Dizem que o amor nunca morre, e talvez o mesmo possa ser dito da obsessão.
Um homem chamado Carl Tanzler possivelmente levou o que ele considerava amor - ou que talvez fosse apenas obsessão, longe demais.
Tanzler era um médico dedicado e um sujeito realmente apaixonado por uma mulher chamada Elena Milagro de Hoyos que tornou-se sua paciente. O ano era 1930 e o médico se apaixonou perdidamente assim que conheceu a jovem. Contudo, a tragédia os atingiria, já que um exame revelou que ela sofria de uma doença grave e tinha pouco tempo de vida.
Carl sempre foi um homem estranho.
Primeiro havia a questão de seu nome. Quando ele imigrou da Alemanha para a América com sua esposa e dois filhos, ele usava o nome de Carl Tanzler, mas no novo mundo decidiu adotar o título aristocrático de Conde Carl Tanzler von Cassel. Ele não era realmente um Conde, tampouco um nobre. Não se sabe exatamente em que circunstâncias ele deixou a cidade alemã de Nuremberg, mas alguns especulavam que na Europa ele havia se envolvido em algum escândalo envolvendo ética profissional.
A bem da verdade, muitos questionavam até mesmo se ele realmente tinha formação como médico, mas isso não o impediu de abrir um consultório e obter uma clientela bastante seleta nos Estados Unidos. Quando conheceu Elena ele já havia completado 50 anos e seu casamento estava por um fio. Tanzer decidiu pedir o divórcio, abriu mão da guarda dos filhos e de sua bela casa em Key West na Flórida. Ele relatou que nutria uma fantasia desde a infância: a de um dia casar com uma mulher morena que estaria destinada a ser seu "verdadeiro amor". Ele sonhava constantemente com essa mulher misteriosa e quando conheceu Elena acreditou que era ela.
Maria Elena Milagro de Hoyos era uma bela moça de origem cubana com apenas 21 anos de idade. A família havia feito fortuna com produção agrícola e imigrou para Miami com o objetivo de buscar tratamento para as frequentes crises respiratórias que afligiam a filha. O diagnóstico foi o pior possível, Elena sofria de tuberculose, doença que em 1930 muitas vezes se provava fatal.
Contrariando todas as regras, Tanzler se dispôs a tratar da doença e encontrar uma maneira de salvá-la. Ele colocou em prática um tratamento bizarro que envolvia um regime de tônicos caseiros e de raios x, usando equipamentos que removeu de uma unidade de radiologia e instalou na casa dos Hoyos. O tratamento envolvia sessões com doses maciças de radiação, imersão em banheiras com gelo e estranhas fórmulas químicas que eram injetadas diretamente na corrente sanguínea da paciente. Tanzler garantia a Elena e aos seus pais que aquele tratamento era a única maneira de salvá-la e por algum tempo, eles acreditaram.
Mas é claro, os métodos empregados acabaram causando mais danos do que benefícios.Quando Elena morreu em outubro de 1931 depois de meses de tratamento, o médico não conseguia suportar a dor. Ele mandou construir um elaborado mausoléu de mármore em honra de Elena e pediu autorização para transferir o corpo dela para esse lugar. Disse que queria visitá-la e a família acabou atendendo ao pedido.
Contudo, os planos do Dr. Tanzler eram bem diferentes. Ele não pretendia homenagear Elena, e sim trazê-la de volta dos mortos usando para isso os meios de reanimação que estivessem ao seu alcance. Secretamente ele roubou o cadáver de sua amada da tumba e o levou para casa. Lá ele fez o possível para preservá-la usando produtos químicos e líquidos de embalsamar que manteriam ao menos a sua aparência intacta, afastando a deterioração.
O médico empregou todos os seus recursos para construir um laboratório moderno em uma área isolada e se mudou para lá. O propósito era reverter os efeitos da morte física. Usando componentes químicos, eletricidade e outros métodos estranhos ele acreditava ser capaz de encontrar uma maneira de restituir a fagulha de vida que havia sido extinta no corpo de Elena.
Suas experiências, entretanto não progrediam como esperado e o sucesso lhe escapava.
Apesar disso, Tanzler estava contente em viver ao lado do cadáver. Ele a arrumava, vestia e penteava diariamente como se ela estivesse viva. Também conversava com ela, lia o jornal e contava como havia sido o seu dia. A vida de faz de conta do médico prosseguiu dessa forma por sete anos. Ele chegou ao ponto de raspar os cabelos de Elena e fazer uma peruca. Pintava suas unhas, aplicava maquiagem e a tratava como sua esposa.
É claro, ele também compartilhava sua cama com o cadáver todas as noites. Não se sabe quando ele se tornou um necrófilo e teve sexo com sua noiva cadavérica, mas é certo que o fez. Um tubo de plástico foi inserido na cavidade vaginal do cadáver.
Tanzler mais tarde contou que um dos seus planos era construir um emissor de ondas que coletaria radiação espacial na estratosfera a fim de "restaurar a vida e encerrar o estado de sonolência de sua esposa".
Ele nunca teve a chance de colocar esse experimento em ação. Depois de sete anos, vivendo com a múmia preservada, os vizinhos começaram a suspeitar que havia alguma coisa errada. Alguns ouviam ele falando sozinho com uma pessoa que nunca era vista. Tanzler comprava roupas femininas e mandava lavá-las frequentemente. Havia um cheiro insuportável de formol que o acompanhava e que empesteava o ar ao redor da casa.
Certo dia, quando ele estava fora, um incêndio acidental atingiu sua casa. Os vizinhos chamaram os bombeiros e estes arrombaram a porta acreditando que alguém podia estar desacordado com a fumaça. Não encontraram ninguém... ao menos ninguém vivo. O cadáver de uma mulher muito bem preservado estava sentado em uma poltrona com o rádio ligado, segurando um livro de poesia no colo como se a vida tivesse escapado recentemente.
Tanzler foi preso assim que retornou. Sua preocupação, segundo testemunhas, era saber como estava a sua esposa e se ela havia se ferido. Ele se acalmou apenas quando as autoridades garantiram que Elena havia sido retirada em segurança da casa em chamas.
O corpo mumificado da jovem foi recebido em uma casa funerária onde mais de seis mil pessoas a visitaram antes que ela fosse levada de volta ao Cemitério de Key West. Ela foi colocada em uma sepultura não identificada para evitar que fosse perturbada novamente.
Tanzler enfrentou uma acusação de roubo de túmulo, mas uma vez que o crime havia atingido a prescrição ele acabou sendo liberado. Ainda assim, recebeu tratamento psiquiátrico por quase dois anos em uma instituição mental.
Surpreendentemente a comunidade de Key West não o desprezou, muitas pessoas, na época, especialmente mulheres, o consideravam um romântico excêntrico. Ele chegou a requisitar que o estado lhe devolvesse o corpo da "esposa", mas o pedido foi negado repetidas vezes. Tanzler chegou a ser preso vagando pelo cemitério tentando identificar onde Elena estaria enterrada.
No fim de sua vida, ele se mudou para a Califórnia onde supostamente construiu um modelo de seu grande amor, com quem dividiu seus últimos anos.
Por muito tempo rumores persistiram a respeito de Tanzler ter conseguido de alguma maneira trocar o seu modelo e recuperar o corpo de Elena de sua sepultura secreta. Ele teria deixado instruções para ser enterrado ao lado de sua companheira, mas o pedido não foi atendido.
Que sinistro isso!! Pra gente ver que a humanidade sempre foi doentia
ResponderExcluirÓtimo artigo.
ResponderExcluirMuito bom mesmo o artigo. E realmente uma história fascinante, de amor e de loucura.
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