estudo médico convencional a respeito da doença. Sequer é conhecida sua natureza patológica: se ela tem origem viral ou bacteriológica, cancerigena ou fúngica. O mistério é tamanho que não há qualquer consenso, o que reduz sensivelmente as chances de estabelecer um tratamento. Os poucos registros feitos por médicos a colocam numa categoria patológica desconhecida. 

Supõe-se que Necrosis esteja de alguma maneira ligada a energias místicas que são liberadas no momento que um feitiço é conjurado.  Quando um feitiço é mal executado, energias nefastas podem ocasionar o contágio, uma vez que tais energias são propensas a alterar a fisiologia do conjurador. Magias especialmente perigosas são aquelas que envolvem a trasformação corpórea e reintegração. 

Ao menos Necrosis não é transmissível de pessoa a pessoa e fica restrita ao organismo do contaminado. Nas palavras de Al-Hazred, "o fardo da magia é carregado por quem a invocou".

Pesquisadores do Mythos de Cthulhu debatem há séculos à cerca de uma cura para Necrosis, mas a grande maioria acredita que não existe nada capaz de operar esse milagre. Contudo, alguns poucos afirmam que as lendárias placas em posse da entidade Ubbo-Sathla contém uma fórmula capaz de purificar o corpo dos efeitos danosos de Necrosis. Obter esses tabletes conhecidos entre os iniciados como as "Antigas Chaves", constitui a mais perigosa das tarefas. Muitos magos de enorme poder tentaram e falharam ao longo das eras. Há rumores também de que o Culto do Deus Esfolado, sediado na Turquia possuiria o conhecimento necessário para curar a doença usando um artefato em sua posse, mas essas alegações jamais foram comprovadas.

Necrosis é uma doença degenerativa que age rapidamente. A princípio, os sintomas não são perceptíveis exceto através de uma inspeção criteriosa que revela alterações em algumas funções corporais, tais como respiração. Pequenos detalhes, como o piscar de olhos se tornam cada vez menos frequentes. A temperatura corporal acompanha a temperatura do ambiente onde o indivíduo se encontra. 

Um tênue odor é perceptível quando se está próximo da pessoa, como se o corpo exalasse um cheiro de corrupcao indisfarçável. Há uma estranha palidez doentia nos membros.  Encontrar uma pessoa neste estágio inicial de Necrosis, ocasiona a perda de 0/1 SAN, sendo perceptível apenas após o primeiro mês.

Após três meses, a condição se intensifica. Partes do corpo começam a sofrer descoloração e inchaços, embora não haja real ganho de peso. De fato, o corpo da pessoa parece, de alguma forma diminuis, mas esse pode ser o resultado do encurvamento corporal. O odor ofensivo se torna mais forte e pode ser sentido mesmo à distância. Os olhos do indivíduo se tornam amarelados,  embaçados e fundos. Os dentes começam a cair por avançada podridão, cabelos também vão rareando e a voz se torna roufenha. O indivíduo, sem dúvida, precisa cobrir partes do seu corpo a fim de não alarmar os outros. A sanidade por ver uma pessoa neste estágio é de 0/1d3.


O estágio seguinte inicia-se cinco meses apos o contágio. Luz do sol começa a incomodar a pessoa, e ela tenta de todas as formas se manter longe da claridade. Partes do corpo perdem sua forma e estrutura original, e mesmo ossos tomam um consistência esponjosa. A pele escurece, adquirindo um tom azulado, como se estivesse coberta de hematomas. A fala se torna nada mais do que um gorgolejar uma vez que a maior parte da boca e a lingua há muito se degradaram. O movimento é restrito pela atrofia nas pernas.

O odor em volta da pessoa é aviltante, como o de uma grande quantidade de carne apodrecida, e só pode ser disfarçado por enormes quantidades de água de colônia ou perfume. A face é terrível de ser contemplada como a de uma vitima de lepra. Além da descoloração e alterações nas feições, há secreções purulentas escorrendo sob a pele descamada. A não ser que extremo cuidado seja tomado, um rastro desses fluídos é deixado após a passagem da pessoa. A perda de sanidade por encontrar um indivíduo neste estágio de Necrosis aumenta para 1/1d6.

O estágio crônico da doença sobrenatural transforma a vítima e tem início nove meses após o contágio. Apenas roupas pesadas (capa, sobretudo e chapéu) podem disfarçar as evidências. O indivíduo, agora, se move rastejando, já que há poucos ossos em seu corpo. Braços e pernas atrofiaram até metade de seu tamanho original e terminam em garras alongadas. Uma trilha de limo cáustico é deixado por onde ele passa. É impossível a comunicação através da fala. A monstruosidade é aumentada e conseqüentemente a perda de sanidade por encontrar tal criatura é de 1/1d8.

O estágio final de Necrosis, que ocorre cerca de um ano após contrair o mal é deplorável. O indivíduo não pode mais ser encarado como um ser humano. Semelhante a uma criatura do Mythos, a pessoa torna-se uma pilha proto-plásmica viva, pulsando, gotejando e parecendo desmanchar. Estruturas amorfas semelhantes a braços vestigiais estendem-se da massa. Os resquícios de sua cabeça ainda podem ser discernidos, embora o reconhecimento facial se torne impossível. Qualquer fonte de luz inflige dor na taxa de 1 ponto de dano por rodada. 

A massa da criatura se decompõe, mês a mês, até que tudo o que resta é uma mancha putrida, que evita a claridade a todo custo rastejando para longe dela. Neste estágio, aqueles que o vêem sofrem uma perda de sanidade de 1d3/1d10. 

Talvez o maior dano à sanidade seja o reconhecimento de que essa coisa medonha um dia foi um ser humano. Ter conhecido a pessoa, transformada em tal "coisa" pode agravar a perda de sanidade conforme o mestre achar adequado.

A condição se encerra com a criatura se desfazendo, entre 12 e 15 meses após o contágio original. Dor e sofrimento extremos são uma constante na existência atroz desse indivíduo. Por essa razão, muitos feiticeiros simplesmente abreviar seu sofrimento provocando a própria morte antes que os efeitos se intensifiquem.

Atributos e Ajustes

FORça -1 a cada mês
CONstituição -1 a cada mês
TAManho -2 a cada três meses
INTeligencia não é afetada
PODer +1 a cada mês
DEStreza -1 a cada dois meses

O decréscimo dos atributos vai até o limite mínimo de 5. 

Pontos de vida: varia com a perda dos atributos.

Ataques: Toque 25% - dano corrosivo 1d3, nos estágios terminais o dano corrosivo aumenta para 1d6. 

Garras 40%, 1d6 +db

Armadura: 1 ponto de matéria putrefata a cada 2 pontos de TAM perdido.

Feitiços: as magias que o mago possui em vida se mantêm.

Habilidades: uma pessoa sofrendo de Necrosis retém seus conhecimentos pré-existentes à doença. Entretanto, com a deterioração tornando-se mais grave, pode ser impossível utilizar certas habilidades, principalmente as motoras e físicas.

4 comentários:

  1. Gosto do seu blog, leio contante mente quando mestro call of cthulho, estou mestrando uma campanha de call of cthulho pela primeira vez, não tenho muita experiência na areia, pode dar alguma dica?

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    1. Opa MLC Genaro, obrigado.

      Aqui no Blog tem postagens para mestres que estão começando com dicas. Procura na aba "Dicas de Jogo".

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  2. Essas estatísticas da "doença" para RPG você encontra onde? No livro base ou em material adicional?

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