terça-feira, 13 de março de 2018

Carniceiros do Mundo Vegetal - Anatomia dos Triffids


"Ele inspecionou a haste e o caule lenhoso que ocupava a extremidade da árvore. Deu atenção aos três galhos que surgiam nos lados do tronco. Acariciou suavemente entre os dedos as folhas verdes coreáceas, como se a textura pudesse dizer-lhe algo. Então dedicou atenção a curiosa formação em forma de flor no topo do caule. Aquela taça cônica, semelhante a uma orquídea, era como uma boca e possuía uma garganta profunda. Na base de seu corpo havia uma espécie de samambaia ou trepadeira comprida gotejando uma substância pegajosa, ali havia moscas e outros pequenos insetos presos lutando para escapar.



O tronco era desgrenhado coberto com pequenos cabelos radiculares. Teria sido quase esférico não fossem estruturas bruscamente cônicas que se estendiam da parte inferior. Como suporte, esse corpo principal se erguia a cerca de 30 centímetros do chão e se sustentava nesses pés rudimentares. Movia-se como um homem usando muletas. Em cada "passo", o tronco arquejava violentamente para frente e para trás.

O maior espécime já observado nos trópicos tinha mais de dez metros de altura"

— John Wyndham, "O Dia dos Triffids"

"The Day of the Triffids" é uma novela de ficção científica pós-apocalíptica, escrita por John Wyndham em 1951. Nela um meteoro cai na Terra provocando o surgimento de uma espécie vegetal carnívora e dotada de consciência que entra em guerra com a humanidade. Considerado o trabalho mais importante de Wyndham, "Day of the Triffids" é considerado um dos 10 maiores clássicos da ficção, adaptado várias vezes em rádio dramas, televisão e cinema. No Brasil, ele recebeu o título "O Terror veio do Espaço".


Triffids são formas de vida vegetal alienígenas cuja origem permanece indeterminada.

Os primeiros espécimes chegaram à Terra através de um fenômeno astronômico no qual uma inusitada chuva de meteoros se precipitou em nossa atmosfera trazendo o que poderiam ser consideradas sementes. O fenômeno, percebido mundialmente causou enorme comoção, uma vez que a luminosidade da chuva de meteoros ocasionou um terrível efeito colateral nos observadores, muitos dos quais ficaram permanentemente cegos. Os danos ao nervo ótico causaram a cegueira temporária de aproximadamente 50% das testemunhas, sendo que destas uma porcentagem de pelo menos 30% jamais recuperaram o sentido da visão.

Com efeito, o fenômeno marcante desencadeou uma grave crise e deu início a um período de grande perturbação da ordem pública e social. 

Enquanto o caos se instalava nos grandes centros urbanos, com saques, agitações e revoltas, os meteoros que se precipitaram despejaram seu conteúdo no ecossistema. Não se sabe ao certo se os Triffids se adaptaram ao ambiente - assumindo a forma de plantas, ou se eles estavam ligados originalmente ao reino vegetal, fato é que as sementes se desenvolveram rapidamente.

Os primeiros triffids surgiram em regiões isoladas cobertas por densas florestas e selvas do planeta. Tudo indica que eles encontraram nesse ecossistema as condições ideais para seu pleno desenvolvimento. Acredita-se que tenha levado cerca de quatro anos até os primeiros espécimes atingirem o estado adulto e começarem a ser percebidos como uma forma de vida até então desconhecida.

Triffids são criaturas vegetais e como plantas se alimentam de luz e precisam de água para se desenvolver. Até atingir a idade adulta eles criam raízes e as utilizam para coletar nutrientes do solo, suas folhas também auxiliam na realização da fotossíntese como ocorre com qualquer planta terrestre. Enquanto nesse estado "enraizado" os triffids não são capazes de locomoção.

Quando atingem determinado desenvolvimento, crescem até cerca de 2 metros de altura - ou mais em áreas propícias. Os Triffids então iniciam o segundo estágio de sua existência. As raízes são recolhidas e a criatura desenvolve estruturas cônicas semelhantes a pernas nas quais passa a se equilibrar. Essas estruturas possuem o que pode ser comparado a um esqueleto robusto feito de madeira que concede a sustentação necessária ao conjunto. Uma vez desenvolvidos, esses apêndices garantem sua mobilidade. Um triffid se desloca de maneira desajeitada, distribuindo o peso de seu corpo sobre três pernas dispostas em triângulo. Eles são comparativamente lentos diante dos humanos, mas são incansáveis, podendo empreender longos períodos de movimentação sem a necessidade de descanso.

Ao atingir a idade adulta um triffid também desenvolve uma espécie de cortina de plantas semelhantes a samambaia que se estende da base de seu corpo até o chão. Essas plantas produzem uma substância adocicada que atrai insetos que ficam grudados na seiva. Uma vez capturados, estes são levados a pequenos tubos para serem absorvidos e transformados em energia para a planta. Em caso de necessidade, um triffid pode simplesmente deixar suas raízes crescerem novamente e se estabelecer em uma área cujo solo é rico em água e sais minerais.

Triffids se reproduzem de forma assexuada, criando bainhas semelhantes a vagens. Esses frutos são carregados de sementes que quando se dispersam em solo fértil conseguem se desenvolver por conta própria. O ciclo reprodutivo ocorre uma vez por ano e um espécime adulto pode dar origem a uma família de 5 a 10 indivíduos de uma vez só. Triffids não cuidam de sua prole e tendem a simplesmente abandoná-la depois desta se fixar no solo.

Na natureza, Triffids tendem a se camuflar com maestria, se misturando ao ambiente escolhido, permanecendo imóveis, por vezes enraizados ou até parcialmente enterrados no solo. Uma vez ocultos dessa forma é difícil ao observador casual perceber sua presença. 

Triffids não possuem olhos, mas são sensíveis a qualquer perturbação do solo ao seu redor, eles podem perceber a aproximação de outra forma de vida a até 100 metros captando seus passos no chão. Triffids também desenvolveram um sistema semelhante a audição, que lhes permite captar através de pedúnculos cobertos de cerdas no topo de seu corpo ondas sonoras. Eles são perfeitamente capazes de interpretar esses sons e reconhecer padrões. Eles podem, por exemplo, reconhecer os sons de atividade humana. Triffids não conseguem falar, mas possuem um tipo de comunicação rudimentar entre si que envolve usar galhos para raspar em seu tronco, produzindo sons discerníveis. Interpretando esses padrões, os triffids podem transmitir informações de uns para os outros. Cientistas tentando interpretar e reconhecer esses sons não obtiveram resultados satisfatórios, aparentemente triffids não respondem a outras espécies tentando reproduzir essa modalidade de comunicação.

Triffids costumam criar emboscadas permanecendo imóveis pacientemente em meio a folhagem, até uma presa em potencial se aproximar. Eles costumam atacar de surpresa com rapidez e precisão letal. 

O método favorito de ataque do Triffid envolve o uso de uma gavinha que permanece enrolada no interior de um tubo semelhante a uma orquídea no topo do caule. Essa gavinha é bastante longa, com um alcance de até 3 metros, sendo muito rápida e resistente. A comparação inevitável é com um chicote que se desprende produzindo um estalo característico. A gavinha possui em sua ponta um único espinho - ou ferrão, de 15 centímetros. Esse espinho é oco, preenchido por uma substância venenosa de ação rápida. Uma vez atingindo o alvo, o espinho imediatamente dispersa uma dose de toxina suficiente para atordoar o alvo. Uma pequena quantidade basta para derrubar um homem adulto. Para potencializar a eficiência da toxina, o Triffid costuma visar seu ataque na cabeça ou então nos olhos de sua presa. Uma vez na corrente sanguínea os efeitos começam a ser sentidos quase imediatamente: Convulsões, taquicardia, náusea e falta de ar são efeitos comuns. Em muitos casos, a vítima também perde a capacidade motora, os membros não reagem e ele fica cego. Sequelas permanentes são frequentes naqueles que conseguem sobreviver ao ataque. A morte ocorre por falência respiratória em aproximadamente 30 minutos.

O veneno do triffid perde sua potência rapidamente depois de exposto no ar, o que dificulta seu estudo. As amostras colhidas apontam que se trata de um equivalente potencializado da cicotoxina, substância semelhante a encontrada na raiz da cicuta. Não existe um antídoto conhecido.

Depois de disparar o ferrão, este é recolhido e enrolado novamente no interior do tubo floral onde recebe uma nova dose de veneno. O processo pode levar alguns minutos. Se a gavilha for cortada, o triffid perde seu modo de ataque principal, contudo a estrutura pode se regenerar, crescendo novamente em um ou dois anos.

Triffids são predadores que se alimentam de carne. Embora possuam outras formas de obter nutrientes, eles escolhem se alimentar de formas de vida animal. Uma criatura atingida pelo ferrão venenoso tende a não se afastar muito e quando o Triffid percebe ter feito uma vítima, reclama seu prêmio se aproximando e aguardando ao lado dele. O Triffid espera até o cadáver se deteriorar, condição ideal para que ele comece a se alimentar dele. Criando pequenos ramos cobertos de espinhos, o Triffid começa a rasgar a carcaça arrancando pedaços inteiros de carne levados até a estrutura em forma de flor no topo do caule. Os pedaços são empurrados pela "garganta" e alojados em bolsas internas responsáveis pela digestão. Ossos e substâncias não dissolvidas, como roupas de couro ou sintéticos, são evacuados pela mesma abertura. Um triffid pode levar até três semanas para dissolver um homem adulto, período em que prefere ficar inativo fixando suas raízes. No período em que estão deglutindo alimentos em seu interior, Triffids produzem flores que dispersam no ar um fedor nauseante de carne apodrecida.

Triffids não costumam lutar, valendo-se exclusivamente de seus ferrões para atacar e se defender. Sabe-se, entretanto de alguns espécimes capazes de desenvolver ramos com espinhos que agarram e contém suas presas.

Muito se debate a respeito da inteligência dos Triffids, mas é consenso que eles são capazes de perceber e interagir com o mundo a sua volta. As plantas carnívoras também são capazes de lembrar e memorizar detalhes, ficando óbvio que são dotados de inteligência rudimentar. Espécimes sujeitos a armadilhas, por exemplo, conseguem aprender como elas funcionam e passam a evitá-las. Estudos apontam para uma estrutura social bem desenvolvida entre os membros da espécie. Pesquisadores observaram que removendo os galhos usados para comunicação, o resultado é uma lenta, porém gradual deterioração do Triffid que invariavelmente leva a morte.

Alguns espécimes de triffids se mostraram vulneráveis a soluções salinas que uma vez em seu organismo tem efeito similar a um veneno debilitante. Sendo formas de vida vegetais, Triffids também se mostram vulneráveis a compostos químicos como herbicidas e desfolhantes industriais do tipo fenoxil TCDD. Eles também são vulneráveis a fogo, muito embora o rumor de que eles podem ser afastados por tochas e fogueiras seja um grande exagero. Triffids não gostam de fogo, mas não são repelidos por ele. Se expostos ao frio, Triffids tendem a entrar em um estado de letargia lançando suas raízes no solo para suportar os rigores da estação. Quando o clima começa a mudar e as temperaturas caem, as criaturas empreendem uma espécie de migração para zonas mais amenas e úmidas do planeta. 


Triffids produzem uma substância oleosa de coloração rósea púrpura altamente nutritiva e com grande valor industrial. Esse óleo vegetal pode ser utilizado como componente em conservantes, tinturas, em beneficiamento do solo e outras atividades se mostrando muito valioso. Ingerido ele possui alto teor calórico e nutritivo. Curiosamente a qualidade desse óleo diminui quando a toxina é eliminada ou a gavilha é podada. Extrair o óleo em sua qualidade superior, portanto envolve interagir com um triffid potencialmente letal.   

A existência dos Triffids é mencionada em alguns poucos tomos esotéricos a respeito de formas de vida alienígenas como o Manuscritos Pnakóticos e nas Escrituras de Ponape. Existem teorias de que os Triffids sejam parentes distantes das criaturas coníferas que comportam a consciência dos Yithians em um passado remoto.

O enigmático Manuscrito Voynich menciona brevemente os Triffids em meio a outras plantas alienígenas em desenhos rudimentares. A origem dessas criaturas, no entanto, é desconhecida e pode permanecer indeterminada para sempre.


Tribos de Tcho-Tcho veneram essas plantas carnívoras como seres superiores, chamando-os Klaaktuk rendendo adoração ao monstruoso "Buna Klaaktuk", o "Pai de todas as plantas devoradoras de carne" como uma verdadeira divindade. Feiticeiros Tcho-Tcho na Ásia tem as plantas como presentes dos deuses e seres mágicos vindos do além. Alguns destes feiticeiros se tornam imunes ao veneno e compartilham com as plantas os seus detestáveis hábitos alimentares, devorando cadáveres apodrecidos em ceias profanas.

Os feiticeiros usam as plantas, sobretudo hastes, galhos e folhas para criar ornamentos e roupas cerimoniais, além de instrumentos musicais, armas e utensílios. Alguns rituais dos Tcho-Tcho envolvendo os Triffids possuem uma profunda simbologia que inclui o auto-sacrifício. Nessa modalidade, feiticeiros aceitam ser engolidos inteiros acreditando que após a lenta digestão, seus espíritos reencarnarão como Triffids. Essa (dúbia) honraria é reservada apenas aos membros mais importantes da tribo.

TRIFFIDS, Plantas Carnívoras vindas de longe

FORça                3d6      50-55 
CONstituição     3d6      50-55
TAManho           4d6      65-70
DEStreza            5d6      75-80
INTeligencia      2d6      35-40
PODer               1d6      20-25

HP: 12

Bônus de Dano: +0
Build: +0
Pontos de Magia: 4

ATAQUES: Triffids atacam lançando suas gavinhas à distância, procurando atingir os olhos ou a face. Na ponta da gavinha ele possui um espinho ou ferrão contendo em seu interior oco um veneno de ação rápida. Uma vez atingido pelo ferrão, a vítima deve testar a sua CON. Perdendo a disputa o veneno causa cegueira permanente e ocasiona 1 HP de dano por minuto. Se a vítima passar no teste, ela não fica cega, mas perde 1 HP por minuto. Máscaras de proteção facial e trajes cobrindo o corpo são geralmente suficientes para evitar o ataque dos triffids. Triffids sem o ferrão são relativamente pouco equipados para enfrentar humanos, mas eles podem tentar fazer ataques com galhos e hastes.  

Ataques por rodada: 1

Ferrão Venenoso 40%, dano 1d4 + veneno

Lutar 50%, dano 1d3

Habilidades: Furtividade 80%, Ouvir 80%, Rastreamento 75%

Armadura: Armas capazes de Empalar causam o menor dano possível em um Triffid. Ataques direcionados a gavilha com o ferrão são realizados com metade da chance normal. Desfolhantes, herbicidas, frio, bem como fogo, eletricidade e ácidos afetam a criatura normalmente.  

Sanidade: 0/1d6 pontos de sanidade por ver um Triffid

Um comentário:

  1. Sensacional!!! Queria muito participar de uma aventura em pleno periodo colonial contra essas aberrações do espaço. Texto excelente, como sempre...

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