"E por que te surpreendo com meus atos?
Não fui eu também gerado, criado e amado?
Saiba que o leite materno que nutre os heróis,
também sustenta os vilões."
Continuando o artigo sobre os abomináveis crimes cometidos pelo monstro Jeffrey Dahmer, também conhecido como "O Canibal de Milwaukee".
Dahmer nunca negou que uma das razões para matar e manter os corpos de suas vítimas em seu apartamento era poder desfrutar da companhia deles. Mais que isso, ele os devorava. O maníaco em seu devaneio acreditava que dessa maneira as pessoas voltariam a viver através dele. Essa prática também concedia, em suas palavras, "uma sensação de complexão", como se apenas dessa maneira as vítimas pudessem ser suas para todo sempre. Os crimes de Dahmer não eram sobre satisfação de desejos, intimidade ou mesmo luxúria, eles tinha a ver com controle total e irrestrito. Ele desejava poder ter para si aquelas pessoas, se não em corpo presente, ao menos simbolicamente.
O maníaco experimentou vários temperos e amaciantes para tornar a carne humana mais tenra, suculenta e saborosa. Ele preferia os bíceps, as panturrilhas e as nádegas, mas experimentou muitas outras partes. Comer carne humana pela primeira vez causou-lhe uma ereção. Seu famoso freezer continha tiras de carne congeladas cortadas como filé mignon. Ele havia tentado sangue humano também, mas o gosto não agradou ao seu paladar.
Assim como o maníaco Ed Gein, Dahmer tentou aperfeiçoar a arte da preservação e taxidermia para que pudesse interagir com os corpos por mais tempo. Ele visava atingir um estado de arte com as suas vítimas.
Em sua busca por controle, ele não podia tolerar rejeição ou abandono, tais sentimentos causavam uma confusão mental devastadora em sua psique. Mesmo em seus relacionamentos homossexuais fortuitos, ele não queria agradar seu parceiro sexual, ele só queria ter seu próprio prazer. E prazer para Dahmer significava praticar sexo com um parceiro, estivesse ele vivo ou morto.
Essa necessidade mesquinha por controle o levou por caminhos muito estranhos. Um deles envolveu uma espécie de lobotomia que ele realizou em várias de suas vítimas. Uma vez drogados, ele perfurava um buraco em seus crânios através do qual injetava um pouco de ácido muriático diretamente em seus cérebros. Isso causou a morte imediata em algumas vítimas, mas supostamente funcionou minimamente por alguns dias em outras, antes delas morrerem. O objetivo disso era fazer com que as vítimas perdessem a vontade e quisessem ficar com ele, uma vez perdidas e confusas. Dahmer tentou o ácido muriático, mas como os efeitos não foram os desejados, buscou alternativas. A mais simples foi despejar água fervente diretamente no cérebro de uma de suas vítimas impotentes.
Não surpreendentemente, sua necessidade de controle o levou a brincar com o satanismo. Na verdade, ter os corpos de suas vítimas ao seu redor o fazia se sentir "mal". "Tenho que questionar se existe ou não uma força maligna no mundo e se fui ou não influenciado por ela. Embora não tenha certeza se existe um Deus", disse Dahmer, "Também não estou certo se existe um demônio, Eu sei que ultimamente tenho pensado muito sobre ambos." Ele tinha planos de criar um santuário em seu apartamento, com todos os seus troféus. Seria uma espécie de altar ladeado com crânios e esqueletos humanos, tendo incenso queimando, para que ele pudesse receber "poderes e energias especiais para ajudá-lo social e financeiramente."
A perversidade de Dahmer parecia não conhecer limite, mas a grande questão é: Como surgiu um monstro como Jeffrey Dahmer? Como um homem se torna um serial killer, necrófilo, canibal e psicopata? Muito poucas respostas convincentes são apresentadas, apesar de uma enxurrada de livros se proporem a entender o problema.
Muitas das teorias nos fazem acreditar que as respostas podem ser encontradas no abuso infantil, maus pais, traumatismo craniano, alcoolismo fetal e dependência de drogas. Talvez, em alguns casos, esses sejam fatores contribuintes, mas não para Jeffrey Dahmer.
Seu pai, Lionel Dahmer, escreveu um livro muito triste e comovente chamado "A Father's Story", que explora o fenômeno muito comum de pais que tentam desesperadamente dar a seus filhos uma boa educação e descobrem, para seu horror, que seu filho construiu um muro alto em torno de si mesmo. Nesse caso a sua influência é progressivamente excluída. "É um retrato do pavor dos pais... a terrível sensação de que seu filho escapou do seu alcance, que seu garotinho está girando no vazio, rodopiando no turbilhão, perdido, perdido, perdido", ele escreveu em seu livro.
Lionel parece ser bastante direto ao reconhecer as influências negativas na vida de Jeff. Nenhuma família é perfeita. A mãe de Jeff tinha várias doenças psicossomáticas e parecia ser neurótica, tendo abusado de drogas prescritas mesmo quando estava grávida. Isso pode ter afetado o feto? Com certeza, mas isso explica a vida desregrada de Dahmer e aquilo no que ele se transformou? Difícil dizer...
Lionel, um químico que obteve seu Ph.D., permanecia no trabalho mais do que deveria para evitar tumultos em casa. Eventualmente, o casamento se dissolveu num divórcio hostil quando Jeff tinha dezoito anos. No entanto, nenhuma dessas discórdias domésticas comuns explicam assassinatos em série, necrofilia ou outros comportamentos bizarros. O irmão mais novo de Dahmer teve uma vida normal e produtiva, até onde pode ser normal ter parentesco com um assassino em série.
Para tentar entender a gênese desse monstro, talvez seja necessário mergulhar em sua origem e procurar indícios de sua perversidade quando ela ainda não havia se cristalizado.
Jeff Dahmer nasceu em Milwaukee em 21 de maio de 1960, filho de Lionel e Joyce Dahmer. Era uma criança desejada e adorada, apesar das dificuldades da gravidez de Joyce. Ele foi uma criança normal e saudável, cujo nascimento foi motivo de grande alegria para os pais. Quando pequeno era um jovem feliz que adorava coelhinhos de pelúcia, blocos de madeira e carrinhos. Ele também tinha um cachorro chamado Frisky, seu animal de estimação de infância.
Apesar de um número maior do que o normal de infecções de ouvido e garganta, Jeff se tornou um menino saudável. Seu pai relembrou o dia em que eles soltaram de volta à natureza um pássaro que os três haviam curado de uma lesão: "Eu embalei o pássaro em minha mão em concha, levantei-o no ar, depois abri minha mão Todos nós sentimos um prazer maravilhoso. Os olhos de Jeff estavam arregalados e brilhantes." Pode ter sido o momento único e mais feliz de sua vida. A família havia se mudado de Iowa, onde Lionel estava trabalhando em seu doutorado. na Universidade Estadual.
Quando Jeff tinha quatro anos, seu pai varreu de debaixo de sua casa os restos de alguns pequenos animais que haviam sido mortos. Enquanto seu pai juntava os minúsculos ossos de animais, Jeff parecia "estranhamente emocionado com o som que eles faziam. Suas pequenas mãos cavavam fundo na pilha de ossos. Não posso mais ver isso simplesmente como um episódio infantil, um fascínio passageiro. Esse mesmo sentido de algo escuro e sombrio, de uma força maliciosa crescendo em meu filho, agora colore quase todas as memórias."
Aos seis anos, descobriu-se que o menino sofria de uma hérnia dupla e precisou de cirurgia para corrigir o problema. Ele nunca pareceu recuperar sua efervescência e alegria. "Ele parecia menor, de alguma forma mais vulnerável... ele cresceu mais para dentro, sentado em silêncio por longos períodos, quase sem se mexer, seu rosto estranhamente imóvel."
Em 1966, Lionel completou seu trabalho de pós-graduação em Iowa e conseguiu um emprego como químico de pesquisa em Akron, Ohio. Joyce estava grávida de seu segundo filho David. Naquela época Jeff estava na primeira série e "um medo estranho começou a se infiltrar em sua personalidade, um pavor dos outros que foi combinado com uma falta geral de autoconfiança. Ele estava desenvolvendo um relutância em mudar, uma necessidade de sentir a segurança de lugares familiares. A perspectiva de ir para a escola o assustava. O garotinho que antes parecia tão feliz e seguro de si foi substituído por uma pessoa diferente, agora profundamente tímida, distante , quase não comunicativo."
Lionel suspeitava que a mudança para Ohio era um fator causador do comportamento de Jeff, uma reação normal ao ser arrancado de ambientes familiares e colocado em ambientes totalmente novos. Lionel também sofreu de timidez, introversão e insegurança quando criança e aprendeu a superar esses problemas. Ele imaginou que seu filho aprenderia a superá-los também. O que ele não percebeu era que a condição de infância de Jeff era muito mais grave do que a dele.
Em abril de 1967, eles compraram uma nova casa. Jeff pareceu se ajustar melhor a esse movimento e desenvolveu uma amizade próxima com um menino chamado Lee. Ele também gostava muito de uma de suas professoras e levou para ela uma tigela de girinos que ele havia capturado. Mais tarde, Jeff descobriu que o professor havia dado o girino para seu amigo Lee. Jeff entrou furtivamente na garagem de Lee e matou todos os girinos com óleo de motor.
As coisas não melhoraram com o passar do tempo. Sua postura e a maneira geral como ele se portava mudaram radicalmente entre seus dez e quinze anos. O menino de membros soltos desapareceu e foi substituído por uma figura estranhamente rígida e inflexível. Ele parecia tenso, seu corpo muito reto. Ele ficou cada vez mais tímido durante esse período e, quando abordado por outras pessoas, reagia com tensão. Cada vez mais ele ficava em casa, sozinho em seu quarto ou olhando para a televisão. Seu rosto estava muitas vezes em branco, e ele dava a impressão mais ou menos permanente de alguém que não podia fazer nada além de ficar deprimido, sem propósito e desengajado.
Jeff andava com sacos plásticos de lixo e coletava os restos de animais para seu cemitério particular. Ele tirava a carne dos corpos desses atropelamentos putrescentes e até colocou a cabeça de um cachorro numa estaca. Houve a sugestão de que Jeff torturou animais, mas isso é improvável. Ele gostava de cães e gatos como animais de estimação e manteve peixes de estimação quando adulto. Seu fascínio era por criaturas mortas, não por matá-las.
Jeff ficou mais passivo e isolado. Sua conversa se estreitava para a prática de responder perguntas com respostas de uma palavra quase inaudíveis. Ele estava à deriva em um mundo de pesadelo de fantasias inimagináveis. Nos próximos anos, essas fantasias começariam a dominá-lo por completo. Os mortos em sua quietude se tornariam os objetos primários de seu crescente desejo sexual. Sua incapacidade de falar sobre essas noções estranhas e perturbadoras cortaria de vez a sua conexão com o mundo exterior.
Enquanto outros garotos almejavam carreiras, educação, namoradas e famílias, Jeff estava completamente desmotivado. Ele vivia inteiramente deslocado, fora de tudo o que era normal e aceitável, fora de tudo o que poderia ser admitido para alguém de sua idade. Seria de esperar que uma pessoa que abrigasse as fantasias de morte e desmembramento que giravam na cabeça de Jeffrey Dahmer quando adolescente mostrasse alguns sinais externos de doença mental. Mas longe de se rebelar, ele nunca discutia com seus pais porque nada parecia importar para ele.
No ensino médio, Jeff tinha notas médias e participava de algumas atividades: jogava tênis e trabalhava no jornal da escola. No entanto, seus colegas o consideravam um solitário e logo ele se tornaria um alcoólatra. Ele trazia bebidas alcoólicas para a sala de aula e transitava tropeçando pelos corredores. Ele chegou a participar do Baile de Formatura e de algumas atividades sociais, mas sempre sem interesse.
Seus colegas se lembram de uma façanha que ele fez quando foi incluído na foto do anuário dos membros da National Honor Society. A equipe do anuário pegou a brincadeira a tempo e apagou a imagem de Jeff no livro cobrindo-a com tinta preta. Uma imagem que demonstrava o desperdício que era sua existência.
À medida que Jeff se tornou mais passivo, as discussões entre Lionel e Joyce aumentaram. Culminou no divórcio quando Jeff tinha quase dezoito anos. Uma batalha de custódia começou sobre David, irmão 7 anos mais jovem de Jeffrey. Alguns meses depois, Lionel se casou novamente. O que quer que Lionel tenha perdido sobre o alcoolismo de Jeff, não passou desapercebido de sua nova esposa, Shari.
Lionel e Shari o convenceram que precisavam fazer Jeff se interessar por alguma coisa. No outono de 1978, eles o levaram para a Ohio State University, mas ele passou o semestre inteiro bêbado e foi reprovado. A essa altura, seu problema com a bebida era bem compreendido, mas ele não buscava ajuda para isso. Lionel leu as regras para ele: ou Jeff arrumava um emprego ou entraria para o Exército. Quando Jeff se recusou a conseguir um emprego e ficou bêbado a maior parte do tempo, seu pai o levou ao escritório de recrutamento para se juntar às forças armadas em janeiro de 1979.
Daquele momento até a prisão final de Jeff em 1991, a vida foi uma montanha-russa para Lionel e sua esposa. Jeff parecia estar indo bem, até ficar óbvio que não estava. Ele parecia gostar do Exército, mas foi dispensado cedo por embriaguez recorrente. Ele então foi morar com sua avó e conseguiu um emprego, mas depois foi preso por embriaguez e conduta desordeira. As ofensas pioraram à medida que seu alcoolismo se intensificava. Exposição indecente, depois abuso sexual infantil e, finalmente, a descoberta mais horrível de todas quando a polícia o prendeu por vários assassinatos. A cada vez, Lionel o apoiava, pagava o advogado, o incentivava a procurar tratamento e cruzava os dedos para que Jeff melhorasse. A cada vez, suas esperanças eram frustradas por alguma dificuldade nova e mais séria. Lionel começou a entender que seu filho estava completamente fora de seu alcance.
Já em 1989, quando Jeff foi sentenciado por abuso sexual infantil, Lionel sentiu que seu "filho nunca seria mais do que parecia ser - um mentiroso, um alcoólatra, um ladrão, um exibicionista, um molestador de crianças. não imagino como ele se tornou uma alma tão arruinada... Pela primeira vez, eu não acreditava mais que meus esforços e recursos sozinhos seriam suficientes para salvar meu filho. Havia algo faltando em Jeff... Chamamos isso de "consciência"... que morreu ou nunca esteve viva em primeiro lugar.", ele escreveu em seu livro.
O Dr. James Fox, reitor do College of Criminal Justice da Northeastern University em Boston e reconhecido especialista em serial killers afirma que "Não havia nada que pudéssemos fazer para prever essa [tragédia] antes do tempo, não importa quão bizarro fosse o comportamento." Ele também observou que, embora Jeffrey tenha ficado arrasado quando sua mãe o deixou, seria errado culpar seus pais pelo que ele se tornou.
Fox acredita que Dahmer é um serial killer incomum. Ele se encaixa no estereótipo de alguém que realmente está fora de controle e sendo controlado por suas fantasias. A diferença é que a maioria dos serial killers param quando a vítima morre. Tudo leva a esse desejo: ele os amarram, torturam, gostam de ouvir gritos e que eles implorem por suas vidas. Isso faz o assassino se sentir grande, superior, poderoso, dominante... No caso de Dahmer, tudo era post-mortem, toda a sua "diversão" tinha início depois que as vítimas morriam. Sua vida de fantasias era rica, mas se concentrava em ter controle total sobre as pessoas. Essa vida de fantasia, misturada com ódio represado era uma combinação explosiva. Se ele se sentiu desconfortável com sua própria orientação sexual, é muito fácil vê-lo projetado nessas vítimas e puni-las indiretamente para punir a si mesmo.
Assassinato em série, psicopatologia, necrofilia, canibalismo - nenhum desses fenômenos é exclusivo dos tempos modernos. As respostas para explicar esses fenômenos entram e saem de moda. Hoje, a genética está ganhando terreno sobre o behaviorismo para explicar por que as pessoas se tornam criminosas. A eterna luta entre nature versus nurture parece pender para um lado. O caso de Jeffrey Dahmer pode conter essa explicação.
Após sua prisão, a mídia criou um circo ao redor do julgamento de Jeff Dahmer. A sala do tribunal foi varrida em busca de bombas por um cão treinado para farejar explosivos, e todos que entraram no tribunal foram revistados e verificados com um detector de metais. Uma barreira de dois metros e meio de altura foi construída com vidro e aço resistentes a balas, projetada para isolar Dahmer da galeria. Dos 100 lugares disponíveis, 23 eram para repórteres, 34 para as famílias das vítimas de Dahmer e os restantes 43 para espectadores públicos. Havia uma lista de mais de 7 mil pessoas inscritas para essas 43 vagas.
Os principais atores desse drama legal, além do próprio Jeff Dahmer, foram o juiz Laurence C. Gram Jr., o promotor público Michael McCann e o advogado de defesa Gerald Boyle, que já havia defendido Dahmer no passado. Lionel e Shari Dahmer compareceram todos os dias.
Em 13 de julho de 1992, Dahmer ignorou o conselho de seu advogado e mudou sua declaração para culpado, mas com o atenuante de insanidade. A declaração virou o caso de cabeça para baixo. Ao invés de ter que provar que seu cliente não cometeu os assassinatos, o advogado de defesa desenrolaria uma das tapeçarias mais sangrentas já vistas em um julgamento. Sua tarefa era convencer o júri de que Dahmer não tinha noção do horror que estava promovendo.
O promotor por outro lado, precisava provar que Dahmer não era legalmente insano - que ele sabia que o que estava fazendo era errado, mas fez mesmo assim. Em outras palavras, Dahmer era um psicopata malvado que atraiu suas vítimas e as assassinou a sangue frio.
O grupo de jurados em potencial foi avisado: "Vocês irão ouvir coisas que provavelmente não sabiam que existia no mundo real. Ouvirão sobre conduta sexual antes da morte, durante a morte e depois da morte. Vocês ficarão tão enojado com isso quanto eu mesmo".
Em 29 de janeiro de 1992, o júri e dois suplentes foram selecionados. Apenas uma pessoa negra foi selecionada, o que gerou muito protesto entre os familiares. O caso inteiro polarizou seriamente a comunidade em linhas raciais desde o momento em que o público ouviu a história de Glenda Cleveland, a mulher que havia tentado salvar uma das vítimas de Dahmer.
A defesa de Boyle consistiu em cerca de quarenta e cinco testemunhas que atestariam vários aspectos do comportamento bizarro de Dahmer e tentariam mostrar que os distúrbios sexuais e mentais dele impediam de entender a natureza de seu crime. Cada ato hediondo do que Dahmer supostamente fez com suas vítimas e cada detalhe digno de pesadelo foi trazido à tona. O objetivo era convencer o júri de que tais ações não aconteciam na mente de um homem são.
Para a promotoria o caso era simples. Dahmer era perverso e mal, um "mestre manipulador e enganador que sabia exatamente o que estava fazendo a cada passo do caminho", capaz de ligar e desligar seus impulsos tão facilmente quanto acender um interruptor de luz. Ele não atacou soldados enquanto estava no exército. Não feriu estudantes na Universidade Estadual de Ohio. As mortes não foram atos de um louco, mas o resultado de um planejamento meticuloso.
Dois detetives se revezaram lendo a confissão de 160 páginas. Era um catálogo de perversão sexual como nunca havia sido visto. O detetive Dennis Murphy afirmou que Dahmer sentia uma tremenda quantidade de culpa por causa de suas ações. Então ele citou a própria confissão de Dahmer: "É difícil para mim acreditar que um ser humano poderia ter feito o que eu fiz, mas eu sei que fiz." Ele alegou que seu medo de ser pego foi superado por sua excitação de estar completamente no controle.
A batalha de psiquiatras sobre a sanidade se Dahmer parecia confundir o júri. Finalmente, em seu resumo, Boyle desenhou um gráfico na forma de uma roda. A roda era Jeff Dahmer e todos os raios que saíam dela eram os elementos de seu desvio. Ele os leu rapidamente:
"Crânios no armário, canibalismo, impulsos sexuais, perfuração, fazer zumbis, necrofilia, beber álcool o tempo todo, tentar criar um santuário, lobotomias, descarnar, taxidermia, ir a cemitérios, masturbar-se com cadáveres... Este é Jeffrey. Dahmer, um trem desgovernado em uma trilha de loucura..."
McCann rebateu: "Ele não era um trem desgovernado, ele era o engenheiro!" Ele estava satisfazendo seus extraordinários desejos sexuais. "Senhoras e senhores, ele enganou muita gente. Por favor, não deixem esse assassino perigoso enganá-los."
O júri deliberou por cinco horas e decidiu que Jeff Dahmer não merecia passar o resto de sua vida em um hospital, mas em uma cela de prisão. Em todas as quinze acusações, Dahmer foi considerado culpado e são.
Anne Schwartz, que cobriu a história de Dahmer para o Milwaukee Journal desde sua descoberta até o julgamento, ficou "surpresa com o quão normal esse homem parecia e soava, e me perguntei com que facilidade poderia enganar todos à sua volta".
Seu pedido de desculpas pelo banho de sangue de treze anos, tinha quarenta páginas escritas:
"Agora acabou. Isso nunca foi um caso para tentar ganhar liberdade. Eu nunca quis a liberdade. Francamente, eu queria a morte para mim. Este era um caso para dizer ao mundo que eu fiz o que fiz, mas não por motivos de ódio. Eu não odiava ninguém. Eu sabia que estava doente ou mal ou ambos. Agora acredito que estava doente. Os médicos me falaram sobre minha doença, e agora tenho um pouco de paz. Eu sei o quanto mal causei... Graças a Deus não haverá mais mal que eu possa fazer. Acredito que somente o Senhor Jesus Cristo pode me salvar dos meus pecados... Não peço nenhuma consideração."
Ele foi condenado a quinze penas consecutivas de prisão perpétua ou um total de 957 anos de prisão e antes da conclusão do julgamento ouviu de cada pai, mãe e parente das suas vítimas uma declaração emocional na qual quase que declaravam seu ódio e repulsa diante dos seus atos execráveis.
Conduzido para a prisão, Dahmer se adaptou muito bem à rotina carcerária na Columbia Correctional Institute em Wisconsin. Inicialmente, ele não fazia parte da população geral do presídio, pois isso colocaria em risco sua segurança. Ele chegou a ser atacado, enquanto participava de um culto na capela da prisão. Ainda assim, ele foi um prisioneiro modelo o que convenceu as autoridades prisionais a permitir que ele tivesse mais contato com outros detentos. Ele foi capaz de comer em áreas comuns e recebeu algum trabalho de zeladoria para fazer com outras equipes de presos.
Por alguma razão incrível, ele se juntou a dois homens altamente perigosos em uma turma de trabalho: Jesse Anderson, um homem branco que assassinou sua esposa e culpou um homem negro, e Christopher Scarver, um negro esquizofrênico que pensava ser o messias. Scarver havia sido preso por assassinato em primeiro grau. Não é difícil imaginar como alguém instável como Scarver via Jeff Dahmer, que havia massacrado tantos negros e Anderson que os culpava pelo seu próprio crime. Foi uma combinação desastrosa e previsível.
Na manhã de 28 de novembro de 1994, o guarda deixou os três sozinhos por alguns instantes. Vinte minutos depois encontrou a cabeça de Dahmer esmagada e o corpo fatalmente ferido de Anderson nas proximidades. Um cabo de vassoura ensanguentado foi usado para cometer as agressões brutais. Jeffrey Dahmer foi levado para o ambulatório da prisão onde o declararam morto às 9h11.
A morte de Dahmer reacendeu o seu caso e trouxe à tona novas questões sobre o que ele fez e sobre os monstros que espreitam na escuridão. A história dele; horrenda e surreal no todo e nas partes, é difícil de compreender e mais ainda de prever. Será possível que outros Dahmers estão por aí, se preparando para matar ou pior, já matando? Talvez o único legado de sua existência tenha sido conceder farto material escrito e gravado que ajudou os estudiosos a traçar, ao menos em linhas gerais, as circunstâncias que ajudaram a gestar esse monstro homicida.
Jeffrey Dahmer foi o personagem principal de um dos mais aterrorizantes casos de assassinato em série da história e seu nome estará para sempre associado a maldade, perversidade e morte.
Parafraseando um comentário recorrente neste blog: "a realidade, às vezes, é mais aterrorizante do que a ficção"
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